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História FateDark Soul - Confusões na Guerra do Santo Graal - parte III


Escrita por: vccotrim

Notas do Autor


Boa noite.
Pois é, parece que estou demorando bastante para postar os capítulos, em partes é porque a faculdade voltou e eu preciso me concentrar esse ano com tudo, e em outra é por pura procrastinação mesmo, eu ainda nem terminei essa luta, estou escrevendo com muito cuidado e tentando ler mais textos de combate para poder me inspirar. Também tem o lado que eu abro pra escrever, mas não consigo pensar na hora algo que se encaixe bem pra próxima cena, leva um bom tempo até que eu fique satisfeito com algo após tanto apagar e escrever.
Bem, espero que gostem do capítulo de hoje e esperem com paciência pelo próximo, juro que estou fazendo meu melhor, até porque eu também tenho muito interesse para terminar essa estória por razões que prefiro ainda não comentar por hora.
Boa leitura.

Capítulo 6 - Confusões na Guerra do Santo Graal - parte III


O delicado corpo da santa rolou pelo asfalto antes de parar de bruços. Ela não sabia por quanto tempo mais poderia aguentar, seus membros doíam, sua visão direita estava turva pelo sangue que escorria do talho aberto na sua têmpora, sua roupa estava um trapo com rasgos, sangue seco e poeira, mas mesmo assim se pôs de pé novamente assumindo a posição de combate, punhos erguidos e guarda fechada, sua visão parcial focada no inimigo, o Berserker Cinza, que mais uma vez mostrou um sorriso sádico, sua sede por sangue não estava alimentada, ainda precisava de mais e mais, muito mais antes de se sentir satisfeito. 

- Vamos, Ruler, mostre a que veio! – exclamou Berserker Cinza ao partir para uma nova seção de tortura. 

Berserker manteve o punho a frente, iria aplicar um soco direto no rosto da santa. Ruler, ao perceber o movimento manteve a guarda fechada, impedindo o golpe, porém, quando reagiu com um gancho de esquerda, Berserker mais uma vez atacou com sua extrema agilidade, um movimento tão rápido que Ruler não conseguiu processar, e quando se deu conta, ele estava olhando pra ela de baixo pra cima, aplicando um poderoso soco em seu estômago que a fez perder o ar e ser lançada outros metros pelo asfalto da rua. 

- Entendo... Então Ruler não tem mais nada a oferecer, é somente uma boneca de pano feita pra apanhar. Pelo menos foi o suficiente para me divertir um pouco. 

Marta cuspiu sangue, pronta para mais um round, todavia, isso não foi possível. Seu rosto foi acertado pelo poderoso chute do Servo lobo e ao desabar, ele pisou em seu rosto com o pé descalço e sujo, prensando seu crânio contra o chão. Marta tentou reagir, se agarrou o pé que esmagava sua cabeça, mas tudo que conseguiu foi ter o aperto aumentado e sentir as garras entrando na sua carne. Não poderia ter um fim pior, mas ela não se importava, estava cumprindo seu dever como Servo, estava protegendo seu Mestre e sentia que quando tudo acabasse, Thor seria deixado de lado. O verdadeiro alvo desde o começo era ela, portanto, ao morrer Berserker Cinza não teria mais o que fazer ali, voltando para seu Mestre imediatamente. 

"Mestre" – pensou desolada, sentindo o crânio começando a trincar e ceder à força. – "Me desculpe por não ser mais forte... Pelo menos posso partir sabendo que te protegi..." 

O peso parou como um milagre, por um momento pensou que tinha finalmente sido morta e havia voltado para seu lugar no Trono dos Heróis, mas quando abriu os olhos viu que estava no mesmo lugar, sua cabeça intacta, mas Berserker Cinza tinha recuado com uma Chave Negra cravada na sua perna. Ela reconheceu como sendo a arma de um algoz, e havia somente um que vira usando essa mesma arma durante um treinamento. Thor Joseph. 

Berserker arrancou segurou a Chave Negra, mas sua mão ardeu assim que tocou na arma. A lâmina afiada da arma sagrada tinha prata em sua composição, uma fraqueza mínima que o senhor dos lobos adquiriu com popularização e mudanças da sua lenda, a história do lobisomem que começou muito tempo atrás, um rei louco que se divertia torturando e massacrando, sendo castigado pelo senhor do Olimpo, sendo transformado em lobo e sendo o primeiro lobisomem do mundo. 

- Licaon, não permitirei que machuque Marta mais ainda – Thor intimou o Servo que arrancou a arma da perna, ignorando a dor que a prata lhe causava. 

O rei amaldiçoado encarou o agente da Igreja Sagrada que se mantinha inabalável mesmo sendo encarado com um olhar que faria qualquer um sentir um enorme arrepio gelado pelo corpo e tremeria de pavor. 

- Como um homem qualquer como você ousa me ferir?! Um nobre! Um rei intocável! UM DEUS NA TERRA!!! 

A afirmação em alto tão foi seguido por um poderoso rugido que foi ouvido a quilômetros de distância – até Ájax que se encontrava ocupado com Beleforonte do outro lado da cidade, no distrito industrial, foram capazes de ouvir. Era a autoafirmação de um ser poderoso, tão forte quanto qualquer ser na Terra, um deus que não poderia ser ferido, tocado e nem mesmo olhado sem a permissão dele. Ainda agia – e era de fato – um rei que governa com mãos de ferro e total tirania sobre seus súditos, se mantendo sempre acima de todos e sujeitando todos aos seus prazeres mais horrendos, não conhecendo limites para atender suas vontades. 

Thor agiu imediatamente, sacou uma nova Chave Negra e a disparou contra o Servo. Impressionantemente, Licaon segurou a arma antes que o atingisse, ignorando a queimação da prata, o rosto tomado pelo ódio, ranço, raiva e tédio. Não parecia que qualquer um dos dois faria nenhuma diferença, eles não eram fortes como sua Mestra falara, somente mais dois perdedores no mundo. Não havia mais razões para perder seu tempo, a santa não parecia ter nenhum Noble Phantasm que fosse um diferencial. 

- O máximo que ela pode fazer é rezar por sua vida – zombou. – Parece que não há mais nada para fazer aqui.  

Berserker estalou os dedos e rosnados foram escutados. Vinham de todas as direções, e quando Ruler percebeu haviam lobos surgindo das sombras, andando em lentos passos até ela. Não pareciam lobos comuns, eram enormes, com dentes e garras extremamente afiadas, os pelos cinzas refletiam um brilho prateado como o da lua. Os olhos eram assustadoras esferas negras, igualmente sanguinários como os deu seu amo. 

- Se divirtam, meus meninos. Hoje a carnificina será especial! 

Os lobos avançaram rapidamente. Um deles abocanhou o antebraço de Ruler, outro seu calcanhar, mas a santa fora capaz de se livrar dos lupinos. O primeiro, que atacava no membro superior, foi segurado e puxado pelo pescoço, sendo levantado no ar e então acertou o segundo lobo com o primeiro. Assim que livre e com os animais nocauteados que guincharam de dor, correu até seu Mestre que reagia aos lobos. As Chaves Negras eram sacadas e lançadas, mesmo quando errava, uma magia os fazia tomar a direção certa, acertando as patas, barriga, costas, pescoço e cabeças dos lobos. Contudo, os lobos não cessaram, ao contrário, se tornaram mais ferozes e aumentaram seu número na investida contra ele até obterem sucesso. 

Um dos lobos chegou por trás enquanto companheiros se sacrificavam pela frente, mordendo a batata da perna, então outro conseguiu alcançar pela frente, agarrando sua mão que segurava uma nova Chave Negra. Não demoraria para que ele fosse derrubado e estraçalhado pelos lobos, Ruler precisava ser mais rápida, e ela se lançou o mais rápido que pode. Quando alcançou seu Mestre, foi cercada por uma onda invisível que se expandiu e soprou todos os lobos para longe. Ela fincou a cruz no chão, encarando Berserker com um olhar forte, não era mais somente a mulher inocente que ficava apanhando. Era a mulher do tamanho de sua prece, não somente mais uma oradora, e sim alguém de coragem e bondade inabalável que faria de tudo para proteger todos. 

- Não deixarei que você machuque meu Mestre. Nem você, nem ninguém. 

Berserker ficou atônito por alguns segundos, surpreso com a recuperação de Ruler. E o que deveria ser encarado como ameaça foi encarado como uma afronta ao seu poder, à sua própria existência. Ninguém o desafiaria! 

- Como ousam machucar meus lobos!? Acabem com eles, não deixem sobra nada! 

Os lobos restantes que se mantinham de pé avançaram selvagens, iriam realizar o desejo por carnificina não importa o que acontece, seguiriam os ideais do alfa a todo custo. Novamente Ruler afastou todos com outra onda de energia que a envolveu e expandiu, jogando-os para longe, dessa vez com mais violência, e um brilho dourado que flutuava como pequenos vagalumes fez parte do show. Ruler estava usando uma das suas muitas habilidades, sua fé inabalável seu materializava com uma oração ao Senhor. As feridas foram cicatrizadas e as cicatrizes sumiram. 

- Deus, meu Senhor e guia, te peço nesse momento para que meu corpo se cure, que meu Mestre tenha seus ferimentos curados, e que mais uma vez eu seja capaz de enfrentar esse homem à minha frente. 

Berserker assistiu à cena sentindo seu ódio crescer e crescer, não conseguia mais enxergar a razão, seu punho esquerdo estava fechado firmemente sobre o punho da espada, os nós dos dedos estavam brancos. Sua boca estava aberta em uma careta de puro ódio, os caninos molhados com a saliva estavam a mostra, igual um animal selvagem ameaçando um inimigo para mostrar quem era mais forte. 

- EU VOU TE MATAR, SUA SANTA DE MERDA! 

Antes que Ruler e Berserker se enfrentassem, Thor segurou a mão da Serva. Ela sentiu um toque frio e metálico, e ao olhar o que era viu ser o que parecia um colar com um crucifixo dourado. 

- Era esse o presente – ele respondeu. – Será útil nessa luta. 

Marta sorriu e concordou com a cabeça. Voltou seu olhar para Berserker que rosnava e babava de raiva, encarando tudo enorme escárnio, não conseguia acreditar que ele, o todo poderoso, um deus na Terra, um rei que não podia ser vencido, estava sendo desafiado, que pela primeira vez ele encarava alguém que não tinha medo dele. Colocou o colar e voltou a erguer a cruz. Dessa vez havia algo de diferente, o jeito que seus dedos envolveram o punho e ergueu a arma, a firmeza com que segurava a arma, a familiaridade com o peso, seus nervos respondendo ao toque do metal, os movimentos que nunca viu pareceu-lhe uma velha memória que finalmente despertara despois de tanto tempo esquecida. 

- Venha, Licaonte! 

 

Berserker Branca saltou do alto de um edifício e se jogou contra Lancer Verde, Diarmuid, que levantou sua longa lança vermelha. As duas armas se chocaram, a grande esfera de ferro que explodia em energia materializada como um raio verde que sucumbiu ao poder da lança, que extinguiu com o raio ao tocar, não permitindo que ele avançasse contra seu senhor. Com a lança amarela, Diarmuid jogou Berserker para trás, que avançou novamente sem medo contra ele. Sua maça explodia em energia que era imediatamente anulada pela lança Gáe Dearg e com Gáe Buidhe, ia para o ataque, conseguindo finalmente fazer não mais que um pequeno corte na altura do ombro, mas matá-la não era o objetivo atual. 

Como acordado com Ájax, ele seguia o plano de levar Berserker Branca para um galpão onde o Caster Verde, um dos parceiros de Ájax, o estaria esperando para nocauteá-la. 

"Eu estou fazendo isso de novo, não estou?" – pensou consigo. 

Mais uma vez estava entregando sua vida a um outro homem, alguém que era a figura de um líder, e seguindo suas instruções, lutando ao lado dele e por ele, mesmo sendo alguém que era declaradamente seu inimigo. Ele jurou lealdade ao seu Mestre, Heiko von Fagner, e seu parceiro Arash, o Archer Vermelho. Agora seguira as instruções de uma outra pessoa confiando somente nas suas palavras e honra. Fizera isso muito tempo atrás com seu líder, Fionn mac Cumhaill, que no fim de sua vida o perseguiu, e quando teve a oportunidade o deixou para morrer fingindo que o ajudaria. Diarmuid não guardava rancores, sabia o que havia acontecido para as coisas acabarem daquele jeito, todos tinham sua parte da culpa. 

"Seria capaz de Ájax me trair alguma hora? Talvez essa armadilha com Caster não seja só para Berserker Branca." 

Logo afastou os pensamentos. Se estava ali seguindo as ordens de Ájax era porque confiava nele, sentiu uma ligação com ele e tinha certeza sobreo o homem que ele era, portanto confiava em sua palavra, sabia que ele não quebraria sua promessa. Assim como ele e Saber Negro, Ájax tinha a honra de um cavaleiro, uma vez dada sua palavra ele a cumpriria. O código de honra de cavaleiro eram tudo, não havia alguém que seria capaz de rompê-lo. 

Não demorou para sentir a presença de um Servo em um galpão à sudoeste. Viu a porta aberta, sendo este o sinal claro que aquele era o lugar onde tudo se encerraria para Berserker Branca naquela noite, pois se ela sentiu a presença de um outro Servo e percebia estar sendo levada para uma armadilha ela não demonstrava, continuava atacando descontrolada, seguindo Diarmuid sem hesitar. 

Ela atacou-o lançando-se para frente jogando a maça na frente do corpo, dessa vez sem carregar a bola de ferro com eletricidade, era mais uma arma normal, permitindo um avanço melhor. Fora sua reação ao ver que Lancer Verde conseguia bloquear seus ataques elétricos, era uma ferramenta que estava atrapalhando seu desempenho e não lhe ajudava em nada. O que pegou Lancer de surpresa, um Berserker capaz de ter o mínimo de racionalidade no meio da batalha, sabendo se adaptar a situação. 

Diarmuid passou a se esforçar mais na luta. Assim que suas armas se chocaram, contra-atacou com a lança amarela, e Berserker desviou a tempo se afastando e indo para a lateral, movendo sua maça em um movimento transversal de baixo pra cima. Diarmuid bloqueou o ataque a tempo com a lança amarela e nessa hora a esfera se recarregou, explodindo em eletricidade e lançando-o contra uma das fábricas, o fazendo atravessar a parede e para ao atingir uma garra do maquinário da parte de montagem. 

"Mas o quê!?" – um alarme se acendeu na sua cabeça. – "Ela soube montar uma armadilha!?" 

Uma coisa era ela saber se comportar contra as lanças, isso nada mais é que um instinto natural pra batalha, mesmo um louco perceberia os poderes de cada lança e se ajustaria à variante. Mas pensar, elaborar e executar uma manobra surpresa para atacar é outra, envolve um longo processo de raciocínio lógico com eliminação dos problemas e as somas das soluções para que haja acerto na execução da manobra, então realizar quando menos se espera. 

Berserker entrou pelo buraco que criou ao jogar-se na direção de Diarmuid com a maça carregada de eletricidade uma nova vez, seria um golpe direto de cima para baixo, mas Lancer foi rápido o suficiente para se recuperar e desviar a tempo, a maça acabou atingindo o chão. Uma análise rápida no dentro da fábrica o reorientou. Após uma troca de golpes entre as lanças e a maça, Diarmuid habilmente desviou e entrou no caminho por onde os carros passavam no processo de montagem. Berserker o seguiu pelo lado de fora. Em um momento ela conseguiu tomar a frente, seus pés se moviam mais rápido, quebrando as barreiras do seu limite, e lançou um novo ataque para barrar o avanço de Diarmuid, usou de outro ataque elétrico se lançando no ar e apontando a grande bola de ferro para baixo. Lancer reagiu erguendo sua lança, absorvendo cancelando a mana massiva que vinha na sua direção, mas o foco do ataque, apesar de tudo, não era nele, mas sim no maquinário que rapidamente cedeu à poderosa eletricidade, pifando, desmontando e explodindo, laçando estilhaços para todos os lados. Quando o ataque cessou e calmaria voltou, todo o caminho à frente de Lancer estava bloqueado com ferro retorcido e escombro, e sobre a confusão, Berserker Branca. 

- Então não foste tomada pelo encanto da loucura? – a questionou. 

- Uhn... E... u... Eu... 

Lancer ficou um tanto quanto estupefato em ver a tentativa da Berserker falar, mas logo lançou um sorriso. Ela estava no limiar da linha entre sanidade e loucura. Perdera sua capacidade de falar, mas manteve parte da lógica agindo. Impressionante! Era um desafio melhor do que imaginara. 

- Muito bem, Berserker – avisou. – Veremos que se sobressairá esta noite! 

Berserker reagiu soltando um poderoso grito. A luta partia para outro round, Berserker não cedia e nem parecia cansar, ela atacava incessantemente, porém, Diarmuid mantinha sua estratégia, continuava desviando dos golpes e somente os dando atenção quando necessário, seguindo seu caminho original. Já estava próximo da saída, mas novamente Berserker se pôs no caminho, interpondo-se entre ele e a saída, correndo contra ele com a maça levantada e carregada. Desta vez Diarmuid não desviou, seguiu em frente confiante, ela não iria pará-lo tão facilmente. A maça desceu, a laça vermelha se ergueu. As armas repetiram todo o processo de causa e efeito, uma anulando a outra. 

- AAAAAAAAAAHH!! – foi a vez de Diarmuid soltar um forte grito. 

Ele seguiu com a lança na maça, aplicando sua força para poder jogá-la no chão com a lança e em seguida, acertou uma joelhada no queixo da, derrubando-a. Berserker caiu de costas no chão, mas ele não a atacou, passou por cima, e assim que seu pé tocou o chão jogou-se para frente e impulsionou o movimento, ganhando uma boa distância da rival. 

Berserker se levantou e encarou por onde seu inimigo fugira. Dessa vez não havia mais sanidade, ela estava tomada pela raiva, o definiu como uma ameaça e deve eliminá-lo imediatamente. Seguiu pelo solo, seus pés ganharam força para passadas cada vez mais rápida, a permitindo acompanhar sem dificuldade o avanço dele, cobrindo em pouco tempo a distância. Quando olhou para cima, o alvo estava sob seu alcance. Sem hesitar, ela saltou deixando para trás um rastro de destruição. Sua maça mais uma vez explodia em energia, ela iria acertar Lancer em cheio dessa vez. Porém, como esperado de um grande guerreiro, uma espiadela nos movimentos de Berserker o prepararam para reagir. 

- Desista, Berseker, você não pode me vencer – falou para a noiva enlouquecida. Ele precisava provocá-la mais, destruir a pouca barreira de sanidade que lhe faltava. 

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH!!!!!! 

Foi como assistir a explosão de uma estrela. Por um momento todo o céu se iluminou com a luz verde, a manhã tinha chegado, e aos poucos o novo sol foi morrendo até desaparecer. De dentro dele duas figuras caíram como meteoritos. De um lado, Lancer, que apesar de evitar parte do golpe com a lança vermelha, sentiu os efeitos de ter a alta voltagem invadindo e percorrendo seu corpo. Do outro, a causadora de tudo, era uma delicada flor com suas pétalas arruinadas sofrendo com a perda de energia, seus membros não tinham mais a mesma força de antes, até mesmo mover um dedo tornou-se uma árdua tarefa. Usando a maça como bengala, jogou o peso do seu corpo sobre a arma para conseguir se apoiar e levantar. Seus dentes ainda rangiam em ódio pelo responsável por tudo isso, dessa vez iria matá-lo com toda certeza. Lancer estava com dificuldades para se manter de pé, não era mais um oponente difícil, era agora um moribundo esperando o golpe final. 

- Os ventos da noite me avisaram sobre a visita dos nossos novos amigos, mas não pensei que seria um espetáculo tão gracioso, tão excitante! – a voz veio de trás de Lancer, soava animada, excitada, apaixonada e ansiosa, queria saber mais sobre os acontecimentos e o que estava por vir. Clara e ouvinte, veludosa, atraente... Era a voz de um dos homens mais apaixonados por esse mundo, ele observava atento a tudo, colhendo materiais para sua próxima obra-prima! 

Berserker, sem nenhuma surpresa rosnou ao escutar a voz, ela o reconheceria, fora o responsável por um dos seus maiores pesadelos. Dessa vez não cairia em seus truques, faria de tudo para acabar com ele, não importa o que tivesse que destruir, e começaria por Lancer por tê-la jogado ali para se tornar vítima dele novamente. Reuniu o máximo que pode de força e avançou, Lancer não moveu um músculo. Cerrou os olhos e esperou. Quando ela levantou os braços para o golpe certeiro, ele desviou se jogando para o lado e uma massa roxa veio em sua direção, a engolindo e mergulhando num mar de confusão. 

 

- First Folio! 

Essas foram as palavras para que o livro em suas mãos se abrisse confuso indo de uma página para outra freneticamente, liberando uma massa escura que se expandiu como uma bolha e cresceu até ganhar forma e se dividir, eram humanoides e animalescas, altas e baixas, gordas e magras, todas sombras da grande vastidão da criação do autor, somente seres confusos que procuram encher o vazio sem as palavras de seu criador. O sinal para seu ataque foi o surgimento de Lancer Verde, Diarmuid Ua Duibne, diante da entrada do depósito em que o inglês esperava ansioso para assumir sua parte em toda a ação. Não podia acreditar que algo tão impressionante quanto lutas múltiplas estivessem acontecendo e ele não podia presenciar todas. Ainda bem que havia espalhados alguns Familiares que gravariam toda a ação e passariam mais tarde para ele tudo que aconteceu. 

- Agora ela será mais uma vez obrigada a encarar toda sua história. Seus erros e acertos. A desilusão de uma vida sonhada. A rejeição, o medo e o ódio instalados diante do monstro que ela é. Vamos nobre guerreiro, ainda temos muito para esta noite. Grandes questões serão respondidas nessa noite! 

Foram as últimas palavras de Willian Shakespeare antes de voltar a ser espírito junto com Diarmuid e deixar Berserker presa na teia da sua própria mente, explorando seus medos mais profundos, as feridas que ainda não se fecharam e apunhalar ainda mais nesses pontos. O quer que seja que ela veja lá dentro, será ainda pior que da última vez, e nem somente um Selo será capaz de trazê-la de volta. 

 

No começo só havia escuridão. O sistema havia sido montado com muito cuidado, mas ainda lhe faltava o dom da vida. Durante uma noite de raios isso foi mudado. A luz desceu do céu em sua direção espalhando sua carga pelo corpo e dando vida àquele ser. 

Ela abriu os olhos aos poucos, era tudo estranho, tudo novo. Ela não sabia o que fazer, não tinha nenhuma noção sobre linguagem, ética, tecnologia, filosofia... Era um bebê. Mesmo sendo criada sob as condições de estarem quebrando todas as leis da natureza, humanidade e ciência, seu início foi como o de uma pessoa qualquer, ela precisava de alguém que a ajudasse. Porém... 

"Quem é você?" – ela pensou imediatamente ao encarar o homem que estava a sua frente. 

- Finalmente... – ele falava. – Minha criação, minha obra-prima, está viva! Eu, Doutor Victor Frankenstein criou um ser do zero e o trouxe a vida com perfeição! Esse é um novo avanço para a ciência, a criação e ressureição está mais perto do que se imaginava! 

"Criação...? O que é isso?" 

Quando tentou questioná-lo somente saiu um gemido de sua boca. Ela não sabia como montar uma frase nem como verbalizá-la. 

- O quê...? 

O choque no rosto dele foi evidente, da alegria para a realidade, então para a total decepção. Como ela não entendia os significados das suas palavras? Como ela poderia não saber falar? Houve uma falha durante sua criação. Aquela que deveria representar a primeira mulher, Eva, não era um ser perfeito, veio com o defeito que qualquer ser humano, nasceu burra. Inadmissível! Ele fez todos os cálculos, onde errou?! 

"Eu fiz alguma coisa errada?" 

"Onde eu errei?" 

"Ele não gosta de mim?" 

O crescimento de "Eva" não foi fácil. O cientista não conseguia aceitar como sua criação teve essa falha tão descarada. Ele tentou de tudo para arrancar uma reação dela. Ele a deixou com fome, a socou, chutou, magoou... E mesmo assim, a criatura não fazia nada. O que deveria fazer? O que ele esperava que ele fizesse? Em seu cérebro não havia qualquer noção sobre sentimentos, emoções, violência e abuso, era um ser inocente que seguia os instintos, respeitando seu criador não importa o que ele fizesse. 

Um dia ela encontrou um cachorro morto. Não se sentiu horrorizada nem pena do animal, tudo que conseguiu pensar foi em como a cor vibrante do vermelho que saía dele era linda. Pensou que se levasse um pouco dessa cor para seu criador, ele a amaria. 

"Tome, pai" – ofereceu as tripas do animal inocentemente. Ele iria amá-la assim, admirar a vivacidade da cor. 

E o que ele fez foi... 

- O quê... O que é isso?! Afaste-se de mim! Você é um monstro! 

... e saiu correndo para a segurança do interior do castelo, o único lugar em que poderia se sentir seguro do monstro que estava a sua frente. 

A criatura ficou magoada, não conseguia mais conviver com aquilo e seguiu para a aldeia próxima do castelo Frankenstein, onde aprendeu a ler e falar observando todos ali, os espionando e roubando os livros quando as casas se encontravam vazias, tentando reproduzir tudo que viu. Aquela vila deveria ser seu novo lar, as pessoas sua família, era ali que estava construindo sua identidade e conhecendo sobre como o mundo funcionava. Ela finalmente sabia o que as ações representavam, os significados das palavras, o resultado de uma agressão – e como era solitária, sem ninguém para compartilhar suas descobertas e ansiedades, não podia compartilhar suas alegrias e nem desabafar suas tristezas e frustrações. Entendia o que era fome, sono, dor... Aquela vila lhe deu tudo que seu criador não foi capaz.  

Mas não foi aceita. Todos repudiavam um ser que fora constituído por restos de mortos, corpos profanados, e sem alma, pois não fora uma vida concebida por Deus. Era uma heresia, um ser que merecia todo ódio e solidão. Assim como chegou, foi expulsa.  

"Por quê?" – se perguntava várias vezes. – "Por quê? O que eu fiz?!" 

"Por quê sou solitária? Por que não tenho um lar?" 

"Por quê?!" 

Então ela finalmente experimentou o desespero causado pela solidão, a necessidade de ter alguém ao seu lado para se sentir viva, amada, aceita... Ela precisava do seu "Adão", alguém que a entenderia e ajudaria em todos os momentos, o que todos as pessoas merecem. 

A criatura foi atrás da pessoa que a fez e responsável pelo seu sofrimento. Ordenou que ele fizesse um outro ser como ela, mas ele negou enfaticamente. Mesmo sob ameaça, mesmo vendo sua irmãzinha mais nova indo para a forca acusada de um crime que não cometeu e sua noiva sendo morta pelo monstro, ele se recusou a cometer o mesmo erro novamente, jamais se atreveria a criar outro ser igual a ela. Não permitiria que o monstro pudesse se reproduzir e criar uma nova raça, não permitiria que mais seres horrendos como ela seguissem vagando pelo mundo como se fossem humanos. 

"Por quê...?" 

"Por qUÊ?!" 

"POR QUÊ?!" 

Por que ela precisava ficar sozinha?! Por que ela tinha que aceitar a rejeição e solidão?! O que tinha de errado nela que os outros se viam no direito de julgar a todo custo?! Por que até o homem que a criou a odeia?! Por quê?! POR QUÊ?! O QUE ELA FEZ?! POR QUE ELA PRECISA CONVIVER COM ESSE VAZIO QUE A CORROI SEM PODER FAZER NADA, SEMPRE SENDO VISTA COMO UM MONSTRO ABOMINÁVEL?! 

No fim, Victor Frankenstein realmente não criou um segundo monstro e fugiu em tempo, evitando que pudesse ser alcançado pela criatura, largando tudo para trás. 

Se vendo sozinha e perdida, a angustia, magoa, tristeza e todos esses sentimentos foram maiores que qualquer coisa, não conseguia mais suportar aquela existência sem sentido e cheia de dor. Não havia lugar para ela no mundo, portanto não tinha razão para prolongar seu sofrimento. Tudo ruiu em meio as chamas. A última coisa que sentiu na sua patética e sofrida existência foi o calor do fogo queimando seu corpo aos poucos, a destruição do lugar que nasceu e que um dia chamou de lar, as cinzas que um dia tiveram seu amor entrando em seus pulmões e a sufocando. 

Esse foi o terrível e curto destino do monstro de Frankenstein. 

 

O monstro gritava e surrava o chão. O som que saía da sua boca era de desespero, dor, tudo que tentou esquecer voltou mais intenso, mais duro e agora não ia embora. O ar estava pesado, seus pulmões lutavam para conseguir um pouco de oxigênio, a cabeça doía com a confusão de choro, soluços e gritos. 

"Por quê...? O que eu fiz de errado...? O que há de errado comigo?!" 

Por que não podia ser amada? Por que ela precisava ser tão solitária? Por que tudo que envolvia sua existência se resumia em uma tragédia? Alguma punição por ter sido criada? Nunca pediu para nascer, jamais desejaria uma vida dessas, era injusto que o mundo a punisse sem nem mesmo parar para ouvi-la ou entender seus conflitos internos. 

- ... Uh-uh... Ah... Por... ah-ê... AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!! 

"Calado!" 

A maça desceu contra a empilhadeira. 

"Calado!" 

A esteira foi destruída. 

"Faça isso paraaaaaaaaaaaaaaaar!" 

O coração do monstro finalmente explodiu em uma grande fúria e o depósito junto com tudo dentro dele foi pelos ares sendo reduzidos a destroços e fuligem. 

"De novo..." – pensou observando o cenário, o princípio de incêndio lhe pareceu um velho familiar indesejado, mas que não podia impedir a chegada. 

Seus joelhos cederam, sua pele ardia e o rosto estava melado com as lágrimas secas ao tempo que novas lhe escorriam pelo rosto contorcido em agonia. Até seu vestido de um branco puro agora estava rasgado, sujo e queimado em alguns pontos. Ao olhar para a mão viu que estava voltando a forma espiritual, gastara tanta energia que não conseguia se sustentar mais por tanto tempo na forma física e precisava recuperar um pouco das suas forças. Pelo menos não era um novo adeus, ainda teria chances de encontrar sua cara metade e finalmente sentir o que tanto se comentava sobre essa tal felicidade. 


Notas Finais


Obrigado por ler.


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