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História Fear : harringrove. HIATUS. - Fear - 03.


Escrita por: urstark

Notas do Autor


Sinto muito pela demora e muito mesmo por esse capítulo ruim e menor que os outros. Perdoem se tiver algum erro ortográfico, eu revisei mas sempre passa algum.

Me digam o que que estão achando da fanfic, por favor?

Capítulo 3 - Fear - 03.


Fanfic / Fanfiction Fear : harringrove. HIATUS. - Fear - 03.

Bicha. Bicha. Bicha.

Neil empurra a porta em um estrondo alto, fazendo Billy pular da cama de abrupto, tropeçando em seus pés no intuito de manter-se o mais longe possível do homem irado. Ele começa com gritos altos, vibram pelas paredes e chegam até Billy como facas, mas ele já esperava algo assim no começo da semana, ele espera todos os dias, independente de estar ou não no caminho do pai, ele sempre o buscaria e o arrastaria para a merda, para baixo. Neil agarra sua camisa e o empurra na parede, seu rosto está vermelho de raiva, seus olhos parecem bolas de basquete. Todas as veias em sua testa e pescoço estão expostas, saltando a cada grito, todos os insultos jogados no filho com a força de uma batida. Billy permanece em silêncio, ele espera que isso termine rápido o suficiente para ele tentar dormir um pouco para o dia seguinte; ele terá que buscar as peças do uniforme que usará na piscina, felizmente recebeu a ligação que tanto esperou.

Bicha. Bicha.

Dessa vez ele ouve perfeitamente bem, em bom som. Raramente acontece, geralmente quando ele tem um encontro e Max precisa estar em casa em um horário específico, ele sempre se atrasa, independente do seu esforço e Max tem muitos assuntos a discutir com os seus amigos, ela sempre demora para entrar no carro. Então, Neil diz bicha porque é sempre a sua culpa, todas as vezes. Ou ele se arruma demais, ou ele passa tempo demais com alguma garota para provar alguma coisa, e essa garota nunca é boa.

Billy pensa assim, ele quer se explicar sem entender o que ele fez dessa vez, mas Neil não permite.

O primeiro soco é desferido em seu maxilar, sem cuidado algum, são nós dos dedos frios contra sua pele quente. Arde, queima. Ele aperta os dentes e leva ambas as mãos para o local, é como se algo tivesse quebrado, partido. Ele cospe sangue no chão e antes de poder se recuperar está sendo puxado mais uma vez para cima pela gola da camisa. Ele se nega a olhar nos olhos do pai e esse mesmo ri, é estrondoso. O aperto dos seus dedos faz o tecido fino da camisa ceder aos poucos, ele o solta de uma mão, tira algo do bolso e joga na cama. As notas verdes espalham entre a bagunça do lençol e a tempo de ver a expressão indiferente ele se vira.

"Isso veio do pai daquele muleque rico, como se chama? Hm, Billy? Como chama?"

Steve. Ele consegue imaginar o homem que ele viu na casa de Steve, o que os pegou no hall de entrada, pagando seu pai por algum trabalho sujo. Ele não precisa imaginar muito para deduzir o que está acontecendo, para entender a expressão quase desumana no rosto do seu pai, depois de todos esses anos sobrevivendo ao lado dele, ele sabe quando deve se preparar para algo mais pesado que o normal, maior e mais doloroso que as comparações que Neil faz entre ele e sua mãe, como se ser como ela fosse algo ruim. Ao contrário da sua mãe, ele não tem para onde ir.

O segundo soco acontece. É um baque surdo, um zumbido alto invade a sua audição, seus olhos lacrimejam quando um filete de sangue escorre de uma das narinas, atravessando por entre os seus lábios. O gosto de ferro do sangue invade o seu paladar, ele busca aliviar a dor levando ambas as mãos para o rosto, os joelhos cedendo aos poucos até ele estar no chão. Neil lhe acerta com chutes, a ponta da bota suja e pesada encontram um caminho doloroso nas costelas do rapaz e é exatamente o que Neil procura, ele ri todas as vezes em que Billy engasga, choraminga.

Ele não quer um filho bicha, ele não quer que a cidade fale sobre a criação que ele lhe deu de uma forma ruim. E Billy, ele sabe. E ele tentou, tentou arrancar de si aquela parte que nunca está satisfeita com um belo par de peitos em seu banco traseiro ou uma casa pequena com cercas brancas. Aquela parte em que Steve é muito mais que um saco de pancadas, alguém para ele descontar suas frustrações e usar sua força contra para impressionar o resto dos jovens caipiras ao seu redor. E ele quer Steve, ele o deseja de todas as formas boas.

Mas ele não pode dizer, e não há nada que ele possa fazer sobre isso.

Quando Susan aparece, ele sabe que ela já estava acordada em algum cômodo da casa ouvindo tudo. Seus olhos estão maiores que o normal e são de uma cor viva, avermelhados e inchados. Billy apoia ambas as mãos no chão e tenta se levantar.

"É assim que você agradece tudo o que nós fazemos por você? Eu te dei um teto, comida na mesa e um carro."

Billy sabe que Susan não é assim, ela não diria essas coisas a ele e muito menos o machucaria. Billy sabe que Susan não é assim, ela não diria essas coisas a ele e muito menos o machucaria. Mas nenhum dos dois contradizem com o que Neil diz, mesmo machucado, Billy se arrasta pra longe e permanece em silêncio até que seu pai saía do quarto com Susan e ele tem a leve impressão que aquilo duraria muito mais se ela não o tivesse levado dali.

Steve Harrington parece ainda mais bizarro coberto pelas sombras ao redor da casa, todas as árvores escuras e pontudas não são nada se comparadas a expressão atordoada e fechada do rapaz. Ele tem meias nos pés e pula no intuito de não fazer barulho nas folhas, não funciona, mas não é como se a família tivesse um cachorro para avisar todas as vezes em que alguém estivesse ao redor. Ele odeia a ideia de Billy estar ali e Billy sabe, Deus sabe o quanto ele lutou para ficar em sua própria cama depois da surra que levou e talvez, só talvez, o único motivo de estar se arriscando tanto assim é que Steve poderia ser gentil o suficiente para lhe oferecer um copo de água e tapinhas no ombro por todos esses anos aguentar um pai de merda e uma vida de merda. Bem, não.

Harrington se aproxima com um tapa, o qual ele desfere no ombro esquerdo de Billy e mesmo que ele não tenha levado um soco ou chute sequer naquela região, ainda dói como se houvesse acontecido. Ele geme, se apoia nos joelhos e tosse, cospe algumas vezes no intuito de se livrar do gosto de sangue entre seus dentes. Ele ouve Steve, sente seus dedos descendo por seu pescoço e ombros e quando ele descobre as marcas cobertas por apenas uma jaqueta jeans, ele abre e fecha a boca. Billy assiste sua expressão passar de medo para pavor, uma mistura diferente faz com que as linhas de expressão em sua testa mude, seu maxilar trava no momento em que seus olhos terminam a breve varredura. Billy adora esse menino e a sua capacidade de ver o Mundo pegar fogo sem fazer uma pergunta.

Corajosamente, ele o pega pelos ombros e o puxa para dentro da sua casa, como se os seus pais não estivessem no andar de cima e algumas horas atrás o pai dele tivesse pagado o seu para que o filho bicha deixasse o dele em paz. Os dois caminham pela sombra, devagar e arrastando, as luzes do corredor piscam algumas vezes e a respiração de Steve parece um pouco irregular, no segundo seguinte quando estão no quarto ele tranca a porta e Billy senta na cama. A claridade faz seus olhos doerem, mas não é nada comparado com a dor em seu corpo, um espaço entre suas costelas doendo como o inferno e seu nariz. Ele se livra da jaqueta no momento em que Steve se aproxima, a espera de qualquer remédio para dor, mas Steve estala os dedos e saí pela mesma porta que entraram sem dizer uma palavra.

Hargrove resmunga, esfrega as mãos por seus ombros e tórax no intuito de se aliviar, consequentemente inclinado-se um pouco para trás e permite que seu corpo descanse um pouco no colchão macio e é como um momento de alívio, seus músculos tensos parece aos poucos se desmancharem, mas é breve, ele abre os olhos e percebe que estava quase dormindo quando os olhos grandes de Steve estão em cima de si, provavelmente preocupado e com medo de que ele tenha morrido, seria engraçado se não trágico. Ele o ajuda a se levantar e o ajuda a chegar até o banheiro, onde plásticos vazios de gelo estão no chão e a banheira está cheia com os mesmos, cubos preenchendo toda a superfície da água.

Billy só quer dormir um pouco.

Quando mãos frias tocam suas costas ele resmunga, seus dedos trabalham rápido no zíper da calça e quando a mesma desce por suas pernas, Steve segura o cós da cueca para que ele a mantenha e o ajuda colocar ambos os pés dentro e o segura ali. Seus pés estão congelando aos poucos, conforme ele desce a dor parece dilacerante, todos as suas feridas são expostas a uma temperatura baixa e todas as vezes em que ele tenta sair mãos o seguram no lugar. Uma vez sentado na banheira, Steve senta no chão, mantendo os braços esticados para manter Billy no lugar e o queixo na beira da louça.

"Um beijo ajudava mais." Hargrove ralha.

Os dois sabem que não, um beijo os levou até ali e provavelmente esse beijo dará ainda mais trabalho quando os dois são teimosos o suficiente para estarem juntos mesmo depois de tudo. Independente, Billy está feliz que Steve não o tenha rejeitado.

"Eu sinto muito, Billy." Os mesmos olhos assustados encaram Billy de volta e ele começa a pensar que em todas as vezes em que eles se encontram Steve está com medo.

"Não sinta." Não é o suficiente, ele odeia que sintam pena dele.

Steve faz menção de puxar suas mãos porque Billy está mais quieto, mas esse mesmo não o deixa sair dali, segurando-o, ele permite que os dedos de Steve subam por seu pulso, carinhosamente dedilhando sua pele fria enquanto ele fecha os olhos em apreciação. Esse é o grande real motivo de Steve ter se tornado algo para ele, pois em momento algum ele esteve realmente atrás de uma briga ou depois de perder seu lugar na cadeira dourada, buscando querer assumir de volta. Ele nunca esteve atrás de si como os outros, nunca esperou por suas piadas ou um lugar ao lado da sua mesa no refeitório e nem ao menos suspirava nos corredores por ele. Steve nunca tentou chamar a sua atenção e só entrou em brigas com ele por motivos importantes o suficiente para tal coisa.

E Billy está acostumado em chamar a atenção de todos o tempo todo, de cobrir todos os seus problemas com popularidade, brigas e bebidas. Sempre usou o sexo para esquecer e os cigarros para se acalmar. Mas nada disso fora o suficiente para chamar a atenção de Steve e quando o mesmo olhou para si, fora apenas a mais pura versão de si que ele viu; o Billy Hargrove que se importa, que tem defeitos e problemas como todos os outros, que tem medo do pai e sente falta da mãe. Ambos se encontram em dias ruins e puderam encarar suas versões mais puras e nuas.

Steve tem problemas, embora não seja exatamente como os de todo mundo, ainda assim a coisa toda com os seus pais é algo que Billy entende, ele sabe como é e é por isso que olhando-o nos olhos, ele só consegue sentir-se culpado e voltando ao começo todas as vezes em que Steve retribuí seu olhar com um brilho nos olhos, o qual ele não viu quando o tirou da piscina, o qual ele só tem a oportunidade de perceber agora. É isso que o faz tão especial.

Atenciosamente, ele assiste Steve abrir uma toalha e chamar seu nome. Ele o abraça passando-a por seu corpo frio, esfregando seus ombros e costas no intuito de aquecê-lo depressa e todos esses pequenos detalhes fazem Billy engolir a seco.

"Você está de castigo?". Questiona baixo, enquanto Steve vira o rosto quando ele deixa a cueca bater no chão.

"Todos os dias até que eu me case e construa uma família grande o suficiente para que ninguém desconfie de nada. É, sim." Steve lhe devolve um sorriso triste.

Billy belisca a ponta do nariz, morde a ponta da língua e encara as unhas das suas mãos passarem de roxas para brancas aos poucos. Ele não sabe o que fazer e muito menos o que dizer, então permanece parado com uma toalha na cintura, com seus fios esticados pingando no chão limpo de Harrington. Steve percebe, ele ri e envolve o pulso de Billy com os dedos, puxando-o para o quarto.

"Você não precisa fazer nada sobre isso, garoto herói." Brinca, buscando algo para ele no guarda roupa.

Billy é quem sorrir triste dessa vez, negando-se a pensar em coisas ruins, mesmo que uma sensação estranha atravesse o seu corpo.

Ele não quer que Steve faça alguma besteira.

Quando o sol toma o céu de Hawkins, Billy caminha dolorosamente em direção aos portões da piscina de Hawkins, ignorando a bagunça devido a inauguração. Sua pele queima, ele se encontra perto de delirar de febre, não é como o calor do sol; agradável. Todo o seu corpo dói. É irritante como todos estão prestando atenção em si quando ele adentra o vestiário, mas compreensível quando uma camisa de mangas longas cobre todo o seu tronco. Ele não é burro, ele sabe que uma das razões pelo qual fora chamado para trabalhar ali é pelo o seu corpo, a atenção que ele atrairia apenas por estar sentado em uma cadeira lançando olhares e sorrisos e a quantidade de mulheres querendo aproveitar as suas férias aumentaria consideravelmente.

E no maldito dia da inauguração ele tem belos pares de hematomas, mesmo depois de todos as tentativas de Steve de ajudá-lo com gelo, aspirinas e todos os outros tipos de remédios que roubou dos seus pais antes de deixá-lo voltar para casa.

Billy espera até que todos estejam fora para tirar o boné e o óculos escuro. Seu nariz está bom, algum machucado interno que sangrou como o inferno e parou. Seu maxilar não é um problema quando Susan ofereceu ajuda, embora tenha sido a coisa mais estranha que ele já havia feito, ele sentou-se no vaso sanitário e deixou sua madrasta cobrir mancha avermelhada perto do queixo até não restar mais nada. Ele teria que evitar estar na água, então, que esses merdinhas não se afoguem.

Seus dedos ásperos tocam uma grande extensão dolorida perto das costelas, dedilhando a pele quente. Seu corpo vibra, ele rosna e coloca os óculos novamente, ajeita seus cachos no espelho pequeno do armário e verifica se não há marcas em suas pernas e sorte sua que não. Deixando suas coisas no armário, caminha para fora.

Todos os salvas vidas estão á vista hoje, apenas para que as pessoas os conheçam antes de serem divididos por turnos. As pessoas se acumulam, Billy perdeu algum tipo de apresentação, mas não é como se ele se importasse. No momento em que atravessa a porta nota os olhares em si, ele arregaça as mangas, sentindo-se suar em vários lugares, como se tivesse derretendo aos poucos. O sol faz sua cabeça rodar, lhe causa tontura e uma pilha de crianças prestam atenção em alguém dizendo algo antes de poderem entrar piscina. Billy praticamente coloca uma máscara em seu rosto enquanto se move até a cadeira, cumprimenta todas as mães nas espreguiçadeiras e pisca para algumas garotas. Ele faz isso muito, como o dia todo até o fim do seu turno, onde ele pode checar se a maquiagem ainda funciona e se ele parece bom o suficiente para enganar todos ali por uma última vez antes de sair.

Seu primeiro dia acaba sendo resumido em merda, ele acabou sentindo mais dor que ânimo para estar em qualquer lugar que não fosse a cama de Steve.

"Isso é 'pra você." Faz quatro dias e Steve empurra um balde grande de sorvete contra seu corpo.

Na única chamada que fizeram um para o outro quando os pais de Steve não estavam em casa e Max assegurou que  somente ela estava em casa, Steve contou que seu pai o obrigou a procurar um emprego como qualquer outro garoto nas férias de verão e que fora assim que ele conseguiu um belo uniforme de marinheiro como castigo. Billy não acreditou até pessoalmente colocar os olhos em Steve usando nada mais que um short azul curto, uma camisa da mesma cor com gravata pequena e golas quadradas, meias e um tênis. Visivelmente irritado. De imediato não é engraçado, é só wow. Billy torce os dedos no intuito de mantê-los longe do garoto e os aperta no balde de sorvete, disfarçando sua surpresa.

E Steve tem um corte superficial no lábio inferior, juntamente com uma maçã da bochecha avermelhada.

"Isso é...?" Billy toca com digitais frias o rosto alheio em busca de respostas, deixa o sorvete no capô do próprio carro e busca o maço de cigarros nos bolsos.

"Uma briga."

"Uma briga?".

"Sim." Steve pula e vai até seu carro. Billy acende um cigarro quando Steve volta com um engradado de cerveja.

Ele quer rir de toda essa cena. Bem, Steve está vestido de marinheiro, ele vende sorvetes o dia todo para crianças e tem que lidar com elas o tempo todo e ao entardecer ele aparece com hematomas de uma briga, cerveja e ele acabou de roubar o meu cigarro? É como um pesadelo na Disney, ou uma versão adolescente de algum desenho clichê de cabeça para baixo.

"E você ganhou?". Arrisca, observando-o tragar e devolver o cigarro.

"Você acha que eu estou chateado?". Steve resmunga, coça o nariz graciosamente antes que Billy possa ver os seus olhos.

Ele não responde porque é claro que Steve Harrington está chateado por ter perdido uma briga e é a primeira vez em que ele fica depois disso, geralmente ele sempre esteve do outro lado, dessa vez ele faz melhor, desliza suavemente pelo capô até estar perto o suficiente para tocar o rosto alheio novamente, mas dessa vez em seus lábios, contorna o corte e sobe para sua bochecha, alisando a pele quente e vermelha. Os dois se envolvem em uma situação diferente, onde eles não estão se beijando, mas tocando o rosto um do outro como se estivessem se vendo pela primeira vez; é um primeiro encontro e Billy está encantado com a maneira como Steve bate os cílios contra as bochechas e sorri em sua direção como se acabasse de ter a ideia mais genial do mundo.

"Vamos fugir." Secretamente, quase que de maneira irrealista, Steve sussurra.

E ele não espera que seja uma brincadeira, aparentemente. Mas para onde Billy iria? Ele não tem nada, não tem um lugar e não tem ninguém por ele. Não é como se essa ideia nunca tivesse passado por sua cabeça, muitas vezes ele pensou em sair daquela cidade e encontrar um lugar melhor, onde poderia ser quem ele quisesse ser e ter os amigos que quisesse. Ele já teve sonhos maiores que fugas bobas também, como rodar ao redor do Mundo e descobrir cada pedaço de terra, livre e feliz.

Mas nessa realidade as coisas são diferentes, ele precisa colocar os pés no chão para em troca de um olhar esperançoso, dar a Steve olhos reais, onde seus pais abominam quem eles são e qualquer possibilidade de estarem juntos. Ele sabe que Neil faria qualquer coisa para que ele não tivesse um minuto de paz enquanto estivesse debaixo do seu teto e sabe que Steve conhece o pai igualmente.

"Não faça isso." Steve pede, enquanto Billy põem-se de pé e joga o cigarro no chão.

Ele se aproxima e fica entre as pernas de Steve, toca seu rosto com ambas as mãos e todos os dedos, sentindo o quão real os dois são e que ele está caindo aos poucos, se não totalmente no fundo por aquele garoto. Ele sente a energia dele, a forma como o canto dos seus lábios formam um sorriso triste todas as vezes em que eles estão juntos por razões de merda, como ele é cuidadoso com as palavras e todos os seus atos, ele não pergunta e não toca diretamente em seus machucados, tanto internos quanto externos e ele nunca o encara com os mesmos olhos, sempre há algo a mais que Billy perde, porque ele está aprendendo sobre intensidade agora, quando Steve é um poço disso.

"O que você acha que nós somos?". Billy pergunta por fim.

"Todas as vezes em que estamos juntos nós somos o que um precisa que o outro seja."

Prenda esse suspiro, idiota.

"O que você precisa que eu seja agora?".

Steve torce o nariz. A cerveja está esquentando, o sorvete derretendo e os dois estão tão entrelaçados, mas não é por Steve ter acabado de passar as pernas por sua cintura ou apertar seus ombros com as mãos, é algo um pouco mais profundo, mais difícil de entender.

"Isso que você é. Não os seus punhos, mas alguém que eu possa passar um tempo sem  precisar me conter."

É um outro Steve, claramente. Não é o rei Steve ou o Steve Harrington das crianças. Não é o garoto assustado nas sombras da sua casa, não é aquele que ele tirou de dentro da piscina e não é aquele que ele enfrentou tantas vezes. Billy experimenta ser quem Steve quer que ele seja, pelo menos o que ele acha que sabe ser.

"E todos os monstros?". Billy pergunta baixo, quieto enquanto Steve espreme os lábios contra sua bochecha.

"Todos eles se vão quando você aparece." Steve responde no mesmo tom de voz, mas é abafado e cuidadoso.

Todas as vezes em que estamos juntos nós somos o que um precisa que o outro seja.

Isso toma grandes proporções. Billy pensa nisso voltando para casa tarde da noite naquele dia, pensa nisso quando ele passa no shopping e eles trocam olhares cúmplices, enquanto Steve está debruçado no balcão e ignora as crianças a sua frente. Ele pensa nisso quando invade o quarto de Steve pela janela e o deixa cuidar de todos os seus machucados, dizer coisas bobas e contar sobre o seu dia. É tudo o que preenche os seus pensamentos quando seu pai cada dia se torna mais violento e ele precisa daquela olhos castanhos para sentir-se bem novamente.

Steve sempre é o que ele precisa no momento.

Eles alimentam esses encontros escondidos. Eles dividem os sorvetes que Steve trás, dividem os cigarros que Billy compra e conversam sobre tudo. Steve mexe em seu cabelo o tempo todo e conta um pouco sobre as criaturas no escuro, aquelas que saíram do portal, ele tem olhos grandes e gesticulando, algumas vezes bate em seu rosto, porque Billy não consegue tirar a cabeça do colo dele um segundo e perder a vista que tem do rosto perfeitamente bom e perder o perfume inebriante que escapa das roupas dele. Eles conversam sobre carros, mas é só o suficiente para Harrington fazer menção de sair quando ele conta sobre a quantidade de garotas que estiveram naquele banco.

No dia seguinte Steve prende o cabelo de Billy para cima, com alguns fios escapando para fora do elástico e estrategicamente deixando o penteado mais selvagem, sensual, fofo... é o que ele diz. Billy acha besteira, particularmente ele parece uma dessas pessoas que vivem na estrada, mas não descarta todos os elogios que recebe do outro. É meio da semana e ele tem uma hora antes que o seu turno comece e Steve já está atrasado, mesmo assim prende o cabelo da mesma forma, ele balança a cabeça fazendo com que os fios presos para cima e no topo da sua cabeça mexam.

Os dois se despedem muito antes dos pais dele chegar e Billy o beija engolindo o sorriso pequeno nos lábios dele. Dessa forma, Billy começa a sentir-se como um idiota por em tão pouco dias tudo ter mudado tão depressa, embora ele veja uma razão para isso todas as vezes em que coloca os olhos em Steve.

A segunda vez em que ele o vê assustado suficiente para que seus olhos quase pulem fora da órbita acontece por um momento, é um breve espaço de tempo em que ele nota marcas em seus pulsos e precisa estalar os dedos a todo momento para que ele note sua presença ali. É primeira vez que ele nota que Steve ainda tem o medo pregado em suas entranhas em dias, ainda parece melhor que a primeira vez, mas Billy ainda está preso naquele processo de checar todas as marcas na pele alheia e ele está acostumado com esse tipo de situação, pelo menos a parte dos hematomas, mas não quando é em alguém que ele gosta, aquilo soa de uma maneira diferente.

Billy leva as próprias mãos para o rosto e tenta respirar, em seguida tenta fazer Steve respirar.

"Eu fiz isso." Steve empurra os punhos fechados contra ele, exibindo um pouco mais as marcas em seus pulsos. "Eu não sabia o que era real."

"Você-"

"Eles estavam lá. Eu os vi nas sombras, eu ouvi todos eles caminhando entre as árvores e esse cara-".

"Esse cara?". Billy estala os dedos chamando a atenção de Steve, ele tenta segura-lo ali.

"Laboratório de Hawkins, é de lá que todos eles são."

É muito para a cabeça dele, ainda mais quando ele não tem certeza se Steve os viu mesmo ou deixou o medo tomar conta da sua cabeça, de qualquer forma ele tenta agir racionalmente por um momento e como todas as outras vezes tenta ser o que Steve precisa que ele seja. Aperta sutilmente suas feridas mostrando que eles são reais e segura suas mãos trêmulas, tirando-o do chão.

"Você está bem agora, está seguro e eu estou bem aqui." Tenta, afagando os fios úmidos dele. "Você sente isso?" Pressiona os dedos no couro cabeludo, arrastando as unhas curtas até sua nuca. "Eu sou real e eu te disse uma vez que não ia a lugar algum."

"Lugar algum?".

"Na verdade..." Billy estende a mão e espera pacientemente por Steve.

O sol está nascendo agora e os dois precisam estar em seus turnos em breve, Billy diria que Steve precisa de no mínimo seis horas de sono para estar melhor para isso, mas ele não o faz, ele o ajuda a pular a janela do próprio quarto e deixa seu carro nas sombras, muito longe da casa dos Harrington's, porque é disso que Steve precisa agora. Ele o faz subir em suas costas e caminha devagar pelas ruas, hora ou outra mostrando que não há nada no escuro que não fuja quando os raios de sol aparecem e é bom, pelo menos o suficiente para fazê-lo esquecer de tudo por um momento.

Eles caminham pela estrada, não há movimento algum de carros e tudo ao redor é tomado por campos extensos.

"Por que você ainda está aqui?". O dia está feito e eles ainda se distanciam da realidade.

"Em Hawkins?". Billy se livra da jaqueta, amarrando-a na cintura e ignora as marcas gritantes em Steve.

"É. Por que só não vai embora?".

"Você quer que eu vá embora, garoto bonito?". Os dois riem e sabem que não. "Não sei. O que eu faria? Onde eu iria?".

"Sua mãe?".

Billy sorri pequeno, quase imperceptível. A verdade é que ele não faz ideia de onde ela está agora e mesmo assim, não acha que teria coragem de aparecer dessa forma na vida de alguém, muito menos sabendo o que ela tinha antes e o que ela provavelmente tem hoje. Um dia ela foi embora, fez as malas e disse que o amava para sempre e abandonou a vida violenta, os xingamentos, Neil bêbado na sala e tudo de ruim que ainda ganharia se ficasse. Billy não levaria isso para ela, não ele sendo a lembrança mais real de tudo aquilo para ela.

"O que aconteceu com o 'Vamos fugir', princesa? Achei que estávamos nisso juntos, tivemos um momento." Brinca, empurrando-o com o ombro.

"Se você continuar fazendo isso vai acabar sendo a única pessoa capaz de-".

"Te salvar?". Saí antes que ele possa controlar, de imediato Billy pensa em corrigir, mas Steve não parece chateado.

"Sinto muito."

"Pelo o quê exatamente?".

Os dois param, o sol é quente e a brisa é fresca. Billy enfia as mãos nos bolsos e assiste Steve estender uma mão para cobrir seus olhos, olhando-o um pouco mais a frente.

"De todas os meus 'eus' você ficou com o mais complicado." Steve diz por fim.

"Você faltou dois dias e eu estava irritado com isso, com raiva de sentir falta de alguém que me odiava e que não dava a mínima. Você faltou uma semana e eu sentia que ia explodir como a porra de uma bomba. Então, com a desculpa de esfregar na sua cara a medalha..." Billy pisca e ri " ... que ganhamos não graça ao seu esforço, seu merdinha, eu fui até a sua casa e-"

"Você foi até a minha casa só 'pra esfregar uma medalha que eu não estava ligando na minha cara?". Interrompendo-o, Steve arqueia uma sobrancelha.

"Enfim, o que eu quero dizer é que não importa o 'eu' que você tenha a oferecer, porque eu vou querer todos eles."

Soa tão meloso que ele precisa revirar os olhos para a expressão de Steve e esbarrar em seu ombro ao voltar a caminhar, mostrando seu total arrependimento por ter dito aquilo.

"Uau, Billy Hargrove."

Billy ignora, ou pelo menos finge. Os dois voltam a caminhar e seguem assim por muito mais tempo, conscientemente sabendo que uma hora ou outra terão que voltar a realidade.



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