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História Festina Lente - VIII. Vade retro me


Escrita por: VenusNoir

Notas do Autor


será que chegamos à metade dessa ficória??? pra variar, eu nunca sei. como que alguém escreve uma história tão nas coxas? shame on me

Capítulo 8 - VIII. Vade retro me


Depois de tantos dias em que sua ausência se fizera sentir, ter Baekhyun ali de novo era como estar submerso. Kyungsoo estava alheio ao que acontecia na superfície; os ruídos vindos da terra firme não o alcançavam, o ar em volta deles fora suspenso, tudo estava abafado e parecia longínquo, onírico. Tinham sidos engolfados por uma bolha, ele e Baekhyun. Ao seu redor, nada mais havia. Para agravar, pela primeira vez desde que começara a engolir periodicamente a beberagem que sua velha ama lhe dava, Kyungsoo tinha a impressão de que ela falhava. Uma mão invisível remexia suas entranhas, ateando fogo em seu corpo até então dormente. Apenas olhando para Baekhyun, Kyungsoo foi revivido. E mais uma vez, afastou a culpa de sua mente, pois vê-lo ali, após meses, era um golpe que de certo só sofria sozinho porque não tinha companhia, ninguém que compartilhasse de tal visão magnifica. Ele se apresentava rodeado pela aura que aparições possuíam, sublime e atemorizante, olhos bem abertos, o peito arfando suave. Kyungsoo quase podia jurar que a atração intolerável e aquela ânsia desmedida que o perturbavam dia e noite não eram exclusividades suas – enxergava-as refletidas na pupila dilatada de seu hyung, em seu silêncio inquieto, na imobilidade de suas mãos largadas rente ao corpo igualmente imóvel.

 

Quando a criada anunciara que tinha visitas, não imaginara que, dentre todas as pessoas que poderiam aparecer em sua casa, seria logo Baekhyun a interromper sua sesta. Kyungsoo despertara como um defunto que acorda para uma nova vida; tinha a mente lenta, o raciocínio turvo diante de tantos pensamentos desconexos, mas as perguntas que lhe surgiram assim que viu seu amigo conseguiram se sobressair em meio ao tumulto de ideias – por que Baekhyun havia sumido e por que decidira reaparecer tão subitamente? A bengala que ele largara a seus pés e que caíra quase sem fazer barulho, no entanto, servia como indício. Afinal, havia uma razão plausível e que ia além da birra. A culpa retornou ao peito de Kyungsoo, mas agora vinha revestida de outros motivos. Em momento algum pensara em procurar Baekhyun e se certificar de que ele estava bem. Bastou que lhe virasse as costas, após o primeiro desentendimento sério que tiveram desde que haviam se conhecido, para Kyungsoo atirar as mãos para o céu e desistir. Fora conveniente, o sumiço dele viera bem a calhar. Baekhyun, pelo contrário, havia aparentemente feito o percurso de sua casa até Kyungsoo a pé, de bengala e mancando. O que isso revelava sobre ambos? Kyungsoo, envergonhado, desviou o olhar que sustentara por um longo e interminável instante.

 

“Onde você esteve?”, ele perguntou. Não se sentia no direito de cobrar satisfações, mas precisava saber. Para disfarçar algo que estava evidente até em seus gestos, ele pigarreou e voltou a fitar Baekhyun diretamente. “Eu senti sua falta”

 

Baekhyun sobreergueu uma sobrancelha. Kyungsoo era confuso de se entender. Ele a um só tempo recuava e avançava. No mesmo movimento que fazia para se esconder e se resguardar, também se revelava. Não que hesitasse, só estava desorientado.

 

Baekhyun recolheu a bengala do chão, se apoiando nela enquanto caminhava até o futon; se sentou e Kyungsoo, como se percebesse que não havia necessidade de permanecer em pé, o imitou. “Eu sofri um acidente”, ele explicou, erguendo a perna esquerda e mostrando os arranhões quase cicatrizados por baixo do longo saiote. “Foi uma coisa bem idiota, então nem pergunte como foi”

 

Kyungsoo entreabriu os lábios, mas não disse palavra. Ainda havia água em seu entorno, água em seus pulmões, água em sua garganta. Queria tocar em Baekhyun. Não apenas tocar, mas senti-lo, fazê-lo sentir. Qualquer ilusão que tivesse a respeito da natureza de seus sentimentos se havia desfeito e Kyungsoo tinha aceitado. Tudo acontecia rápido demais, sem que pudesse retardar o ritmo de sua desgraça. Ainda desnorteado, pensou em como o destino se desenrolava de forma insondável. Ao levantar aquela manhã, não havia imaginado que esse seria o dia em que a farsa cairia por terra e ele seria forçado a enfim lidar com o que sentia por Baekhyun. Por um momento, desejou que sequer houvesse acordado, que a criada tivesse dispensado Baekhyun com a justificativa de que seu amo dormia, se era isso o que precisava para evitar tamanha catástrofe. No entanto, impedir que Baekhyun chegasse até si seria o equivalente a jamais viver a emoção do primeiro amor descoberto, tão terrível quanto maravilhoso.

 

Outro pigarro e Kyungsoo recuperou o autocontrole.

 

“Você podia pelo menos ter avisado, enviado alguma criada para dar notícias sobre seu estado. Nós todos ficamos preocupados”

 

Baekhyun tamborilou os dedos sobre o cabo da bengala, o queixo erguido e o nariz empinado denunciando o quanto discordava daquela sentença. “Se estavam tão preocupados, por que não foram até minha casa? Vocês sabem onde fica”, Kyungsoo abriu a boca para falar, mas Baekhyun foi mais rápido. “Eu entendo, eu entendo. De repente, vocês todos firmaram um pacto de se casar o mais rápido possível. Devem estar muito ocupados, nem posso imaginar o quanto”

 

O sorriso enviesado que Baekhyun lhe lançou foi um tiro disparado sem intenção, mas que o atingiu em cheio. Kyungsoo piscou uma, duas, três, quatro vezes. Uma onda passara por cima de sua cabeça e o arrastava de volta ao alto mar. “Por falar nisso, como vão os preparativos para o seu noivado? Imagino que já estejam tomando providências, já que com certeza o casamento foi acertado a essa altura”

 

“Você se engana”, Kyungsoo respondeu, sem rodeios, zonzo demais para usar de evasivas. “Ainda não houve noivado, nem foi firmada uma data ainda”

 

“E por que tanta demora?”

 

“Porque eu pedi, Baekhyun”, Kyungsoo repentinamente estava exasperado. “Eu insisti. Eu preciso de um tempo”

 

“Um tempo para quê? Pensei que você já tivesse decidido”

 

“Você pensou errado!”

 

Boa coisa que estivessem sozinhos, refugiados no quarto de Kyungsoo, a portas fechadas. Kyungsoo não suportaria que lhe indagassem o motivo pelo qual seu tom de voz era rude; pior ainda seria ser interrompido, ter usurpada sua oportunidade de estar a sós com Baekhyun, de ter a atenção dele só para si, de poder observá-lo sem que precisasse dividir com outrem a visão inebriante que era seu amigo. Seu cenho se franzia de modo sofrido, como se uma lança lhe trespassasse. Em toda a sua vida ninguém lhe havia prevenido de que o amor doía fisicamente ou que essa dor vinha sem ser provocada por qualquer razão externa.

 

“É verdade, Kyungsoo”, admitiu Baekhyun, a cabeça abaixada, a postura arriada. Uma batalha sem feridos e sem vencedores fora travada e ambas as partes admitiam derrota. Kyungsoo concluía que assim é o amor. “Eu pensei muitas coisas erradas. Mas saiba que eu pensei sobretudo em você e também senti muito a sua falta. O que eu falei da última vez que nós nos vimos... Me perdoe. Fui inconveniente e tolo”

 

A fala de Baekhyun saiu entrecortada, um tanto incerta. Não que não soubesse o que dizer, ele só não sabia como fazê-lo. Não fora isso o que acontecera da última vez? Tinha dito a coisa certa da forma errada, no momento errado, e as consequências ainda perduravam em seu corpo, tinham-no machucado e combalido. Ele não podia arriscar cometer o mesmo erro novamente. Precisava pesar cada palavra, testá-la na boca, absorver delas o amargor, engolir o recalque que incontestavelmente possuíam. Tarefa difícil a de convencer Kyungsoo sem se denunciar. Baekhyun se havia transformado num cordeiro humilde, que se encolhe diante do lobo em vez de desafiá-lo. A modéstia nunca fora uma característica marcante em sua personalidade, mas eis que ela era seu último recurso. Assim é o amor; ele torna submisso o mais orgulhoso entre os homens. A vaidade vira singeleza, a altivez vira docilidade. Um ômega que encolhe os ombros e acata a primazia de um alfa é uma ocorrência rotineira, mas um amante que depõe suas armas e estica o pescoço para seu amado, oferecendo-lhe suas glândulas e também sua alma, é não só uma atitude branda, como também um pedido e uma promessa.

 

E Kyungsoo sabia que, se se calasse agora, talvez não tivesse outra chance de se fazer ouvir. Contudo, o que queria fazer não podia ser feito e o que tinha para confessar não podia ser pronunciado. Agindo a revelia de si mesmo, ele foi até Baekhyun e o abraçou fraternalmente, enlaçando-o pela lateral do corpo, seus braços o circundando como se fizessem dele a fronteira que agora chamaria de lar. Há certos tipos de amores que são sentidos com o sexo, o coração e nenhuma razão. Há outros, porém, que se contentam com o toque e o entendimento de que são recíprocos. Nem todos os amores interditos são frustrados.

 

“Não seja bobo, você sempre será meu amigo”, Kyungsoo sorria um sorriso que o cortava por dentro. Ah, a melancolia. E o esmorecimento e a privação e a penúria e a velha dor. “Só me prometa que não vai sumir de novo e que, se precisar se ausentar, vai dar notícia. Mas também saiba que dessa vez eu não vou esperar de braços cruzados. Eu vou atrás de você. Onde você estiver, eu vou te buscar”

 

O sorriso de Baekhyun, tão distinto do de Kyungsoo, era radiante e genuinamente alegre. Tinha seu amigo de volta – por hora, isso era tudo de que precisava.

 

“Você tem minha palavra”, prometeu, abraçando-o forte a ponto de lhe arrancar o ar, de tirá-lo do chão e jogá-lo outra vez à deriva, imerso nos sentimentos que achava serem só seus.

 

X

 

Numa noite de lua crescente, se reuniram na casa de Jongdae. Não faltava muito para seu casamento, de modo que os preparativos estavam a todo vapor. Para variar, seus amigos tinham se oferecido para ajudar de fato, em vez de só ocupar espaço e conversar sobre frivolidades. Minseok era o único que não pudera comparecer – ele havia se mudado para o vilarejo de seu alfa, um lugarzinho remoto e entediante, do qual não se podia sair com facilidade. As estradas eram tortuosas, impossíveis de se transitar no período das monções e insuportavelmente quentes e secas no resto do ano, além de ermas – e consequentemente também perigosas. Não era um percurso pacato e, se pudesse evitar, Minseok não o faria. Para compensar, escrevia cartas aos amigos que deixara em sua terra natal, e com mais frequência a Luhan. Aparentemente, estava com boa saúde e bem ambientado em seu novo lar. Não havia com o que se preocupar, Minseok tinha encontrado boa fortuna.

 

Já Luhan se queixava por qualquer motivo; era como um passatempo, uma distração. Yifan ronca e não o deixa dormir à noite. Yifan está sempre absorvido pelos negócios. Havia criadas demais em casa e todas elas eram subalternas ao ômega pai de Yifan, em vez de responderem a Luhan, que era o verdadeiro dono da casa. Tinha que lidar com muitas intromissões e era forçado a prestar satisfação até de sua vida sexual para os anciões do clã de seu cônjuge. Eles querem que eu diga até quando foi a última vez que nós dormimos juntos, ele desabafou, enquanto examinava a tapeçaria que uma das criadas havia terminado há pouco. E quando eu digo dormir, eu não estou falando de fechar os olhos e dormir. Eles me dão beberagens e poções para aumentar minha fertilidade, porque aparentemente eu não passo de uma galinha que precisa pôr ovos e chocar, dia e noite. Yifan não se mete nisso, é claro. Ele também não vê a hora que eu emprenhe, porque é para isso que eu sirvo, não é mesmo? Minha função no mundo é dar cria.

 

Para Kyungsoo, era mais fácil desprezar as lamentações de Luhan, taxá-lo de dramático e até ingrato. Ele tinha feito um bom casamento, seu alfa era generoso e gentil, o dote que seu clã recebera havia sido vultuoso. Fingir não entender o porquê ele reclamava era apenas uma tática. Acaso não estava ciente de que o mesmo aconteceria consigo se viesse a se casar com Jongin? Que Jongin o trataria bem era inegável. Mas e quanto ao clã de seu alfa? Era com eles que tinha que se preocupar.

 

Baekhyun, tendo aprendido sua lição, permanecia inexpressivo durante as lamúrias de Luhan. Sua neutralidade era uma forma de não ofender Kyungsoo, de não espicaçá-lo. Pura cortesia de sua parte não lembrar ao amigo de que o futuro que o aguardava não era lá muito diferente. Mas, então, parando para pensar, o que tinha a ver com isso? Kyungsoo tinha condições de tomar suas próprias decisões. Interferir em suas escolhas seria insultá-lo, pôr em dúvida sua capacidade de saber o que era melhor para si. Baekhyun reconhecia um caso perdido quando via um. Kyungsoo, de todo modo, estava além do seu poder.

 

Mas até que ponto era capaz de permanecer inabalável diante dos desatinos de uma criatura que, embora insensata, ainda tinha como amigo? A noite fora interrompida precocemente e acabou com Baekhyun ordenando que seus criados levassem Kyungsoo de volta para casa numa liteira. Ele havia desmaiado sem motivo aparente. Só comentara que sua vista tinha escurecido, que se sentia tonto, no entanto, isso fora horas antes, logo ao se encontrar com Baekhyun, no átrio da casa de Jongdae. Baekhyun tinha pedido que o serviçal de Jongdae lhe buscasse água e pronto, dera o assunto por resolvido. Ao socorrer Kyungsoo, não imaginara que ele tinha culpa no próprio mal-estar, mas, como viera a descobrir depois, cada sintoma que sentia se devia às beberagens que tomava em jejum, manhã sim, manhã não.

 

Baekhyun não compreendia. Não precisava que Kyungsoo lhe dissesse o quanto um cio era indesejável e importuno, mas tentar evitá-lo era como alimentar uma fornalha que acabaria por explodir em chamas e fumaça ardente. Esse sequer era um fato desconhecido. Se os ômegas aceitavam com resignação sua má sorte era por saberem que não havia como lutar contra ela.

 

Baekhyun virou a madrugada a seu lado. Kyungsoo tremia de febre, delirava e suava profusamente. Sua omma vinha de vez em quando, com toalhas úmidas que trocava sempre que julgava necessário, água fresca e essências que ela garantia que poderiam ajudar. Havia tentado fazer Kyungsoo beber um chá, mas ele botou tudo pra fora. O quarto abafado recendia a incenso e suor frio, um odor pujante que prenunciava um cio distorcido, fora de hora e desequilibrado. Na manhã seguinte, Kyungsoo ainda não apresentava melhora e sua consciência ia e vinha, às vezes ele parecia mais lúcido, noutras ele se mostrava completamente fora de si.

 

“Chame Jongin”, ele implorou, apertando o pulso de Baekhyun com firmeza, uma expressão tensa e desesperada que doía ver num rosto tão adorado. “Eu preciso de um alfa, Baekhyun. Eu não vou aguentar sozinho, eu sei disso e ainda nem começou”

 

Baekhyun até considerou atender ao pedido de Kyungsoo. Fazer com que Jongin chegasse até o leito de Kyungsoo seria um desafio, não uma impossibilidade. Rapidamente traçou um plano, o qual, para funcionar, deveria contar com a ajuda e a cumplicidade de pelo menos uma criada da casa, mas o descartou logo que voltou a si. Não, não seria capaz de entregar Kyungsoo a outra pessoa, ainda que soubesse que aquela pessoa seria o futuro cônjuge de seu amigo. Por ciúme, negava a ele alívio. Baekhyun o assistiu chorar e grunhir de agonia e se sentiu péssimo. No entanto, sempre podia justificar sua mesquinhez com bom senso. Se Kyungsoo, tendo saído de seu cio, o confrontasse, Baekhyun iria alegar que tinha em mente somente o bem estar dele. Kyungsoo não estava em seu juízo perfeito. Não seria decente de sua parte ceder aos impulsos de um ômega cujas ações e palavras, cada uma delas, eram ditadas por hormônios e uma libido exacerbada, em vez de serem frutos de uma vontade genuína.

 

“Me perdoe, Kyungsoo”, ele sussurrou, na terceira noite seguida em que o acompanhava em seu suplício interminável. O cio sequer havia começado; aquelas eram somente as intermitências, sua anunciação excruciante, apenas a desforra da natureza contra um tolo que tenta burlá-la. “Eu estou pensando mais em mim do que em você”

 

A omma de Kyungsoo tinha administrado uma essência que o fez dormir pesadamente pela primeira vez desde que saíra às pressas da casa de Jongdae. O que quer que Baekhyun tivesse a lhe dizer não chegaria a seus ouvidos e no entanto Baekhyun diria mesmo assim. Em que outra ocasião poderia livrar seu peito de todo o peso que carregava? Que triste, que tragédia.

 

A primeira vez que Baekhyun confessou a Kyungsoo que o amava, Kyungsoo sequer ouviu.


Notas Finais


eu não vejo a hora de ver esses dois gaydacu se pegando, e vocês? acho que essa é a primeira slow burn que eu escrevo desde a finada above the rainbow e tá sendo excruciante dfkjdshke pelo menos em atr tinha qmi se pegando todo capítulo, mas nessa aqui??? nenhum lemonzinho pra enfiar na história de vez em quando, poxa
por falar nisso, tenho uma coisa muito relevante pra mostrar aos leitores dessa fanfic https://curiouscat.me/rainbownoire/post/816131110
pois eh, agora teclem 1 ou 2 para decidir o destino desses personagens


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