1. Spirit Fanfics >
  2. Fênix da Noite Estrelada >
  3. O Que Perdi?

História Fênix da Noite Estrelada - O Que Perdi?


Escrita por: Si1mari11ion

Notas do Autor


Os antigos dizem que as pessoas nunca morrem de verdade. Ainda podemos ouvir suas vozes e sentir suas presenças. Mas eu acredito que o que realmente não nos deixa são as boas memorias, os exemplos e as mensagens que elas deixaram para nós.depois de trazer tanta alegria para tantas gerações.
Ainda estou triste pelos acontecimentos recentes, mas temos que seguir em frente não é mesmo? Então, vamos nessa :)
Tenham uma boa leitura ;)

Capítulo 26 - O Que Perdi?


Fanfic / Fanfiction Fênix da Noite Estrelada - O Que Perdi?

¬ Eu devia te matar. - comentou o detentor da Armadura de Aquário. - Foram 3 anos o vendo sofrer. 3 Anos! - ele podia manter a expressão neutra, mas a fúria em sua voz era palpável. - Eu entendo que a missão foi perigosa e que a existência de tal missão foi confiada somente a nós, Cavaleiros de Ouro. Mas custava dar a ele uma luz?! - ele sondava o homem a sua frente. - Eu devia seguir o exemplo de Máscara da Morte quanto a inimigos, só que umas dez vezes pior! Você tem ideia do que ele passou? Do que ele teve que fazer? Tem ideia de alguma coisa?

¬ Camus! - Milo teve de segurar o braço do aquariano para que este não batesse no homem.

¬ Milo! Você sabe! Você viu!

¬ Mas todos nós concordamos com essa loucura! - volveu o escorpiano. - Todos nós concordamos em manter silencio, custasse o que custasse! Todos nós concordamos em contribuir com essa mentira!

¬ Que custou a felicidade dele!

¬ Custou a felicidade de todos! Todos nos sofremos também, lembra? - indagou. - Acha que ele também não sofreu?! - apontou para o homem. - Acha que ele não se remoeu todos os dias? Que ele não quis se comunicar, mesmo que colocasse tudo em jogo? Acha que ele não se martiriza a todo instante pelo que perdeu? Pelos momentos em que não pode estar presente? Pela dor que causou?

Se recusou a responder, pela primeira vez em sua vida não tinha argumentos. Estava possesso. Milo estava certo, ele deve ter sofrido muito, talvez até mais por ter mentido, mas não conseguia aceitar, não depois de tudo. Querendo ou não, o aquariano tinha de aceitá-lo de volta, teria de esclarecer muita coisa, do contrario, aquele suplício jamais acabaria. Sem aquele homem ao seu lado, aquela guerra se prolongaria por anos, talvez décadas, e o sofrimento, mesmo velado, nunca deixaria suas vidas.

¬ Milo. - enfim se pronunciou. - Leve-o daqui, reintegre-o a base e não fale nada desnecessário.

¬ Mas e eles? - perguntou preocupado.

¬ Devem ser os últimos a saber. - ditou. - A noite, todos nós conversaremos e esclareceremos as coisas, mais tarde terão de ir ao Santuário, comunicar o que foi descoberto. Até lá... - Camus fitou o homem. - Seja bem-vindo de volta, Ikki de Fênix.

O leonino mantinha a expressão neutra desde que chegou, porém seu olhar era tristonho e vazio, como se tivesse perdido a razão de viver, como se algo o consumisse por dentro. Milo o pegou levemente pelo braço e o levou para bem longe daquela sala, para bem longe do aquariano, que ainda estava espumando de ódio.

¬ Ei. - chamou. - Você está bem?

¬ Milo. O que perdi? - falou pela primeira vez desde que chegou. - O que foi que aconteceu? O que minha falta causou? Eu... os fiz chorar não foi?

¬ Ei! Pare de se martirizar! E você não é tão importante a esse ponto. - brincou, fazendo um pequeno sorriso aparecer no rosto do leonino. - Agora, vamos, não há necessidade de ficar te reapresentando a ninguém, se eles te reconhecerem bom, se não fodam-se, eu e você temos mais o que fazer.

Milo passou a arrastá-lo pela base, depois de algum tempo o passo se estabilizou e os dois passaram a caminhar lado a lado. Como o escorpiano havia dito, muitos o reconheceram, outros não, mas não perguntaram nada, sabiam que não era assunto para eles, apenas os assistiam passar e logo voltavam a suas obrigações. Porém, haviam perguntas que rondavam a mente do mais novo sem parar fazia algum tempo, e só naquele instante decidiram tomar voz.

¬ Onde Hyoga e Anna estão? - perguntou preocupado. - Onde meu irmão está? O que aconteceu?

¬ Hyoga e Shun estão em uma missão, só voltam a noite, eu acho... - aquele achar não era nada reconfortante. - Anna, Miguel e Sarah estão no alojamento, eu acho... - comentou com dúvida na voz, definitivamente aquilo não era reconfortante. - Sem contar que desde que você sumiu as coisas ficaram de ponta cabeça, a começar pela organização dessa base e de nossas vidas. Aliais, você destruiu o modo de vida de certas pessoas, algumas para melhor, outras para pior. As coisas...

Ikki estancou no lugar, ignorando todo o discurso do mais velho. Compreendia que como “soldados”, Hyoga e Shun tinham deveres a cumprir, então eles estarem longe da base não lhe foi algo estranho de se ouvir, nem de Anna estar, supostamente, no alojamento, sobre os olhares de Camus e Milo, porém não entendeu uma única coisinha, uma coisinha bem minúscula.

¬ Milo. - chamou o escorpiano que já estava um pouco distante e falando sozinho. - Quem é Miguel e Sarah?

O escorpiano só pareceu se tocar do que tinha dito naquele momento, pelo jeito ele jamais entenderia a frase “não fale mais do que deve”. Tinha se esquecido daquele mínimo detalhe, então acabou sorrindo meio envergonhado.

¬ Bem... - começou. - Já não dá mais para voltar atrás, então acho que está mais do que na hora de conhecê-los.

Voltaram a andar, dessa vez com uma rota definida, estavam indo para o alojamento pertencente aos bronze. O alojamento não tinha mudado em quase nada. Era um lugar simples, um verdadeiro cubículo, constituído de uma salinha – se é que dava para chamar aquilo de salinha –, um quarto e um banheiro.

Na salinha tinha uma mesa, um armário, um sofá-cama e um balcão com uma pia. O sofá-cama, onde ele e Hyoga costumavam dormir, estava com um monte de brinquedos de madeira e livros jogados sobre si. A mesa não era mais tão limpa quanto antes, estava cheia de lápis de cor e papéis sobre ela, assim como tigelas com talheres e um cubo. O balcão agora tinha um fogão jacaré, aqueles fogões pequenos e “moveis” de duas bocas, umas duas panelas e olhe lá. O armário continuava igual, guardava tudo que era tralha. A diferença é que agora existia um par de estantes tão bagunçadas quanto o sofá-cama.

O banheiro continuava simplesmente horrível, era só um vaso sanitário e um chuveiro – que era tudo, menos um chuveiro –, o banheiro estava apinhado de cosméticos infantis e brinquedos também, tinha uma pequena bacia encostada a parede com um pouco de água acumulada.

O quarto foi o que mais mudou, ele pertencia a Anna, porém, agora tinha uma outra cama unida com a primeira e “murada” com tábuas, como que para impedir que alguém caísse da cama. Sobrava pouco espaço no quarto, mas era o bastante para se ter dois baús cheios de roupas, sendo a maioria infantis.

Não conseguia deixar de se perguntar como uma pessoa tão organizada quanto Hyoga deixou o alojamento ficar naquele estado. A única explicação que encontrava é que ele passou a ignorar, ou ele arrumava e alguém ia desarrumando logo atrás

Ikki voltou para salinha, sentando-se à mesa e pegou o cubo um tanto pesado que ali residia. Era feito de madeira, claramente a mão, e cada uma das faces tinha uma foto. Uma dos Bronze junto de Saori, uma dos três aquarianos e do escorpiano, uma de Anna brincando com uma boneca de pano, uma de Kiki – o que ele estava fazendo ali? – dormindo sentado com Anna cochilando em seu ombro, uma de Shun e Hyoga, e uma última foto com Hyoga olhando três pontinhos ao longe, pareciam crianças. Aquelas fotos traziam lembranças e perguntas.

O leonino notou que tinha uma fenda no cubo, e com um pouco mais de atenção percebeu que aquela fenda era na verdade uma abertura. Sem pensar duas vezes, forçou o cubo até que ele abrisse e encontrou mais uma foto que lhe fez sorrir. Era uma foto sua, em que se coçava como nunca e fazia um bico irritado, era do dia em que Kanon passou Pó de Mico em suas faixas de treino. Ele teria matado o geminiano, só que Hyoga o impediu, poupando Saga de despesas e lágrimas. Porém, no mesmo dia, o aquariano provou o quão vingativo podia ser: Ninguém soube como, mas todos puderam ouvir os gritos de Kanon quando formigas começaram a mordê-lo. Hyoga ria como nunca e assumiu toda a responsabilidade pela travessura, afirmando que não se brincava com o material de treino alheio.

Tinha outra fenda. Abriu-a, encontrando duas fotos, uma de Anna e outra de dois bebês. Um era muito parecido consigo, principalmente o cabelo negro, porém a pele e os olhos azuis eram mais claros, o outro bebê era muito parecido com Hyoga, era basicamente uma versão do aquariano bebê, porém os olhos azuis e a pele eram mais escuros. Mirou a foto por minutos. Eles sorriam banguelas e pareciam bem felizes. Mas não pode deixar de se perguntar quem eram aqueles bebês? Será que eram os tais Miguel e Sarah?

Tinha mais uma fenda. Acabou descobrindo uma foto que realmente lhe trazia boas lembrança. Era uma das únicas fotos sua e do aquariano juntos, tirada por Shun em uma festa de aniversario – festa de um certo escorpiano por falar nisso –, eles estavam abraçados, o aquariano estava sentado em seu colo com os braços em seu pescoço, a cabeça apoiada na do leonino e um sorriso radiante no rosto, enquanto este abraçava sua cintura de maneira possessiva e sorria com a maior cara de quem dizia: “Eu peguei, você não”. Foi quase impossível que um sorriso nostálgico lhe enfeitasse os lábios.

Deixou o cubo de lado e olhou para o escorpiano, que parecia muito envergonhado e um pouco nervoso. Oh, deuses... Quando Milo fazia uma cara daquela era porque coisa boa não era.

¬ Acho que eles não estão aqui... - Milo se encolheu. - Acho que saíram pela base de novo...

Espera! De novo? Foi então que o leonino percebeu, que aquele lugar, onde deveriam estar Anna e os tais de Miguel e Sarah, estava vazio, sem nenhum sinal de atividade, sem ser a bagunça. Ikki chegou a abrir a boca para gritar com o grego sobre sua falta de senso e responsabilidade, mas foi cortado antes disso.

¬ Antes que me espanque! - gritou. - Deixe-me ao menos ver se eles estão onde eu acho que estão.

¬ Achar é o mais baixo nível de conhecimento, Milo! - rosnou.

¬ Só vem comigo, tá legal? - nem esperou resposta, saio o mais rápido que podia do alojamento. - Tá legal.

Fênix ainda olhou uma última vez para trás, perguntando-se mais uma vez: O que perdi? Milo o guiou pelos corredores, na direção do refeitório de onde provinham vozes de uma discussão bem acalorada, entraram sem chamar atenção e procuraram um bom lugar de onde podiam apreciar melhor a “briga”.

Anna, agora com seus 8 anos, peitava com a maior cara de brava um soldado que devia estar na casa dos 25 anos. Ela mantinha atrás de si duas crianças que deveriam ter uns 2/3 anos, eram pequenas e se pareciam muito com os bebês da fotografia, estavam de mãos dadas e observavam a briga com verdadeiro interesse. Os dois mais velhos brigavam sobre desrespeito e algo sobre agressão aos pequenos, o que não agradou nem um pouco o leonino.

¬ Sou pequena, mas não sou metade! - afirmava de forma grosseira com as mãos na cintura, que foram retiradas de seu lugar apenas para enfiarem o dedo indicador na cara do soldado. - Você é grande, mas não é dois!

¬ E o que uma pirralha como você pode fazer contra mim? - desafiou ao afastar a mão da menina.

Um sorriso digno do leonino em seus momentos de fúria desenhou os lábios de Anna, contradizendo em muito sua personalidade gentil e calma. Sem mais nem menos, a menina fechou a cara e socou as partes baixas do soldado com toda força que tinha, este caio de joelhos, choramingando de dor.

¬ Ei! - o soldado ergueu o olhar cheio de ódio.

O soco dado foi capaz de quebrar-lhe o nariz, cujo som foi bem audível. Ele tombou com o nariz jorrando sangue, amaldiçoando-os com todos os nomes que poderiam existir. Anna tampava os ouvidos dos dois pequenos e olhava o soldado com uma expressão vazia.

¬ Foi avisado. - ditou a menina, pegando a mão dos menores e saindo do refeitório.

Quando eles saíram, Milo começou a rir e caminhou sem pressa alguma até um dos cozinheiros do refeitório, atraindo os olhares de todos, principalmente do soldado com o orgulho ferido. Milo falou algo com o cozinheiro, que saio e logo voltou com uma bandeja cheia. O escorpiano agradeceu entre risos, chamou o moreno com um sinal de cabeça e tomou direção a saída.

¬ Tá pra nascer marmanjo capaz de peitar minha neta! - falou entre risos, surpreendendo quem não sabia do “parentesco”. - Aquela ali, não dá pra negar, aprendeu muito bem com você, Fênix! - e voltou a rir.

Milo saio do refeitório, acompanhado pelo leonino um pouco irritado pela indireta mais do que direta. Eles seguiram as crianças até o alojamento, chegando a tempo de ver Anna bater a porta do mesmo com força e trancá-la. O escorpiano apenas suspirou, estendeu a bandeja de comida à Ikki e foi bater na porta.

¬ Quem é? - a voz era puro mau humor.

¬ Anna. - chamou. - É o bunic Milo, deixa eu entrar.

Ouviram a porta ser destravada e a menina abriu-a com cara de poucos amigos, encarando o amado bunic com um olhar venenoso, não parecia nada feliz com o escorpiano.

¬ Está atrasado. - ditou firme e evidentemente irritada. - Sabe o que aconteceu no refeitório pelo menos? Ou nem se quer passou por lá? - apontou acusadora para as mãos do mais velho ao ver que ele não trazia nenhuma bandeja consigo. - Mi e Sa estavam chorando de fome. Onde estava? - mal educada...

Milo sorria, o que irritava ainda mais a menina, que pensava seriamente em repetir seu feito do refeitório. Ele então saio da frente da porta, dando melhor visão de quem estava atrás de si.

A expressão de Anna se desmanchou, dava para ver através dela, estava mortificada, mal dava para notar sua respiração, ela não acreditava no que via, piscou diversas vezes sem acreditar. Ela olhou para o escorpiano buscando uma resposta e só encontrou mais dúvidas, pois o olhar de Milo dizia que a figura a sua frente era real, mas ela não conseguia acreditar que seu Otou-san estava ali, parado na frente dela com um sorriso de canto, como quem pede desculpas por ter demorado.

¬ O... tou... san... - sua voz saia baixa e falhada.

Ikki se aproximou com certo receio, tinha medo da menina pensar que era uma brincadeira de mal gosto ou pensar que tinha enlouquecido e bater com a porta em seu nariz. Devolveu a bandeja para Milo, que entrou e a largou na mesa do alojamento, trazendo os pequenos para comer. Enquanto isso, o leonino se ajoelhou de frente para filha, que o olhava como se ele fosse sumir a qualquer momento, abriu os braços e esperou.

¬ Otou-san... - ela repetia tentando acreditar. - Otou-san... - ainda foi preciso mais algum tempo para que ela começasse a expressar alguma coisa. - Otou-san! - gritou com alegria na voz, mal se continha de felicidade quando o abraçou e comprovou que de fato ele estava ali, a menina, mesmo abraçada, dava pulos de alegria sem se soltar. - Eu sabia que você ia voltar! Sabia! - ela mal se aguentava de alegria. - Argertum! Aurum! - gritou para o alojamento. - Venham cá!

Ela se soltou do moreno, correndo para dentro do alojamento, rindo de alegria no processo, e voltando com os dois bebês. Agora que o moreno os via de perto e ao vivo, percebeu mais coisas em relação a eles, primeiro de tudo que era um Menino e uma Menina, apesar de que os nomes já indicavam isso, mas nomes masculinos e femininos sempre lhe foram relativos e fúteis, então nunca se sabe.

O menino era quase que uma cópia cuspida e escarrada de Cisne. O cabelinho loiro batia na orelha, a pele era moreninha, tinha uma marquinha de nascença entre as sobrancelhas, um risquinho que lembrava um pouco a cicatriz que o moreno ostentava, e os olhos eram num tom índigo muito vivo e profundo. A menina parecia muito consigo. O cabelinho negro batia na altura da orelha também, ela usava um lacinho na cabeça, era branca como a neve e os olhos eram de um azul idêntico ao de Hyoga, era um contraste tão belo que era quase impossível não se perder naquele gélido mar azul que eram os olhos dela.

Os dois o encaravam com curiosidade, o menino ainda tinha um pouco de desconfiança no olhar, a menina aparentava já tê-la perdido, eles estavam de mãos dadas, demonstrando uma união muito forte. A menina foi quem pareceu aceitá-lo com mais facilidade, olhando para o cubo na mesa e depois o encarando.

¬ Oto?! - indagou já querendo andar em sua direção.

O menino porém a segurou, fazendo "Não" com a cabeça, ele era bem desconfiado, o que o deixava ainda mais parecido com Cisne. A menina encarou o outro de maneira significativa, Ikki pode captar o olhar, era como se ela dissesse que também desconfiava dele, mas queria a certeza, isso a deixava assustadoramente parecida consigo.

Anna que nunca foi tola, percebeu a troca de olhares e interveio.

¬ Não tenham medo. - afirmou alegremente. - É o Otou-san! Aquele de quem Papa fala! - os dois a encararam ainda desconfiados.

¬ Ceteza? - indagou o menino.

¬ Certeza! - afirmou sorridente.

Eles então voltaram a encarar o leonino, pareciam esquadrilhá-lo, mostrando-se muito inteligentes para crianças de sua idade.

A menina foi a primeira a dar de ombros. Se Anna falou, então era verdade. Os dois andaram até o mais velho, soltaram as mãos e tocaram-no como se também quisessem comprovar de que ele estava ali.

¬ Oto. - a menina se sentou nas pernas dele e abraçou sua cintura como pode com os braço pequenos.

¬ Oto. - o menino estava com os braços estendidos, queria o colo que lhe foi dado sem pensar duas vezes, e o abraçou pelo pescoço.

Oto... Houve uma época em que Shun lhe chamou assim, foi quando o virginiano estava aprendendo a falar e o chamava de Oto, quando na verdade queria chamá-lo de Otou, ou seja, Papai. As crianças o estavam chamando de pai, mas porque? Nunca os tinha visto antes!

Ikki sustentava o menino com um braço e mantinha a menina sentada em sua perna com o outro, não estava entendendo direito aquela situação, ainda mais quando os pequenos começaram a derramar lágrimas de saudade por quem acabaram de conhecer. Ele tentou buscar algum conselho com Anna, mas esta chorava em silencio, encostada a parede e com a mão no rosto, tentando esconder as lágrimas, nunca gostou de chorar na frente dos outros. O leonino então direcionou o olhar para o escorpiano encostado no batente, que compreendeu sua dúvida com perfeição.

¬ São seus filhos. Gêmeos por falar nisso. - respondeu na lata, fazendo o leonino entra em uma espécie de choque. - Hyoga os carregou por 7/8 meses na barriga, graças a uma “brincadeirinha” da ChAtena. Ainda virou mulher por um ano para cuidar deles, voltou ao normal e se empenhou ainda mais na guerra. Tudo mudou por conta desses dois e Anna também mudou por conta deles. Hoje em dia essa base gira quase que entorno desses dois. - explicou. - Como eu disse. As coisas ficaram de ponta cabeça depois que você sumiu.

Os olhos do leonino pareciam um par de bolas de bilhar, por um momento pensou ter escutado errado. Hyoga gerou duas crianças, as carregou por meses, virou uma mulher temporariamente e deu a luz? A explicação de que tinha o dedo daquela deusa louca no meio não satisfazia o leonino, mas certa vez ele disse que o que viesse em sua vida era lucro, e um desses lucros seriam filhos. E agora ele tinha três.

Sentia-se incapaz de falar e até tentava, mas som algum saia, era só sua boca abrindo e fechando sem som algum. Mandou mais um olhar para Milo, que observava tudo um tanto comovido. Ele foi para frente do leonino, abraçando Anna, que retribuiu o abraço, e respondeu a dúvida do moreno.

¬ Seus nomes são: Miguel Hyourinmaru Yukida Amamiya. - ele gostou do nome, principalmente pelo nome japonês ser o seu favorito. - E Sarah Natsumi Yukida Amamiya. - mais uma vez gostou do nome. - E só recentemente conseguimos cadastrar a pequena aqui como Anna Sortillegio Yukida Amamiya, que tem a mania de chamá-los de Aurum e Argertum. - Milo indicava a menina que ainda tentava parar de chorar em seus braços. - E sei. Nomes grandes para o normal. - sorriu.

Sentiram os cosmos de Cisne e Andrômeda se aproximarem da base e souberam que as crianças também sentiram a aproximação dos mesmos, pois quando sua presença se tornou mais perceptível, elas pararam com tudo por alguns instantes apenas para olhar pelo enorme corredor. Quando chegaram ao começo do corredor que levava ao alojamento, carregando a caixa de suas armaduras nas costas, o primeiro a se fazer presente foi Shun.

¬ Kodomo!! - chamou pelos pequenos.

¬ Chegamos. - a voz do aquariano completou.

Aquela voz fez o coração de Ikki falhar uma batida. Fazia muito tempo que não a ouvia, sentiu-se chegar no céu e voltar com uma única palavra, sentia tanta saudade que não tinha como definir um tamanho para ela, só sabia que estava louco para ter o aquariano junto a si mais uma vez.

Parecia que eles ainda não tinham notado a presença do leonino, talvez a de Milo, mas a dele não. Levantou-se de seu lugar, deixando os gêmeos no chão, foi para de junto da porta, atrás de Milo e Anna, e ficou encostado no batente. As crianças foram correndo até os outro dois, Anna foi mais rápida e chegou aos dois primeiro, dando um beijo no pai e abraçando o tio. Os gêmeos foram correndo até eles, mas pularam no colo do pai, nem deram bola para o tio, que fingiu estar magoado.

As crianças eram cobertas de mimos pelo aquariano que brincou com elas e contou-lhes como foi a missão a pedido dos mesmos, ignorando por completo a presença dos demais, parecia que, em horas como aquela, Hyoga entrava em um mundo à parte, onde era só ele e os filhos. Ele sorria para os pequenos e ria com eles enquanto se aproximava do alojamento.

Teria continuado assim por um mais um tempo, se Miguel não tivesse se mostrado tão chatinho quanto o aquariano era com a mesma idade.

O menino desceu, pegou o pai pela mão e tentou acelerar sua chegada ao alojamento. De inicio ele não entendeu e tentou até parar, mas Anna e Sarah foram socorrer o menor. Agora Hyoga era praticamente carregado para o alojamento, não entendia a necessidade dos filhos de levarem-no até ali, se era para cumprimentar o escorpiano, ele já o tinha feito com um aceno de cabeça, mas as crianças queriam que ele seguisse até ali de qualquer jeito. Milo então saio da frente sem que fosse necessário lhe pedir, revelando o que os pequenos queriam mostrar.

Ikki deixou o apoio da parede e, em passos lentos, colocou-se de frente para o aquariano. Ele mantinha a expressão e postura taciturnas, um ar arrogante o circundava e todo o seu ser emanava força e virilidade, porém seus olhos demonstravam o que realmente era, um homem de bom coração, que amava muito a sua família e que era capaz de matar e morrer por quem lhe era importante.

¬ Oto!! Oto!! - os pequenos praticamente cantarolavam.

Hyoga sentiu todos seus músculos enrijecerem e os pelos de seu corpo se arrepiarem, ele ficou mudo, sem reação, sem expressão, não acreditava no que seus olhos viam. Depois de 2 anos ele finalmente “aceitou” a morte de Fênix e meses depois, sem mais nem menos, lá estava ele, parado bem na sua frente, fazendo a mesma cara de quando queria deixá-lo irritado e sorrindo como se fosse dono do mundo.

¬ Ikki... - foi tudo o que pode sair dos lábios do aquariano, pois o moreno havia os coberto.

Não foi aquele BEIJO!! Foi um beijo mais do que adequado para uma pessoa em choque, apenas um toque de lábios, um pequeno toque que foi capaz de demonstrar todo o amor e a saudade guardados no peito do leonino por 3 anos.

Mesmo depois de separados, Hyoga continuou com a mesma cara, só que dessa vez, se viu obrigado a buscar apoio. Sentou-se no chão mesmo e colocou os gêmeos no colo, abraçando-os como se tivesse medo de sair voando pelos ares. Ikki sorriu para o irmão, abriu os braços e esperou o mais novo, que estava em estado semelhante ao do aquariano, se dar conta de que o moreno lhe oferecia um abraço.

Shun praticamente voou para os braços do irmão, chorando e apertando-o contra si como se ele fosse feito de areia, o pequeno morria de medo daquilo ser uma ilusão e o irmão se esvair em seguido, por isso o prendia com tanta força.

¬ Camu-bo!! - exclamou o pequenino Miguel com alegria.

Os gêmeos pularam do colo do pai para correrem até o avô francês, que tinha acabado de chegar e os recebeu de braços abertos e um sorriso no rosto. Camus abraçou os netos e lhes fez cosquinhas, arrancando muitos risos dos pequenos. Era incrível como duas crianças eram capazes de abaixar a guarda do Cavaleiro mais frio do mundo em segundos.

Camus passou algum tempo dando atenção às crianças, porém, logo sua atenção fora desviada para os mais velhos, principalmente os recém-chegados que estavam em choque e, no caso de Shun, choravam. Ele afastou as crianças com delicadeza e falou da forma mais gentil que lhe era possível se expressar:

¬ Crianças. Nós, adultos, precisamos conversar. - explicou. - Porque não vão dar uma volta com Milo? - o olhar que o aquariano mandava ao escorpiano não dava escolha. - Ah, e se eu me lembro bem, hoje é o dia em que vocês vão dormir conosco não? - as crianças confirmaram alegres, quase agoniadas, com medo de alguém dizer o contrario e eles não puderem dormir no alojamento dos avôs. - Então vão pegar suas coisas. - Camus os incentivou a se apressarem.

Tanto os pequenos, quanto Anna foram correndo para o apartamento e, depois de um tempo, cada um voltou correndo com uma mochila em suas costas, deram beijos na bochecha de Hyoga, ficaram na pontinha dos dedos para fazer o mesmo com Ikki e Shun, fizeram o mesmo com Camus e, só então, seguiram o escorpiano para longe dali. Sarah certamente era a mais animada, arrastando o avô de forma que ele fosse quicando atrás de si.

¬ Vem Miu-bo. - a menina falava de forma animada.

Quando eles sumiram de vista, Shun e Hyoga foram praticamente carregados para dentro do alojamento, quando Camus disse que eles precisavam conversar, ele estava falando mais do que sério. O duro foi esperar aqueles dois superarem o choque inicial.

Durante a conversa Hyoga e Ikki mal se olhavam, Ikki por vergonha e Hyoga por não saber o que faria ao leonino se o olhasse. Camus também não ajudava, parecia estar expondo o moreno em praça publica, e Shun tentava ajudar, mas ele estava tão perdido que não sabia nem quem devia ajudar. E o assunto da conversa só parecia piorar tudo, a “morte” de Fênix.

Na verdade sua morte tinha sido arquitetada. A ideia era fazer a deusa Afrodite acreditar que o Cavaleiro de Fênix tinha morrido de fato e que não iria mais voltar, com isso, o leonino iria se infiltrar no exercito inimigo e descobrir o máximo de coisas possíveis, ou seja, ele trabalhou como espião por 3 anos e por conta disso não poderia respirar de forma que parecesse suspeita, era perfeito silencio, sua existência devia ser nula e sua boca um túmulo. Esse era o plano.

Tá bom! Mas o que tem de errado com o plano? O ataque surpresa a ronda liderada por Hyoga foi totalmente fora dos planos e ao defendê-lo, Ikki tinha morrido de verdade, mas ele voltou uma semana depois e vendo que tudo estava saindo como o “planejado”, decidiu prosseguir com a missão, mas a culpa o corroía todos os dias, ele tinha deixado as pessoas mais importantes da sua vida do nada e sem um aviso prévio.

Ele conseguiu se infiltrar no exercito inimigo usando uma mascara, que servia para esconder sua identidade, e jurando para os oficiais inimigos que escondia o rosto por ter uma cicatriz muito feia nele, o que era uma verdade comprovada ao verem parte de seu rosto só no osso. Quando Ikki se “reconstruia” era pedacinho por pedacinho, então era normal algumas partes demorarem para retornar.

Teve que se fiscalizar 24h por dia para não elevar o cosmo de jeito nenhum, teve que se humilhar e fazer muita coisa que ia contra seus princípios, tudo isso por informações que poderiam acabar com aquela maldita guerra.

Doeu para o leonino ficar 3 anos afastado de quem amava e o que perdeu por estar longe. Morria de medo de que quando voltasse descobrisse que Hyoga tinha outra pessoa, ou que ele e/ou Shun tivessem morrido, que algo ruim tivesse acontecido a Anna, entre outras coisas. Mas o que mais doeu, de verdade, foi ter que sustentar aquela mentira, foi ter que fingir estar morto, pois sabia que o irmão certamente iria sofrer e Hyoga,... ele nem sabia como Cisne ficaria, só sabia que não iria ser nada bom.

¬ Agora que as cartas já foram postas a mesa, eu só tenho mais uma pergunta. - prosseguiu Camus. - Ikki. Você tem certeza de que obteve todas as informações possíveis? Que não tinha mais nada escondido?

¬ O bom de ser um “soldado” é que te valorizam muito pouco, acham que você é burro e não é capaz de enganar. - volveu.

¬ Hun. - Camus nunca gostou muito dessa postura, mas fazer o que? Ikki era Ikki, ponto. - Acha que esta apto a viajar até o Santuário e comunicar tudo à Atena? Contar tudo aos meus irmãos de Ouro, os seus de Bronze e os Prata?

¬ Tenho certeza.

¬ Ótimo. - ditou ao se levantar. - Lhes vejo amanhã e quando for partir, tem a permissão de levar alguém consigo. Até lá, tenha uma boa noite. - retirou-se com cordialidade.

Shun ainda ficou mais algum tempo, conversando com o irmão, que lhe respondia tudo que era perguntado e sorria com todas as novidades contadas, eram tantas informações que o leonino mal acreditava no tanto de coisas que havia perdido. Porém, o que realmente o preocupava era o silencio de Hyoga. O aquariano estava no mais profundo silencio e o fitava como se pudesse explodir sua cabeça só com o olhar.

Shun só foi embora muito tempo depois, apenas quando começou a mostrar sinais de cansaço é que acho prudente ir embora e colocar o sono em dia. Hyoga levou o amigo até a porta, se despediu, fechou a porta, a trancou e encostou a cabeça nela, seus ombros caíram como se um peso fosse posto sobre eles e suspirou.

Ikki estava sentado, mas assim que tencionou ir até o aquariano, ele virou o rosto para si, fazendo-o parar exatamente onde estava. O olhar de Hyoga era duro, armado com um “Q” de ódio e tristeza, não se lembrava a última vez que o aquariano o olhou assim, ou melhor, o aquariano nunca o tinha olhado assim.

¬ Eu te odeio. - foi tudo o que saio de sua boca.

Kodomo - Crianças


Notas Finais


Desculpe o cap enorme, mas acreditem, ele foi necessário e por mais que eu tentasse, não consegui diminuir mais do que 1000 das 6000 e vai lá paulada de palavras originais. Sorry :P
Espero que tenham gostado ;)

Bjs. L :3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...