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História Fazer Frente - Rondando o inimigo


Escrita por: May-May-

Notas do Autor


Oi amores... FELIZ ANO NOVO PARA TODO MUNDO ♥ QUE 2016 CADA UM DE NÓS FAÇAMOS AS COISAS QUE PROMETEMOS PARA 2015 E NÃO FIZEMOS...
Boa Leitura
MayMay
P.S.: Entrando um pouco mais a fundo na cultura islâmica, espero que gostem como eu amei escrever.

Capítulo 23 - Rondando o inimigo


Justin person’s Pont Of View

Os dedos de minhas mãos estavam já gelados e enrugados. Minha respiração estava entrecortada e pelas expirações conseguia ver o resultado do frio. Já tinha perdido a conta de quantas vezes tive de ir até um dos baldes, espalhados pela área coberta, torcer o esfregão e continuar o trabalho. Os poucos segundos que ficava sem sentir a água cair em meu corpo já me ajudavam a continuar em pé. Cada um dos homens estavam espalhados por cada parte do pátio. Não sabia a hora e nem quanto tempo estávamos aqui, o céu estava escuro e não tínhamos iluminação suficiente para conseguir olhar as horas no relógio de entrada do batalhão. A água que caia dos céus parecia não acabar mais, minha farda estava ensopada, meu coturno mal saia do chão e me arrependerá de não colocar uma meia. Nenhum homem ousava trocar palavras, apenas alguns olhares cansados, estávamos com medo de mais punições, pelo menos era o que eu achava.

Estava torcendo o esfregão quando percebi um homem perto de mim, cair ao chão. Assustado, olhei para Martin e Walter vendo-os ir até o homem rapidamente. Ele estava perto da área coberta. Seus olhos estavam bem abertos e seu rosto parecia mais branco que o normal.

-Continuem. –Disse o homem mais alto.          

Em poucos minutos o homem que havia caído ao chão voltou a sua tarefa. Ele parecia cansado e a forma que segurava o esfregão denunciava fraqueza. Ele trocou breves olhares com os homens mais próximos e voltou a focar o olhar no chão molhado. Estiquei a mão que não segurava o esfregão para frente do meu corpo tentando captar a água levando em seguida para meus lábios. Nos minutos seguintes alguns homens foram até Walter e Martin lhes dizendo algo no ouvido, em seguida seguiam para dentro da Base. Aos poucos os homens no pátio diminuíam alguns esgotados resolviam desistir ficando abaixo do pátio. Consequências... Consequências e mais consequências.

Quando o céu tomou um tom alaranjado foi quando a chuva parou definitivamente. Pelas minhas contas deveria passar das Quatro da manhã. O pátio estava seco e limpo quando os soldados trocaram o turno da vigia, Seis da manhã.

 

Aziza person’s Pont Of View

Não chovia assim no Afeganistão fazia meses. Lembro-me de que algumas localidades do Afeganistão sofriam deslizamentos de terra, causando milhares de desabrigados, mas não foi apenas a chuva que tomou parte da minha noite. Pela pequena janela na porta podia observar muitos soldados correndo. Entravam e saiam de salas e seguiam os corredores. Todos carregavam “as coisas que matavam”. Eles gritavam para andarem rápido enquanto alguns estavam eufóricos o suficiente para não conseguirem andar poucos metros. Estavam sendo atacados? Allah, por favor, diga que sim... Em poucos minutos da mesma forma repentina que o barulho começou, ele cesou, me mantendo novamente isolada e sozinha em minha nova moradia.

Deitei novamente em minha cama desconfortável. Chuvas fortes, no Afeganistão, eram mais comuns no inverno, pensamentos tenebrosos tomaram minha mente quando me lembrava das palavras de mamãe sobre meu nascimento. Nasci no ano de 1999, exatamente no dia 05 de Dezembro.

“A casa estava enfeitada com pétalas de flores juntamente com ervas cidreiras em volta da cama do casal e das oferendas a Allah. Estavam todos esperançosos com o nascimento do segundo filho de Abdul, um homem respeitado em Cabul. Mamãe já estava com a barriga farta quando a família de papai se instalou em nossa casa, como haviam feito ao nascido do primogênito, Zyie.

Papai tinha dois irmãos, Saleh, um homem barbudo e calvo, sendo o mais velho dos irmãos e Kassen, um homem magro e esguio, mas que sempre carregava um olhar severo por onde andasse, dos irmãos era o mais novo. Saleh tinha três mulheres – Aadila, Zaida e Ahnam –, enquanto Kassen tinha duas – Aisha e Xiomara –. A ajuda das cunhadas nas ultimas semanas de gravidez foram essenciais para mamãe, estava grata pela companhia das mulheres e principalmente pela experiência das mesmas que já haviam tido filhos.

Na madrugada do dia 05, mamãe deu a luz a seu bebê. Desde quando acordará seu marido, ambos já sabiam que o primeiro passo do bebê havia sido em péssima hora. Um bebê que nascia a noite carregava supertições, o azar estava com eles. O parto foi feito por Aadila, a mais experiente e mais velha das cunhadas. No quarto estavam todas as cunhadas, nenhum homem poderia acompanhar um parto e pela segunda vez, papai estava ansioso para ver o rosto de seu filho.

Quando se ouviram o primeiro choro do bebê, todos ficaram alerta. Aadila sorria enquanto limpava em um pano a pequena menina. As outras cunhadas não se pronunciaram, sabiam que era um momento difícil para mamãe. Todos imaginam que seria um menino. Quando mamãe me colocou em seus braços, seu sorriso se estendeu, por mais que a dor fosse sufocante, seus olhos se concentraram na pequena menina, sua filha.

Os momentos seguintes não foram como antes, quando Zyie nasceu. Na manhã que Zyie nasceu os parentes festejavam e como de costume apontavam suas espingardas para o céu e dava a quantidade de tiros que fosse suficiente para informar que mais um menino estava em Cabul. Mas quando papai e seus irmãos entraram no quarto e me viram, seus sorrisos murcharam. Papai ajoelhou-se ao lado de mamãe, me segurou em seus braços sorrindo com sua mais nova herdeira, alisou minha cabeça cabeluda e cumpriu o Adham*, na minha orelha direita sussurrou bem baixinho “Allah” e “Kalimah”*.

-Como o profeta fez o Adham em sua filha Fátima quando leu a luz, faço em você pequena criança. –Disse ele baixo para que apenas os mais próximos ouvissem.

Havia tâmaras ao lado da cama, papai pegou uma, abrindo-a em seguida. Com seu sumo, esfregou em mim, cumprindo o Tahnik*. Estava lambuzada pela fruta quando papai me entregou a mamãe.

-Se não está apto a ter em sua mão uma tâmara seca, então a tâmara seca será usada em você. –Disse papai recitando uma passagem do alcorão.

Na mesma noite decidiram o nome da criança “Aziza”.

Depois das praticas, mais uma menina muçulmana estaria na Terra, cumprindo sua missão. Preservar as ordens de Allah, cumprindo-as sem contestar. Na manhã seguinte eu já estava sendo comentada no bairro, os dizeres iam desde "era uma menina linda com olhos cor de avelã", até "uma criança do mau, nascida na madrugada", mas apesar de tudo, era uma menina, mais uma menina que sofreria no Afeganistão.

No sétimo dia de meu nascimento foi quando pude sair do quarto. Mamãe me deixou longos minutos no colo de Zyie, meu irmão mais velho, o mesmo observava sua irmã atentamente, com apenas cinco anos, já sabia que uma menina não era um sinal de sorte, principalmente tendo nascido de madrugada. Como era de costume cumpriram o Aqiqah*, a prática de abater um carneiro, dois se fosse um menino, foram longas comemorações durante o dia.

Mamãe já estava cansada quando cumpriram a ultima pratica no final do dia, raspar a cabeça do bebê. Com a mesma maquina que usaram em Zyie  no seu sétimo dia de vida, usaram em mim também. Meus cabelos foram pesados e para a alegria de papai pesavam 90 gramas. O irmão mais velho tirou do bolso três moedas de prata que pesavam 90 gramas. No final o dinheiro tinha dado mais de 200 dólares que seriam dados para a caridade, caso nascesse uma menina, e ficaria para a família, caso nascesse um menino.

No outro dia os irmãos de papai foram embora, mas antes disso, disseram a papai que era melhor casar-se novamente, mamãe já tinha caído no critério dos cunhados, mas apesar de tudo, mamãe para ele era o suficiente, mesmo tendo dado a luz a uma menina.”

 

Justin person’s Pont Of View

Já se passava das sete da manhã quando Barney deu as caras. Desde que a chuva parou Martin e Walter saíram do pátio, nos deixando sozinhos. Aquilo era estranho...  O calor estava sufocante, nossas roupas já haviam secado há tempos. Não poderíamos nos sentar, ficamos em formação o tempo todo. Minha boca estava seca, meu estomago reclamava, mas apesar disso, a humilhação era maior. O pátio estava cheio de homens trabalhando e outros tomando sol, olhavam-nos com desdém e ironia, afinal, o castigo foi destinado apenas ao meu dormitório.

Diferente da madrugada de hoje, nos estávamos enfileirados em apenas uma fila. Os olhares novamente foram atraídos em nossa direção. Ninguém ousava interromper um momento como aqueles.

-Até então, os castigos na Base 74 eram quase inexistentes, mas devido a tais situações, vamos cobrar mais de vocês soldados, todos voces. –Disse Barney olhando ao redor com o rosto contraído. –Então vamos lá. Vou ler da mesma forma que está escrito. –Disse ele tirando do bolso da frente um bloco de anotações. –Exatamente as duas e quarenta e sete, houve a primeira punição, um soldado parou o trabalho. Disse que passava mal, mas não achamos convincentes suas reclamações. As três e vinte e dois, houve a segunda punição, vários homens deixaram o pátio indo em seguida para a área coberta. E as cinco e três houve a terceira punição quando alguns homens se retiraram do local quando a chuva parou. Deixamos o pátio às seis e meia em ponto, devido a quebra de regras, dando-lhes o castigo  imediato. 

Merda...

Alguns homens reclamaram, não eram todos que haviam ido contra as regras, mas como era de se imaginar, trabalhamos em conjunto, se um erra, todos erraram. Todos estavam encarregados de permanecer com o fuzil nas próximas 48 horas. Haveria um calendário, dos dias de cada soldado trabalhar na cozinha, lavar os banheiros e limpar os dormitórios. Hoje como imaginado estaria encarregado dos banheiros, para minha alegria, não seria apenas eu, mais três homens ficaram encarregados.

Fomos liberados em seguida. Enquanto alguns andavam apressados para os banheiros, eu estava focado apenas em me alimentar. Sentia que meu corpo implorava por descanso, enquanto minha mente queria acabar com Barney até o dia se por. Já eram quase oito da manhã quando comecei a cumprir minhas obrigações. A primeira alimentação do dia da afegã sempre era a seis da manhã. Estava atrasado, bem atrasado.

Com a bandeja em uma das minhas mãos, peguei a chave da cela da afegã. Respirei fundo antes de entrar. Deus... Hoje seria um longo dia. Como todas as manhãs, a afegã estava sentada no chão olhando para o nada. Normalmente não trocávamos palavras, apenas deixava a bandeja ali e minutos depois voltavam para buscar, mas hoje foi diferente.

Entrei na cela, trancando-a em seguida. Pela minha visão periférica conseguia ver que a atenção da afegã estava em mim. Deixei a bandeja em cima da pequena mesa, em vez de voltar, acabei sentando em sua cama, lutando contra meus instintos de deitar e dormir por horas.

-Aconteceu alguma coisa? –Perguntou ela se levantando.

-Nada que lhe afete. –Disse fechando os olhos respirando fundo, abrindo-os em seguida lembrando-me de onde estava.

-Eu vi muitos americanos essa noite. Aqui... Correndo e gritando. Problemas? –Perguntou ela curiosa.

-Não aconteceu nada, porra. –Disse exaltado. –Agora senta ai e come essa merda.

Como se fosse uma cachorrinha adestrada, a mesma fez o que eu mandei. Por mais que a camas da Base fossem as mesmas, a dela parecia ainda mais desconfortável. Observei-a levar o pão até a boca, em seguida mastigando, ela era sexy até mesmo se alimentando.

Até que seus olhos encontram os meus, ela parecia apreensiva. Minha atenção estava totalmente voltada para ela.

-Por que está aqui? Quer dizer, voce traz a comida e vai embora e hoje voce está aqui... Com esse negocio. –Disse ela apontando para o fuzil que estava em meu corpo.

-As coisas não estão como antes, então é melhor se preparar. –Disse simples. –Vai vazar daqui logo, tenho certeza.

-Mudando como? Os talibãs estão atacando?

-Não, para o seu azar. Qual o problema dessa gente... Eles filmaram um soldado sendo morto. Arrancaram a cabeça dele, merda! –Disse nervoso.

-Olha, sei que não entende nossa cultura, nossos costumes e nossas crenças, mas tente entender. O talibã é fruto de uma era de guerras. São treinados para isso. Nosso alcorão lhes permite matar, o próprio profeta Maomé matava. Seguimos nossa tradição acima de tudo. –Disse ela simples. –Sei que pode ser difícil de conseguir, mas poderia trazer o alcorão e eu lhe mostraria. Quer dizer, mais ou menos...

-Vai nessa, te entrego essa merda quando estiver ardendo no inferno. –Disse         nervoso. Porra, o sono já estava me deixando nervoso.

Meus olhos fitaram a porta, deixando a assunto morrer. Meus olhos percorreram-na até olhar novamente para a afegã esperançoso.

-Olha te arrumo essa merda, se me ajudar com algumas coisas. –Disse   olhando bem em seus olhos escuros.

-Como o que?

-Algumas coisas simples. Lavar aquele banheiro dessa ala, ou me ajudar a limpar os dormitórios... Algo simples. E ajudar em traduções. 

-Pode ser.

Continua...

Adham – Quando nasce um bebê, seja menino ou menina, faz essa prática de imediato, as primeiras palavras que a criança devem escutar é Allah (Deus) e Kalimah.

Kalimah – Tem haver com Allah (Sendo que há versículis no Alcorão “Seis Kalimah’s” que falam sobre Allah, um muito conhecido, no Alcorão é o seguinte “Ele é o Deus, ele é poderoso e ele é quem manda...”)

Aqiqah – Pratica feita quando a criança já tenha 7 dias de vida. Mata-se um carneiro para menina e dois carneiros para o menino em comemoração.

Tahnik – Pratica de usar um fruto doce, se possível a tâmara, passando em seguida no bebê para lhe dar proteção de Allah. 


Notas Finais


DIAS DE POSTAGEM:
TERÇA E QUINTA ÀS 19H

Estou pensando em FINALMENTE fazer aquele hot esperado no proximo capítulo, mas isso vai depender de vocês...
Beijo e até Terça.


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