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História Fantasmas do Passado - Escolha


Escrita por: anasanti10

Notas do Autor


Capítulo dedicado todinho à linda diva musa Yonara <3 um pouquinho pra Laura também pra não rolar ciúmes... e pra elas estarem juntas até mesmo nas minhas notas....

Capítulo 9 - Escolha


    Paola não se lembrava de já ter acordado tão triste em um domingo. Geralmente, era um e seus dias preferidos da semana. Ela não trabalhava depois do almoço, e podia passar a tarde com Francesca; cozinhando, visitando seus cafés, cuidando da horta. Desde que havia começado a namorar Fogaça, o homem também tinha o costume de inventar passeios mirabolantes para eles; trilhas, viagens de um dia só até a praia e piqueniques no parte, às vezes envolvendo também seus próprios filhos. Domingo de manhã tinha a imagem do rosto adormecido de Fogaça e Francesca aninhados na cama enquanto ela ia trabalhar; o cheiro da panqueca recheada que ele fazia para o café da manhã dos três; o som das risadas de sua filha ao ser acordada com cócegas e guerra de travesseiro. 

    Aquele domingo, porém, não tinha nada daquilo. Não encontrou a face sonolenta de Fogaça ao abrir os olhos; ele não estava lá. No seu lugar, um travesseiro vazio encarava Paola, fazendo com que suas lágrimas teimassem em voltar para seus olhos, mesmo naquela hora da manhã. O rosto da filha também não era o mesmo despreocupado de sempre. Enquanto escovava os dentes, a chef ouviu os passinhos adentrarem o quarto, e, em poucos segundos, pôde ver sua pequena parada a soleira da porta. Esfregando os olhos com as costas da mão, Francesca se mostrava extremamente apreensiva. 

    - Qué passa, mi amor? - Paola perguntou, ajoelhando-se para ficar da altura da filha. A criança andou até ela, soltando um grande bocejo que se misturou com as palavras. 

    - Donde estás Henrique

    - Henrique no viverá más acá por un tiempo, chiquita - A mãe explicou, sentindo que as palavras doeram tanto nela quanto na filha. Francesca franziu o cenho, pensativa. Depois, sua feição se transformou em uma careta, e Paola viu uma lágrima descer por sua bochecha. A criança a limpou rapidamente, fungando para esconder o choro. A chef quis morrer por dentro. 

    - Así como Jay? - Ela perguntou, tentando não soluçar. Talvez percebesse que a mãe já estava triste o suficiente. 

    - No, chiquita!

    Paola puxou a menina para seus braços, sentindo as próprias lágrimas passando a surgirem também. Francesca já não tinha família nenhuma no Brasil além de sua mãe. Além disso, ela ainda estava fazendo o favor de retirar de sua vida os outros adultos que ela amava. Jason não via a menina há meses, agora que não vinha mais a São Paulo. Ela devia estar pensando que a mesma coisa aconteceria com Fogaça; que ela o perderia também. 

    - Te juro que és solo por un tiempo. Vas a ver-lo hoy, en la fiesta de la escuela, te recuerdas? - A mulher se afastou da filha, de forma que pudesse enxugar as lágrimas do rosto da menina. 

    - - A criança assentiu com a cabeça, parecendo mais calma. Aproveitando o momento, Paola resolveu testar seu chão quanto a Solano. Não havia conversado muito com a filha sobre ele; talvez por medo de suas respostas. No entanto, sabia que Francesca já tinha quase cinco anos e, certamente, tinha percepções sobre tudo o que acontecia a sua volta. Queria que ela soubesse que podia contar com a mãe. 

    - Tu padre estará en la fiesta también

    - Mamá, sólo tengo un dibujo - Francesca disse à mãe que só tinha um desenho, sussurrando, como se tivesse feito uma coisa errada e não quisesse que ninguém ficasse sabendo. 

    - No passa nada, chiquita. Elijes uno de los dos - Ela aconselhou, logo em seguida se arrependendo. Sabia que não devia insinuar que Francesca devesse escolher entre Fogaça e Solano. Queria que ela se sentisse amada pelos dois. No entanto, não conseguiu evitar. 

    - Lo hice para Henrique. Papá puede gañar un abrazo - A menina declarou, sorrindo. Paola sorriu também, e continuou sorrindo, mesmo que fraco, ao vê-la se afastar para trocar de roupa. Não podia estar sendo fácil ou simples para ela, mas, pelo menos, a criança parecia saber fazer suas escolhas com certa segurança. 

    Paola terminou de se trocar e seguiu a filha até o quarto, onde já tinha deixado tudo preparado na tão fatídica noite anterior. Suspirando, observou as asas de fada que Fogaça tinha ajudado a fazer. Os três haviam dado boas risadas do roqueiro tatuado distribuindo glitter cor de rosa pela fantasia, de maneira muito concentrada, pois “uma asa não pode ser mais brilhante do que a outra, concorda?”. 

    - Qué vamos hacer con tu pelo, chiquita? - Paola perguntou, se aproximando de Francesca, que já estava de roupa, e a colocando em pé em cima da cadeira. A menina se virou, deixando que a mãe penteasse seu cabelo, e pensou em um penteado. 

    - Hadas llevam el pelo recogido en largas colas de caballo. - Francesca atestou, com segurança, que fadas usavam o cabelo preso em rabos de cavalo. Paola assentiu, e passou a puxar os fios loiros para trás, na medida em que os penteava. Não era uma tarefa fácil, na medida em que, mesmo cedo, Francesca não parava quieta. 

    - Fran - Paola começou, decidindo se queria mesmo levar o assunto adiante. Decidiu que sim. Tinha que aproveitar aquele momento só delas duas; mesmo que a filha estivesse mais ocupada testando as pulseiras brilhantes que usaria na apresentação da escola. Talvez fosse até mesmo melhor assim; tiraria a tensão do assunto. Pelo menos, era o que ela esperava. Quando Francesca levantou os olhinhos para ela, inquisitivamente, mostrando que estava prestando atenção, ela continuou. - Qué pensas de tu padre

    - Me gusta mi papá - Ela declarou, se virando para a mãe e estudando a expressão de Paola com uma atenção que a mãe nunca tinha visto. Largou as pulseiras em cima da cama, e nem se preocupou em correr ao espelho para ver como havia ficado deu rabo de cavalo, como fazia sempre. - Pero no mucho

    - Porqué, mi amor? - Paola levou uma das mãos ao rosto da criança, acariciando sua bochecha. Poucas vezes na vida vira sua filha tão séria. 

    - Porqué estás triste, mamá. Papá te entristece

    - Mi chiquita - Paola a abraçou, apertando-a forte contra seu peito. - No estoy triste.  Estoy siempre contenta con vos. Tengo a vos, nuestra casita, nuestro Arturito, nuestras tías en Argentina, nuestros amigos. Sí?

    - Henrique - A menina a interrompeu, parecendo apreensiva. - Tienes a Henrique también, no

    - Sí, claro - Paola a confortou, vendo que ela tinha, realmente, o mesmo medo de perdê-lo que a mãe. - Tenemos a Henrique, que te quire mucho

    - Henrique és un papá mejor - Francesca declarou. Já mais calma com as palavras da mãe, ela pulou da cama para o chão, saindo em busca de suas sapatilhas. Ao achá-las, sentou-se no chão para calçá-las, espalhando purpurina pelo tapete. Fogaça também as tinha enfeitado com brilhos, para que combinassem com a saia, o que havia sujado o quarto todo e deixado Paola maluca. Ela sorriu ao se lembrar, sentando-se na cama enquanto continuava, um tanto apreensiva, mas muito orgulhosa, escutando o que sua filha tinha a dizer. - El juega conmigo, ayuda-me con las tareas, déjame dormir con ustedes. Papá…

    Francesca não precisou continuar a frase, indicando o que o pai fazia; ou melhor, deixava de fazer. Solano nunca tinha estado presente na vida da filha, e, mesmo agora, aparecia muito mais para infernizar a vida de Paola do que para tentar se aproximar de sua filha. A presença de Fogaça na vida dela era muito mais paterna; muito mais parecida com o que a criança via nos filmes e na escola e desejava para si mesma. Paola quis concordar; quis dizer a ela que Solano era mesmo um péssimo pai, que sempre tinha sido e sempre seria. Mas não podia. Se sua filha era capaz de se perceber o mundo ao seu redor e se expressar sobre ele de forma tão incrível, certamente também era capaz de escolher seus próprios afetos. 

    - Yo no quiero cambiar, mamá - A menina declarou, tirando a mãe de seus pensamentos. A argentina levantou rapidamente os olhos, que antes estavam pousados em suas mãos, e viu que Francesca já estava de pé, em frente a ela. De início, Paola não entendeu o que a criança dizia. Não queria trocar o que? 

    - Qué no te quieres cambiar, mi amor? Los sapatos

    - No - Ela balançou a cabeça, frustrada. É mesmo muito irritante quando os adultos não compreendem o que queremos dizer. - De papá. Yo no quiero cambiar de papá

    - No vas a cambiar nadie, chiquita - Paola se inclinou para frente e segurou as duas mãos da filha nas suas, seu coração partindo ao dizer que ela não precisaria trocar de pai. A criança estava claramente preocupada com a própria situação; Deus sabe desde quando. - Vas a tener los dos en tu vida; dos papás que te quierem muchíssimo, porque és muy amada. Sí? 

    Francesca concordou com a cabeça. Satisfeita com as respostas, ela colocou a mochila no ombro e saltitou até a porta do apartamento, gritando por sua mãe. Parecia muito animada com a festa de dia dos pais, na qual interpretaria uma fada - a única fada com a asa cor de rosa, ela sempre salientava. No ano anterior, o dia dos pais tinha sido um pouco problemático. Jason estava em Londres, e Francesca tinha sido um pouco incisiva demais ao perguntar porque todas as outras crianças estavam com seus pais, e ela não. No entanto, acabou entendendo a mãe, no final das contas, e dando a ela o desenho que tinha feito. Paola mantinha a pintura em seu escritório, no Arturito; a menina havia riscado a palavra “papai”, escrita pela professora, e feito um coração em cima, pois ainda não sabia escrever. Naquele dia, Paola havia dito a si mesma que não precisava de um homem para criar sua filha, como sempre havia acreditado. O amor que ela dava era suficiente. No entanto, sabia que não era assim que funcionava. Francesca certamente não carecia de amor, mas, quanto mais tivesse, melhor seria. Tendo nenhuma base familiar no Brasil, Paola estava sempre preocupada em suprir qualquer tipo de lacuna que a menina pudesse sentir; mesmo quando sabia não podia. 

    Paola se levantou da cama em um pulo ao ouvir o grito da criança, que já não estava mais no quarto. Estivera tão ocupada conversando com a filha que se esquecera de terminar de se arrumar. Tinha que levar Francesca para o colégio e depois seguir para o Arturito, onde ficaria metade do serviço do almoço, antes de ter que voltar para a escola da filha por causa da festa. Fogaça, possivelmente, estaria lá antes dela, pois não tinha que trabalhar no domingo. Solano poderia aparecer a qualquer momento; ou, simplesmente, não aparecer, como ela, de maneira egoísta, desejava que fosse o caso. 

    A viagem até a escolinha não rendeu mais nada sobre o assunto dos pais; Francesca estava animada demais com sua fantasia e perspectiva de apresentação para falar sobre qualquer outra coisa. Apertando os dedos no volante, Paola olhava-a pelo retrovisor e sorria, querendo passar confiança de que tudo seria ótimo. Apesar de ter se mostrado apreensiva, sua filha ainda era só uma menininha, feliz com suas asas de fada. Poderia ser sempre assim, ela pensou. Depois de deixar a menina, vendo-a correr, feliz, ao encontro dos coleguinhas, Paola seguiu para o restaurante. 

    Durante seu meio período excepcional, enquanto adiantava o máximo de preparações que podia, tendo que gritar consigo mesma, por vezes, para se concentrar, sentiu seu celular tremer, e foi checá-lo. Não faria isso normalmente, mas tinha medo de que, a qualquer momento, Francesca tivesse outra crise, como a do ano anterior. O aparelho apresentava duas mensagens. 

 

Hola, Paolita. Llego em veinte minutos para ver a nuestra pequeña. Besos. Solano” 

 

    Um frio percorreu sua espinha. Ele iria.

 

Não se preocupe no restaurante. Já estou chegando na escola, Francesca não ficará sozinha na festa. Te espero. Henrique” 

 

    O frio se transformou em um formigamento que subiu por sua garganta, a deixando sem ar. Era o primeiro contato que tinha como namorado desde que ele saíra de sua casa; e esse  mesmo contato anunciava o desastre. 

 

    Enquanto dirigia de volta à escola, as mãos suando frio, Paola tentava não se desesperar. Não que estivesse sendo sucesso. Sua situação, definitivamente, não parecia nada boa. Se sua menina certamente teria os dois homens em sua vida, talvez ela não conseguisse o mesmo. Cada dia que passava tinha mais certeza de que Solano e Fogaça não conseguiriam coexistir nem mesmo da maneira indireta que ela representava. No entanto, a escolha dela não era entre os dois, como era a de Francesca. Era entre o amor de sua vida e sua filha. A decisão mais difícil do mundo; e, ao mesmo tempo, a mais fácil.


Notas Finais


Tentei usar um espanhol bem parecido com português, que desse pra entender! Se não tiverem gostado e preferirem as conversas em português mesmo podem falar; gosto de fazer assim para ficar mais real, mas se estiver ruim de ler avisem. Beijo!


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