História Faux - Baiser

Balançando o pé fora da cama, se deixava tentar pela sétima vez concentrar naquele dever de casa. Parecia extremamente inútil, já que continuava se culpando pelo acontecimento da noite anterior, arrependido... Não conseguia tirá-lo da cabeça. Tudo parecia um sonho bom demais até certo ponto, ou melhor, até ter a capacidade de estragar absolutamente tudo.

Sentado no colchão, desviou o olhar do caderno, voltando-o para a janela de seu quarto, revelando a noite não tão estrelada quanto a do cruzeiro. Mas ainda assim... Conseguia com facilidade assimilá-la aquele episódio em especial. E com isso, ainda que sem perceber, se pegou mais uma vez sorrindo, pensando na feição de Chanyeol. Queria poder guardar consigo para sempre aqueles poucos segundos que teve com ele, por mais que houvesse tido uma parte ruim em especial. Não imaginava se conseguiria se manter normal diante dele na manhã seguinte, durante a aula... Sinceramente não sabia.

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- Eu espero que não. – por fim Chanyeol respondeu, apreciando o sorriso bonito que surgira no rosto alheio.

Era a última noite de ambos naquele cruzeiro. Até mesmo para Park que sempre viajara daquela forma, estava sendo de todo especial... E sinceramente, sabia muito bem o porquê. Talvez fosse um pouco estranho para si, estar diante de uma paisagem extremamente bonita como aquele céu estrelado e, apesar de tudo, continuar encarando Byun. Já conhecia seus traços, já havia os gravado em sua cabeça, e não por ter descoberto que ele era um garoto, simplesmente não conseguia desviar os olhos de si.

Sentiu o corpo travar um tanto quando o outro também voltou-se para si, retribuindo o seu olhar. Era como uma noite mágica, onde nenhuma timidez ou problema lhes atrapalhava. Estavam bem daquela forma, memorizando pela centésima vez o rosto um do outro.

- Baekhyun? – chamou-o, recebendo um murmúrio baixinho como resposta. – Você alguma vez já beijou alguém? – questionou, sem sequer notar de verdade sobre o que estava falando. Pela primeira vez em muito tempo não estava dando ouvidos ao seu lado racional. Não saberia dizer se era pela paisagem, pelo momento ou outra coisa; somente carregava aquela vontade gritante de beijá-lo ali, deitado sobre as estrelas em meio ao mar.

Em contrapartida, Byun sentiu uma sensação inexplicável passar por seu corpo, um misto de ansiedade e nervosismo. Talvez, somente talvez não estivesse conseguindo raciocinar tão bem naquele momento.

- Já. – respondeu curto, engolindo seco. Mas aparentemente por todas as borboletas em seu estômago, aquela parecia a sua primeira vez. – E você? – não sabia se deveria perguntar, mas era a única coisa que conseguia para não deixar a conversa morrer... Notando somente mais tarde o quão idiota era, afinal de contas, Park havia tido uma ex.

Mas sinceramente, não conseguia pensar em nada. Não sabia o que estava se passando pela cabeça de Chanyeol, se era curiosidade ou se ele estava realmente afim de experimentar porque sentia algo por si, afinal de contas, havia chego à conclusão que ele só gostava amorosamente de Yuna.

- Eu também já beijei alguém. – concluiu o óbvio, deixando o olhar descer dos olhos de Byun para a sua boca, encarando com calma o formato tão bonito dela. Por que estava achando a boca dele bonita? Era só uma boca. No entanto, mais uma vez contradizendo qualquer lado racional seu, se pegou aproximando dele, para permanecer ainda deitado consigo no chão.

Por fim, apoiado sobre o seu cotovelo para ficar acima dele, podia sentir as batidas fortes de seu coração enquanto se aproximava com calma, sendo ansiado da mesma forma. Fechou os olhos quando enfim sentiu a ponta de seu nariz encostar na alheia, levando um arrepio a todo seu corpo. Se desejassem, poderiam ali mesmo aproximar-se somente mais um pouquinho, beijando-se. Mas a demora parecia tornar tudo aquilo ainda mais especial.

Baekhyun sentia cada vez mais borboletas no estômago quando por fim devagarinho pode provar de somente um pedacinho dos lábios alheios que encostaram nos seus. Não era um beijo, sequer um selinho, mas era algo extremamente perfeito. Com toda prolongação daqueles poucos segundos que mais pareciam minutos, mesmo que tão delicadamente, conseguia sentir mais e mais pedacinhos de Chanyeol, somente tendo a confirmação já óbvia para si; gostava realmente dele.

E isso era um verdadeiro diferencial. Podia não ser o seu primeiro beijo, mas era o seu primeiro beijo com alguém que realmente gostava... Oh. Oh, droga. Enfim raciocinar aquilo tornava tudo diferente, e pior por ser justamente naquele momento. Mesmo sem querer e calcular as consequências daquilo, se sentiu contrair os lábios, fechando com força os olhos, deixando uma expressão mais parecida com desgosto tomar conta de sua face. Estava com medo. Quer dizer, era lógico que desejava beijar Park, se pudesse já teria feito isso há muito tempo. Mas... E se aquilo estragasse tudo? E se ele estivesse mesmo com somente uma curiosidade e, depois disso, fosse fingir que nunca mais aconteceu? Ou pior ainda, e se sequer quisesse continuar consigo?!

Chanyeol abriu os olhos, unindo as sobrancelhas confuso pela expressão do outro. Baekhyun... Não queria beijá-lo? Quer dizer, o que estava fazendo? De repente, se aproximando dele daquela forma... Ele sequer deveria querer aquilo! Portanto envergonhado pigarreou, se afastando e colocando-se de lado.

- Ahn, desculpa. – deixou escapar por entre os lábios enquanto o menor também se sentava no chão, sentindo o rosto quente. Havia feito merda. Por que precisava ter um discussão mental consigo bem naquela hora!? Ou melhor, por que precisava deixar que isso se refletisse logo em sua expressão? Ia beijar Chanyeol, estava tudo perfeito, e então... Estragara tudo.

- Não, eu... É só que... – tentou se explicar, sentindo as falas morrerem no meio do caminho. Não conseguia se explicar.

- Não, tudo bem. – Park não lhe encarava, apesar de afirmar estar tudo bem. O piso daquele navio de repente parecia extremamente interessante. Permaneceu envolto de silêncio por longos segundos, no qual nenhum dos dois sabia exatamente o que dizer ou fazer. Portanto levantou-se e mexeu de forma nervosa no tecido de sua blusa. – Eu, ahn, vou entrar. Está tarde. Vá também, huh? Boa noite. – se despediu rápido e desajeitado, saindo de uma vez daquele ambiente para poder adentrar o seu devido quarto, se deixando parar perto da porta para enfim começar a se arrepender. Por que precisava ter feito aquilo!? Tudo estava indo tão bem...

Em contrapartida Baekhyun sequer conseguia se mexer. Continuava parado ali, encarando a imensidão escura do mar. Sabia muito bem que havia feito merda mas, estava tão decepcionado consigo mesmo que não conseguia ao menos pensar em como proceder com aquilo. Não conseguiu sequer se explicar!

Respirou fundo, mais uma vez deitando no piso, encarando o céu. De repente a paisagem não parecia mais tão bonita e interessante assim. Até porque, não conseguia focar nela.

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Largou mais uma vez o lápis sobre o colchão ao se lembrar da noite passada, se deixando pegar o travesseiro para enterrar a cabeça e gritar, frustrado. Se tinha qualquer esperança em ter algo concreto com ele, havia a deixado escapar na noite anterior, afinal Chanyeol realmente parecia disposto a enterrar aquilo. Uma animação extremamente forçada se fazia presente quando Byun tentava voltar ao assunto, sendo imediatamente interrompido e tendo o assunto mudado. A última vez que o vira fora na área de desembarque do navio, quando com um abraço extremamente desajeitado se despediram, indo cada um para suas respectivas famílias.

- Não, espere. Deve ter um lado bom nisso tudo. – tentou se animar, mordendo o lábio enquanto se deixava pensar com afinco. – Ah! Ao menos ele mostrou ter interesse em mim, já que quis me beijar! – concluiu animado, sentindo o sorriso morrer logo em seguida. – E provavelmente agora sequer quer pensar sobre isso. Puta merda eu ferrei com tudo mesmo. – se deixou resmungar enquanto levava as mãos para a cabeça, choramingando sobre tudo.

Não terminara de verdade seu exercício. Somente se deixou tomar um banho longo e cair na cama, por mais que não conseguisse verdadeiramente dormir... Aquilo estava seriamente lhe atormentando. Tentou parecer motivado quando o celular despertou logo as seis horas da manhã. Iria consertar as coisas! Não poderia deixar que tudo ficasse daquela maneira.

E ao menos manteve a sua motivação até dar de cara com ele em sua sala de aula. Como o normal, Park permanecia já sentado diante de sua devida carteira, desenhando alguma coisa em uma das folhas de caderno.

Estava como Yuna mais uma vez, mas sabia que ele já não a veria daquela forma. Por isso com confiança se deixou caminhar até a carteira de dupla com a dele, sentando-se ao seu lado.

- Bom dia, Chanyeol. – cumprimentou, por mais que inexplicavelmente estivesse nervoso. Por que precisava ficar nervoso em momentos tão cruciais!?

- Bom dia, Baekhyun. – respondeu, enfim levantando o rosto e lhe mostrando um sorriso simpático. Alguma coisa estava mesmo errada. Chanyeol não era de ficar distribuindo sorrisos assim do nada.

Na verdade, não estava bravo e muito menos chateado. Quer dizer, Baekhyun tinha total direito de ter lhe recusado, isso era normal. É só que... Não conseguia superar a vergonha por todo o momento em si. Por isso continuava sorrindo, disposto até mesmo a falar mentiras como “Vai chover, né?” para garantir que não entrariam naquele assunto... Mesmo que fosse justamente o que Byun desejasse.

Mas ao menos sentia-se aliviado por não estar mais sentindo grandes coisas por vê-lo mais uma vez como Yuna. Enfim conseguia raciocinar que, sentisse o que sentisse, seria por Byun Baekhyun, como garota ou não. E sinceramente isso só piorava a lidar com o fato de que não era retribuído.

- Cara, usar sutiã de novo é tão estranho. – se pegou tentando puxar assunto, somente então notando o quão esquisito e aleatório havia soado. Era em momentos como aquele em que desejava com todo o coração ter o super poder de desaparecer. Mas, contradizendo qualquer pensamento envergonhado que estivesse tendo, ouviu Chanyeol rir baixo, dessa vez verdadeiramente. Guiou portanto os olhos para si, fixando-os em sem rosto, mais precisamente seu sorriso. Mesmo com toda aquela confusão enorme de mal entendido em que ambos estavam, se sentia feliz por saber que conseguia provocar o riso nele.

Não deveria ser tão difícil ajeitar aquilo! Só precisava abrir a boca e dizer que “Park Chanyeol, foi um engano. Eu quero te beijar sim, na realidade, quero te beijar até o fim dos tempos, porque eu gosto de você”. Mentalmente conseguia visualizar isso com facilidade, mas como sempre, o “fazer” sempre era muito mais difícil. Até porque ainda carregava consigo o medo de ser recusado. Podia mesmo ter sido somente uma curiosidade dele, e conseguia sentir a vergonha só de imaginar o “Baekhyun, foi só o sentimento espontâneo da noite. Eu não sinto absolutamente nada por você”. E foi numa dessas que se pegou debruçado sobre a carteira choramingando mais alto do que deveria.

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- Presta atenção, Pumba! – saiu de seus devaneios ao ouvir uma das garotas de seu time gritar, jogando a bola em sua direção. Estavam na aula de educação física, mas não estava exatamente com a cabeça focada naquele jogo de queimada. Queria conseguir reunir coragem de uma vez por todas pra resolver aquele assunto pendente de um dia atrás que tanto estava lhe perturbando. Por isso, extremamente desgostoso em estar existindo naquele momento, segurou de qualquer jeito a bola e lançou ainda mais sem vontade no time inimigo, acertando um dos garotos com tudo no rosto. Talvez Baekhyun definitivamente não soubesse medir sua força.

- Puta merda! – deixou escapar assustado ao vê-lo cair com tudo no chão da quadra, atordoado. Com a locomoção assustada de todos os alunos, seguiu até ele, sentindo o corpo congelar ao ver quem era. Havia acertado Chanyeol. De todos ali, conseguiu acertar justo Park Chanyeol. Se ajoelhou no chão e chacoalhou o seu ombro, esperando que ele voltasse a vida. Até porque na mente exagerada de Byun, ele havia morrido. – Eu matei alguém. Eu não acredito que matei alguém! Chanyeol, volte! – chacoalhou novamente o seu corpo.

Continuava encarando seu rosto enquanto sentia a professora lhe afastar para dar espaço. Mexeu nervoso os dedos, engolindo seco.

- Eu não tinha intenção de machucar ele. – virou-se então para Yujin, sua única amiga naquela escola, a qual havia descoberto sobre si há pouco tempo. Já sentia um bico nos lábios, choroso. Não queria ter feito aquilo, mesmo que sem querer.

- Oh, você vai chorar? – notou espantada, sem saber o que fazer. Abriu então os braços e abraçou Baekhyun, deixando que ele apoiasse a cabeça em seu ombro, choramingando baixinho. – Byun, você vai ficar horrível se chorar. E seu noivo Chanyeol vai te ver horrível quando acordar. Você tem certeza que quer cometer um suicídio de imagem assim?

- Ele já me viu chorar. – continuou os resmungos embolados. – E ele não é mais meu noivo.

Sentiu ser afastado imediatamente, fitando confuso os olhos arregalados dela, como se houvesse dito algo terrível. É mesmo, não havia contado ainda para ela sobre toda a confissão na viagem.

Esperou ao seu lado para que toda a comoção abaixasse e Chanyeol fosse levado ainda inconsciente até a enfermaria, se permitindo seguir com ela em silêncio logo atrás. Estava verdadeiramente preocupado, mas não lhe fora permitido adentrar. Somente podia esperar no corredor, encarando a porta fechada do local.

- Eu... contei pra ele. – deixou escapar baixinho enquanto mexia no tecido da sua saia. – E ele foi super compreensivo comigo, mas... Não conversamos sobre nada do casamento. E eu acho que nem precisamos, afinal de contas, eu não sou o que ele pensava. É mais que normal que ele não queira continuar noivado nenhum.

- Mas... Não é possível, Baek. Ele sempre parece tão carinhoso e cuidadoso com você, e vocês combinam tanto... Você não quer isso? – questionou confusa.

- Claro que quero! Independentemente de qualquer outra coisa, eu gosto dele. Muito mesmo. – continuava de cabeça baixa, já que não tinha costume de falar sobre aquele assunto. Portanto era um pouco estranho para si. – Na noite passada, nós... Quer dizer, ele tentou me beijar. Mas eu acho que era mais por curiosidade mesmo.

Yujin permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse lentamente captando todo o assunto daquela conversa. Esperava ouvir somente sobre uma confissão, não sobre algo mais profundo como aquilo.

- Como assim “tentou te beijar”? Quer dizer que não rolou então?

- Ah, não. – balançou os pés, impaciente – Eu meio que posso ter feito uma carinha estranha na hora do beijo... – concluiu, com pesar.

- Uma carinha estranha? – repetiu, não conseguindo entender.

- É, tipo... Tipo como se eu estivesse com desgosto, sabe, quando você contrai os lábios e tal. – explicou distante, engolindo seco. – Foi sem querer! É só que eu fiquei nervoso com a ideia de beijar pela primeira vez alguém que eu realmente gosto e... E aí ele entendeu tudo errado achando que eu não queria aquilo. Merda.

- E por que diabos você não explica pra ele? Esclarece isso! Você só sabe complicar também Baekhyun, credo.

- Não é tão fácil assim! Eu... Gosto mesmo dele. Mesmo, mesmo, meeesmo! De verdade! E se ele dizer que era mesmo só curiosidade e que não sente nada, vai estragar todo meu conto de fadas e eu vou ficar muito mal. E é bom poupar esse tipo de coisa, certo?

Yujin lhe encarou em silêncio por alguns segundos, respirando fundo. Por um lado entendia bem o que ele estava querendo dizer, afinal, aquilo seria como pisotear em todos os seus sentimentos. Mas... Ainda assim.

- Por outro lado, ele pode sentir o mesmo por você, e vocês só estão perdendo tempo aqui ao invés de ser felizes juntos. Você nunca vai saber se não contar, Baek. – deu de ombros, sorrindo. – Mas isso é algo que você precisa decidir sozinho. Caso ainda não se sinta confiante o suficiente, espere mais um pouco para ter alguma confirmação que ele sente o mesmo.

Gostava mesmo de Yujin. Gostava da forma como ela parecia realmente se preocupar consigo e com o seu bem estar... Era uma ótima amiga. Mas pensar sobre os seus conselhos era algo que levava tempo, apesar de se sentir mais esclarecido depois daquela conversa.

Enfim ouviu a porta ser aberta, guiando o olhar rápido para ali, em seguida vendo a enfermeira mirar os olhos em si, como que pedindo para que se aproximasse.

- Então é você a meliante que machucou o pobre inocente? – ouviu a pergunta, coçando sem graça a nuca.

- Como você sabe? – indagou curioso, entendendo o que ela queria dizer por trás daquela brincadeira.

- A professora me disse que a garota que jogou a bola estava com uma cara de choro terrível. Com isso, imaginei que iria querer vir checar como ele estava. – sorriu, convidando Byun para entrar. Se aproximou então, podendo permanecer ao lado da cama em que Chanyeol estava deitado, ainda adormecido. – Não foi nada grave, não se preocupe. Ele só se machucou um pouquinho pela pancada. – explicou, com calma. – Mas eu vou precisar que seus pais venham leva-lo para casa. É melhor que tire o dia de folga.

Assentiu com a cabeça, levando com receio e cuidado a mão até o seu braço, deixando as pontinhas dos dedos fazerem um carinho extremamente delicado ali. Ao menos ele estava bem, conseguia sentir-se melhor com aquilo.

- Você é a namorada dele? – ouviu a pergunta, guiando surpreso o olhar para ela, negando rapidamente com a cabeça. – Ah, não? É que eu sempre costumo ver vocês dois juntos pelos corredores. Fariam um bonito casal. – sorriu com simpatia, fingindo não ter visto o quão desconcertado ele parecia com aquilo.

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Nunca ansiou tanto por aqueles minutos como estava ansiando naquele momento. Batia baixinho e ansioso o pé no chão, debaixo da carteira. Sabia que Chanyeol já estava em sua devida casa, mas sequer conseguiu conversar com ele após o incidente da queimada. Portanto levantou-se mais rápido do que deveria quando o sinal tocou, anunciando o final das aulas daquele dia extremamente longo.

Despediu-se de maneira rápida de Yujin, pretendendo conversar mais com ela assim que pudesse, afinal de contas, estava realmente agradecido. Mas por hora, precisava com urgência ver alguém.

- Não vai ser incômodo, Sra. Park? – resolveu perguntar mais uma vez somente para ter certeza. E com a resposta negativa, se deixou agradecer e desligar, encostando no poste da calçada para esperar com calma. Chanyeol havia ido com os pais para a casa deles, e não sabia onde os pais dele moravam. Sentia-se um pouco ansioso por estar indo na casa deles, mas... Era por um bom motivo.

Com isso, sorriu ao avistar enfim o carro da mãe dele aparecer, deixando que entrasse no banco passageiro. Era um carro três vezes mais luxuoso que o que sua família costumava ter, afinal de contas, haviam vendido.

- Eu fico muito feliz que você esteja preocupada assim com o Yeol. Meu coração chega a pular de alegria em saber que eu tenho uma nora tão atenciosa assim! – ria baixinho, levando Baekhyun a rir junto. Claro, rir de nervoso. A palavra “nora” soava tão forte aos seus ouvidos.

- E-eu só quero conversar um pouco com ele. Pra ter certeza que está tudo bem... Me desculpa pelo incômodo.

- Incômodo? De jeito nenhum, querida! Você agora é como uma filha pra mim, nunca vai ser um incômodo. – respondia com sinceridade, enquanto guiava pelas ruas tranquilas da cidade.

Aquela conversa cada vez mais tomava um rumo pesado para Byun. Era como se sua consciência latejasse, jogando na sua cara o quão terrível estava sendo em esconder toda uma mentira dos pais de Chanyeol. Mas não era como se pudesse simplesmente contar, ainda mais para ambos. Por isso respirou fundo e tentou diversas vezes mudar de assunto, agradecendo mentalmente quando enfim chegaram à casa.

Já podia imaginar o quão bonita era só por estar localizada em um bairro tão caro como aquele. Era como se precisasse multiplicar dez vezes a sua casa para que chegasse ao valor daquela. Tão grande, tão... Exageradamente luxuosa.

- Eu preciso terminar de preparar a janta, querida. Suba a escada, o quarto do Chan é o quarto à direita. – explicou com calma enquanto se deixava caminhar para a cozinha.

Não esperava entrar pela primeira vez no quarto dele sozinho. Mas não tinha escolha, certo? Até porque, havia sido uma ideia sua. Por isso respirou fundo e concordou, caminhando lentamente até a escada, deixando-se subir degrau por degrau.

Provavelmente o pai dele deveria estar no trabalho, já que todo o ambiente parecia silencioso. Isso não ajudava muito, conseguia escutar ainda mais nitidamente seus passos, sua respiração pesada e até mesmo o bater forte de seu coração... Principalmente ao chegar até a devida porta, levando nervoso a mão até a maçaneta, não dando continuidade à sua ação.

Olhou então para si, tentando ajeitar da melhor forma possível o seu uniforme e em seguida a peruca. Continuava exatamente o mesmo. Mas, ao menos desejando se iludir de que aquilo de algo adiantaria, abriu de uma vez a porta. Encontrou um ambiente consideravelmente escuro, somente iluminado pela luz da lua do lado de fora, provinda da janela mais normal do que o que esperava encontrar. Com isso, ao menos conseguia enxergar a figura de Park deitado na cama, adormecido.

Era um quarto bonito. Sem nenhum objeto de luxo, somente coisas... Normais. Pôsteres, jogos e desenhos em abundância. Virou-se então para trás, encarando a porta e, em seguida, a fechadura, levando com receio a mão até a chave ali. Não queria precisar ficar carregando aquela peruca na cabeça, portanto se deixou virar a chave, trancando a porta.

Feito isso, levou as mãos até o cabelo falso, retirando os grampos com calma para enfim tirá-lo de sua cabeça, depositando-o sobre a escrivaninha do quarto. Tirou também o casaco e a gravata do uniforme, permitindo-se usar na parte de cima somente a camiseta branca. Não saberia ao certo definir o que estava fazendo, mas... Queria estar à vontade com ele, por mais nervoso que estivesse em simplesmente estar ali.

Caminhou com calma até a cama, sentando-se ali com cuidado para não acordá-lo. Chanyeol era realmente como uma pintura para si. Não conseguia entender como sua ex poderia ter encontrado tantos defeitos para apontar nele, jogando-os em cima de si todo o tempo. Não conseguia encontrar algo que não gostasse. Tudo parecia se encaixar tão bem, formando um conjunto tão... Bonito.

Se permitiu enfim deitar na cama com delicadeza, ainda mantendo os olhos sobre ele. Estavam tão próximos que quase poderia realizar o que há tanto tempo desejava e que deixara escapar na noite anterior. Engoliu em seco, precisando fechar os olhos por um momento e respirar fundo, procurando qualquer resquício de auto controle que guardava em si.

Só não esperava abrir os olhos e encontra-lo acordado, observando-o. Levou um susto, dando um pulo no colchão da cama, provocando um riso gostoso no outro.

- Há quanto tempo você está acordado? – questionou, apertando de leve o tecido do lençol entre os dedos.

- Tempo suficiente. – deu de ombros. – Você precisava mesmo ter feito um strip-tease só pra se deitar comigo?

- Que?! – arregalou os olhos, sentindo o corpo esquentar. – E-eu não fiz um strip-tease! Eu só queria ficar à vontade. E você deveria estar dormindo!

- Baekhyun, a porta do quarto faz barulho quando você tranca. E inclusive, é um pouco subjetivo quando você trancar a porta pra vir comigo na cama, sabia? – continuava o observando, achando engraçado como ele se embolava nas próprias palavras.

- Você sabe muito bem porque eu tranquei a porta. – resmungou, olhando para qualquer outro ponto daquele quarto. De repente encarar ele parecia um pouco complicado naquele momento. Até porque, todo aquele assunto estava deixando o seu corpo cada vez mais quente, e manter contato visual com ele só pioraria tudo.

- Eu estou brincando. – Se sentou enfim na cama, colocando a mão na cabeça. – A propósito, precisava me acertar com tanta força? Se estava com raiva de mim sobre a noite anterior, não precisava fazer aquilo. – sabia que tentar não falar sobre o acontecimento da noite passada não adiantaria de nada, afinal, Baekhyun inúmeras vezes tentara trazer o assunto à tona durante o dia, parecendo mesmo querer conversar a respeito. Portanto, nada melhor do que brincar com aquilo. Já que não poderia ser algo para levar adiante, ao menos que fosse algo para rir. Se sentia mais aliviado por não sentir já a vergonha excessiva de falar sobre isso, afinal, aparentemente Byun também estava bem com isso.

- Com raiva? – repetiu, unindo as sobrancelhas. – Não, eu... Não estava com raiva. – umedeceu os lábios, deixando seus olhos descerem com calma para a boca de Chanyeol, lembrando-se de quando ela tocou na sua tão levemente. Sabia que queria mais daquilo. – Eu só... Você confundiu.

- Confundi? – continuava lhe encarando, deixando o riso escapar do rosto. – O que eu confundi?

- Eu. – respondeu simplista, sentindo de repente o coração acalmar consideravelmente. – Eu só... Eu também... – não conseguia formular com clareza as frases, somente se aproximando um pouco mais de Park, podendo acompanhar seu olhar que também descia para a sua boca, ansioso. Não queria precisar explicar. Não queria confessar algo tão precioso como “eu gosto de você”. Apesar dos apesares, desejava que aquele fosse somente um beijo.

Chanyeol estava disposto a com paciência esperar Baekhyun formular a frase e lhe explicar o que aconteceu. Queria realmente saber, mesmo que sinceramente naquele momento isso fosse o de menos... Manter o auto controle diante dele, diante de todo o cenário e momento que lhes envolvia parecia muito mais complicado.