História Favorite Star - Capítulo dois

Amane observou enquanto Tsukasa jogava-se no sofá, esticando o corpo preguiçosamente, como um gatinho faria. O relógio marcava exatamente sete horas da noite, e pela janela Amane podia ver o céu sendo tingido por um tom vermelho alaranjado, indicando o pôr-do-sol e o início da noite.

O que, em outras palavras, significava que logo seus amigos chegariam.

— Tsu, você disse que me ajudaria a arrumar a casa! — Amane resmungou, segurando o irmão pelos pés e recebendo um olhar ameaçador de volta.

— Não ouse.

Ignorando completamente a ameaça de Tsukasa, Amane puxou os pés do mais novo com toda a força, derrubando-o no chão com um estrondo. Tsukasa grunhiu e puxou Amane para que caísse com ele. Os dois se encararam por um pequeno momento, mas não conseguiram se segurar por muito tempo e acabaram caindo na gargalhada.

Finalmente se rendendo aos pedidos de Amane, Tsukasa se levantou e foi ajudar o gêmeo a arrumar a casa. 

Não era como se os irmãos fossem desorganizados só por passarem muito tempo sozinhos devido às viagens dos pais — até porque a casa era praticamente impecável, considerando a mania de limpeza de Amane —, mas sempre tinha uma coisa ou outra para arrumar. Lavaram a louça da refeição anterior e passaram uma vassoura no chão para arrumarem as camas improvisadas depois, nada além disso. 

— E aí? Vai dizer para eles que resolveu entrar para a banda dois anos depois? — perguntou Tsukasa enquanto terminava de guardar os pratos no lugar.

— Sim — respondeu. — Estou um pouco ansioso.

— Vai dar tudo certo. — Tsukasa sorriu, confiante. 

Amane suspirou, sentindo certa palpitação em seu peito. Não demorou muito para que os dois ouvissem uma batida na porta e as vozes animadas de seus amigos vindo da rua. Amane correu para abrir a porta, dando de cara com Yashiro, que estava na frente de todos. Seus rostos ficaram perigosamente perto por uma fração de segundo antes que ela o abraçasse, mas foi o suficiente para deixá-lo desconcertado.

— Que bom que vieram! — falou, se recompondo logo que Yashiro o soltou. 

Tsukasa logo se uniu a eles e todos entraram na casa. Amane indicou um canto da sala, cômodo em que eles dormiriam, para que largassem suas mochilas, e foi para a cozinha fazer pipoca enquanto os outros ficaram debatendo sobre qual filme assistir.

— Pensei em pedirmos uma pizza. — Yashiro surgiu do lado de Amane. "Essa garota quer me matar, só pode", pensou, sobressaltado. 

— Parece uma boa — concordou o rapaz, girando o corpo para ficar de frente para a amiga. — Ei, Nene, eu estive pensando e… — Ele corou involuntariamente. — Acho que seria legal aceitar seu convite para a banda. Estamos no último ano e eu–

Yashiro o interrompeu com um gritinho agudo de empolgação, jogando os braços ao redor do pescoço de Amane que, a essa altura, não sabia mais onde enfiar a cara de tanta vergonha.

— Não brinca! — exclamou. — Nossa, Amane, isso vai ser muito legal. Estou tão feliz!

Amane sorriu, acariciando os cabelos da garota e sussurrando um "eu também".

— Oe, Yashiro. — A voz de Mitsuba interrompeu o momento. Os dois se afastaram e puderam ver Mitsuba escorado no batente da porta, com as sobrancelhas erguidas e os braços cruzados. — Era para você vir avisar o Amane que não precisa fazer pipoca agora, e não ficar de agarração, sabe?

Mesmo que ambos soubessem que era apenas uma brincadeira da parte de Mitsuba, Yashiro não conseguiu evitar que sua pele ficasse corada pelo constrangimento. "Absurdamente fofa", pensava Amane. 

— Todo mundo tem dinheiro para ajudar? — Amane tentou desviar do assunto. Mitsuba concordou, sorrindo maroto. — Então é hora da pizza!

— Pessoal. — Yashiro pôs-se a frente de todos quando voltaram para a sala. — Gostaria de anunciar que o Amane vai entrar para a banda!

Amane abaixou a cabeça, constrangido por toda a atenção que estava recebendo, já que todos ficaram muito animados com a ideia, mas não conseguiu deixar de sorrir. O carinho que recebia dos amigos era o suficiente para manter seu coração quentinho, apesar de suas aflições e os problemas com os pais que ninguém além de Tsukasa sabiam. Aoi correu para abraçá-lo.

— Fico tão feliz com isso, Amane! — falou. — Nossa, vai ser lindo você e a Nene cantando juntos.

— Igual aquele filme de romance em que o casal canta juntos? — Kou soltou uma risadinha, recebendo um beliscão de Mitsuba, mesmo que este também se segurasse para não rir.

— Nasce uma Estrela? Eu amo esse filme. — Aoi entrou na onda.

Amane revirou os olhos, mesmo que rindo com a situação. Aoi e Mitsuba começaram a tagarelar sobre novos projetos de música para a banda, e também a respeito de um projeto fotográfico envolvendo a banda que Mitsuba planejava para a exposição de arte anual da escola. Tsukasa ficou encarregado de pedir as pizzas — ficou decidido que apenas uma não seria o suficiente para matar a fome de todo mundo.

Vendo todos conversando freneticamente, Amane chegou a conclusão de que ninguém havia escolhido filme algum. Viu, com o canto do olho, Aoi inclinar-se para sussurrar algo no ouvido de Yashiro, que sorriu e lançou um olhar discreto — que não passou despercebido — para Amane.

— Quando vai se declarar para ela?

Amane deu um pulo, caindo sentado no sofá, escutando a risada escandalosa de Mitsuba, que sentou ao seu lado junto de Kou.

— Tiraram o dia para falar disso hoje, eu suponho. — Amane resmungou.

Kou apoiou sutilmente o queixo no ombro de Mitsuba, que permaneceu parado, olhando fixamente para Amane com um sorriso divertido brincando nos lábios. O menor sentiu vontade de perguntar quando que os dois admitiriam que se gostavam, mas seria divertido ver os amigos percebendo isso sozinhos. Os sentimentos de Mitsuba e Kou eram tão claros que chegavam a ser transparentes, dava para perceber apenas pelos pequenos gestos e olhares que trocavam.

Muito fofo, de fato. Amane torcia por eles.

— Acho que ele fica constrangido com isso, Mitsuba — sussurrou Kou, como se Amane não estivesse ouvindo.

— Mas ele precisa tomar uma atitude. Imagina se o colegial acaba, eles nunca mais se encontram e ele vira um solteirão infeliz? — A ideia parecia aterrorizar Mitsuba, que arregalou os olhos e fez um biquinho assustado. O jeito Mitsuba de ser.

— Pessoal, agradeço a preocupação, mas eu ainda estou aqui.

Kou soltou uma risadinha, balançando os ombros.

— Agora que você é parte da banda, Amane, muitas coisas poderão acontecer — falou. — Um mar de possibilidades está se abrindo diante de você, meu caro.

— É só uma maneira de curtir o último ano, guri. Nada de mais. 

Nem Amane acreditava nessa mentira, mas preferiu falar mesmo assim.

— Vamos fingir que eu acredito. — Kou continuou normalmente. — Mas, falando sério sobre a banda, esse é um compromisso muito importante para todos nós, e vai ser para você também. Estamos trabalhando em uma música nova, como você deve ter escutado a Aoi falar, e acho que unindo as vocais da Yashiro com as suas vai ficar perfeito.

— Tão artístico. — Mitsuba parecia emocionado. — Isso vai fazer tão bem para o meu projeto de fotografia!

Aoi se aproximou dos três, deixando Yashiro conversando sobre algo inaudível com Tsukasa, que não parava de soltar risadinhas. 

— Estão falando sobre a banda? — perguntou.

A melhor amiga de Yashiro deveria ser a única pessoa, além de Yashiro, que nunca havia tocado no assunto Amane gosta da Nene. Amane nunca soube se era porque de fato Aoi não sabia, ou se ela só fingia não saber e preferia ver o desenrolar da história em cima do muro.

— Nós achamos que a entrada de Amane é o que faltava para o nosso rumo à fama! — disse Kou, fazendo um gesto para indicar Mitsuba e ele como o nós. 

"Eles até falam como um casal", Amane riu nasalado ao pensar isso.

Pelos próximos quarenta minutos Amane ouviu atentamente os três falarem sobre a banda e projetos para aquele ano, até Yashiro e Tsukasa se juntarem ao assunto. Quanto mais falavam a respeito, mais Amane tinha a certeza de que havia sido uma ótima escolha entrar para a banda — não apenas por Yashiro, mas também porque parecia realmente divertido pensar nas músicas, ensaiar, se apresentar e até receber centenas de fotos que Mitsuba tirava a cada apresentação. Amane amava demais o seu grupo de amigos e tudo que eles representavam para si, cada momento que tinha com eles era simplesmente único.

Enquanto eles conversavam e esperavam a pizza, o rapaz agradeceu silenciosamente ao universo por ter aquelas pessoas maravilhosas consigo.

[...]

Foi difícil se levantar sem pisotear algum de seus amigos ou acordá-los. Amane estava deitado justamente entre Tsukasa e Kou, e eles se mexiam demais. Um filme de terror ainda estava passando na televisão ligada, entregando os adolescentes que não aguentaram muito tempo acordados.

Havia sido divertido, de qualquer maneira. Todos comeram pizza, jogaram um pouco de videogame e decidiram assistir filme de terror; e filme de terror se transforma em filme de comédia quando assistido entre amigos.

Mesmo assim, Amane estava completamente sem sono, e decidiu levantar para fazer uma das coisas que mais ajudava a acalmar seu coração: observar as estrelas. 

Depois de conseguir sair de perto dos outros, Amane caminhou cuidadosamente até a porta dos fundos da casa, que dava para um enorme pátio com uma rede presa entre duas pequenas árvores. O rapaz deitou-se na rede, erguendo seu olhar para o céu. Não existia nada que fascinasse Amane mais do que a Lua e as estrelas, que estavam extremamente lindas e brilhantes naquela noite. Podia encontrar, sem nenhum esforço, a maioria das constelações visíveis naquela região, e contaria as histórias que cercavam cada uma delas, se alguém perguntasse. Quando pequeno, Amane sonhava em visitar a Lua — imaginar-se deixando suas pegadas, uma marquinha de si naquele lugar, deixava o garotinho extasiado.

Agora, prestes a completar seus dezoito anos, Amane só queria se tornar um grande professor de ciências. A ideia o agradava muito

— Acordado?

Amane quase caiu da rede pelo sobressalto.

— Yashiro, pelo amor de Deus, você precisa parar de me assustar assim.

Yashiro riu suavemente, parando na frente do garoto, que sentou-se e indicou para que ela se sentasse com ele.

— Desculpe — falou. — Eu não estava conseguindo dormir, e resolvi te seguir.

O adolescente sentia o coração bater aceleradamente, mas tentou se manter o mais normal possível. Em um movimento quase que automático, Amane passou um braço ao redor dos ombros de Yashiro, que não protestou, apenas se permitiu levar pelo momento e deitou a cabeça no ombro do amigo.

— Vamos nos divertir muito esse ano. — Ela falou. — Vai ser inesquecível.

— Sempre foi inesquecível, Nene — disse o mais velho. — Tudo com você… — Ele corou. — Vocês. Tudo sempre é melhor com vocês.

Yashiro ergueu o olhar para ele, sorrindo e levemente ruborizada.

— Sabe, eu… — Yashiro começou a falar, mas suas palavras se perderam no ar.

— Você?

— Nada. — Ela baixou o olhar novamente. — Dizem que certas coisas não devem ser faladas depois das duas da manhã.

— Então você me fala amanhã.

Os dois riram.

— Sabe essa história da banda? — Amane concordou com a cabeça. — Então, vai ser demais. Obrigada por ter entrado, mesmo que de última hora.

— Não precisa agradecer.

Eles ficaram em silêncio depois disso, onde apenas podia se ouvir a respiração alheia. Amane sentia-se completo naquele momento. Não tardou a perceber que Yashiro havia adormecido em seu peito, e mesmo que fosse um pouco mais baixo, ele ainda era mais forte, e pegou a garota cautelosamente em seu colo, levando-a de volta para dentro de casa, onde a aconchegou na cama bem ao lado de Aoi.

Ela era linda mesmo dormindo.

— Boa noite. Amo você, Nene — sussurrou, depositando um beijo terno na testa de Yashiro, convicto de que ela não estava escutando.

Depois disso, Amane dormiu como um anjo.