Já faziam 3 meses e era estranho pensar que Lars estava de volta, e que a única coisa que separava os dois no momento eram alguns quarteirões. Sadie estava deitada no chão do quarto olhando fixamente para o teto e se perguntando quando iria se mexer; Seu corpo estava imóvel mas quase conseguia sentir toda a sua energia correr para fora. Era estranho notar que não precisava dele ali dessa vez, mas era pior ainda não o ter agora.
E ela sabia que ele sentia a mesma desconfortável falta, ainda mais com os ocasionais links ou pequenos comentários nas redes da banda. Era óbvio que ele queria se aproximar, mas dessa vez resolveu se importar com o tempo de Sadie para entender tudo que aconteceu nesses meses, e no fundo anos. A banda esperava a confirmação de um show tributo a Kerry Moonbean em Empire City e os sinais que Lars poderia estar mandando deviam ser sua menor preocupação.
O tempo passava, o ensino médio mal tinha acabado e parecia que sua vida estava no fim.
O celular dela vibrou por uma notificação, e era de Lars.
↢ ✬ ↣
-to fznd uns pães quer vir provar?
Pode ser, a gnt podia chamar o steven né-
-até já chamei, ele ta sempre ocupado com o
new homeworld mas ele falou que talvez apareça
Tudo bem, eu já vou então!-
Parecia algo para se arrepender, e talvez não fosse o momento certo, mas era praticamente impossível recusar. Ela saiu de casa com pressa, sem nada demais além de uma jaqueta desgastada e uma mochila antiga; Era inverno e o vento cortava o rosto de Sadie, mas o calor de sua ansiedade não a deixava sentir absolutamente nada além de pressa.
Ao chegar na fachada da casa Sadie não conseguiu pensar duas vezes, a ânsia dessa conversa dominava seu raciocínio lógico. E assim que aquela campainha foi tocada a porta foi aberta sem tardada.
㇐ Você realmente não queria me deixar no frio né ㇐ Disse Sadie com uma risada fraca;
Lars estava ofegante e claramente frustrado, era claro que a ansiedade de Sadie não era unilateral. O novo Lars era difícil de compreender, sua pele agora era rosa e seu rosto era marcado por uma cicatriz enorme; Ele era um pirata espacial que enfrentava pedras fascistas como rotina, ele literalmente renasceu e agia como si mesmo sem remorso. Ele não parecia temer nada, com exceção de Sadie.
㇐ Eu já estava perto da porta! ㇐ Exclamou Lars tentando encobrir um nervosismo nítido ㇐ Mas eu també- eu não queria que você passasse frio também! ㇐ O mesmo disse a convidando para entrar, ele tinha uma expressão de cansaço estampada no seu rosto.
A casa tinha cheirinho de canela e o calor do pequeno forno ligado abraçava a casa inteira, parecia o perfeito refúgio de inverno. Mas contrastando perfeitamente com a atmosfera aconchegante da casa, o clima entre os dois era assustador. Era como se cada segundo fosse uma eternidade onde os dois não tinham certeza do que dizer. Lars se debruçava na ilha entre a sala de estar e cozinha enquanto Sadie estava encolhida no sofá.
㇐ A gente pode escutar alguma coisa por enquanto, a massa tá descansando pra ir pro forno ㇐ Lars disse colocando um clipe antigo para tocar na televisão da sala;
Era um clássico de Kerry Moonbeam, o que sempre tocava sempre nas rádios jurássicas que não saíam das caixas de som no Big Donut. Os funcionários eram instruídos a deixar apenas essa rádio tocar, regra que era obedecida rigorosamente… Nos primeiros seis meses. Eles sabiam a letra e tinham o coral já definido para determinadas seções das músicas. Os dois não trocaram palavras, muito menos olhares; Até que Lars começou a cantarolar a canção.
Era um momento de paz em meio a aquela aura pesada, momento que replicava os "dias simples" do verão no primeiro médio. Sadie logo correspondeu aos sussurros, e aos poucos o dueto aumentava de volume.
Naquele momento a música dominou os dois, era a performance perfeita pela sala de estar, eles expandiram o 'palco' para praticamente todo o andar inferior da casa que ecoava todas as notas agudas desengonçadas. Essa era a música deles, uma triste porém esperançosa balada, perdida no meio de um disco experimental de glam rock que comemorava o fato de que não se precisava de dinheiro nas estrelas.
Essa música era seu passado. Era a curiosidade e ansiedade por mais interações e ocasionais beijos na cozinha; Era sua conexão que fora enterrada por tudo de pior nos dois; Mas em um piscar de olhos a música havia parado e todas as luzes apagaram. A energia tinha acabado mais uma vez, provavelmente em mais uma tentativa de ajustar as gems recém chegadas.
㇐ Você tá com seu celular? ㇐ Perguntou Lars tentando encontrar a garota no escuro;
㇐ Estava por aqui no balcã- ㇐ A frase foi interrompida por um grunhindo de dor.
㇐ Sadie? O que aconteceu? ㇐ Ele disse seguindo o som da voz de Sadie;
㇐ Só me queimei no seu forninho velho ㇐ Disse a garota agora também tentando encontrá-lo;
㇐ Sadie, você tem ideia de onde você tá agora? ㇐ Exclamou Lars com a uma voz preocupada.
㇐ Talvez eu tenha alguma ideia ㇐ A mais baixa respondeu com uma risada fraca, cutucando as costas do garoto.
Ele se ajoelhou se adequando à altura dela e procurava sua mão apenas com o tato. Era um silêncio barulhento, os toques eram invasivos mas familiares e por algum motivo eram muito bem recebidos.
㇐ Me desculpa...
㇐ Pelo que? ㇐ Sadie perguntou sabendo as respostas.
Nesse momento um leve brilho rosa se acendia entre as mãos dos dois, e a dor de Sadie se aliviou; Não era uma estabelecida cura, mas quase um anestesiante. E em seguida eles se olham, com seus rostos iluminados em cor de rosa. As luzes da sala se acendem e o brilho rosa perde seu vigor. As crianças da vizinhança gritam comemorando e Sadie se força a desviar o olhar, assim como Lars afasta sua mão.
㇐ Você tem os poderes dele?
㇐ Acho que só queria te aliviar
Eles parecem paralisados e o silêncio constrangedor marca presença novamente.
㇐ Acho melhor eu pegar minhas coisas ㇐ Disse Sadie procurando sua mochila.
㇐ O que você achar melhor ㇐ Respondeu Lars agora sentado no sofá.
Sadie pegou sua mochila e Lars abriu a porta; Eles trocaram olhares por um momento, ainda que breve. Ele não podia se afastar da porta mesmo depois da saída da garota, e ali ficou por minutos, até que a campainha fora tocada; E mais uma vez a porta foi aberta com pressa.
㇐ Eu vi ela subindo a rua, tá tudo bem? ㇐ Steven disse com olhar preocupado;
㇐ Não se preocupa comigo garoto, vamos assar uns pães ㇐ Lars respondeu tentando encobrir seu desânimo.
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