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História Fate Supremacy: Rota Um - Desejo - Desejo: TRUE ENDING


Escrita por: Goldfield

Capítulo 18 - Desejo: TRUE ENDING


DesejoTRUE ENDING

- Acho melhor o plano do garoto... – manifestou-se Archer. – Eu e Hipólita atacarmos Saber ao mesmo tempo me parece menos arriscado, realmente. Enquanto isso, vocês magos podem se focar em Isabel. Mestres contra mestres, servos contra servos.

Jorge acharia mais condizente se Robin dissesse "vocês magas", já que as mulheres ali é que dominavam magia, e não ele. No entanto, sentiu-se com a autoestima um pouco mais alta por ser incluso no grupo daqueles que poderiam fazer alguma coisa. Além disso, agradeceu ao bom senso deles em ver que Petruglia não poderia atacar Percival sozinha. Bem, seria então de sua maneira. Achava deveras mais seguro e certo para a vitória.

- Melhor nos espalharmos, então! – falou Giovanna. – Vamos?

As atenções, subitamente, se voltaram para Daniela. Esta, que até então participara dos planos, calara-se. Quando a fitaram, encontraram-na imóvel em sua cadeira, olhos distantes como se estivesse imersa em algum tipo de transe. Por alguns instantes, seus aliados não souberam como reagir, até que Ravena se aproximou, estalando os dedos diante do rosto da maga. A ação bastou para trazê-la de volta – de onde quer que houvesse ido viajar – e virar-se com semblante um tanto assustado para os outros. Indagou, tentando inutilmente ocultar sua confusão:

- E então, o que faremos?

- Não estava ouvindo? – estranhou a supervisora. – Achamos melhor ficar com o plano de Jorge.

Petruglia olhou-os por um momento, ar ainda vago... até que acabou replicando, bastante calma:

- Está bem. Façamos como o grupo decidir.

Ela havia aceitado a decisão sem problemas. Para onde fora todo o ímpeto em agir sozinha contra Isabel que a dominava até dois minutos antes?

Não tiveram tempo de descobrir. Charlemagne disparava na direção deles.

Antes que o rei franco pudesse atingi-los com a espada, Berserker, rápida como um raio, se pôs em seu caminho, bloqueando sua arma usando a lâmina de pedra. Faíscas voaram e o som do impacto reverberou pelos arredores como um trovão metálico. Os olhos firmes de Saber, que manteve o sabre erguido e pressionando o da adversária, encararam-na com ímpeto combativo. Ela respondeu na mesma moeda, sua agressividade não transparecendo apenas pelo olhar, mas por cada poro de seu corpo.

- Vão atrás da mestre dele! – bradou ela em dado instante, entredentes, forçando sua espada contra Joyeuse. – Eu cuido do servo!

- "Nós cuidamos", você quer dizer... – corrigiu Archer, surgindo de um dos lados de Charlemagne com uma flecha pronta para ser lançada. – Não deixarei você dar cabo desse cavaleiro sozinha, minha cara.

Quase rosnando, o imperador moveu a espada na direção de Robin com o intuito de repeli-lo, abrindo assim uma brecha em sua guarda para Hipólita. A amazona investiu cortando o ar com a pesada arma rochosa... que apenas encontrou a ponta da lâmina de Joyeuse às costas do servo, já se defendendo com a mesma depois de seu ataque não ter conseguido acertar Archer. A rapidez de Saberera espantosa, manifestando-se novamente quando sua espada foi brandida diante de si para bloquear cada uma das quatro setas contra si disparadas pelo oponente. Os três guerreiros seguiram se digladiando pelo corredor, lascas de paredes e fragmentos de azulejo voando num espetáculo luminoso e barulhento. O que importava, na verdade, era que o servo mantinha-se agora ocupado – permitindo que os demais se focassem em Isabel.

Jorge olhou para Giovanna, Ravena e Daniela, ainda próximas a si. Chegara o momento. Acompanhando as duas irmãs, ele e sua mentora, através de uma rampa, alcançaram o pátio. Um tanto trêmulo – e reprovando-se muito por isso – o calouro ergueu de leve os olhos para o topo da demoníaca coluna arroxeada, com a sinistra esfera pulsante em seu topo. Conseguiriam, mesmo, destruir aquela coisa? Salvar a cidade e a si próprios de todo o mal que ela continha?

A supervisora retirou rapidamente um livro de baixo de seu hábito conforme se movia, contendo uma cruz desenhada em branco na capa de couro. Uma Bíblia. Abriu-a, posicionando-se numa das extremidades da quadra no pátio e se preparando para iniciar o ritual de exorcismo. Lançou um último olhar para a irmã, Petruglia e Jorge. O resto estaria nas mãos deles.

Diante dos olhos espantados do calouro, Giovanna se metamorfoseou, seu corpo brilhando enquanto as roupas mudavam de textura, o cabelo encolhia, seus seios se contraíam para o interior do peito e a postura se enrijecia. Finda a transformação, Jorge não se deparou mais com a mestre de Archer... e sim com outra Ravena Piemonte, de mesmos trajes e aspecto da religiosa. Sorrindo, a maga disfarçada falou-lhe:

- Vamos deixá-la um pouco confusa, o que acha?

Internamente, o rapaz aprovou a ideia... Embora não estivesse lá muito certo de que funcionaria.

Aproximaram-se de Isabel Percival, Daniela movendo sua cadeira junto a eles. A inimiga, com o olhar voltado para o topo da torre maligna e os braços abertos como se disposta a abraçá-la, aparentava se encontrar imersa em profundo transe, não notando a chegada dos oponentes ou o posicionamento de Ravena para exorcizar o Cálice – ou, pelo menos, fingindo muito bem não notar...

Petruglia, por algum motivo, deteve-se antes de seus companheiros, posicionando-se a seguros dez metros da adversária. Olhando-a por um momento, Jorge se questionou a respeito do que poderia ter tirado o ímpeto da mentora em enfrentá-la, já que estava tão desejosa disso até pouco antes. Mas ela realmente não tornou a avançar, deixando o garoto convencido de que apenas ele e Giovanna poderiam lidar com Isabel, a professora somente cobrindo-os pela retaguarda.

Do outro lado do pátio, a voz de Ravena, a verdadeira, começou a ecoar pelos arredores, entoando em alto e claro latim, uma mão estendida para a coluna enquanto a outra segurava aberta a Bíblia:

Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incursio infernalis adversarii, omnis legio, omnis congregatio et secta diabolica, in nomine et virtute Domini Nostri Jesu Christi...

O início da oração de exorcismo retirou Isabel imediatamente de seu estado de inércia. Como se em sintonia com sua mente, a torre roxa também reagiu, formas humanoides fantasmagóricas emergindo do plasma em espasmos – ainda que se mantendo a ele presas – e soltando sinistros gemidos de dor, com suas cadavéricas bocas abertas exalando hálitos pútridos na noite. Abaixando os braços, a pequena freira voltou seus olhos de pupilas roxas – agora brilhando numa claridade que as aproximava do vermelho – para os recém-chegados. E não, não parecia feliz.

- Como ousam me interromper? – exclamou, sua fina e esganiçada voz quase infantil soando, por algum motivo, assustadora a eles, como se os espíritos malignos do Graal endossassem sua irritação. – Ninguém me impedirá de realizar meu desejo! O Cálice Sagrado pertence aos Percival!

- Alguém na sua idade já deveria saber que nem sempre conseguimos tudo o que queremos na vida... – murmurou Giovanna, com a voz e as expressões faciais da irmã. – Ou será que teremos de lhe ensinar essa lição?

Atrás deles, a prece da monja continuava firme:

Imperat tibi Deus altissimus, cui in magna tua superbia te similem haberi adhuc præsumis; qui omnes homines vult salvos fieri et ad agnitionem veritaris venire. Imperat tibi Deus Pater...

No corredor junto ao pátio, por sua vez, clarões e o som de metal colidindo revelavam ainda estar em curso a batalha entre os servos, sem que nenhum dos lados aparentasse estar próximo da derrota. Forçando os olhos, Jorge tentou visualizar Hipólita dentre os rápidos vultos, porém não conseguiu identificá-la. Era possível, no entanto, determinar três forças em luta – o que bastou para aliviá-lo. Ela mantinha-se viva e disposta a vencer.

Voltando-se novamente para Percival, o jovem viu chamas púrpuras brotarem em suas duas mãos, mantendo-se ativas e envolvendo-as até o pulso sem que, todavia, queimassem a pele. Rindo, a freira agitou os dedos dos dois membros, manipulando o misterioso fogo até que formasse, em cada palma, uma bola incandescente. Quando, num movimento súbito, a inimiga estendeu os braços e atirou os projéteis mágicos sobre eles, Jorge concluiu que aquele não seria um confronto fácil...

* * * * * Desejo * * * * * INTERLÚDIO * * * * * Desejo * * * * *

Berserker e Saber disputavam o corredor palmo a palmo, olho no olho, espada contra espada.

As lâminas retiniam, destruindo o que havia em volta quando os golpes de cada uma eram desviados de seu verdadeiro alvo. Colunas eram arranhadas, paredes perdiam a tinta, fragmentos do chão se erguiam em estilhaços e poeira – o que havia de material em torno dos dois guerreiros refletia o ímpeto feroz de seu combate. Robin Hood, com suas flechas, ainda tentava romper a guarda do inimigo para que Hipólita lograsse atingi-lo; mas o imperador franco continuava se mostrando tão rápido em sua reação quanto teimoso nas intenções, conseguindo defender-se de todas as investidas sem expor-se.

- Como consegue? – inquiriu Archer num certo instante. – É como se tivesse quatro mãos! Duas empunhando a espada, e mais duas invisíveis que bloqueiam os golpes às suas costas!

- Este sabre concede proteção divina a quem o usa! – replicou Charlemagne de modo solene, enquanto bloqueava outro ataque de Berserker. – Sua empunhadura foi forjada com um fragmento da própria Lança de Longinus, a arma que feriu o Filho de Deus durante a crucificação. É estandarte dos reis franceses e lâmina santa que ceifou a vida de inúmeros infiéis sarracenos. E é com ela também que irei ceifá-los, inimigos traiçoeiros!

Terminando sua exposição, ergueu a espada sagrada para encontrar novamente a pedra da arma de Hipólita. Robin preparou mais algumas flechas no arco, enquanto refletia sobre as palavras do adversário. Já ouvira falar, claro, das histórias sobre a Lança do Destino; mas se o sabre de Charlemagne a possuía mesmo em sua composição, o que poderia ser mais poderoso? Tentou se esforçar para pensar, mas o calor do momento não contribuía muito para que o fizesse com clareza.

Ou então, talvez, a alternativa não fosse destruir a espada... E se houvesse outro caminho?

Por um momento, Berserker trocou um rápido olhar com Archer... E compreendeu, pelo movimento de suas sobrancelhas, que ele planejava algo. Não poderia imaginar ao certo o que, porém optou por continuar confiando no aliado, criando uma distração para que agisse – fosse lá o que pensasse fazer.

Saber investiu com ímpeto contra Hipólita, que o bloqueou mais uma vez usando a lâmina de pedra. Faíscas se projetaram, iluminando as faces dos dois servos. Em seguida, livrando a espada, a amazona investiu pelo flanco direito do inimigo. Contida por Joyeuse, tentou pelo esquerdo... encontrando igualmente a arma. Urrou, seus olhos cintilando num breve rubro quando tentou atacar por cima, disposta a rachar o crânio do imperador ao meio. E ele conteve o golpe no alto, erguendo seu sabre santo acima da testa, as duas mãos envolvendo o cabo e os braços tremendo de leve devido ao rápido e urgente esforço. Aquilo aliviou um pouco a guerreira. Ao menos ele era passível de se cansar.

Logo em seguida, o aço de Joyeuse tornou a rugir contra Hipólita, mas foi beijar mais uma vez a rocha implacável de sua arma. As lâminas se empurraram uma para cada lado... Berserker vencendo o embate, devido à sua força física, e assim rebaixando a espada do adversário – ainda que este não a soltasse. Nisso, percebeu um vulto se aproximar pelas costas de Charlemagne. Nada demonstrou. Teria de mantê-lo focado para que o eventual esquema desse certo.

Ele voltou a atacar. Tentou varrer suas pernas num golpe rasteiro, porém o sabre de pedra desceu para impedi-lo. Tilintaram, em seguida subindo na tentativa de romper a guarda um do outro. Fracassaram. Raivoso, Saber então levantou ainda mais a lâmina para cravá-la num dos ombros da inimiga – num movimento similar ao que ela empreendera pouco antes. Mas de repente suas mãos se tornaram estranhamente leves... e os braços desceram, confusos... vazios.

Os dedos armadurados que até meio segundo antes ostentavam Joyeuse, agora nada seguravam a não ser o vento.

O servo voltou-se de imediato para trás, deparando-se com Robin Hood, um sorriso estampado em seu rosto... e mantendo erguida por ambas as mãos a espada de Carlos Magno, dele roubada num gesto sutil e perfeito.

- Maldito! – praguejou o rei, ignorando Berserker às suas costas, que mantinha sua lâmina pronta para investir se ele reagisse. – Ao invés de lutar de forma nobre, como um cavaleiro, prefere atacar por traição!

- Você perdeu toda sua honra de cavaleiro no momento em que se aliou a Isabel Percival, amigo – afirmou Archer, admirando a lâmina da espada sagrada por um momento. – Não pode nem tocar nesse assunto.

- Cão infiel, pergunto-me como é possível que consiga segurar esse sabre, dotado de tão sagrada relíquia em sua composição! Não passa de um infeliz herege!

- Para sua informação, lutei nas Cruzadas sob o rei Ricardo. Ostentei a Cruz Sagrada em minha armadura na ida e na volta da Terra Santa. Reencontrando minha terra dominada por uma corja de criminosos, resolvi adotar o capuz e o arco para fazer justiça. Também sou digno, imperador. Por isso é que consigo segurar esta espada. Não são apenas aqueles ungidos pelos óleos santos os merecedores do privilégio.

E, além de tudo isso, era um ótimo ladrão. O príncipe dos gatunos. Sendo dono de tal alcunha, não era de se surpreender ter conseguido apanhar a arma do oponente com tanta facilidade.

- Quer de volta? – Robin sorriu. – Venha pegar!

Bradando cheio de fúria, Charlemagne avançou.

* * * * * Desejo * * * * * FIM DO INTERLÚDIO * * * * * Desejo * * * * *

O pátio e a quadra eram agora um inferno roxo, as labaredas de pitoresca cor ondulando para lá e para cá enquanto se espalhavam violentamente pelo local. Gargalhando, Isabel seguia atirando mais e mais bolas de fogo mágico contra eles, que viam cada vez maior dificuldade em se esquivar, visto que o espaço livre se reduzia. Pior que isso: tinham de proteger Ravena, que continuava, de pé em sua mesma posição, proferindo a oração de exorcismo com a Bíblia aberta e um braço erguido.

Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciæ, hostis humanæ salutis. Da locum Christo, in quo nihil invenisti de operibus tuis; da locum Ecclesiæ uni, sanctæ, catholicæ, et apostolicæ, quam Christus ipse acquisivit sanguine suo...

A torre seguia reagindo ao ritual, emitindo berros, espasmos fantasmagóricos. Braços esqueléticos e asas pontudas dela brotavam volta e meia, desejando se libertar, ganhar aquele novo mundo para nele semear o caos e o medo. Jorge, movendo-se com Giovanna e Petruglia, sentia-se inútil por não conseguir reagir à inimiga – embora os ataques mágicos das aliadas não surtissem qualquer efeito. Olhando para as chamas púrpura, acabou indagando, e se sentindo um idiota por isso ao mal terminar a última palavra:

- Vi extintores de incêndio presos às paredes lá atrás, acham que eles seriam úteis?

- Esqueça, garoto! – replicou Giovanna de modo firme, ainda com a aparência da irmã, ao saltar para escapar de mais um ataque flamejante de Percival. – É fogo mágico. Não teria qualquer efeito.

E as chamas continuavam vindo, tomando à força o pátio para si. Não emitiam fumaça – principal característica que permitia serem identificadas como algo não natural. Em seu crepitar, Jorge julgava conseguir ver reflexos... lampejos de faces descarnadas, consumidas pelos vermes, cheias de ódio e rancor. Percebeu que queimar-se não seria o único problema se deixasse que elas o alcançassem...

- Talvez água benta! – o garoto falou subitamente, numa inesperada ideia.

Giovanna voltou-se para ele, surpresa:

- O que disse?

- Água benta! Se são chamas mágicas, e com certeza malignas, então água benta pode ser capaz de extingui-las. Assim como estamos usando exorcismo contra a torre, é possível que líquido santo funcione. Combater fogo contra fogo... Bem, digo... você entendeu!

O olhar esperançoso da maga demonstrou que sim. Restava, no entanto, uma dúvida:

- Certo... mas onde encontraremos água benta?

Petruglia aproximou-se, exclamando, e rompendo assim seu silêncio que predominara por vários instantes:

- Nunca fui muito boa com magia do tipo divino, mas... posso tentar!

Desviando sua cadeira de uma cortina de fogo roxo, Daniela levantou as mãos, palmas inclinadas como se segurassem um orbe invisível pelo lado de cima, enquanto proferia, olhar extremamente concentrado:

Dominus Illuminatio Meadona nobis pacem et aqua pura!

Um brilho azulado tomou seu colo... e, em seguida, uma esfera flutuante, composta de líquido resplandecente que nem sequer pingava, passou a pairar sobre suas pernas, mantida estável devido à proximidade de suas mãos. Mantendo os olhos fixos no globo, abriu levemente os dedos... fazendo com que se erguesse mais alguns centímetros no ar e se deslocasse através dele. Enquanto isso, retesou os mesmos dedos de forma bem lenta... até que, quando o orbe atingiu certa posição do pátio, abriu ambas as mãos de uma só vez, fazendo com que o artefato estourasse e lançasse uma quantidade de água bem maior do que parecia ser feito sobre os arredores... extinguindo, de imediato, os crescentes focos de chamas mágicas.

Só então fumaça foi erguida do fogo que sumia, em fios brancos, chiando. Isabel, de pé perto da coluna que compunha o Graal, retorceu o rosto. E a oração de Ravena continuava ecoando pelo lugar:

Deus coeli, Deus terræ, Deus Angelorum, Deus Archangelorum, Deus Patriarcharum, Deus Prophetarum, Deus Apostolorum, Deus Martyrum, Deus Confessorum, Deus Virginum, Deus qui potestatem habes donare vitam post mortem, requiem post laborem...

A cada invocação da palavra "Deus", a torre maligna estremecia, espasmava. Jorge perguntava-se por quanto tempo mais aquilo duraria, já que não conhecia todo o ritual de exorcismo romano para poder afirmar – e nem mesmo tinha certeza se aquele plano funcionaria, embora houvesse sido seu idealizador. Mas Isabel possuía consciência do perigo que corria, isso era certo. E ficou ainda mais claro quando, envolvida pela aura do Cálice, a garota tornou a erguer os dois braços... a torre, assustadoramente, imitando seus movimentos, com um par de longos e sombrios membros espectrais brotando da coluna de lados opostos e, estendendo-se como galhos, formando mãos em suas extremidades que agarraram, cada uma, Ravena e Giovanna, erguendo-as.

As irmãs pouco puderam fazer para se defender. A monja acabou soltando sua Bíblia e interrompeu a oração, cerrando os dentes enquanto os grandes dedos roxos da bizarra mão lhe apertavam os ossos. Giovanna debatia-se e soltava pequenas magias tentando se libertar, porém equivalia a atirar num tanque com bolas de papel. E, por ambas conservarem a mesma aparência, logo Jorge já não sabia mais quem era quem.

No solo, Percival gargalhava, fechando os próprios punhos como se fosse ela mesma a esmagar as inimigas. Para piorar ainda mais a situação, uma série de tentáculos finos e longos, semelhantes a chicotes, passaram a se projetar também da superfície inconstante compondo a forma material do Graal. Serpenteando de forma agitada, por pouco não derrubaram o calouro, que teve de se esquivar rolando pelo chão para escapar do ataque. Daniela, todavia, não teve a mesma sorte: atingida no peito pela forte pancada de um dos apêndices, foi atirada para fora de sua cadeira, a qual tombou, seus óculos voando a alguns metros de distância e a idosa caindo de lado no cimento, sobre um braço, passando a tentar movimentar o corpo entre gemidos.

- Petruglia! – berrou seu protegido, sentindo-se bastante impotente e, tinha de reconhecer, com medo.

Por um momento fez menção de correr na direção da professora para ajudá-la, mas teve de desviar de outra investida de um tentáculo, jogando-se no chão. Quando tornou a se levantar, contemplou a coluna maligna, com as irmãs Piemonte brandidas pelos braços feitos de trevas a vários metros do chão e Isabel, rindo, prestes a aniquilar a todos eles.

Teria de fazer algo para evitar isso. Sozinho.

* * * * * Desejo * * * * * INTERLÚDIO * * * * * Desejo * * * * *

Alguém ingênuo teria presumido que Archer não sabia combater bem com uma espada longa. Sua habilidade ao manejá-la contra Saber, no entanto, mostrava o exato contrário. As estocadas e giros do ladrão com a arma eram perfeitamente sincronizados e ameaçadores – Charlemagne tendo de se defender sozinho, desarmado. A lâmina de Joyeuse resvalava na armadura dourada do rei, tilintando, ou era contida por suas manoplas. Mesmo na situação mais desfavorável possível, ele não desistia de lutar.

- Já chega, imperador! – bradou Hipólita, atrás do servo com sua espada empunhada. – Não nos dá outra opção a não ser aniquilá-lo!

- Então me aniquilem, infiéis! – exclamou desafiador, defendendo-se de mais golpes de Robin. – Não trairei minha mestre, a quem prestei nobre juramento! Morrerei a seu serviço!

- Realmente concorda com tudo que Percival fez? – Archer questionou. – O assassinato a sangue frio de inocentes, a invocação de espíritos malignos, a corrupção do que o Santo Graal representa... Arca mesmo com a responsabilidade de defendê-la por isso, soberano da cristandade?

Súbito, Saber estacou. Deu um passo em falso, por pouco não perdendo o equilíbrio... Para em seguida recuar um metro, fitando fixamente Robin, olhos arregalados e face contorcida de pavor, enquanto suplicava, com uma voz sumida:

- Mate-me... Por favor, me mate! Por tudo que é mais sagrado!

No segundo seguinte, numa intensa e estranha transformação, o rosto do imperador tornou a se tornar altivo e colérico, unindo rapidamente os braços para continuar se protegendo do inimigo. Por cima dos ombros de Carlos Magno, Archer e Berserker trocaram um olhar. Agora entendiam tudo. Feitiços de comando. Aquele servo fora obrigado a obedecer cegamente quaisquer ordens de sua mestre – por mais que fossem contra sua natureza.

Sabiam o que teriam de fazer.

Aproveitando-se da desvantagem do oponente, Hipólita, o mais rápido que pôde, avançou com sua espada...

E, quando Robin se preparava para desferir novo ataque, a lâmina de pedra brotou do peito do rei franco, embebida em sangue e rompendo a placa frontal da armadura. Charlemagne desfaleceu, fios rubros lhe escorrendo dos lábios enquanto a amazona retirava a arma por suas costas, deixando livre o rasgo que ela lhe fizera de um lado a outro do tronco. Saber curvou-se, caindo de joelhos enquanto se engasgava com fluído vital. Num último esforço, levantou a cabeça para Archer... sorriu, e, no instante seguinte, seu corpo converteu-se em pequenos fragmentos luminosos, dispersando-se no ar como poeira.

Nas mãos de Robin, Joyeuse também desapareceu. Voltara para junto de seu dono.

Os dois servos remanescentes permaneceram sem ação por algum tempo, ofegantes. Os sons emitidos pelo Cálice e aqueles que tentavam destruí-lo dominaram o ambiente... e, voltando suas cabeças para o pátio, concluíram que a luta não terminara.

Teriam, agora, de enfrentar o inimigo principal.

* * * * * Desejo * * * * * FIM DO INTERLÚDIO * * * * * Desejo * * * * *

Jorge procurou se concentrar, fechando os olhos enquanto os sons fantasmagóricos emitidos pelo Graal continuavam a provocar seus ouvidos.

O que teria de fazer para ser tomado novamente por aquele ímpeto sobrenatural, a raiva destruidora que o dominara na batalha contra Caster? Como acioná-la novamente, agora que tanto dela precisava?

Da última vez, o perceptível catalisador fora ver Hipólita em perigo, subjugada pelos oponentes. Mas houvera algo mais... o modo como ele se lançara contra a Dama do Lago, esmurrando-a por ser "pagã", clamando ser ela uma bruxa... Afinal, de onde pudera ter vindo tal impulso? Jorge não fora ele mesmo quando aquilo acontecera. Uma entidade tomara conta de si, estava certo disso. Só não sabia bem dizer qual...

E, pelo visto, era temperamental – ou no mínimo não tão receptiva a convites para se manifestar. Mais instantes de olhos fechados, procurando se focar; tendo que se movimentar em certos intervalos para escapar dos tentáculos espectrais do Cálice... Por que agora não dava certo? Teria de mais alguma desgraça ocorrer para que surtisse efeito?

De qualquer modo, uma tragédia parecia próxima. Envolvidas pelos membros da coluna, as irmãs Piemonte demonstravam cada vez menos forças. Sua pele empalidecia; os músculos tremiam enquanto empreendiam seus últimos esforços para se livrarem do cativeiro. Dada a pressão exercida pelo Graal e Isabel, no solo, aparentavam se encontrar prestes a rebentar em sangue e ossos a qualquer momento. Petruglia, por sua vez, desmaiara no chão, após o violento golpe que sofrera. Jorge tinha de fazer algo...

Mas não estava mais sozinho.

A esperança voltou a preenchê-lo quando avistou Berserker e Archer adentrando o pátio. Não havia qualquer sinal de Charlemagne, indicando terem conseguido derrotar o poderoso servo de alguma maneira – e o garoto estivera tão consternado com o que ocorria perto de si, que nem sequer notara. Rever Hipólita, com seu corajoso porte guerreiro e beleza mística, apesar de toda sujeira e sangue, deu a seu mestre a inspiração que lhe faltava. Correu até eles. Um plano era elaborado às pressas em sua mente.

- Será que alguma arma pode ferir essa coisa? – o calouro questionou ao se aproximar, sem nem ao menos perguntar se estavam bem.

- Não sei, mas acho pouco provável... – murmurou Robin, erguendo a cabeça para contemplar a monstruosidade. – Acho que uma das poucas armas que tínhamos disponíveis para ceifar essa coisa sumiu junto com seu dono... Joyeuse, a espada sagrada de Carlos Magno.

- Sim... – replicou Berserker em concordância. – Talvez fosse uma garantia que Isabel tivesse caso precisasse interromper o processo de invocação. Bem, agora esse recurso inexiste. Teremos de pensar em outra coisa!

Uma arma sagrada?

A ideia percorreu os agitados pensamentos de Jorge. Se eles precisavam de uma arma abençoada... Será que poderia providenciar uma? Ou melhor, seu "alter ego"?

Na verdade, ele seriamente desconfiava de quem essa tal entidade pudesse ser...

Enquanto o Graal tornava a atacar com seus tentáculos e eles saltavam para escapar, a palavra lhe veio pela primeira vez à mente. De início como sugestão, quase um sussurro ansiando para dar-lhe uma dica sobre o que fazer...

Ascalão.

Não compreendeu. O nome de uma pessoa? Uma palavra de significado desconhecido numa língua incógnita, chamando-o de "covarde", talvez? Seria o alter ego? Pulou para mais uma vez escapar de um tentáculo, o mesmo passando pouco abaixo da sola de seus coturnos enquanto tentava dar um sentido à estranha palavra. Pousou no solo de pé num baque, e ao mesmo tempo o vocábulo voltou a retinir em sua mente:

Ascalão...

Antes de poder tentar novamente assimilá-lo, um gemido feminino chamou sua atenção...

Virando-se, viu Hipólita, sem sua espada de pedra, ser erguida do chão de cabeça para baixo, agarrada através de uma das pernas por uma das extensões serpenteantes do Cálice. Seus cabelos negros projetavam-se ao vento enquanto ela tentava se soltar – mas mesmo se conseguisse, logo a altura se tornou grande demais para que não fosse uma queda arriscada. Cerrou os dentes, sentindo um provável misto de dor e revolta enquanto a essência maligna do Graal tentava dominá-la. Metros abaixo, Robin apontava seu arco com algumas flechas prontas, mas a insistência dos outros tentáculos em tentar apanhá-lo e a mira necessária para efetuar o difícil disparo – que poderia muito bem atingir a serva – faziam-no mover-se para lá e para cá sem poder reagir.

Jorge sentiu seus nervos se retesarem, os punhos se fechando. A palavra voltou a ecoar dentro de si, num clamor quase desesperado:

Ascalão?

As pupilas acompanharam Berserker ser balançada para lá e para cá... Enquanto se concentrava. Fechou novamente os olhos, passando a não se importar com os tentáculos. Se um deles o agarrasse, terminaria a maldita meditação lá em cima e cortaria a coisa em pedaços! Cortaria... Cortar! Mas cortar com o que? Seria uma pista a respeito do que se tratava a palavra que tanto o confundia?

Estacou. E, como que trazida pela brisa, ouviu a voz longínqua do pai...

Um herói bravo e destemido, como eu sei que um dia você também irá ser!

Um herói... Precisaria agir como um.

A palavra, a palavra! A maldita palavra! Já sentia a essência daquela entidade mais uma vez em si, despertada logo que viu Hipólita em apuros. Era o botão de acionamento. Queria deixá-la fluir, tomar conta de si para resolver aquela situação... Porém ainda havia uma trava. Tinha de dar sentido à palavra, para que pudesse agir por meio dela!

Suas mãos formigaram, os olhos se ergueram para o céu... E, quando encarou a brilhante lua cheia, finalmente compreendeu. Como se a resposta lhe houvesse sido dada pelo astro.

Ascalão!

Ascalão, a espada de São Jorge.

A queimação nas mãos aumentou. Quando deu por si, um brilho dourado reluziu na altura de seu abdômen... entre seus dez dedos, que inconscientemente havia unido em frente a si como se segurassem algo. A luz ofuscou-o, mas quando passou... sentiu algo pesar em suas palmas. Olhou. Detinham agora o cabo de uma espada.

Era belíssima. A lâmina, de corte afiadíssimo, subia até a altura de sua cabeça, o aço refletindo o brilho da noite como se emitisse claridade própria. A guarda parecia ser feita de ouro puro, coroando o cabo num perfeito formato de cruz – uma menor, feita de safira, incrustrada no pomo. O gume aparentava ter sido temperado na mais sublime forja... e imergido na mais pura água benta. Jorge julgava conseguir ver o líquido santo na própria constituição do metal, como se fosse o elemento que mais lhe conferisse poder.

Uma arma abençoada.

Brandindo-a com ambas as mãos, o garoto deixou que o Paladino da Capadócia o dominasse.

Conhecendo aquele que guiaria seu corpo e confiando em seu julgamento, entregou-se.

As pernas moveram-se rápidas, uma implacável corrida sendo iniciada em direção à torre viva.

AAAAAAAAHHHHHHH!

Os tentáculos ainda livres voaram na direção do rapaz. Um primeiro, tentando envolvê-lo, foi partido ao meio ao beijar a lâmina sagrada, a extremidade rompida vindo ao chão entre espasmos violentos, como uma cobra, e se desfazendo em sombras em poucos segundos. Um segundo, transformando-se numa lança afiada, procurou lhe perfurar o crânio... explodindo em fagulhas negras ao colidir de frente com Ascalão. Um terceiro foi rompido próximo da raiz por um giro perfeito da espada, Jorge manejando-a enquanto avançava como poucos cavaleiros o conseguiriam. Archer, abismado, passou a cobri-lo disparando flechas... Mas a verdade era que o garoto não precisava. Nada parecia capaz de detê-lo.

Percebendo o que ocorria, Isabel moveu os braços em fúria, os tentáculos remanescentes acompanhando sua truculência. Um transformou-se num grande punho escuro, cujo soco, desferido em incrível velocidade, poderia ter esmagado Jorge contra o chão... se, num golpe com a arma, o mestre de Hipólita não fincasse a lâmina na gigantesca mão – que se converteu então em corvos espectrais, cujo voo, rumo ao céu noturno, fez com que se desintegrassem em penas feitas de sombras. Outro tentáculo virou uma lâmina... que se partiu em fragmentos ao tentar inutilmente duelar com Ascalão. Nada seria capaz de quebrar aquele sabre sacrossanto.

E, atingindo os pés da coluna, Jorge ergueu a arma bem alto... enterrando-a, em seguida, na carne roxa purulenta do Graal. Empurrou a lâmina até quase a guarda, fazendo toda a torre estremecer. Um alto berro inumano foi solto para a madrugada, ecoando por toda a cidade como um guincho monstruoso, um gemido demoníaco. Urrando, Isabel tentou correr e saltar na direção do inimigo, para detê-lo... porém já era tarde.

Eu finalmente compreendi... A donzela a ser salva, a jovem ameaçada pelo dragão... Era você, Hipólita. Apenas você.

A esfera púrpura no topo da coluna começou a derreter, desfazendo-se numa gosma rançosa como um feto abortado, um "olho de Sauron" vazado com ferro quente. A estrutura inferior da torre, logo depois, passou a se desintegrar como uma vela queimando rápido demais, a substância que a compunha escorrendo feito cera. Ascalão, fincada na vil deformidade, brilhou como o sol... e desapareceu, como se houvesse tido sua existência violada por tamanha repugnância. Ofegante, Jorge sentiu o corpo arder... Na verdade, sentiu pela primeira vez o corpo após vários instantes... e caiu sentado sobre o concreto, as pernas moles como gelatina, enquanto contemplava aquele engenho maligno se extinguir.

Libertadas dos tentáculos, as irmãs Piemonte e Hipólita caíram de uma altura relativamente baixa, já que seus invólucros derreteram somente depois de se rebaixarem alguma distância rumo ao solo, pousando sobre ele sem problemas. Petruglia acordara, sentando-se no chão a contemplar os acontecimentos. Isabel, por sua vez, passou algum tempo encarando o topo da coluna se desfazer... lágrimas brotando de suas pupilas roxas e descendo por sua face sardenta.

Trêmula, caiu de joelhos diante de sua criação destruída, braços abertos.

- O m-meu... – oscilou, soluçando, a inimiga ameaçadora e cruel de pouco antes agora convertida numa jovem indefesa e frágil. – Meu desejo!

E, mordendo os lábios, fechou os olhos.

* * * * * Desejo * * * * * INTERLÚDIO * * * * * Desejo * * * * *

Ela corria saltitante pela casa. Gostava muito de quando o tio vinha visitá-los. Bem, ele não era um "tio" de verdade, como o pai lhe explicara uma vez. Não possuíam laços de sangue em comum, sendo que ele pertencia a uma família diferente. Mas como esta era muito amiga dos Percival, havia intimidade suficiente para que fosse tratado como um parente. Por isso chamava-o de "tio". E só. Seu sobrenome era muito complicado. Algo europeu, da Escandinávia, se não se enganava. Um lugar frio e isolado, como o pai havia lhe dito. Mas de vez em quando arriscava pronunciar. "Einzber"... Não, não, era "Einzbern".

Mesmo a tal Escandinávia sendo um lugar frio, o tio não parecia uma pessoa ranzinza. Pelo contrário, tratava-a muito bem, sempre trazendo algum presente. Mas, naquelas últimas visitas, ela encontrava-o mais nervoso que de costume. Como se algo o preocupasse. Pior: esse estado contagiava o pai. E, o tio indo embora, acabava deixando o clima tenso na casa, coisa que demorava a passar. Gostava muito do tio, mas... gostaria também que ele não trouxesse seus problemas para que o pai se perturbasse.

Curiosa quanto a saber que problemas seriam aqueles, ela naquela manhã se escondera embaixo da mesa da sala de estudos, onde o pai e o tio costumavam sempre se reunir para conversar. A portas fechadas, nem mesmo a mãe sendo permitida a entrar. Se descoberta, seria ela quem teria graves problemas... Mas tinha de descobrir. Quem sabe não poderia auxiliar o tio de alguma forma? Retribuir todo o carinho e presentes?

- Faltam pouco mais de dez anos para a próxima guerra, não vejo a razão de tanta urgência quanto a esse assunto... – ouviu o pai afirmar, enquanto fechava as portas do lugar.

- A preparação para o ritual demanda tempo, você sabe – o tio respondeu em seu português carregado de sotaque. – Sabe bem, também, que sua família é a única aliança sólida dos Einzbern em todas as regiões do mundo em que ele ocorre. O que fazem aqui é um complemento a Fuyuki. Se nossa invocação não gera frutos lá... Devem tentar algo diferente aqui.

- A próxima guerra será nossa. Temos a relíquia capaz de invocar um dos servos mais poderosos, senão o mais poderoso. Meu pai a obteve no Paraná, sul do país, anos atrás. Está bem guardada naquele cofre.

Isabel já ouvira falar da história. No início daquele século, um confronto no sul do Brasil envolvera as regiões de Paraná e Santa Catarina, chamado "Guerra do Contestado". A população pobre se unira sob a liderança de um monge, José Maria, tido como homem santo, para lutar contra o governo. Esses rebeldes possuíram como inspiração os cavaleiros da Matéria de França, o círculo de lendas de cavalaria francesas que tanto já ouvira antes de dormir. José Maria até mesmo organizara sua guarda pessoal tendo como base os "Doze Pares de França", famosos paladinos do rei Carlos Magno. Mas, de acordo com o que o pai e o avô contavam, o monge também possuíra um fragmento verdadeiro de "Joyeuse", a famosa espada do imperador franco, trazido por imigrantes à região no século anterior. E o avô teria viajado para o Paraná em plena guerra, quando mais novo, para se apoderar da relíquia, levada então para aquela casa.

- Para invocar "Akasha", não basta somente o sacrifício dos servos – explicou o tio. – É necessário um invólucro para incorporar a Origem neste mundo. Um recipiente. E um simples corpo humano não seria capaz de aguentar. Nas guerras anteriores nesta cidade, foi invocado um Graal falso. Um Cálice imperfeito capaz de realizar apenas pequenas obras de feitiçaria. Se quisermos realmente chegar a Akasha, maiores sacrifícios terão de ser feitos...

- Você fala de sacrifícios como se sempre os fizesse... Mas nunca vi os Einzbern abrindo mão de nada que é seu!

- É aí que se engana. Há gerações minha família tem criado homúnculos para servirem de recipiente ao Graal. Cedemos nosso próprio sangue para isso. Entretanto, ainda não obtivemos resultados satisfatórios com essa técnica. Se fosse usado um ser humano, porém...

Isabel encolheu-se mais sob a mesa. Após breve silêncio, o pai rebateu:

- Acabou de dizer que um mero humano não aguentaria receber Akasha!

- Sim, um mero humano não aguentaria. Mas e se essa feitiçaria limitada gerada pelo Cálice que vocês têm invocado aqui fosse utilizada para "fortalecer" um humano, tornando-o imortal e, assim, apto a receber o verdadeiro Cálice? Na guerra seguinte, seria possível e seguro utilizar sua teoria dos sete chakras na invocação. Akasha se manifestaria em seu invólucro. Só terá de garantir que sua família vença a guerra duas vezes consecutivas.

- Quer que eu ofereça um dos meus como cobaia para esse experimento?

- "Um" dos seus não. Uma. Sua filha única já está aprendendo os primeiros truques, não? Ela será a mestre perfeita para a próxima guerra. Quando invocar Carlos Magno, entregue-o a ela. Treine-a desde já. Alguns feitiços de comando serão suficientes para fazer o servo obedecer acima de sua própria honra. Pode até conseguir alcançar a Verdade antes mesmo que minha família, Percival. E seria muito bem recompensado por isso, tenha certeza.

- E caso eu me negue? – a voz do pai veio em tom de desafio.

- Bem, a Associação Mágica adoraria obter conhecimento sobre as atividades escusas que vocês vêm realizando há décadas aqui contra as demais famílias. Os Einzbern possuem muito boas conexões. Não queiram que elas sejam usadas contra vocês.

Sob a mesa, Isabel abraçou as pernas, esforçando-se para conter as lágrimas. Não poderia ser ouvida. Contorcendo o rosto sardento, emitiu leve soluço... remoendo as palavras que acabara de ouvir. Tornar-se recipiente, ameaças contra o pai...

Dobrando-se como um feto, ela recostou-se ao frio piso da sala de estudos. Fechou os olhos em seguida e, trêmula, tentou resistir ao peso do destino que a aguardava.

* * * * * Desejo * * * * * FIM DO INTERLÚDIO * * * * * Desejo * * * * *

A torre do Graal terminava de se liquefazer, cobrindo o pátio e a quadra com sua substância outrora violeta, agora de um preto viscoso. O petróleo com restos de espectros e demônios escorria aos pés dos sobreviventes, sujos e esfarrapados, que se reuniam. Enquanto as irmãs Piemonte ajudavam Petruglia a voltar à sua cadeira de rodas, Berserker e Archer se aproximavam de Jorge, ainda sentado com suas forças praticamente exauridas. Já Isabel se mantinha de joelhos no mesmo local, como se ainda contemplasse um Cálice invisível... semblante banhado em lágrimas e boca balbuciando palavras que não podiam ser ouvidas.

Um aliviado clima de vitória passou a envolver o grupo triunfante, mas isso não impediu que a maga dos Percival fosse alvo de atenção. Primeiramente, Petruglia apontou com uma mão para a garota, enquanto os demais se aproximavam dela. Não aparentava mais oferecer risco a ninguém. Na verdade, Jorge achou até que, estranhamente, ela oferecia risco a si mesma.

- M-meu desejo... – ela suspirava aos prantos, alheia a tudo e todos. – Não realizarei meu desejo. Meu desejo...

Todos se entreolharam. Foi o mestre de Berserker quem deu um passo à frente e, abaixando-se diante da garota, indagou, tomado por empatia e pousando uma mão em seu ombro:

- Qual era seu desejo, Isabel?

- Morrer! – ela exclamou subitamente, fitando-o com seus olhos vermelhos e semblante marcado pelas lágrimas. – Eu queria morrer! Pedir ao Cálice que me permitisse descansar, que me transformasse em pó!

Os outros continuavam a fitá-la, sem compreender. Ela então explicou:

- Fui transformada por minha família num instrumento para receber o Graal. Um receptáculo. A guerra de cinquenta anos atrás me tornou apta a ser um. E nesta, eu finalmente o seria. Mas meu plano era destruir o Graal, junto comigo, assim que ele se manifestasse. Agora... ele está destruído, mas permaneço. Presa a esta condição para sempre. Minha intenção era ganhar a guerra a qualquer custo, eliminando quem preciso fosse, para me livrar desta condição. Mas com o que houve... tudo está perdido.

Olhou para os destroços gosmentos do Cálice, e complementou:

- Esse Graal era do tipo que não pode conceder bons desejos. Apenas os maus. A morte, por exemplo. Ele cumpriria o meu... Cumpriria o meu desejo!

- Estava disposta mesmo a sacrificar as almas de toda a cidade somente para deixar de existir? – inquiriu Daniela, voz severa.

- Esta cidade é o legado de minha família. Foi fundada somente para o ritual. Eu apenas estaria encerrando a linhagem Percival e levando junto o que eles criaram. Seria merecido. Por terem... – soluçou. – Por terem feito isto comigo!

Curvou-se para frente, começando de novo a chorar.

Foi a vez de Ravena Piemonte dar um passo à frente.

- Eu posso fazer isso! – afirmou. – É tarefa da Igreja eliminar os hereges. E ela foi longe demais no que fez!

- Não! – Jorge replicou firme, talvez ainda inspirado por seu alter ego. – Ela não merece isso.

- Como assim não merece? – a monja agostiniana explodiu. – Não testemunhou o ritual que estava sendo feito aqui? O que ele colocou em jogo?

- Olhe para o passado dela, ela foi forçada a isso.

- Mas isso não muda o que ela tentou realizar aqui!

- Posso fazer isso também – interviu subitamente Petruglia.

- Não – Jorge reprovou de igual a sugestão. – Seria vingança. Queira ou não.

Um breve silêncio se impôs antes que o garoto completasse:

- Eu farei isso.

A consternação ficou aparente na face de todos.

- Tem certeza, garoto? – quis confirmar Archer.

Já Hipólita nada disse, mas encarou seu mestre por alguns instantes. Ela se mostrava preocupada, mas... ao mesmo tempo, demonstrou pelo brilho em suas pupilas profunda admiração pela coragem do rapaz. Aquilo tinha de ser feito. E, naquelas circunstâncias, ninguém melhor que ele.

Ravena caminhou até Jorge. Entregou-lhe, de modo solene, uma bonita adaga de lâmina prateada e cabo vermelho, pequenas cruzes nele entalhadas. Explicou:

- A lâmina é benzida. Faça rápido, para que ela não sinta muita dor.

Na verdade, dificilmente qualquer dor seria maior do que aquela que a jovem já sentia.

Munindo-se do punhal, o estudante voltou-se para Percival. Abaixou-se diante dela, fitando-a por um demorado momento em suas brilhantes pupilas roxas... distantes, como se ela não estivesse ali, nem sequer contemplando qualquer coisa daquele mundo. Já tinha, provavelmente, a mente focada no mundo além do nosso, para onde o destino apontava que iria, de uma maneira ou de outra. Talvez fosse possível ter dele um vislumbre pelo reflexo em seus olhos. Com um braço, Jorge envolveu-a. Ternamente. Sentiu as próprias lágrimas lhe escorrerem rosto abaixo e irem se misturar às da garota. Tremia, assim como ela. Porém logo aquele tormento teria seu final.

- Faça... – ouviu-a cochichar junto ao seu ouvido, tom suplicante. – Por favor, faça.

E ele fez, cravando a adaga no peito da freira.

Isabel estremeceu, emitindo um espasmo, um último soluço... e um novo líquido quente veio se unir às lagrimas, banhando tanto a si quanto a Jorge. Mesmo tingido pelo sangue da garota, o rapaz não se afastou, permanecendo abraçado a ela até que o último impulso de vida partisse de seu corpo, até que este de vez desfalecesse. E, finalmente separando-se dela, deitando-a com cuidado sobre o chão... descobriu que o derradeiro ímpeto da determinada Isabel Percival fora sorrir. Partir desta existência com grande alívio, visto que sua estendida jornada de sofrimento chegara ao término.

Uma última gota pingou do queixo de Jorge, precipitando-se sobre uma das bochechas sardentas da maga. Repousaria, agora.

O desejo fora realizado.

O calouro fechou os olhos e permaneceu imóvel por um momento antes de se levantar. Não terminara. Ainda havia despedidas por vir. Despedidas que ele sinceramente gostaria de não ter de viver...

- O último vínculo do Graal com este mundo, a última reserva de prana aos seus milagres, foi rompido – anunciou Giovanna, já novamente com sua aparência anterior, em tom sombrio.

Isso significava que os servos sumiriam. Robin Hood... e Hipólita.

Jorge não se conteve. Correu até ela e abraçou-a como se assim não pudesse perdê-la, mantendo-a para sempre naquele plano. Suas mãos lhe tatearam o corpo para guardar eternamente a lembrança daquela textura, aquela pele calejada e sofrida, mas ao mesmo tempo tão doce e perfumada. Procurou sentir ao máximo o calor que a guerreira emanava, a maciez de seus cabelos... Tudo prestes a ser perdido. Amava-a. Agora tinha certeza. Amava-a. Porém não poderiam ficar juntos. Uma situação ingrata, atroz. Dois amantes separados pelas barreiras do tempo e espírito. Não haveria alguma maneira de contrariá-las? Contornar as imposições da natureza, subjugar as leis da magia?

Hipólita afastou-o com as mãos, à distância de apenas poder fitá-lo nos olhos. Ele viu que a Rainha das Amazonas também chorava. Porém, numa apaixonada contradição, também sorria. E, docilmente, a jovem apanhou a tira de couro de sua correntinha, segurando-a pela ponta dos dedos durante alguns instantes enquanto falava:

- Guarde isto. Sempre. É a chave para que um dia possamos nos ver novamente. Ainda que seja daqui a décadas, e eu não mais me lembre... No mais íntimo de mim, estarei aguardando, Jorge. No Trono dos Heróis... estarei aguardando, para vê-lo novamente. E que você consiga me conquistar de novo. Vencer o coração bravio desta guerreira tão truculenta...

- Eu esperarei – ele replicou, soluçando. – Quanto tempo for preciso. Mesmo que me encontre velho, Hipólita... Eu esperarei. E a conquistarei de novo. Quantas vezes for preciso. Que sejam mil guerras, para que eu possa fazer o desejo de me tornar imortal e vê-la de novo a cada invocação, tendo que conquistá-la sempre... Eu esperarei!

- Você me salvou – agora foi ela quem o abraçou, carinhosa, mas ao mesmo tempo firme, como só ela sabia ser. – Não só do Cálice... Mostrou-me a verdade que eu não mais conseguia ver. Possibilitou que eu confiasse num homem novamente. Entregasse-me a um. Obrigada Jorge. Obrigada por me livrar de meu fardo. Revelar que ainda existe esperança. Para todos nós.

Trocaram um longo beijo, as bocas se unindo cheias de desejo e as línguas se despedindo intensas, embora quisessem permanecer entrelaçadas para sempre. Quando Berserker recuou a cabeça e abriu os olhos, já desvanecia – assim como Archer, a alguns metros de distância. Trêmulo dos cabelos aos pés, Jorge se afastou... Hipólita dando um último e lindo sorriso, acenando, enquanto desaparecia junto com Robin... Os dois se convertendo em pequenas esferas brilhantes. Elas subiram ao ar, elevando-se pela noite... O mestre mantendo a cabeça erguida ainda durante algum tempo enquanto as via desaparecer.

Seguiram-se minutos de silêncio e imobilidade, até que Petruglia se manifestou, aproximando-se em sua cadeira. Tentou, com uma mão, ocultar as lágrimas que também lhe vertiam pelo rosto.

- Vou chamar uma ambulância para tratar das pessoas em coma. Agora acredito que a cidade volte ao normal... por enquanto. O selo não foi lacrado. Daqui a cinquenta anos, mais magos virão a Franca disputar o Cálice Sagrado, desconhecendo sua real essência.

- Tenho certeza que seu legado será prevenir que o que aconteceu aqui esta noite se repita, Daniela – afirmou Ravena. – A Igreja também zelará pela ordem. É nossa função há muitos séculos.

- Então acabou? – inquiriu Giovanna, olhando em volta.

- Na verdade não – respondeu Petruglia, e em seguida se virou para Jorge. – Recebi um telefonema mais cedo esta noite. Há um lugar para onde você precisa ir. Alguém... o aguarda lá.

A escuridão azulada da madrugada cedia aos poucos lugar para a luz do amanhecer. As nuvens da noite se afastavam para oeste, com o firmamento pouco a pouco assumindo um laranja tímido, porém marcante. As luzes do shopping center haviam permanecido acesas a noite toda, os anúncios externos das lojas e o estandarte do McDonald's compondo um contraponto capitalista à escuridão. Em frente a uma das entradas do lugar, junto a uma rua que conduzia à rodovia próxima – com pouco movimento àquela hora – Jorge, após ter tomado um bom banho para se livrar do sangue seco e do excremento de pombo, além de ter trocado suas roupas, aguardava andando para lá e para cá com as mãos nos bolsos – demonstrando claramente sua impaciência. Depois que Petruglia lhe revelara quem enviara o chamado para que o encontrasse ali, não havia como conter a ansiedade. Existiam perguntas demais a serem feitas. Precisaria, igualmente, se conter caso as respostas não fossem de imediato satisfatórias. A curiosidade, naquele momento, constituía sentimento a conviver com a raiva.

Não precisou aguardar muito, felizmente: o primeiro veículo a surgir pela rua, um carro preto de vidro fumê e motor silencioso, encostou junto à calçada e uma das portas traseiras se abriu para que entrasse. Nunca vira tal automóvel antes, o que fez se questionar onde a pessoa que o dirigia o arranjara. Na verdade, questionamentos demais pipocavam em sua cabeça a cada segundo.

Venceu seus demônios internos e entrou, acomodando-se no banco traseiro.

Pelo retrovisor à sua frente, teve um relance do rosto sisudo e de cabelo alinhado do pai, Adalberto, ao mesmo tempo em que ele acelerava com o carro.

- É bom vê-lo inteiro – alegou, embora não demonstrasse qualquer tipo de sentimento em sua voz.

- Passei em seu "teste", então? – retrucou o filho, irritado. – Minha vinda a Franca, no fundo, teve apenas esse objetivo, não? Competir pelo Graal!

- Um projeto antigo da família... – murmurou enquanto efetuava uma curva, rumo à estrada. – A magia entre os Santos é recente. Coisa de duas ou três gerações passadas. E a mantemos em segredo maior que as próprias famílias tradicionais. Nem mesmo nossas esposas sabem. O segredo é revelado apenas pelo pai ao filho, ou filha, destinado a dar continuidade à linhagem. Seu avô me escolheu. E agora estou passando adiante o bastão. Ou melhor, o cajado.

- Sabia do perigo que esse Cálice Sagrado representa?

- Confesso que não. Todos nós caímos no ardil da família Percival. Mas, embora não fosse o esperado, você de certa forma conquistou-o, filho, destruindo-o. Cumpriu seu papel. Está mais que apto ao treinamento. E parece ter se dado bem com sua serva, igualmente. Seu avô trouxe essa relíquia que usa em seu pescoço quando viajou para a Grécia muitos anos atrás. Eu acompanhei-o, ainda criança. Tenho saudades de Santorini. Enfim, esse fragmento do cinturão de Hipólita tornou-se principal investimento de nossa família. Gastamos alguns milhões para comprá-lo de um velho padre ortodoxo. Antes possuíamos imóveis em São Paulo e Belo Horizonte, sabia? Seu avô abriu mão de tudo para dar continuidade ao sonho da supremacia mágica. Não conseguimos o Graal... mas conseguimos você.

Jorge sentiu um aperto em seu íntimo pelo pensamento que lhe veio à mente, e acabou expressando-o em voz alta, num timbre amargurado:

- Conseguiram a mim, ou à "entidade" dentro de mim?

- Com certeza notou. Quer que eu lhe explique, certo?

O silêncio do filho demonstrou pleno consentimento. Adalberto pôs-se, assim, a explanar:

- A maioria dos heróis da História fez um pacto com o mundo, em vida. Visavam obter algo como uma conquista, um artefato, um feito ou coisa similar. Em troca, submetiam-se a fazer parte do chamado "Trono dos Heróis" depois de morrerem, um plano do qual poderiam ser invocados quando a humanidade precisasse, e também nas guerras pelo Cálice Sagrado. Dessa forma, espíritos heroicos que fizeram seu pacto tendem a permanecer para sempre no Trono dos Heróis, excluídos do círculo de reencarnações que rege as almas e dessa maneira impossibilitados de tentarem viver outras existências... Mas, de séculos em séculos, alguns espíritos heroicos, insatisfeitos com sua condição de servos da vontade humana, tentam deixar o Trono dos Heróis e voltar ao círculo de reencarnações, renascendo como humanos. Nesses casos, costuma haver um conflito entre a personalidade humana do indivíduo e o herói tentando tomar o controle, inclusive com manifestação dos poderes e habilidades que teve em vida. É o que nós magos chamamos de "Avatares", humanos que carregam em si a essência de um espírito heroico. Muitos jamais conseguem conciliá-la, enlouquecendo ou destruindo a si mesmos. Mas não será seu caso, filho. Nossa família foi abençoada com um Avatar de São Jorge, o grande guerreiro da fé e vencedor do temível dragão. É ele quem reside dentro de você, e foi graças a ele que destruiu o Graal, com sua espada Ascalão. Se dominar essa essência, poderá obter incrível poder. O sonho de seu avô se concretizará em você.

Já estavam na rodovia, a caminho de casa. Lá fora, o sol subia atrás das montanhas, lançando seus raios dourados pelas nuvens escuras já quase totalmente dispersas. Naquele momento, Jorge conseguia pensar somente em Hipólita. Agarrou a correntinha com a fita de couro e, fechando os olhos, vislumbrou mais uma vez em suas lembranças o sorriso que ela abrira ao se despedir. A esperança de vê-la novamente algum dia... Sabia que a escolha que tomaria ali definiria isso.

- E então, filho? – o pai indagou, encarando-o pelo retrovisor. – Está pronto para se tornar um mago de verdade?

FIM



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