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História Fantasma - A Voz do Desespero


Escrita por: lohanacarter

Capítulo 15 - A Voz do Desespero


Fanfic / Fanfiction Fantasma - A Voz do Desespero

O encontro com Ambre no corredor foi facilmente esquecido pelos outros, mas não por Cloe. Não que as palavras da garota lhe incomodassem ou a fizessem se sentir mal, já estava começando a se habituar à arrogância e a maldade da mimada da loira. Mas o que estava martelando em sua cabeça era Charlotte.

Por que estava tão cismada com Charlotte?

— Então vocês estudaram juntos? — perguntou Rosalya após engolir o pedaço de maçã de mordera, obrigando Cloe a se afastar de seus pensamentos. — Como você não o reconheceu no momento que o viu, Cloe?

Nenhum dos dois disseram que a escola se tratava de um sanatório. Rosalya já sabia da história de Cloe, embora nunca tivesse contado a ela sobre o colégio, mas Armin e Alexy não faziam ideia da habilidade da garota para ver espíritos. E a Tally preferia manter esse segredo guardado.

— Ele está muito diferente — explicou Cloe, dando uma rápida olhada para Kentin antes de se voltar para Rosa. — Ele costumava ser mais baixo e mais magro também. Os óculos deixavam os olhos dele meio fundos, e o corte de cabelo também mudou. Era daqueles tigelinhas, sabe? — Cloe colocou o indicador sobre a testa, na tentativa de indicar como era o cabelo do amigo.

— Pare. Eles não precisam saber que eu era um nerd. — Kentin pediu encabulado.

Rosalya, Armin e Alexy gargalharam, o que deixou Kentin ainda mais constrangido. Cloe ofereceu um sorriso sem graça ao amigo, como se estivesse pedindo desculpas pelas risadas. Quando finalmente os risos cessaram, Alexy secou os olhos que haviam marejado devido as risadas.

— Difícil de imaginar. Agora você tenta um estilo militar, mas já saiu de moda faz um tempinho, sabia? — avisou Alexy. Kentin fechou a cara.

— E daí? Eu gosto de me vestir assim, alguma coisa contra?

— Fora o fato de que é totalmente démodé? Não, problema nenhum! — brincou Alexy. — Mas se precisar de ajuda quando quiser mudar é só me procurar.

Dessa vez até Cloe riu, colocando a mão na frente da boca para abafar o som da sua voz. Kentin olhou para ela como se não acreditasse que a amiga também estivesse debochando dele.

— Desculpe. Eu não estou rindo das suas roupas, e sim da conversa — explicou. — Na verdade eu acho que você fica muito bem assim.

— Mas a Cloe vive de moletom! Isso também não está na moda — falou Alexy, fazendo muxoxo como se aquilo o decepcionasse. — Você é tão bonita! Deveria usar roupas que te valorizam mais, sabia?

— Ei! Moletons são legais, e são muito confortáveis! — protestou Armin. — Eu usaria também se você não enchesse o meu saco comprando essas roupas “na moda” pra mim.

Armin ergueu a mão e mostrou a palma para Cloe, que logo ela entendeu que ele queria que batesse com a sua. Nas primeiras vezes isso a deixara meio confusa, mas agora já se acostumara com o jeito do amigo. A garota sorriu, abriu a palma da mão e bateu na do moreno, fazendo-o rir. Cloe sorriu junto; Armin era sempre tão divertido, a sensação que tinha ao estar com ele era sempre de leveza.

— Ah, enfim. Mudamos o foco da conversa! — Rosalya mexeu as mãos, ainda rindo do rumo que tomara o assunto.

— Ah, verdade! — Armin exclamou como se tivesse acabado de se dar conta. — Cloe, por que você disse que ele estava morto? — perguntou curioso.

Os dois gêmeos pareceram bastante interessados. Rosalya pareceu tensa com a questão, e Cloe soube que, embora a amiga não soubesse daquela história, acabara deduzindo que tinha algo a ver com o passado dela e os espíritos que via. Cloe e Kentin se entreolharam rapidamente, ambos sem fazer ideia de como abordar o assunto.

— É uma longa história... — ela desconversou.

— Não dá pra resumir? — perguntou Armin, ainda muito curioso e pelo visto sem se dar conta de que estava sendo incômodo com a pergunta.

Cloe mordeu os lábios, mas antes que tomasse qualquer atitude que fosse mentir ou falar a verdade, Kentin foi mais rápido.

— Eu adoeci e tive que sair da escola. Perdemos o contato depois disso.

Cloe olhou para ele, quase suspirando de alívio. Kentin não estava mentindo, mas escondera os detalhes mórbidos da história dos dois.

— E você acha que foi a diretora da escola que disse pra Cloe que você morreu? — perguntou Alexy, tão interessado quanto Armin. — Por que ela faria isso?

Kentin deu de ombros. Cloe percebeu que ele tentava esconder o nervosismo que o assunto lhe provocava.

— Não sei. Acho que quando deram a notícia ela entendeu errado. Eu realmente quase morri.

É claro que os dois sabiam que aquele não era o motivo. Lourdes parecia ter prazer no sofrimento dos outros, e com certeza fora por isso que mentira ao dizer que ele estava morto. Mas com certeza os dois concordavam que não precisavam divulgar a crueldade da ex-diretora de War & Peace.

— Sim, acho que foi isso mesmo — disse Cloe, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Armin assentiu com a cabeça, parecendo convencido. O outro gêmeo, porém, ergueu uma das sobrancelhas e pareceu desconfiado. Cloe temeu que ele fizesse mais perguntas, mas Alexy sorriu e concordou com a cabeça.

— Mas que história, hein? E agora vocês dois se encontraram. Que mundo pequeno! — interveio Rosalya com bom humor. — Uma verdadeira amizade não pode ser afastada de verdade.

— Cloe!

Reconheceu imediatamente a voz de Nathaniel, que fez Cloe virar a cabeça para ver o loiro se aproximando. Ele sorriu para ela e Cloe retribuiu, arrancando de Rosalya algumas brincadeiras em relação aos dois.

— Nath! Você não estava ocupado? — perguntou Cloe.

— Ainda estou. Mas consegui um tempo para comer alguma coisa, e pensei em respirar um ar, aquela sala está me deixando sufocado — explicou, dando um beijo rápido na testa dela. Nathaniel pareceu reparar em Kentin, que estava sentado ao lado de Cloe com uma expressão confusa. — Você é aluno novo, estou certo?

— Sim. Meu nome é Kentin — o rapaz confirmou. — Conversei com você hoje mais cedo por causa da minha ficha de inscrição.

— É verdade, me lembro — Nathaniel sorriu. — Já fez amizades, pelo visto.

— Ah, ele é um velho conhecido meu — intrometeu-se Cloe. — Amigos de infância.

Kentin ainda encarava Nathaniel com um misto de confusão e — se Cloe estava vendo bem —, ciúmes.

— É mesmo? Você não me falou dele — Nathaniel disse. Cloe contara a ele muito sobre o seu passado, mas preferia deixar o assunto de Kentin enterrado e guardar aquela perca apenas para si.

— E você é o quê dela? — Kentin perguntou, como se não aguentasse mais guardar tal pergunta. O tom de voz não era descontraído ou casual, mas carregava uma conotação ciumenta. E Cloe não foi a única a reparar isso, já que os gêmeos e Rosalya encararam perplexos.

O próprio Nathaniel pareceu perceber, deixando a simpatia abandonar sua expressão.

— Eu sou o namorado dela.

Instalou-se um clima de tensão tão forte entre eles que por um momento ninguém falou nada. Kentin pareceu chocado com a descoberta, e Cloe sentiu vontade de desaparecer. Eram amigos de infância, não era possível que Kentin sentisse alguma coisa por ela! Afinal de contas ela própria sentira algo por ele quando os dois estudaram juntos, mas agora não passava de um sentimento muito distante. Haviam ficado separados tempo demais para que ele acabasse se apaixonando por si.

O rapaz limpou a garganta e tentou sorrir.

— Ah, sim. Eu não sabia que ela estava namorando. É um pouco estranho pensar nela com um namorado, já que quando eu a conheci nós dois éramos crianças.

Cloe suspirou discretamente. Talvez estivesse imaginando coisas, não iria aguentar partir o coração dele. Mas Nathaniel não parecia convencido.

— Entendo — assentiu, antes de se virar para Cloe. — Eu vou comprar alguma coisa para comer, daqui a pouco o sinal do fim do intervalo bate. Te vejo na hora de ir embora?

— Aham — Cloe concordou. Seu sorriso era forçado, já que a possibilidade daqueles dois se odiarem estava lhe deixando assustada.

Nathaniel fez uma coisa que jamais fazia em público: ele a beijou. Cloe arregalou os olhos e sentiu as bochechas queimarem de vergonha, se afastando com o coração a mil no peito.

— N-não na frente dos outros! O que deu em você? — perguntou assustada. Nathaniel riu, dando de ombros.

— Eu só senti vontade de te beijar — respondeu simplesmente. — Bom, até depois.

Nathaniel saiu, mas não antes sem encarar Kentin. O amigo devolveu o olhar, fuzilando-o com os olhos. Cloe arregalou os olhos, querendo correr simplesmente para não ter que viver em uma situação daquelas. Antes achava que a possibilidade de namorar era impossível, agora além de tudo tinha um namorado ciumento e um amigo de infância que parecia odiá-lo.

— Ele está com ciúmes, Cloe — Alexy sussurrou ao seu ouvido, pouco antes do sinal tocar. — E fez isso pra deixar bem claro que você é dele.

~x~

O sinal do fim da aula tocou e todos os alunos se levantaram de suas mesas, levantando um burburinho de conversa e sons de cadeiras se arrastando no chão. Cloe Tally guardou seus pertences na mochila, enquanto ao seu lado Rosalya digitava animadamente no celular, o que só poderia indicar que era Leigh quem respondia suas mensagens naquele momento.

— Finalmente! — exclamou Rosa, finalmente olhando para Cloe. — Leigh arrumou um tempo para me ver. Ele me disse está no portão me esperando, preciso correr! Você vai embora com o Nathaniel, não vai?

— Vou sim. Pode ir, Rosa — Cloe falou calmamente, indicando a porta. — Eu sei como você está morrendo de vontade de sair com o Leigh.

Rosalya mostrou a língua para a amiga em provocação, fazendo-a rir.

— Está bem. Te vejo amanhã — falou, beijando o rosto de Cloe. Lysandre se aproximou e sorriu, acenando para ela. — Vamos, Lys.

— Tchau, Cloe. Até amanhã — Lysandre cumprimentou. O rapaz não parecera nem um pouco chateado quando soubera que Cloe e Nathaniel estavam namorando, o que para ela foi um alívio. Rosalya tanto falava sobre os dois juntos que Cloe começou a se apavorar com a ideia de magoar o garoto. Mas pelo visto se ele sentira alguma atração por ela não fora tão forte assim.

— Tchau — acenou. Os gêmeos estavam de saída também, Alexy beijou o rosto de Cloe e Armin abriu a mão para que ela batesse com a sua, fazendo-a rir suavemente.

Nathaniel sempre lhe pedia para espera-lo na sala de aula, já que no portão sempre ficava abarrotado de gente e era difícil se se encontrarem. Além disso, ela preferia assim, apesar de estar melhorando na questão de socialização ainda preferia ficar em locais vazios. Nada poderia mudar de uma hora para outra, afinal de contas.

— Cloe — a voz de Kentin disse, chamando sua atenção e fazendo-a olhar na direção da voz. O amigo se sentou na cadeira ao lado, olhando-a com uma tristeza que doeu. — Desculpe. Acho que provoquei um clima tenso mais cedo e...

— Não tem problema, já passou — ela garantiu, colocando as mãos abertas na frente do corpo e a mexendo como se dissesse que tudo estava bem. — Eu entendo a sua surpresa. Eu também não pensava que algum dia eu poderia namorar.

Os olhos de Kentin pareceram ressentidos com a resposta e Cloe pensou se teria dito algo errado. Ele abaixou a cabeça suavemente e uniu as mãos na altura dos joelhos apoiando os braços nos mesmos, erguendo a cabeça para olhá-la com um sorriso forçado.

— É. Mas pelo visto você tem evoluído muito desde a última vez que nós nos vimos. Cercada de amigos, você sorri mais vezes... Tem um namorado...

Cloe segurou uma das mãos de Kentin com as suas, olhando firmemente para o amigo.

— As coisas melhoraram agora, sim. Mas pouco antes disso eu ainda era mais fechada socialmente do que quando nos conhecemos. Quando eu achei que tinha te perdido... Eu quis parar de precisar das pessoas, mas ficar sozinha me deixa mais fraca.

Kentin usou a outra mão para acariciar a mão dela, esboçando um sorriso pequeno.

— Ninguém vive sozinho — concordou. — Eu senti um pouco de ciúmes, admito. Mas fico feliz que tenha encontrado pessoas que te ajudam.

— Mas eu fico feliz que você tenha voltado. Ninguém me entende tão bem quanto você — declarou Cloe, e ela sentia que era verdade. Nathaniel e Rosalya lhe davam força e sabiam os seus segredos, mas apenas Kentin conhecia os pavores dela tão bem quanto si mesma.

— O seu namorado sabe? — perguntou. — Dos espíritos?

— Sabe. Contei há pouco tempo...

Kentin pareceu desconfortável.

— Ah... Que bom que mesmo assim ele não te deixou, ou te achou louca... — ele disse, embora seu tom de voz denunciasse que ele preferia o contrário.

— Ken...

Cloe ouviu um pigarro da porta e se assustou, afastando as mãos das de Kentin. Nathaniel encarava da porta, parecendo aborrecido com o contato tão próximo dos dois amigos. Cloe limpou a garganta, pegando sua mochila em cima da mesa e se levantou para sair.

— Bom... Foi bom te rever, Ken. Fico feliz que o destino tenha nos colocado ao lado um do outro de novo — ela tentou sorrir forçadamente, ainda constrangida pelo clima que se instalou ao ver que Nathaniel estava na porta. — Até mais.

— Até amanhã — Kentin respondeu, sem nenhum vestígio de sorriso nos lábios. Seus olhos carregavam mágoa e resquícios de raiva, mas ele não os direcionou para Nathaniel e olhava para o chão.

Cloe se afastou, aproximando-se de Nathaniel que estava encostado no batente da porta esperando. A expressão do namorado não dizia que ele estava feliz com o reencontro dela com o melhor amigo de infância, embora ele se obrigasse a sorrir para Kentin e acenar. O que ela poderia fazer? Não poderia deixar de falar com Kentin por causa dos ciúmes de Nathaniel, certo? Por um momento desejou ter mais experiências com relacionamentos.

— Nath, você está bravo? — perguntou no corredor.

— Não estou — respondeu sem nem mesmo olhar para o lado.

Cloe apertou os lábios e fechou as mãos em punho.

— Kentin é meu amigo. É só isso.

Nathaniel suspirou e parou de andar, virando-se para ela e esfregando o rosto com uma das mãos, parecendo tenso. A garota mordeu o lábio inferior, como se estivesse assustada com a reação dele.

— Cloe, talvez seja para você. Mas para ele não, eu percebi — o loiro suspirou novamente. — Desculpe, eu estou sendo idiota. Agi como um idiota no pátio te beijando na frente de todo mundo, eu nunca fiz algo assim antes...

— Não, não! Está tudo bem, eu entendo — Cloe interveio, mesmo estando meio confusa. — Quero dizer... Bom, aquilo não foi muito legal e nem teve nada a ver com você ou comigo, nós dois costumados ser muito discretos. Mas não tem problema. Eu só não quero que você fique bravo, ou odeie o Kentin. Ele me ajudou muito durante a minha vida, sabe?

Os dois voltaram a caminhar e Nathaniel pareceu mais leve, deixando Cloe aliviada. Aquele clima de tensão era incômodo, e ela mal saberia lidar caso tivessem a primeira briga de namorados.

— Ele também... Você sabe...

Cloe entendeu o que Nathaniel queria dizer, embora evitasse falar em voz alta já que havia uma pessoa ou outra ocasionalmente no corredor.

— Sim. E foi isso que nos deixou tão próximos — contou. — Eu me sentia muito sozinha naquele lugar. Quando eu conheci senti que havia alguém que poderia me entender.

— Eu não serei hostil com ele — prometeu. — O jeito que ele fez a pergunta do que eu era seu que me irritou um pouco, eu confesso. Mas eu não posso te obrigar se afastar dele, não quero ser do tipo de namorado controlador.

— Que bom. Eu já não sabia o que fazer imaginando que talvez quisesse isso — confessou Cloe. Os dois sorriram e então finalmente seguraram a mão um do outro, seguindo para fora do prédio para irem embora.

~x~

As aulas de educação física costumavam ser as piores, na opinião de Cloe. Não era boa em nenhum esporte já que não costumava praticar; na queimada costumava a ser a primeira eliminada, no basquete só corria pela quadra e se cansava muito rápido. E agora, no vôlei, mal sabia sacar a boca sem que ela batesse na rede e voltasse para o campo do seu time.

Rosalya compensava essa sua falta de habilidade. Nos outros jogos não costumava ser boa também — embora se saísse muito melhor do que Cloe —, mas parecia ter nascido para o vôlei. Cloe invejava os movimentos rápidos e ao mesmo tempo graciosos da amiga, somando pontos para o time sem muito esforço.

Quando finalmente a aula acabou elas se dirigiram para o vestiário feminino, tomando uma ducha para se livrarem do suor e se sentirem menos cansadas. Apesar de não ter feito mais do que correr de um lado para o outro tentando alcançar a bola, Cloe se sentia exausta.

— Você precisa treinar um pouco mais esse seu corpo sedentário — debochou Rosalya, depois de haverem saído das cabines enquanto penteavam os cabelos molhados na frente do espelho. — Talvez se você usasse o uniforme mais curto.

Cloe não respondeu. Por sorte cada cabine para tomar banho no vestiário era fechada e ela não precisava se preocupar com pessoas tomando conhecimento de suas cicatrizes, mas se usassem o uniforme curto certamente veriam. A calça longa a fazia tropeçar muito, mas se usasse o short veriam as marcas em suas pernas.

— Eu não gosto. Me sinto nua usando essas roupas curtas — mentiu. Rosalya não sabia sobre a automutilação, não tivera coragem de contar. — Me sinto mais confortável assim.

Rosalya fez muxoxo e não respondeu, mas sorriu. As duas terminaram de se arrumar e saíram, mas Cloe sentiu que estava sendo encarada por Ambre. Os olhos da loira já não lhe incomodavam mais, já que a perseguiam para todo lado como se fosse uma ameaça. Mas nunca havia tentado nada.

No corredor Cloe arregalou os olhos, parando no meio do caminho.

— O que foi? — perguntou Rosalya.

— Esqueci uma coisa no meu armário no vestiário — respondeu. — Já volto.

Cloe voltou o caminho para o vestiário, buscando o que esquecera lá dentro. Quando encontrou os fones de ouvido e celular sorriu, enfiando-os no bolso da blusa de moletom para voltar.

Mas não imaginava que Ambre estaria ali, fechando as portas do ginásio e parada no meio dele, encarando-a com ódio.

— Ambre? — ela perguntou surpresa.

— Quem você acha que é pra ficar pra cima e pra baixo com o meu irmão? — perguntou Ambre com a voz rascante. — Além de tudo agora se intitula a namorada dele?

Cloe a encarou, perplexa.

— Eu não...

— Cala a boca! — gritou Ambre, erguendo um dedo na direção dela. — É melhor você ficar longe dele, essa história já está durando demais! Se você não sair da vida do Nath eu juro que faço a sua ser um inferno!

Ambre costumava ser desagradável, mas nunca colocara medo de Cloe como colocava agora. Parecia verdadeiramente ameaçadora com seu dedo erguido e os olhos brilhando de ódio. Apesar de assustada, Cloe engoliu em seco e encarou, tentando se mostrar o mais calma possível.

— Eu e seu irmão nos gostamos. E não vai ser o seu mimo que vai estragar tudo.

Ambre trincou os dentes e pareceu ainda mais furiosa. Antes que Cloe fizesse alguma coisa, a loira se lançou sobre ela, agressiva e selvagem, fazendo as duas meninas rolarem no chão em uma briga intrépida e realmente violenta. Cloe tentou se defender e empurrar Ambre, mas esta agarrara seus cabelos com fúria e os puxava como se a intenção fosse deixá-la careca.

Ambre parecia furiosa quando alcançou o pescoço de Cloe e tentou esganá-la, mas algo a fez parar; uma bola de basquete acertou sua cabeça. Assustada ela se levantou, mas não viu ninguém que pudesse ter lançado a bola.

Mas Cloe sabia quem era, e este alguém levitava no meio do ginásio.

~x~

Sempre que queria dormir enquanto cabulava aula, Castiel gostava de se esconder atrás das arquibancadas do ginásio. Heloísa já conhecia aquele esconderijo e sempre que tomava ciência de que ele estava ausente nas aulas ia buscá-lo, mas daquela vez felizmente fora deixada em paz. Ou quase isso.

Castiel acordou com uma voz estridente e irritante gritando, aborrecendo o rapaz ao reconhecer aquele timbre; Ambre. O ruivo suspirou e se arrastou para ver o que estava acontecido, embora permanecesse escondido.

Cloe Tally estava ali também e não aceitara ser diminuída por Ambre, dando uma resposta para ela que deixou a loira furiosa a ponto de cair em cima de Cloe para começar uma briga. Castiel pensou que o certo seria ir até lá e separar as duas, mas briga de mulher costumava ser muito engraçada e por isso ele resolveu só assistir.

Até uma bola de basquete do nada sair voando para fora de onde eram guardadas, acertando a cabeça de Ambre que se afastou assustada. Mas Cloe parecia olhar para alguma coisa, embora ele não visse nada.

— Que brincadeira é essa? Quem está aí? — gritou Ambre. — Não teve graça.

— Ambre, saia daqui! — gritou Cloe.

— Você não me dá ordens! — respondeu a loira secamente. — Você acha que eu vou deixar tudo como está? Mas não mesmo! Só saio daqui quando...

Mais bolas começaram a pular do nada, todas indo na direção de Ambre. Castiel encarou chocado, sem saber o que estava acontecendo.

— Mas o que é isso? — berrou Ambre. — Socorro!

Cloe se levantou e agarrou Ambre, puxando-a para perto da porta, mas esta parecia trancada. Cloe chutou, socou a porta, mas ela não cedeu. No fundo Castiel sabia que deveria se intrometer e acabar com aquilo, mas estava perplexo demais para tomar qualquer atitude.

— Socorro! — Ambre começou a bater na porta. — Abram!

Uma das cestas de baquete se quebrou e voou na direção de Ambre, acertando o ferro com força na cabeça da loira que gritou desesperada. Cloe gritou junto, e Ambre foi lançada contra a parede.

E Castiel ouviu o som dos vidros das pequenas janelas por onde entravam o ar a começarem a se quebrar. A voz aguda de Ambre se tornou um grito de puro desespero e pavor, encarando os vidros que voavam na sua direção e lhe acertavam em todos os pontos do corpo, rasgando principalmente a garganta que jorrou sangue abundantemente. E ela caiu, enquanto Cloe gritava apavorada.

Castiel conseguiu tomar de volta o controle de seu corpo e finalmente correu na direção de Ambre, que estava trêmula e engasgava com o próprio sangue. Não parou para ver a reação de Cloe Tally, já que ela parecia bem. Era Ambre quem estava quase morrendo.

— Cast... — a loira engasgou novamente. Um dos olhos sangrava também, parecendo ter sido furado pelos cacos de vidro.

— Não fale, sua idiota — Castiel ordenou, tirando o celular do bolso para discar o número da ambulância, mas nem mesmo chamou. — Sem sinal — praguejou. — Cloe, vai buscar ajuda! — ele ordenou, pegando Ambre nos braços com cuidado com medo de que qualquer movimento brusco fizesse a cabeça da loira se desprender do corpo.

— Castiel... — Cloe disse trêmula, recebendo um olhar severo do ruivo.

— Abre essa porra de porta e vai chamar alguém! — gritou.

Cloe arregalou os olhos, mas assentiu, finalmente conseguindo abrir a porta e começou a gritar por ajuda.

Ambre parecia cada vez mais fraca, mas olhava para ele o tempo todo. A visão dela toda machucada era horrível e Castiel não tinha esperanças de que ela sobrevivesse, mas não poderia ficar vendo a garota morrer sem fazer nada. E pelos olhos de Ambre, ela reconhecia isso.

Ele sentia que a loira queria dizer alguma coisa, mas não conseguia. Uma lágrima rolou pelo olho que não fora atingido e Ambre parou de respirar.



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