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História Fast. It Takes a Long Time. - O final da primavera


Escrita por: TIBMatt

Notas do Autor


Sim, eu sei que prometi esse capítulo para o final do ano de 2019, mas a minha procrastinação não é, de forma alguma, uma brincadeira.
Não me usem como sacrifício por conta disso.

Capítulo 9 - O final da primavera


Fanfic / Fanfiction Fast. It Takes a Long Time. - O final da primavera

São meio mortas. As paredes. São incrivelmente sem vida com esse papel de parede florido e velho. É um apartamento velho, essa é a verdade, mas estou entusiasmado com a ideia de convencer Butters a passar uma mão de tinta verde por cima. Tudo ao redor cheira a coisa velha, o chão, o teto, os vidros das janelas que são inundadas pela luz desse sol de final de primavera, até o suor que escorre por meu pescoço cheira a algo velho.

Outro adendo é que entre essas paredes faz muito calor, eu tenho minhas dúvidas quanto a ideia de que um aquecedor será necessário no inverno e aposto minhas fichas que gastaremos o equivalente em um ar-condicionado. Todas as caixas espalhadas pelo chão só deixam o ambiente mais quente e abafado, uma amostra grátis do que será o verão que está por vir.

Estar de mudança para um apartamento velho é difícil.

O calor é difícil.

A falta de um elevador é difícil.

Mas as coisas se tornam melhores quando vejo Butters entrar pela porta com mais uma dessas caixas de papelão, onde em sua frente está escrito "Cozinha". Acabo sorrindo toda vez que vejo essa caixa, afinal, compramos uma torradeira. E apesar do recibo levar o nome dele, eu sinto muito mais como se fosse minha ou simplesmente nossa:

— Sim, Kenny: eu estou aceitando ajuda. — Ele disse com aquela expressão engraçada de raiva que costuma ter.

— Você não precisa. Você é muito bom nisso.

— Se você não levantar sua bunda daí, e começar a arrumar essas caixas, a próxima caixa que vou carrega vai ser aquela que contém sua cabeça descecada até o lixão. — Acabei rindo por pura irresistência.

Me levantei e fui até uma das caixas no balcão da cozinha, já deveria estar desembrulhando as coisas. Butters retomou, menos enfadado.

— A senhora... — Ele deu uma pequena pausa. — Abdul! A senhora Abdul nos convidou para jantar hoje.

— Quem é essa?

— A vizinha da frente.

— A velha?

— "Velha" é grosseiro.

— Não, "velha" é uma realidade. Pessoas velhas existem, ok? — Ele me deu um pequeno chute no tornozelo.

— De qualquer forma, a cuidadora dela vai preparar o jantar.

— A senhora nome complicado mora sozinha?

— É, seu filho mora em Nova York.

Butters guardava algumas canecas que compramos em um dos armários, eram fofas e bem semelhantes a canecas de casal, apesar de eu ter dito que não nos rebaixariamos a esse tipo de coisa.

A verdade é que não temos muito se não duas malas cheias de roupas, várias caixas e lembranças. Lembranças peculiares por sinal, porque antes de partirmos Tammy fez questão de me dar um álbum de fotos dela. Ela estava tentando me provocar. Ela conseguiu:

— Karen me mandou um e-mail há uns dez minutos. Já foram cinco em menos de um dia.

— Wow, ela parece entusiasmada. Com saudades. Os dois.

— Eu também estou, mas não sei muito bem como responder cinco e-mails de uma vez. — Comentei enquanto juntava algumas várias caixas no canto da parede. — Eu vou ficar com dor nas costas caso você continue me obrigando a fazer esse trabalho.

— Nem vem. — Ele me olhou feio. — Você é jovem, vai sobreviver. E outra, quem tá fazendo todo o trabalho pesado sou eu!

— Tem razão. — Acabei rindo. Gosto quando ele faz isso. Quando ele se solta. — Eu nem sei o que faria sem os seus bíceps.

Ele ainda estava guardando as coisas nos armários quando o abracei. Ele estava quente. É lógico que estava. Tudo parece quente demais nessa cidade. Nossos corpos. A cabeça dele. Seu pescoço. E minha língua sobre ele:

— Sem chupões. — Comentou.

— Por quê? — Lamentei enquanto pousava minha cabeça sobre seus ombros.

— Tenho uma entrevista hoje, antes do jantar. Se eu passar vou começar amanhã mesmo, então preciso estar limpo. Sem chupões... Por enquanto.

— Você é bom como ajudante de cozinha. Vai passar, eu tenho certeza. — Comentei enquanto passava minha língua mais uma vez em seu pescoço, ele estava claramente arrepiado. — Até posso conferir se você "está limpo".

Ele riu, e pela primeira vez em dias parecia que ele não estava prestes a explodir em stress. Eu sei que era isso que ele queria fazer quando sua mãe foi conversar com ele sobre a mudança, e quando ele ficou com medo de confirmar a compra das passagens, ou quando Red disse que seria mais difícil para nós conseguir um bom emprego quando nós dois descaradamente deixamos de ir ao colégio. Eu sei que ele tem agido como uma bomba relógio, e apesar de eu estar completamente satisfeito com a compra de uma torradeira eu tenho total ciência de que esta é provavelmente outra coisa que pode preocupá-lo. Então eu o beijo em seu pescoço, e dou uma mordida em sua orelha, porque quando ele ri envergonhado as coisas parecem menos piores. Elas parecem vivas. E ridiculamente brilhantes:

— Estamos arrumando as coisas, Ken. — Quando ele usa apelidos bobos a tenção também costuma ir.

— Você faria isso? Me deixaria carente e solitário só para poder organizar caixas? — Ele estava suado, mas tinha um cheiro bom. — São caixaaaas!

Ele riu mais uma vez daquela forma agradável, e então fechou o armário, a porta e veio retribuir alguns beijos. Eu nunca entendi com perfeição cenas onde casais que acabam de se mudar marcam o território fazendo sexo, porque não parecia fazer muito sentido, mas a verdade é que nada realmente tem sentido quando você está beijando alguém que faz sua mente derreter. E, francamente, eu já estava completamente derretido àquela altura.

Que venha o verão, ar condicionado, as contas, os diversos e extensos (mas adoráveis) e-mais de Karen e os outros vários álbuns que estou convicto de que Tammy mandará assim que lhe informamos nosso e-mail. Venham, estamos prontos.

Quando terminamos a maioria das coisas não haviam mudado, o mundo continuava uma bagunça, o apartamento, e agora nós. E, apesar de estar convicto de que Butters me daria um exporo em seguida pela "distração", eu estou certo de que ele também me devia um grande agradecimento por notar o cheiro das cobertas mofadas. Venham, novas cobertas.

Ele pegou o celular jogado no chão, ao lado do sofá-cama. Ele sentou um gemido de angústia e logo virou a tela do celular para mim:

— Olha. — Era um gif de uma foca filhote sendo devorada por uma baleia. Eu também soltei um gemido de angústia.

— Que merda é essa?

— Minha mãe me mandou, junto com um e-mail enorme.

— É um daqueles alertas contra o aquecimento global? — Ele levou alguns segundos para responder, mais focado em ver do que se tratava o e-mail.

— Quem me dera. — Ele se aninhou entre meus braços. — É um lembrete sobre amor materno, e como eu tomo péssimas decisões. Algo do tipo "você não deveria ter se livrado da gente". — Ele imita sua mãe, com uma voz estranhamente fofa.

— Para um lembrete de amor materno eu achei o gif meio demais.

— Acho que ela só tá tentando dizer "você está fudido e esse será o seu futuro" da maneira menos direta possível. Aliás, a Red também mandou algo.

Quando finalmente vimos não era nada de mais, apenas uma selfie dela assistindo Beleza Americana no notebook com uma mensagem.

"Amo esse filme. Mas sabe o que eu amo mais ainda? Pretzels, e bem no centro de Seattle há uma loja fantástica de Pretzels, não esquece de experimentar. Como vão? Já conseguiu uma entrevista, Leo? Deram um jeito no colégio?"

Perguntas delicadas, eu diria. Butters olhou para mim, colocando o celular contra o próprio peito:

— Ela tá certa, quando você vai resolver essa papelada?

— Eu já pedi a transferência e é só esperar os documentos chegarem. Vão chegar antes das férias de verão acabarem e então eu resolvo tudo, não se preocupa. — Por enquanto eu prefiro pensar em como você fica fofo com o cabelo bagunçado.

— Sem segunda rodada.

— Qual é?! Pode até ser seu turno.

Ele me chutou, em uma tentativa falha de me tirar da cama. Foi sem mim cuidar das caixas, das canecas, dos convites e da torradeira. Ele se tornou bom nisso, em fazer as coisas sozinho. Mas eu sei que ele não aguentaria para sempre.

Eu me levantei.

Organizei as caixas para que ele pudesse organizar a mente.

Eu sei que essa não é a forma perfeita de se livrar dos problemas. Porque sei que às vezes ele ainda sente vontade de chorar no banho, e francamente, eu não tenho nem ideia de quando ele vai retornar os e-mails de sua mãe ou sequer se derá ao trabalho de tentar. Eu não sei se ele vai conseguir o emprego ou se as nossas econômias irão sobreviver até o outono. Eu não sei de nada, e isso é assustador. Leopold Butters Stotch é assustador, mas eu nunca me senti tão seguro em toda a minha vida.

"As coisas vão ficar bem, elas sempre ficam" foi pensando nisso que eu arrumei a última caixa velha e pesada de papelão.


Notas Finais


Vocês podem tomar parte do tempo de vocês me xingando aí nos comentários caso queiram, ou, ler o bônus. Obrigada por acompanharem essa long que de fato custou para ser concluída. Para todos que tiveram paciência: coragem, porque noção...
Agradeço todo o apoio. 🍁🍂


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