História Feelings - Sonhando acordada

Erza não sabia se saía correndo e chorando ou se ia até Mystogan e descia das tamancas, mas a terceira opção que lhe veio à mente pareceu a mais sábia: Se afogar em um copo de “cura coração partido”.

A moça caminhou até o barzinho que ficava bem ao fundo do salão e, quase que irreconhecível de tanta tinta colorida e brilhante, mandou pra baixo o nó que tinha sentido na garganta ao ver a cena anterior. Tentava se controlar com o pensamento de que ela não poderia reclamar de nada, pois tinha sido ela mesma a dizer não a ele, mas isso não ajudava muito.

Mira e Lucy viram que ela parecia desanimada no bar e decidiram ir ver o que sucedia.

— Hey Erza, os garotos vão se reunir conosco em uma mesinha, vamos lá? – Perguntou a albina ao abraçar a amiga.

— Ahn, foi mal, mas eu tenho que ir embora, surgiu uma coisa... – Respondeu a ruiva com o celular em mãos e por ironia do destino, o mesmo acendeu bem na hora.

A garota, assombrada com aquilo, decidiu ver do que se tratava e era Gildarts com uma crise de meias. Normalmente ela nem responderia a uma mensagem daquelas, mas aquilo lhe pareceu um presente dos céus naquele momento, então respondeu que ele poderia vir pegá-la e lhe deu o endereço de onde estava.

— Não acredito que vai nos deixar pelo seu chefe. – Resmungou Lucy ao torcer o nariz.

— Ele está reservando uma sala pra mim, não me resta escolha senão retribuir o favor... – Retrucou a ruiva.

— Entendo... Então tenha uma boa volta pra casa. – Disse Mirajane e em seguida as meninas se despediram da amiga com abraços melecados de tinta.

Erza ainda olhou para onde elas caminhavam, constatando que Mystogan estava na mesa com sua prima e os demais, então percebeu que a melhor escolha que podia ter feito era ir arrumar a gaveta de meias de Gildarts.

A garota saiu de lá toda manchada e ficou esperando seu chefe chegar do lado de fora, encostada a um muro. Quando ele apareceu, a garota riu ao olhar para a própria roupa, pois estava em um alto nível de álcool e ele reprovou de pronto a sua entrada em seu carro, mas tinha alguns sacos de lixo no porta-malas e os usou para forrar seu banco.

— Que tipo de festa é essa que não avisam que você sairá parecendo um pequeno pônei? – Perguntou ele rindo da cara colorida da garota.

— O tipo de festa em que você esbarra em gente que troca de parceira como troca de camisa. – Respondeu ela rindo de sua trágica noite.

— Já vi que você não queria me ajudar com a minha gaveta, estava só interessada na minha carona... Eu devia ter pensado isso quando atendeu tão prontamente ao meu pedido... – Observou o moreno em um sorriso frouxo, afinal, sua derrota era inevitável.

— Não seja assim... Eu posso ser uma idiota, ser uma penca de traumas e também ser do tipo que dá patadas pra todos os lados quando estou furiosa, mas não sou uma mentirosa. Se eu prometi que ia te ajudar, é o que farei. Portanto nós passaremos em meu dormitório e eu te darei a sua solução. – Disse a ruiva como se fosse uma perfeita justiceira dos guarda roupas desarrumados.

— Então vamos nessa. – Afirmou ele animado com o bom humor que umas bebidas podiam despertar na garota.

Ela o deixou no carro assim que chegou à portaria da universidade e se foi para seu quarto. Depois de vinte minutos de espera, ele pensou que ela poderia ter apagado e não voltaria mais, já ia dando partida no carro quando viu a silhueta da garota correndo pela ruela do lado de dentro dos portões.

— Me desculpe à demora, pensei em tomar um banho antes de irmos. – Disse ela sorridente ao abrir a porta do carro e jogar fora o saco de lixo manchado de tinta.

— Eu pensei que você não voltaria. Pensei que só me daria o algo que viemos buscar... Mas nunca imaginei que iria comigo ao meu apartamento. – Comentou ele abismado com a atitude repentina da moça.

— Qual é? Então eu não to valendo mais nada? – Questionava ela parecendo estar tentando fugir dos próprios pensamentos com seus sorrisos forçados.

Ele riu de volta e ambos foram ao apartamento de Gildarts. Ao chegar lá, Erza ficou impressionada com o tamanho do lugar e também pela decoração de excelente gosto.

— Meu quarto é por aqui. – Disse ele depois de trancar a porta, apontando ao pequeno corredor à esquerda.

A ruiva o seguia e chegou à tão temida gaveta, então abriu a sacola que tinha em mãos e montou um organizador de gavetas, depois de colocá-lo, Gildarts se sentou ao lado da moça e juntos terminaram de arrumar tudo.

Depois de a tarefa ter sido completada com êxito, os dois voltaram à sala.

— Tá com fome? Eu posso preparar algo para comermos. – Sugeriu ele e a garota riu descontroladamente.

— Não consigo mais olhar pra você quando fala em comida... Sabe que obriguei minha amiga a tomar sorvete durante todas as férias do fim de ano pra não ter que vir comer sua comida estranha? – Declarou ela risonha. A bebida a deixava mais verdadeira.

— O que? Minha comida não é estranha... – Resmungou ele – Se não gosta de comida refinada, era só me dizer e eu prepararia algo simples.

— Sério? E o que seria “algo simples” pra você à essa hora? – Questionou a ruiva em tom de desafio.

— Sei lá... Talvez um misto quente... – Respondeu ele por alto.

— Ok chefe... Vou querer experimentar o seu misto quente. – Decidiu ela e ele sorriu, conduzindo-a até a cozinha a seguir.

O moreno parecia realmente saber o que estava fazendo ao pegar os ingredientes na geladeira e armário. Erza ficou de olho atento, com a finalidade de verificar se ele não estaria colocando nada de estranho dentro dos pães, mas tudo correu muito bem.

— Vou fazer para a senhorita um misto quente de frigideira, minha especialidade, se me permite dizer. – Dizia ele com ares de cozinheiro profissional e ela permanecia debruçada como uma criança ao balcão de granito.

— Estou ansiosa por provar essa que deve ser uma iguaria extremamente saborosa. – Replicou a ruiva risonha, pois não se lembrava desde quando alguém tinha feito um misto quente especialmente para ela.

Depois que os pães estavam tostados e com a casquinha crocante, ele os partiu na diagonal e, ao separar as partes, o queijo derretido se espalhou pela superfície dos pratos formando um leque. Erza sentiu sua boca salivar com o aroma da combinação de queijo, presunto, tomate e orégano. Nada muito especial, mas incrivelmente perfeito.

Ao mordê-lo, ambos fecharam os olhos e soltaram um gemidinho do tipo “hum” simultaneamente, então se entreolharam e riram do fato.

— Você cozinha muito bem! – Disse ela tampando a boca cheia, impressionada com o que provava.

— Essa sua cara de surpresa me ofendeu. Tire essa expressão do rosto agora mesmo, ou eu tomo o misto quente de volta. – Reclamou ele indignado.

— Ok, ok, eu parei! – Exclamou ela e depois recebia em seu copo um pouco de suco de uvas.

— É bom mesmo... – Resmungou o moreno ao dar uma cotovelada de leve na garota.

Os dois terminaram de comer e Erza pediu que ele a levasse pra casa, não teria transporte àquela hora e definitivamente não rolaria isso de ela dormir por lá. Ele atendeu de pronto ao seu pedido e depois voltou pra casa.

Os dias que se seguiram não foram tão ruins como ela pensou que poderiam ser, mas talvez isso tivesse se dado por conta de ela viver extremamente atarefada.

O tempo não dava chances a ninguém e com a sua passagem rápida, veio também o casamento de Mirajane e Laxus, que transcorreu linda e perfeitamente, pois Erza teve a estranha sorte de não esbarrar em nenhum casal, até imaginou que aquilo que tinha visto naquela festa branca poderia ter sido algo de momento.

Em mais um mês chegava a formatura da garota e como todos optaram por uma viagem a praia, não houveram cerimônias muito formais.

Quando a garota voltou dessa breve viagem descobriu duas coisas legais: A primeira foi que Lucy tinha encontrado um apartamento para si e queria que a ruiva morasse consigo. Ela aceitou de pronto, visto que não queria voltar a morar com a tia.

— Eu sempre achei que você iria querer ir morar com o Natsu quando terminasse o curso... – Comentou Erza enquanto as duas planejavam sua mudança.

— Você já entrou no quarto dele alguma vez? – Perguntou a loira de volta com o rosto totalmente sério.

— Sim, mas quando éramos crianças e confesso que achei que me perderia dentro daquela bagunça que ele chamava de quarto. – Respondeu a ruiva assombrada com suas lembranças.

— Aí está a sua resposta amiga. Ele disse que queria que ficássemos juntos, mas eu falei que só iria quando ele aprendesse a se comportar como gente, ou pelo menos parar de misturar as meias com restos de pizza. – Explicou Lucy e em seguida as duas caíram na risada.

A segunda surpresa foi a de que Mira já tinha engravidado e Laxus não podia se conter de felicidade. É claro que todos os demais amigos ficaram muito contentes e até foram comemorar.

Durante essa comemoração Erza ouviu alguém perguntar a Laxus onde estaria Mystogan, que tinha sumido há tempos e ele respondeu que o azulado tinha ido viajar com a noiva e que eles pretendiam se casar no natal, mas que os convites chegariam somente em uma semana.

— Quem é louco de se casar depois de seis meses de namoro? – Questionava Laxus entre os amigos e Erza sorriu sozinha por já ter tido aquela frase em uma de suas conversas.

Lucy não tinha ouvido falar no assunto e já tinha uma viagem preparada para a cidade de sua família com Natsu, eles ficariam por lá até depois do ano novo. A loira tinha convidado Erza para acompanhá-los, mas a mesma tinha se negado, porém depois de ouvir sobre o casamento da prima com Mystogan, decidiu que a melhor coisa seria não estar na cidade quando esse convite chegasse.

— Lucy... Ahn... Sobre a viagem para a casa de seus pais... Ainda está em tempo de eu ir com vocês? – Perguntou a ruiva assim que as duas chegaram ao seu apartamento.

— É claro que dá! Nossa, o Natsu vai ficar tão feliz quando souber que você também vai! – Exclamava a loira em profunda alegria.

E foi dessa forma que a ruiva escapou de ver Mystogan se casando com sua prima.

(...)

O mês de dezembro passou com as férias de Erza na casa dos pais de Lucy, o que foi bem divertido já que eles eram muito divertidos, isso sem contar na comida caseira todos os dias... A ruiva se sentia no céu.

Em janeiro a garota voltou para seu apartamento junto de Lucy e assim que abriu a porta foi ver as correspondências.

Um belo envelope branco tinha seu nome no verso. Ao abri-lo pôde ver que era o convite de casamento de sua prima e os nomes Mystogan e Erza estavam em belas letras cursivas, destacados em dourado.

Ela abriu os lábios em um sorriso frouxo e, tapando o Knightwalker com o polegar direito, murmurou:

— Scarlet...

— O que disse Erza? – Perguntou Lucy ao ouvir o som baixo da ruiva.

— Não é nada não. Eu só tava... Sonhando acordada. – Respondeu ela e em seguida foi até seu quarto, onde guardou o convite na gaveta do criado mudo.

A garota assumiu sua sala no escritório de advocacia assim que voltou de férias e se concentrava em sua nova vida cheia de compromissos e realizações, pois não teria mesmo tempo para essa coisa de amor.

Depois de quase um ano trabalhando intensamente e ver os gêmeos de Mirajane e Laxus em seus poucos meses de vida, saudáveis e lindos, chegou o dia em que Erza foi convidada por Gildarts para uma viagem até a capital, onde seria realizada a Conferência nacional dos advogados.

A garota soube que não teria outra oportunidade de participar de um congresso como aquele tão já e por isso decidiu que deixaria tudo para passar a semana na capital com o moreno.

O que ela não esperava, era que uma tragédia aconteceria nesse meio tempo.

Seu celular tocou durante uma palestra e ela resolveu desligá-lo a fim de não chamar atenção. Pensou em retornar a ligação no fim do dia, mas acabou esquecendo.

No dia em que voltaria para casa, decidiu ligar para Lucy e avisar que chegaria em breve, ignorando as inúmeras mensagens que tinha recebido da mesma, mas assim que a loira atendeu a ligação, a notícia veio:

— Erza... Sua prima sofreu um acidente há dois dias...