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História Fera (EM PAUSA) - As rosas a invejam.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Peço perdão pela imensa demora. Mas, aqui está mais um capítulo de Fera. Agradeço por todos os favoritos e comentários.
Espero que gostem. Boa leitura. MWAH!

➦ Capítulo sem uma revisão mais profunda, perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 4 - As rosas a invejam.


Fanfic / Fanfiction Fera (EM PAUSA) - As rosas a invejam.

— Espera! Você o que? – a voz alterada de Anastasia do outro lado da linha me faz fechar os olhos.

— Não grite, Ana. Pelo que eu sei, você está no hospital, e sabe que as vistorias de Jenna andam sendo exigentes ai dentro. – aconselho-a, mas não tenho certeza se ela ouve minhas palavras. — E sobre isso, está tudo bem.

— Está tudo bem? Você não veio para o trabalho, foi atacada na noite passada e está na casa de um desconhecido, Rosie. Não tem nada bem aqui.

Meneio a minha cabeça.

— É que... Eu não consigo entender o que aconteceu. Eu me lembro bem da noite passada, como me lembro daquela outra noite. – encaro um único quadro de uma paisagem devastada que tinha na parede atrás da cômoda. — Tudo está muito confuso em minha cabeça.

— Eu tenho certeza que está confusa, porque se não estivesse, neste exato momento, estaria em uma delegacia, não na casa de um homem que sequer conhece. – sua voz continuava algumas notas alteradas, e isso não era bom. — Onde está o seu juízo, Roselie? Quando invertemos os papéis? Eu costumo ser a imprudente, não você.

— Pensei que quisesse que eu vivesse perigosamente. – relembro-a das vezes que ela me disse estes exatos dizeres, encorajando-me a me arriscar.

— Tudo bem, garota radical. Mas, nunca sugeri que ficasse na casa de um homem que estranhamente salvo-a de todas as piores situações da sua vida. – ela faz uma breve pausa, e imagino-a dando a volta na sala de descanso dos médicos de plantão. — Diga-me, não é completamente estranho ele estar sempre por perto? E ainda mais estranho viver misteriosamente nas sombras? Até os empregados alertam sobre não olhar para ele.

Não posso afastar o pensamento ruim que continuava instalado em minha mente.

— Eu só preciso saber, Ana. Ele me salvou naquela noite, e me salvou na noite passada. Algo está acontecendo, ele pode... – solto um suspiro, e olho para fora da janela, avistando a bela extensão em quilômetros que possuía os arredores da mansão. — Ele pode ser a chave para alguma resposta. Eu não preciso de policia agora, você sabe que eles não fazem nada.

Não era uma mentira. Eles disseram que lutariam por mim, mas nada fizeram.

— Você pode procurar por essa resposta estando em segurança, amiga. Volte para casa, se ele continuar indo atrás de você, nós envolveremos a policia nisso.

— Não... – balanço a minha cabeça, de forma negativa. — Ele pode ser a minha única chance, e não irei espantá-lo. Sabe, ele não parece ser ruim, é apenas... Diferente.

— Diferente? Rosie, ele vai além do estranho. Talvez se encaixe na categoria, fora do comum. – ela parecia mais calma, mantendo sua voz nos tons normais de uma conversa entre duas amigas pelo telefone. Ainda que a ocasião pedisse certo alarde. — Tem uma arma apontada para a sua cabeça agora?

— O que? – estreito meus olhos diante sua pergunta.

— Pode me dizer... – ela começa a sussurrar. — Sei que esse homem pode estar ameaçando-a, então, não precisa responder com palavras. Apenas... – ela faz uma pausa rápida, como se pensasse em uma solução imediata. — Se a resposta for sim, dê uma tossida. Se for não, duas tossidas.

Sinto vontade de rir.

— Não tem uma arma apontada para a minha cabeça, Ana. Eu estou incrivelmente bem. – olho para os arranhões e marcas em meus braços. — Um pouco machucada, mas não foi ele que o fez.

Ana solta um suspiro pesado.

— Eu só estou preocupada com você, Rosie. – confessa. — Saber que você precisou lidar com isso novamente, me deixa realmente preocupada. Você devia voltar, e passar um tempo em meu apartamento.

Era uma boa proposta. Não sabia se queria voltar para casa e ficar sozinha.

— Obrigada por se preocupar comigo. – sou sincera. Anastasia era a única pessoa que sabia sobre aquela noite por inteiro, e me apoiava em minha dor. — Eu preciso fazer isso. Nunca tive as minhas perguntas respondidas, e talvez agora seja a hora de serem respondidas.

— Você confia nesse homem? – abaixo a minha cabeça.

— Eu confio em meu instinto. – umedeço os lábios. — Ele me salvou, e eu preciso entender a razão por trás disso. Ele só parece ser capaz de algo. Saber algo. Ele pode ser o único que pode me ajudar em tanto tempo.

— Não posso ir contra sua vontade, porque acho que você merece saber sobre a verdade de sua própria vida. Apenas tome cuidado. – ela soa serena. — Se ele a machucar, fisicamente ou psicologicamente, me ligue. Ele terá que lidar com algemas rodeando seus braços, mas antes, quebrarei cada osso de seu corpo. Eu juro.

Solto uma risada pelo nariz.

— Tudo bem. Eu acredito em você. – ergo minha cabeça. — Pode me ajudar com o hospital? Não sei quando irei conseguir voltar ao trabalho, creio que levem apenas alguns dias, será o suficiente para que eu tente conhecer esse homem, saber o que ele quer comigo, e depois, irei voltar.

— Irei falar com Oliver. – eu sabia que nosso amigo nos ajudaria nisso. — Volte para casa logo, Rosie. E, por favor, mantenha-me informada.

— Sempre. – uma batida soa na porta. — Eu preciso desligar, estão batendo na porta. Falamos-nos depois.

Certo. Até mais tarde, então. – minha amiga diz, mas não desliga de imediato. — Rosie?

— Sim?

— Tem certeza que não está sentada em uma cadeira, envolvida por uma bomba, e do outro lado do quarto esse homem está segurando um botão que irá explodi-la se contar a alguém o que está acontecendo, realmente?

Não consigo segurar a risada.

— Você está precisando parar de assistir filmes policiais, minha amiga. – advirto-a. — Está tudo bem, Ana. Mesmo. Agora vá trabalhar, e não conte a ninguém a verdade. Mantê-la-ei informada.

— Cuide-se.

— Eu irei.

Afasto o aparelho celular do meu ouvido esquerdo, e encerro a ligação. Olho para a porta, e marcho até ela, abrindo-a e deparando-me com o sorriso simpático de Olivia.

— Vim apenas avisá-la que o jantar está quase pronto. – ela me estende uma pilha de roupas dobradas. — Imagino que esteja desejando um banho. Então, consegui essas roupas para você. Não é muito, mas deve servir. Minha filha tinha o seu corpo.

— Obrigada. – apanho as roupas. A mulher faz menção de virar. — Olivia?

— Sim, querida?

Ela me olha.

— Onde está... – eu sabia o nome dele, mas não conseguia pronuncia-lo.

— O senhor Bieber? – eu assinto, vagarosamente. — Ele pediu para servir o jantar no escritório.

— Ele sempre fica aqui?

— Na maioria das vezes, sim. Se ele sai, é apenas durante a noite. – isso me faz franzir o cenho.

— Durante a noite? Por quê?

Olivia pigarreia depressa, e vira o seu rosto para o lado oposto ao que eu estava.

— Não posso falar sobre isso. Desculpe-me.

Antes que pudesse fazer mais alguma pergunta, a senhora simplesmente dá-me as costas e segue depressa pelo corredor, saindo da minha visão assim que dobrou pelo primeiro corredor. Não fazia sentido para mim, as pessoas que me deparei nesta casa simplesmente não conseguem falar sobre o homem misterioso, e se falam, é através de sussurros e alertas. Isso não se encaixa em nenhum pensamento que eu tente firmar em meu cérebro, apenas para não sair correndo por essa porta.

Volto para dentro do quarto, ando até a cama e coloco sobre o colchão as peças de roupa que Olivia me trouxera. Solto um suspiro, leve, mas ao mesmo tempo pesado, e guio-me até o banheiro. Entro e paro em frente ao espelho, tocando em meu rosto, sentindo-o inchado, ainda que não estivesse mais evidente. Era como se a pessoa no reflexo tivesse voltado no tempo, e ainda estivesse com quase dezesseis anos, e estivesse dentro do banheiro de um hotel pequeno, passando a noite fria, sabendo que do outro lado da porta, uma pessoa sabia de tudo, mas eu não podia saber sobre nada, porque prometi ao meu pai que não faria perguntas.

Era como se a adolescente tivesse sido a única sobrevivente ao tempo. Ou, talvez, o tempo nunca tenha passado, realmente. Eu ter entrado em uma universidade, cursado a área dos meus sonhos, e tivesse me reestruturado na vida não passasse de sonhos. Exatamente com os sonhos que eu tinha, pequenos lapsos de um futuro que nunca existiria, pois as pessoas que eu queria ao meu lado estavam mortas, e jamais voltariam.

Balanço o meu cabelo, desprendo-o do coque que fiz assim que entrei no quarto e passei toda a manhã, assustada demais para sair. Curiosa demais para ir embora. Abro as portas do box. Dispo-me da minha roupa, colocando-a sobre a tampa do vaso sanitário. Estando nua, coloco o meu corpo dentro do lado de dentro das portas de vidro fosco, e ligo o chuveiro. O vapor começa a enevoar o cubículo, e ao sentir o atrito da água quente com a minha pele, fecho os olhos, e relaxo.

Minhas mãos serpenteiam por cada parte do meu corpo. Sentia-me tão fraca, cansada e esgotada. Era como se os músculos do meu corpo tivesse se tornado pó. Fecho meus olhos. E os lapsos da noite passada me baqueiam. Os rostos dos homens marcaram minha mente, ainda que estivesse escuro. Suas vozes ficaram arquivadas na zona mais sensível da minha cabeça. Tudo o que disseram. A corrida, e a luta. Sentia-me com quinze anos, novamente. A diferença era que eu não teria mais alguém para me dizer que tudo ficaria bem, e que um dia eu entenderia.

Como poderia entender? O que eu tinha que entender?

Esfrego o meu corpo, passando a esponja molhada pelo sabonete com cheiro de flores do campo. Era agradável, e eu queria apenas limpar cada vestígio que eles deixaram em minha pele. Abro meus olhos, e demoro mais que o necessário em cada membro. Lavo o meu cabelo, e uso os produtos que encontrei na pequena cesta mais a frente, e não sabia se tinham sido colocados a pouco, ou sempre estiveram ali. Após pouco mais de meia hora debaixo da água quente, coloco meu corpo para fora do box, enrolando-me na toalha felpuda, em seguida, enrolando a menor em meu cabelo, firmando-a no alto da minha cabeça.

Volto ao quarto, e retiro a toalha, deixando-a cair em meus pés. Alcanço as peças de roupa, e encontro uma lingerie. Parecia nova, ainda estava dentro de um plástico transparente. Abro-o e visto-a, sentindo-a apenas um pouco maior em meus seios castos. Apanho a camiseta e o short. Também ficam largos, mas não questiono, apenas deixo cair a toalha que envolvia o meu cabelo, e ando até o espelho.

Meu reflexo não me agravada, ainda que estivesse limpa. Minha alma ainda estava suja. Meu coração ainda estava aos cacos. E ao correr com a escova macia pelos fios molhados do meu cabelo, não me sentia mais serena como anos atrás, sempre que minha mãe se sentava atrás de mim, e afagava-o por longos minutos.

Eu me perdi pelo caminho.

Eu não tinha mais para onde ir, pois não sabia quais passos dar.

Deixo a escova em cima da cômoda, e ando até a porta. Abro-a e passo meu corpo pelos batentes, parando a um passo do corredor, olhando para os lados e não encontrando nada além do vazio e luxo por toda a extensão estreita. Não tinha mais saído do quarto. Olivia serviu-me almoço ainda no quarto, e não me convidou para descer. Talvez o seu patrão quisesse privacidade em casa, e eu também não consegui sair mais. Tranquei-me, e me questionei por horas sobre o que faria, se cederia a aquele pedido na estufa, ou simplesmente apanharia minha bolsa, carro e tudo o que ainda me pertencia, e passaria pelos portões, torcendo para nunca mais encontrar com o homem misterioso.

Eu fiz o contrário do que gritava a minha razão.

Fiquei, como ele pediu.

Meus passos soam incertos pelo corredor, até chegar no topo da escada. Olho para baixo, e o silêncio continuava absoluto. Guiei-me pelos degraus, e refiz o caminho de mais cedo, buscando pela cozinha, mas antes, encontrei Olivia parada na sala de jantar, montando a mesa para uma única pessoa.

— Olá. – minha voz soa baixa. A cabeça da mulher vira-se para me olhar.

— Que bom que desceu, querida. – ela é gentil. — Acabei de terminar de preparar o jantar. Espero que coma de tudo o que fiz essa noite. O senhor Bieber adora assado e molho branco, então... – ela balança sua cabeça. — Sente-se, por favor.

Olho para a cadeira que ela arrasta para mim, e sento-me, sorrindo para ela.

— Obrigada. – ela retira as tampas das travessas e eu me delicio com os cheiros. — Tudo cheira muito bem.

— Espero que aprecie. Quer que eu a sirva? – ela pergunta, nego com a cabeça.

— Eu faço isso. Obrigada por se oferecer, Olivia. – apanho o prato de sua mão, e inclino-me para colocar uma colherada de arroz. — O seu patrão já jantou?

— Sim. Levei o jantar, mas ele não tem um horário certo para comer. – diz tranquilamente. — Estarei na cozinha, caso precise de algo.

— Não irá comer? – olho para ela, logo após colocar um pouco de cozido em meu prato. — Estarei sozinha nessa mesa tão grande  e farta. Jante comigo.

— Eu já jantei, querida. Mas, agradeço o convite tão gentil.

Com isso, espera que eu termine de me servir com tudo o que tinha em parte da mesa, e coloca um pouco de suco em um copo, virando-se e se perdendo pelo corredor. Devorei cada grão de arroz. Estava faminta, ainda que não tivesse me dado conta até provar a deliciosa comida de Olivia. Beberiquei um pouco do suco, e continuei sentada em minha cadeira, esperando que o homem passasse pela porta em busca de algo, ou que eu conseguisse saber o lugar em que ele estava. Mas, nada.

Nenhum sinal dele.

Coloquei-me de pé e levei até a cozinha as travessas e talheres. Olivia me ajudou, mandando-me deixá-la fazer o serviço, mas não permiti que ela limpasse tudo sozinha. Lavei a louça, lutando contra seus protestos, e deixei-a apenas secá-las, ou ficaríamos discutindo pelo resto da noite. Quando terminei, ajudei-a com alguns sacos de lixo, jogando-os no local em que pegariam toda a sujeira pela manhã, e enquanto passávamos pelo jardim, resolvi ficar por um tempo aproveitando o frescor da noite.

— Tenha uma boa noite. – Olivia acena para mim. — Espero vê-la pela manhã.

Mostro-lhe um pequeno sorriso amarelo.

— Boa noite, Olivia. Obrigada pela excelente refeição.

Ainda sorrindo, vira-se e se perde pelos fundos da casa, e imagino que estivesse seguindo para a sua casa. Pelo resto do dia, não vi mais o seu marido, mas pela janela, espiei-o cuidar do jardim. Todas as flores e folhas haviam sido cuidadas, e mesmo que a iluminação clara por todo o trilho do jardim, desejava vê-las a luz do dia.

Uma rajada forte da brisa bagunça os fios secos do meu cabelo. Estreito os olhos, e enquanto afasto uma mecha grossa e escura do meu rosto, olho para o caminho que segui até chegar a estufa. E antes que pudesse me dar conta, minhas pernas guiam-me para a direção que, mesmo que pouco familiar, ainda me parecia um bom lugar para ir, espiar e entrar. Na presença daquele homem, não consegui apreciar por muito tempo as roseiras, mas sabia que eram lindas.

Sigo pela trilha estreita, olhando para os lados e admirando a beleza que aquela casa possuía no cair da noite. Easton guiou-me pelo caminho, ainda estava cedo, e mesmo que fosse bonito olhar para todas as flores radiando através da claridade natural do dia, eu sempre preferi andar a noite, e sentir toda a calmaria da natureza. Era melancólico, mas real, e puro. Eu gostava de acreditar que coisas assim podiam durar.

A estufa estava aberta. Por dentro dos vidros, não havia iluminação como por todo o caminho, mas isso não me impede de continuar andando até as portas de vidro. Estava silencioso, e o cheiro das diversas flores causou-me uma sensação de conforto. Encontro às roseiras de mais cedo, e torno a tocar nas rosas. O tom azulado das pétalas parecia brilhar contra a escuridão que rodeava as rosas abertas, e os botões ainda fechados.

Por todos os lados tinham rosas. De todas as cores, tamanhos e mais algumas pareciam estar sendo plantadas. Questionava-me se aquele homem era o responsável por zelar por cada uma das roseiras. Minha mãe costumava dizer que uma flor só nasce quando alguém amável toca no adubo, e com carinho, rega-as todos os dias, e quando os primeiros galhos se sobrepõem, deve-se dar mais atenção, pois uma rosa é frágil, delicada e preciosa.

— Merda... – praguejo assim que sinto uma picada, e logo uma ardência, na ponta do meu polegar direito.

Estava concentrada em tocar as rosas e galhos da roseira azul que, por um segundo, me esqueci de que ainda que mesmo tão bonitas, possuíam seus espinhos. Perfurei o meu dedo por um descuido bobo.

— As rosas a invejam. – a mesma voz que ouvi mais cedo, faz-me sobressaltar, dessa vez, ele estava atrás de mim, parado entre a porta aberta.

 — Você me assustou. – sou sincera.

— Desculpe. – ele abaixa a sua cabeça, e seu rosto se esconde no capuz que parecia ser a sua única função em qualquer ocasião. — Estava vindo fechar a estufa, e senti uma presença aqui dentro.

Meu coração parecia socar o lado esquerdo do meu peito.

— Eu preciso de respostas. – deixo as palavras atingi-lo.

Era uma droga não poder ver o seu rosto.

— Não sou bom em responder perguntas. – a seriedade em sua voz me incomoda.

— Mas eu preciso delas. – ergo minha cabeça. — Eu mereço saber.

Ele dá um passo para trás, ficando a pouco de estar completamente fora da estufa.

— O que quer realmente saber?

Essa era uma pergunta que nem mesmo eu saberia responder.

— Como me encontrou naquela noite? – cada gota do meu sangue parecia virar pedras de gelo puro. — Anos atrás... Eu sei que era você. De alguma maneira, eu me lembro de você.

Conforme o breu da noite se estendia por toda a extensão interna e externa da estufa, conseguia ver o lado mais misterioso de seu rosto ainda coberto. Era angustiante olhá-lo, e sentir o seu olhar firme sobre o meu. Era frio, escuro e impossível de compreender.

Eu não sentia medo dele.

— Responda! – altero a minha voz, sabendo que estava pisando em território desconhecido, diante a alguém alheio a todas as pessoas que já conheci em minha vida, mas não podia deixá-lo dar-me as costas sem responder minhas perguntas. — Por favor...

Lágrimas preenchem meus olhos. Eu odiava senti-las, sempre odiei. Mas, elas sempre estavam ali, enfraquecendo-me, mostrando que eu nunca ficaria bem, realmente.

Posso jurar ouvi-lo suspirar.

— Como na noite passada, eu estava passeando. Tenho o costume de sair durante a noite, caminho por algum tempo. Naquela noite, eu ouvi gritos, pedidos desesperados por ajuda, e passos firmes pelas folhas secas. Então... – faz uma pausa e desvia o seu olhar, abaixando sua cabeça. — Eu resolvi ajudar. Não podia deixá-la morrer nas mãos daqueles homens.

Uma lágrima escorre pelo lado esquerdo do meu rosto, umedecendo a minha pele.

— E porque estou aqui?

— Porque eu quero ajudá-la. – ele volta a erguer seu rosto, e sinto o seu olhar. Eu queria livrá-lo do capuz, queria ver a cor de seus olhos, tocar em seu rosto. Eu queria descobri-lo. — Não pergunte o porquê, apenas sinto que é a coisa certa a se fazer.

— Não posso me esconder aqui para sempre. Eu tenho uma vida, um emprego... – balanço minha cabeça. — Você nem me conhece.

— Você também não me conhece, mas aceitou ficar.

Ele me atinge.

— Você não parece ser alguém ruim. – confesso entre um soluço breve que me escapa.

— Mas não sou bom, também. – engulo em seco. — Mas acredite em mim, jamais machucaria você.

Eu acreditava nele.

Deus! Eu sentia que podia confiar nele e ter meus olhos fechados.

— Eu preciso descobrir a verdade sobre aquelas pessoas. – não me importo em abrir-me para um desconhecido. Saber que ele estava disposto a me ajudar quando tantas pessoas parecem querer se livrar de mim, me permito falar. — Eles parecem estar ligados com a morte dos meus pais.

Não consigo olhá-lo mais, apenas abaixo minha cabeça e abraço meu próprio corpo.

— Irei ajudá-la. – ele diz após alguns segundos em silêncio. — Não posso lhe prometer justiça, mas juro fazer o possível para que descubra sobre o que aconteceu com seus pais.

Sentindo as lágrimas tornarem minha visão turva, ouso olhá-lo, novamente.

— Não irá perguntar o que aconteceu com meus pais ou o motivo daquelas pessoas estarem atrás de mim? – fungo baixinho.

Ele parece dar de ombros, não consigo ver ao certo.

— Quando você estiver pronta para falar, eu irei estar pronto para ouvir. – sua voz soa estranhamente reconfortante.

Ele era tão diferente. E eu me sentia estranhamente bem por ter sido salva por ele.

Eu me sentia feliz por ele não me fazer falar, e não exigir a minha confiança como se fosse pagar pelo favor dele estar sendo bom.

Ele não era ruim, enganava-se ao dizer o contrário.

— Obrigada, por tudo. – agradeço-o com todo o meu coração.

Ele nega com a cabeça.

— Eu agradeço-a por ficar.

Mais lágrimas rolam, e não as afasto.

— Imagino que devo me apresentar. Sei o seu nome, mas você não sabe o meu.

O vestígio de um sorriso parece se apossar de seus lábios.

— Eu sei o seu nome, Roselie. – me pega de surpresa. — Desde aquela noite, eu sei o seu nome, e nunca me esqueci.

Não consigo dizer mais nada, fico apenas o olhando sem compreender como ele podia saber o meu nome, pois não me lembro de ter dito.

Embora tudo sobre ele parecesse ter peças faltando, não sentia medo. Meu coração, pela primeira vez em muito tempo, batia tranquilo. 


Notas Finais




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