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História Find You - Blackie


Escrita por: BluelionS e pandinne

Capítulo 2 - Blackie


 

Era uma eterna escuridão ao redor do mago até relógios aparecerem à sua volta. Ele encarava tudo com indiferença, mesmo que fosse a sua primeira vez ali. Os ponteiros giravam ao contrário numa rapidez inimaginável, parando somente quando o vidro que os protege quebrou, voando na direção de seu rosto. A reação dele foi cobrir os olhos com os braços para impedir que os cacos chegassem em sua face.

Então, como se entrasse em outra dimensão, uma brisa agradável passou por seu corpo. O cheiro da grama verde e som dos pássaros um pouco longe de si o deixou confuso por um tempo.

Quando ele abriu os olhos novamente, estava deitado no gramado com apenas árvores ao redor e o céu quase coberto pelas copas de folhas verdes. Sua visão então ficou turva suavemente ao se lembrar da época em que acordara, mas nem teve tempo para sua mente nublada de memórias nostálgicas quando passos apressados e choramingos de um animal foram ouvidos tão perto dele.

E foi então que, o tombar de um corpinho miúdo ao lado de sua cabeça deitada na grama, foi o suficiente para fazê-lo encarar aqueles olhos redondos e infantis.

"Peguei você!" Ele escutou aquela vozinha, assim que um puxão forte em seu cabelo foi o bastante para fazê-lo abrir os olhos novamente. Sua mão esquerda propositalmente agarrava uma fera preta assustada, que tentava fugir para dentro da floresta acuada.

Oh, sim... Isso já aconteceu...  — Ele pensou enquanto sentava para encarar a criança loira, que agora segurava suas mechas longas e negras entre as mãozinhas miúdas.

"Puxar o cabelo de um desconhecido é falta de educação. Solte já." Ele disse fingindo indiferença ao encarar o rostinho confuso e curioso da criança loira à sua frente.

"Quem... Quem é você?" Ela enfim perguntou, assustada. "Muitas pessoas não são permitidas aqui. Então por que você...?"

"Eu peguei isso." Ele mostrou o filhote sagrado em suas mãos, acuado e choroso.

"Blackie!" A menina observou o bichinho, surpresa. Era o mesmo animal que ela havia visto segundos atrás, e por isso o perseguiu até chegar no rapaz. As bochechas dela levemente tomaram rubor assim como seus olhos cintilavam lindamente. Os lábios foram abrindo lentamente para formar um sorriso infantil, que logo deu lugar às suas palavras curiosas: "O auau... é seu?"

O rapaz foi capaz de sentir um leve desapontamento no tom da voz dela, como se soubesse que a garota quisesse o bichinho para si. Ele logo teve de segurar a risada, pois não queria deixá-la desconfortável perto de si, por mais que fosse costume seu fazer isso.

"Você nunca viu um desse antes?" Ele fingiu estar confuso, até ouvir passos perto do local em que estavam.

Sem demonstrar à garota, ele aguçou seus próprios sentidos, que buscaram minuciosamente todos seres próximos ao seu redor. Quando sua magia identificou os humanos, ele percebeu que todos estavam à procura dela.

"Princesa? Onde você está?" A voz de um dos cuidadores da princesa acabou por ecoar próxima, dando a garota a possibilidade de escutar.

A princesa logo se prontificou a chamar o guarda que estava à sua procura, mas o mago não queria ser incomodado naquele momento. Por isso estalou os dedos para que eles não pudessem ser vistos e encontrados no momento.

"Felix!" A garota exclamou quando o guarda passou por ela, continuando sua busca como se ela não estivesse ali. E, então, outro estalar de dedos. Agora o ruivo dizia coisas desconexas como aprender a língua de Arlanta para poder falar com a pequena novamente.

Sem entender o que estava acontecendo, ela estreitou as sobrancelhas e olhou para o moreno ao seu lado. Ela havia escutado os estalos dos dedos dele naquela hora e, num passe de mágica, ninguém mais os escutava e os viam ali naquele gramado. Algumas das vezes, por mais jovem que fosse, ela havia escutado de seus professores sobre os magos.

"O que... o que você fez? Você é algum tipo de mago?" Ela indagou, curiosa e surpresa. Queria realmente entender se aquilo que aconteceu foi mesmo mágica. E, se foi, ela também queria saber se ele poderia lhe mostrar outras. "Pode fazer outras coisas também?"

Ele a observou, atento. Quase não se lembrava mais da forma pequena da princesa de Obelia, uma criança desastrada e ingênua. Seus cabelos longos e loiros pareciam ser feitos de ouro, brilhando ao reflexo do sol. Os olhos azuis pareciam uma pedra safira polida pelas mãos do mais belo artista.

Vencido pela nostalgia, ele suspirou entre um sorrisinho de canto, antes de responder a pergunta da princesa. "Está surpresa com algo como aquilo?" E sorriu gentil, vendo como ela abaixava a cabeça envergonhada. "Sou um mago poderoso e bonito, não acha?"

E ele realmente era tão bonito quanto poderoso. Os cabelos negros eram longos até o meio de suas costas. Os olhos eram um vermelho ardente, como um rubi lapidado. E abaixo de um deles havia uma linda marca de beleza – uma pinta adorável, que o dava um semblante charmoso.

 Seu sorriso era cativante, assim como sua voz que parecia sair cantarolada num tom sempre adulado e rouco. Com exceção de seu corpo esguio, sem muito esbanjar músculos por debaixo de suas vestes, que sempre eram como as de um príncipe; tudo em si era espetacular. Até mesmo o cheiro de sua pele que exalava aroma de flores misturadas a uma leve nota de amadeirado.

"Que autoconfiança, senhor mago." A risada infantil da garota entrou nos ouvidos do moreno, fazendo-o relaxar.

"Apenas disse fatos." Ele deu de ombros, sem tirar os olhos daquele sorriso gracioso que o acalentava.

"Você não é o dono do auau, certo?" A garota perguntou, sem conseguir esconder sua curiosidade. O mago balançou a cabeça em negação.

"Você que é a dona deste vira-lata. Ele nasceu da sua energia mágica." Ao dizer isso, o moreno entregou o bicho para ela, que o acolheu em seu colo.

A princesa piscou os olhos diversas vezes, como se um ponto de exclamação se desenhasse em seu rosto. E nesse instante, o mago se aproximou e tocou-lhe o queixo com uma mão, puxando-a para perto sem se importar com o barulho surpreso vindo dela.

"Julgando pelos seus olhos, você deve ser descendente de algum sangue real." Ele disse com convicção, observando aquele rostinho como se vasculhasse algo nos poros dela. Ele precisava fingir que não sabia de nada e assim não se tornar óbvio, de qualquer forma. "Filha de Kyilum, talvez?"

"Este não é meu papai!" Ela tentou se afastar usando suas mãozinhas, mas falhou por não ter força.

"Talvez eu tenha dormido mais do que pensei." Ele murmurou olhando para cima, pensativo. Depois voltou a encará-la e tornou a deduzir: "Talvez filha de Aethernitas?"

"Do que você está falando? Meu papai se chama Claude!"

Claude. Ele havia se esquecido desse nome.

"Claude? Esse é o nome do atual imperador?" Ela concordou, e então ele foi capaz de rir. "HaHaHa! O que é isso? Eu dormi enquanto havia uma revolução?" E continuou rindo. A princesa ao seu lado ficou confusa, não entendendo o que o mago estava dizendo.

Enquanto isso, suas mãozinhas acariciavam o pelo negro de Blackie, dispondo no animal um carinho que o fazia grunhir de satisfação. Mas, de repente, uma forte magia esbanjou do pequeno corpo feminino em resposta àqueles afagos. Era como uma explosão cinética, fazendo com que os cabelos dourados flutuassem como se uma rajada forte de vento saísse carregando tudo.

O moreno ficou surpreso e eufórico. Ele rapidamente segurou o pequeno rosto uma vez mais, com força. Estava muito curioso com o que acabava de acontecer. Nem quando havia encontrado a garota no passado, nessa mesma situação, foi capaz de sentir tamanha presença irradiando do corpo dela. Algo estava diferente. E quando percebeu o que ocorria, seu âmago revirou-se em decepção e mágoa.

Aquela não era mais sua Athanasia, aquela que ele voltou no tempo para salvar...

"Por que isso aconteceu?" Ele indagou de forma dolorosa, sua garganta começava a doer pelo nó que instantaneamente apertou em seu pescoço.

O mago engoliu seco e balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos. Voltou a encarar a garotinha e então percebeu que o aperto de suas mãos no rostinho dela estava machucando, fazendo-o instantaneamente largar e respirar fundo para acalmar seu peito dolorido.

Para mudar o clima, ele olhou para a besta que estava no colo dela e apontou. "...Isso é um animal sagrado."

Ao citar o animal, ele se encolheu ainda mais no colo dela, acuado.

"Animal sagrado?" A garota enfim teve a possibilidade de perguntar algo, seus olhos piscando diversas vezes, de tão confusa ela ficava a cada segundo que se passava. "O que é um?"

"Você não sabe o que é mágica. Nunca viu um mago. Nem sabe o que é um animal sagrado. Em que raios de calabouço te esconderam esse tempo todo?" O mago parecia indiferente às perguntas dela até então, mas cruzou os braços com uma expressão irritada ao mesmo tempo curioso de que muitas coisas eram realmente diferentes.

"Apenas me diga, senhor mago."

"Tsc. Ele é a essência do seu poder mágico. Ou mana. Quando crescer, ele devolve sua mana de volta para que você possa usá-la, como favor. Nasce quando o dono tem uma grande quantidade de mana. Normalmente, eles nunca tentam deixar o dono." Ele olhou de relance para o bicho, que se contorceu no colo da princesa devido ao olhar escarlate o intimidar. "Talvez esteja tímido?"

"Então isso significa que eu sou uma grande feiticeira?!" A princesa indagou animada, olhando para o moreno.

"Bom, você parece ter algum potencial." Ele sorriu, dando de ombros.

"Obrigada por me avisar, senhor mago! Athy deve ir-..." Infelizmente ela não pôde terminar sua frase, já que o pequeno animal foi tirado de seus braços pelo mago. Ao vê-lo tomar o bichinho de si, ela o encarou novamente sem entender o que acontecia. "Por que está tomando o Blackie?"

"E quando eu disse que estava dando-o para você?" O mago retrucou, encarando-a com a sobrancelha arqueada.

"Mas você não disse que Blackie é da Athy?" Ela olhou o moreno, incrédula.

"O que você está dizendo? Eu o encontrei, então é meu. Cabe a mim cozinhar o que eu quiser." Ele quis rir quando a garotinha arregalou os olhos assustada, e gritou pedindo para devolver o animal para ela.

"Me devolva o Blackie! O que irá fazer com ele?!"

"Como assim o que irei fazer?! Uma pessoa precisa dormir quando está cansada e comer quando está com fome." O moreno respondeu com desdém, enquanto a princesa pulava desesperadamente para conseguir alcançar sua mão ocupada com o cachorro preto. "Eu dormi mais tempo do que pensei, minha mana está fraca. Se eu comê-lo, terei minhas energias recuperadas."

A garota gritou assustada quando ele terminou a frase, tentando de todo o jeito salvar o cachorro das mãos do mago.

"Devolva o Blackie!" Ela ordenou, desesperada.

Ignorando a princesa, ele continuou falando: "Você não precisa disso. Pode viver sua vida sem mana como antes."

"Athy não quer saber se você está fraco ou não! Devolva o Blackie para Athy, agora!"

O rapaz então pensou consigo mesmo que talvez fosse mais interessante ver como as coisas iriam acontecer dali para frente.

"Então que tal isso? Irei adiar até que esse vira-lata esteja crescido." E sorriu para ela, sugestivo.

"O que você quer dizer com crescido? Por que eu concordaria com isso?!"

"Porque... Se você se envolver com essa bola de pelos, você irá morrer."

A princesa se perdeu nos olhos vermelhos brilhantes do mago, profundos e misteriosos. "Morrer?"

Ele concordou.

"Quanto mais tempo você passa acariciando esse animal, sua mana retorna ao seu corpo, e com isso pode ocorrer uma explosão de mana. Sabe o que é isso?" A loira negou e ele continuou: "Você pode sentir dor por dias ou não acordar por meses." Os olhos rubis se arregalaram para expressar com mais efusão o que dizia. "Se você continuar com esse vira-lata, pode se machucar. Estou poupando você."

"Mas... você vai comê-lo?" Ela perguntou com um biquinho, os olhinhos tremendo de receio. Ele colocou a mão em frente ao rosto para esconder sua risada. "Não ria de Athy!"

"Desculpe, desculpe. Eu não irei, prometo a você." Ele se ajoelhou em frente a menina com um sorriso gentil dominando seu rosto. Sua mão foi em direção à cabeça da loira sem ele mesmo perceber, acariciando os fios dourados.

"Como Athy pode confiar em você?" Ela cruzou os braços, fazendo birra.

"Magos não voltam atrás com sua palavra." Ele sorriu com os olhos ao dizer isso. Mas a garota continuou lá, com uma expressão indiferente em seu rosto, tornando-a ainda mais fofa. "Okay... Então vamos de um acordo. Você me deixa levá-lo e eu irei cuidar de Blackie até ele ficar adulto. Você pode fazer visitas diárias." Ao escutar isso, os olhos de joia azul safira se iluminaram, e ela sorriu brilhante. "Porém, apenas por duas horas."

"Está ótimo, pelo menos Athy terá certeza de que você não o comeu." Aquele sorrisinho inocente ficou ainda maior, e o mago retribuiu. Ao ver que ele fazia menção de levantar após bagunçar-lhe os cabelos novamente, ela voltou a fazer uma pergunta: "Você vai embora?"

"Por algumas horas, mas irei voltar a visitá-la novamente." Ele respondeu ao pegar Blackie das mãos da princesa, que ficou receosa, mas não reclamou. "Aliás, qual é seu nome?"

"...Athanasia. Athanasia de Alger Obelia."

Ele sorriu lindamente ao escutar aquele nome.

"Que belo nome para uma princesa real. Me chame de Lucas da próxima vez."

E então ele estalou os dedos, saindo de perto da loira.

Suspirando fundo, ele olhou para o animal preso em seus braços e pensou consigo mesmo: "Você não é minha Athanasia, mas eu gostei de você."

⋨⍟⋩

Foi só questão de tempo para a noite aparecer e Lily colocar Athanasia para descansar. A princesa, entretanto, sentia-se traída pelo mago que prometera retornar um tempo depois do encontro que tiveram no jardim.

Ela se revirou na cama, às bochechas infladas de raiva. A raiva que instantaneamente desapareceu quando sentiu suas mechas loiras serem acariciadas. Ao olhar para o lado e encontrar duas orbes rubis à sua frente, ela logo sentou na cama, assustada.

"Você demorou!" Ela reclamou, irritada. O mago apenas se divertiu com a garota.

"Peço perdão. Eu não podia visitá-la, já que não é comum um homem adulto se encontrar com uma criança de dez anos livremente."

"Mas você é um mago! Não pode se transformar ou algo do tipo?"

Ao escutar aquilo, os dedos de Lucas, que estavam enrolando os cabelos loiros de Athanasia, pararam o que fazia.

"E então, que tal?" Divertido, ele sorriu enquanto estalava os dedos, se transformando em uma criança assim como a princesa.

"Fofo." Ouvir isso agradou o mago, que respondeu com uma risada. "Mas seus cabelos continuam grandes!"

"Prefere que eu deixe curto?"

Ela pensou por alguns segundos, mas em seguida balançou a cabeça com um sorriso fofo.

"Não! Combina com você... Pode deixar seu cabelo grande para Athy fazer trancinhas e enfeitá-lo com flores?" Ela se aproximou do moreno animada, os olhos safira brilhando mesmo no escuro. Lucas suspirou e segurou a mão da princesa, fazendo-a se acalmar.

"Sim, sim. Tudo bem, mas apenas deixarei assim que você se acalmar." Ele propôs com um sorriso calmo. Athanasia assentiu, e um sorriso brilhante apareceu em seu rosto. "Agora você precisa dormir. Amanhã vamos ver Blackie após o almoço." A frase parece ter animado ainda mais a menina, o que fez o mago apenas suspirar cansado. "Mas eu não irei levá-la se você não for dormir."

"Eu vou, eu vou!" Ela jogou sua cabeça de volta para o travesseiro, sem se importar que o mago ainda estivesse ao seu lado com um sorriso sapeca no rosto. "Lucas?"

"Hmm?"

Athanasia sentiu-se mergulhar em um mundo vermelho após encarar as belas orbes rubi do mago. "Obrigada."

Lucas a encarou surpreso, antes de acariciar novamente os cabelos dourados da princesa. Suas bochechas doíam um pouco pela contração graças ao sorriso, mas ele apenas ignorou.

"Não há de que, Princesa." E então ele deu um peteleco na testa de Athanasia, fazendo com que a magia fluísse da ponta de seus dedos para fazê-la cair em um sonho instantâneo. "E durma bem também."

Ele deveria ir logo embora, mas preferiu ficar um pouco mais apenas de precaução. Estava pensativo já que o que ele tinha em mente antes não ocorreu de acordo com o planejado. Ela era Athanasia, a princesa real, porém suas almas eram totalmente diferentes uma da outra. Lucas sentiu receio e medo ao pensar no que poderia ter acontecido com a alma de sua amiga.

Ele engoliu em seco e se levantou, partindo em direção à sua torre. Mas não sem antes assinar um bilhete em um papel ao lado da Athanasia adormecida.



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