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História Fiquei com seu número - Vibradores


Escrita por: 1dayus

Capítulo 16 - Vibradores


 

2 horas antes do acidente...

Clarke

Aqui vai o pior paradigma de toda essa história.

Uma hora ou outra, as coisas vão ficar tão complicadas e impossíveis, que você vai se sentir largado, jogado, afundando na merda.

Sem dúvidas é assim que eu me sinto.

Eu acabei me ferrando por completo. 

AS COISA SAÍRAM DO CONTROLE DE UMA FORMA TÃO DOLOROSA PARA MIM, e você deve estar me achando uma dramática, "Clarke Griffin você é tão mimada e tão dramática..."

Não é como se eu não tivesse antecipado isso, pelo menos no fundo da minha pele, eu sentia. Tipo como quando os animais sentem uma catástrofe natural e fogem o mais rápido que podem, enquanto os humanos comportam-se como os idiotas que são.

Abby Griffin está conspirando com Lexa. 

Certamente, não preciso de qualquer tipo de entretenimento de cultura pop, não quando o maior espetáculo de mentiras acontece bem na minha frente.

Talvez, eu tenha sido vítima de um plano minuciosamente orquestrado de subtração.

E o pior? Não dou a mínima pra isso. É com meu coração confuso que me preocupo. Estava tão perto, tão, tão perto, de confessar que talvez, não conseguisse mais me imaginar distante de Lexa. Irônico, não? Porque logo depois, descubro que pra ela, sou uma "ferramenta" uma "coisa no meio do caminho."

Lexa, continue distraindo-a. Eu ainda não terminei aqui. Monty

Lexa...

Uma ladra ardilosa, trapaceira, mentirosa e prepotente

Definitivamente, não posso mais ficar parada, sentindo a merda feder.

É em frente a porta da casa de Costia, que me dou conta de uma coisa...

A verdade é que, eu estaria bem melhor interpretando uma bissexual sem sorte, em um seriado pós-apocalíptico, escrito por um idiota. Não me surpreende que se eu fosse uma personagem de fanfic, eu também teria uma vida fodida.

- ABRA A PORTA, COSTIA. NÃO ADIANTA FINGIR QUE NÃO TÁ AÍ... – Bato repetidas vezes. – EU SEI QUE VOCÊ TÁ AÍ. VAMOS, ABRA.

Nada, dá até pra ouvir a respiração pesada da demônia atrás da porta.

- EU NÃO ESTOU BRINCANDO SUA PUTA... VOU CONTAR ATÉ TRÊS.

- Ô loira tu tá armada? – Sua voz é abafada e trêmula. Repentina.

- Você pode abrir sem medo, querida. Não quero machucá-la. 

Quase um minuto depois, a porta se abre. Costia está segurando o cabo de uma vassoura e sua expressão é de completo pânico.

- Não há necessidade para isso. - Digo, atravessando a porta e me dirigindo até o seu estoque de bebidas.

- Pareceu que você ia atear fogo em toda a vizinhança. Você tá bem?

Ignorei.

- Ei, o que aconteceu?

Permaneci em silêncio, queria ver até onde Costia sabia das coisas. Fui até sua geladeira e bebi todo o suco de laranja e as sobras de um sanduiche de frango natural.

Queria mesmo era algo que corroesse todos os meus sentimentos.

Em nenhum momento, absolutamente nenhum, iria admitir, que tudo havia me... magoado.

Começa a doer como se nunca fosse parar.

Inferno! Eles quebraram a droga do meu coração.

Se Lexa e os outros estavam mentindo. Se tinham um esquema criminoso, ou um plano maligno contra mim, eu cortaria todos os laços. Me tornaria um maldito animal da floresta, sozinho.

Pelos menos Costia não mentia pra mim. Não é?

- Estou começando a ficar preocupada. - Ela suspirou. Estava bem ao meu lado, olhando-me como suspeita.

Enfiei mais comida na boca, agora bebendo uma lata de cerveja.

- Contei tudo pra ela. Fui sincera, abri meu coração mesmo. E a safada usou de artimanhas sexuais pra me distrair. Confessei que a havia seguido, e que desconfiava que estava com tramas ilegais em parceria com meus amigos. Até falei da arma que Abby passou pra ela como se fosse um brinquedo. Você nem deve imaginar o que ela disse em resposta. – Suspirei.

- Na verdade, eu posso imaginar sim. – Respondeu meio distante.

- Me veio com uma desculpinha esfarrapada sobre ajudar pessoas com maconha medicinal.

- Você acreditou?

- Costia, eu acabei de falar que achei uma desculpinha esfarrapada.

- Mas, você não acreditou, né?

- Af. De que lado você está? – Perguntei sem rodeios. Esse era o motivo de eu estar ali.

- Te falei que ela não é de confiança. – Sussurrou, como quem acaba de contar um segredo.

- Ah é? Disse também que eu ''devia me permitir mais."

- Me referia ao seu estilo de vida. Você não faz nada!

- Você mal me conhece. – Rebato, quase com ingratidão e raiva.

- É, mal te conheço.

- Tá ofendida? Parece que tá.

- Não?!

- Estou saturada de todo esse drama mexicano. – Confesso, pronta pra debruçar em alguma coisa.

- Clarke, o que ela te disse? – Sua voz foi travada.

- Mentiras. Ela é tão irritantemente m e n t i r o s a.

- Aposto que é.

- Todos são. UM BANDO DE COBRAS VENENOSAS E TRAIÇOEIRAS.

Berrei pra todos os cantos.

- E você é louca pra caralho. – Constatou a morena, deixando-me sozinha na cozinha. Imediatamente segui Costia até a sala.

- Quando fizeram de mim um alvo?

- Não deixe que a raiva acabe te cegando. – Tocou meu ombro, pisando em ovos. Ela sabia da minha instabilidade.

- Agora você é psicóloga por acaso?

Seu silêncio pareceu uma sentença pesada.

Quase que choro. Eu queria chorar, tipo uma adolescente que teve seu coração partido pela primeira vez. Talvez fosse.

- Apenas me diga, Costia. Eu sou uma trouxa? - Sussurrei. Cansada e um pouco torpe.

- Um pouco, amiga. Mas, tu também mudaste muito.

- Repito, você nem me conhece.

Ela não disse mais nada, e eu quase adormeci abraçada com duas almofadas do sofá. Mas, então...

- Você não tem culpa de ter sido metida em toda essa cagada que nós planejamos. - Ela rapidamente se levantou, depois de pronunciar as palavras que embolaram o meu estômago.

A VACA ACHOU QUE EU TIVESSE DORMINDO.

Mas, eu ouvi.

- O que você quer dizer com isso? - Tive muita dificuldade em levantar. Embora sentisse meus olhos saltando das órbitas, quase pegando fogo.

- Você devia dormir, Clarke.

- DORMIR O CARALHO. O QUE VOCÊ QUIS DIZER COM "CAGADA QUE NÓS PLANEJAMOS"? - Berrei, eu iria matar Costia. Eu tinha certeza que passaria os próximos meses na cadeia por um homicídio.

- Olha só pra você, nem está falando coisa com coisa. - Ela se esquivou atrás da bancada  da sua cozinha.

Iria matá-la.

Estava decidido.

- Você ouviu coisas, bobinha. Acho que bebeu demais...

Culpada.

Avancei na direção de Costia, apontando em sua direção, o único objeto cortante que consegui encontrar por ali, uma tesoura com ponta redonda.

- LOIRA, TU NÃO QUERES FAZER ISSO. - Gritou, assustada.

Por descuido meu, Costia acabou fugindo para o banheiro mais próximo. Por cinco segundos, permaneci em silêncio, analisando, ponderando...

Mas, calma e paciência não eram características de minha personalidade.

- EU VOU TE MATAR, SUA FALSA DO CARALHO. FALSIANE, É ISSO QUE VOCÊ É, COSTIA. UMA PUTA FALSIANE.

Quem mais estaria mentindo bem debaixo do meu nariz? 

- Clarke, você está parecendo a Raven falando assim. - Ela rebateu, estávamos travando uma luta, ela para não me deixar entrar no banheiro e eu empurrando a porta do mesmo. Eu só queria bater em alguma coisa.

Respirar fundo, contar até dez, acalme-se. Um dia você vai rir disso tudo.

- Você tem duas opções, me contar a verdade ou ficar presa nesse banheiro pra sempre.

Ela demorou a reagir. Já estava me preparando para abrir a fechadura com a tesoura. Quando uma brechinha fora aberta e sua cara de tacho misturou-se à um sorriso nervoso. 

- Eu vou contar, eu vou contar. - Ela disse em rendição.

Então...

Vinte e cinco minutos depois...

Todas as palavras foram extintas do meu cérebro.

Eu não só havia sido vítima de um plano bem orquestrado, como havia caído em todos os jogos.

Não era mais uma questão de "mentirinha da namoradinha."

Era um crime.

Um crime.

Nunca em todos os meus anos de vida, alguém havia brincado comigo da forma que todos brincaram.

O problema de uma traição nessa magnitude, é que ela arde em todos os lugares.

Costia havia saído para pegar bebidas.

Permaneci largada, perto da privada. Eu não era a pessoa que fazia cagadas ou que sentia a merda fedendo pela cagada dos outros, eu era, em toda a minha glória e esplendor, a MALDITA PRIVADA.

- Clarke, toma aqui, um calmante. Tente não tomar decisões precipitadas. – Ela tava debochando de mim.

- Seria precipitado se eu amassasse sua cara no asfalto? 

Aqui, nesse ponto da história, você vai perceber que cometi, talvez, um erro fatal. Álcool e calmantes são uma combinação perigosa. Costia, sem querer, havia acabado de decretar uma sentença de morte.

Todas as coisas que eu achei serem coincidências, eram arranjos teatrais, muito bem escritos, pela mente engenhosa de Lexa.

- Você poderia ligar para Bruce e os meninos, eu realmente preciso me distrair. - Disse, tentando colocar em ação o plano que se formava em minha mente. Costia hesitou por um tempo, mas cedeu.

Quase uma hora depois, eles entraram carregando caixas de cerveja, com sorrisos animados e suas piadinhas escrotas, barbas e tatuagens de caveiras. Era realmente bom vê-los novamente. Atingiu-me que talvez, aqueles motoqueiros que esbarrei aleatoriamente em um bar, numa noite ruim, eram os únicos personagens deste enredo, que não estavam mentindo drasticamente para mim. Talvez.

Não se pode confiar em ninguém quando têm um preço de 1,5 milhões na minha cabeça. Ou melhor, no dedo.

- LOIRA. - Bruce me pegou pelo colo e balançando-me animadamente. Senti como se algo estivesse prestes a sair do meu corpo.

- CACHAÇA! – Foi tudo que consegui verbalizar.

Quando ele me colocou no chão, em um movimento rápido e ágil, difícil de acreditar diante das minhas condições, pego as chaves de sua motocicleta penduradas na sua calça.

O tempo foi se arrastando, e as coisas estavam começando a ficar esquisitas, a morena vez ou outra direcionava seus olhares desconfiados e furtivos. Queria arrancar suas vísceras por ter me enganado todo esse tempo. Costia nem ao menos era a EX MELHOR AMIGA PSICÓTICA DE LEXA. Mas, ela tinha coragem, vamos dar crédito a isso. 

Por ter me contado a verdade, ela também tinha uma parcela limitada da minha gratidão.

- Lexa mudou, ela não é mais assim, em partes. Ela mudou, ela mudou mesmo.

- Mudando ou não, nada vai apagar a forma cruel como todos vocês mentiram.

Caminhei decidida até o corredor próximo ao banheiro.

- Vou ao banheiro. – Informei.

- Eu vou contigo.

- Acha que eu tenho uma arma na boceta? Me poupe, eu sei mijar sozinha- Rebati, e dei um sorriso tranquilizador.

Nem liguei. Saí pelas portas dos fundos. A mesma que eu tinha entrado na noite em que Lexa e eu invadimos a casa da "suposta ex." IDIOTA, IDIOTA. Praguejei, batendo a mão na testa.

Não foi difícil identificar a motocicleta de Bruce. Tava escrito "BRUCE O MELHOR" em uma fonte brega adesivada ao tanque da gerigonça.

Queria distância. Queria ir o mais longe que conseguisse, pelo menos com os 50 dólares que tinha no bolso. 

A trouxa que deixou de ser trouxa e fugiu do poço de trouxismo.

Clarke Griffin, burra não mais.

Liguei a moto. Tentando lembrar das lições de pilotagem. Minha visão estava meio embaçada, os dedos dormentes, mas nada disso seria capaz de me parar.

Era idiotice pilotar em estado de embriaguez. Embora, eu tenha sido uma idiota por muito mais tempo e não morri. 

Saí devagarinho.

Já sentindo o vento frio batendo no meu rosto. Sorri. Há algo muito libertador em fazer exatamente aquilo que você não deveria fazer. Pensar que estava deixando toda aquela canalhice pra trás me reconfortava.

Apesar de estar a menos de 80km por hora. Uma força dominadora despertava em mim, finalmente, estava fazendo algo sozinha, sem manipulações.

Alguém havia roubado meu anel de noivado.

E alguém havia contratado Lexa, para criar uma história de distração perfeita. Era isso que ela fazia, criava rotas de fugas para ladrões de joias e sabe-se lá o que mais.

E eu havia caído direitinho no joguinho dela.

Ela fazia isso profissionalmente.

Como pude ser tão burra?

Segundos depois, avistei o poste, e tudo ficou preto.

AQUI ESTÁ O QUE OS ROTEIRISTAS CHAMAM DE

"PLOT TWIST"

 

- Ela já sabe de tudo, Abby. Não me surpreenderia se Clarke atirasse em nós, ou tentasse se matar novamente.

- Bata na sua cara, antes que eu bata.

- E se ela perdeu a cabeça?

- Calada.

Os sussurros e a conversa sem sentido estavam realmente me fazendo perder a cabeça. Sem falar na dor aguda que sentia atrás dela, como se estivessem martelando agulhas super finas dentro do meu crânio.

Queria ficar de olhos fechados, mas a dor e o odor inconfundível de hospital estavam me incomodando demais para que eu ficasse quieta.

- Onde estou? – A voz saiu seca e fraca.

- Clarke, você me assustou tanto. - Abby praticamente se jogou em cima de mim, aquilo me rendeu várias dores bem chatinhas.

- Estou na merda? - Perguntei um pouco insegura.

Sabia que estava em um hospital, e tinha plena noção dos meus ferimentos.

Mas, o que aconteceu?

- Seria estranho se não estivesse. – Raven Reys gargalha.

Abby trocou um olhar com minha melhor amiga, o que diabos elas estavam escondendo?

O clima pesou. A tensão das duas estava me deixando tensa o bastante pra querer fugir dali. 

- Vejo que a motoqueira finalmente acordou. - Uma voz jovial e alta me chamou a atenção. - Desculpa, eu não devia... é errado fazer piadas sobre isso. Você não é motoqueira, visto que caiu de um jeito ridículo, é... - A mulher continuou a tagarelar, eu queria muito rir da situação, mas a minha dor na cabeça não me permitiu fazer qualquer expressão facial.

- Você é a médica? - Raven questionou, uma sobrancelha arqueada.

- Alguém pode me falar o que porra está acontecendo? - Cortei, irritada com a falta de respostas.

- Claro, certo... Clarke Griffin. - A médica focou seu olhar na prancheta, e franziu a testa, confusa. - Você teve um acidente, de moto. Não lembra? É claro que não, você sofreu uma baita pancada na cabeça. Certo. - Ela dialogava consigo, achei aquilo adorável.

- Você tem certeza que é a médica? - Raven insistiu.

A suposta médica atrapalhada cortou Raven com um olhar severo.

Inevitavelmente eu ri.

- Isso não é nada profissional. Me desculpem. – Retratou-se, mas não parecia arrependida de sua conduta antiética.

Essas coisas definitivamente só aconteciam comigo.

O mais estranho era que... A última vez que subira numa moto, eu tinha 17 anos. Não lembrava de acidente nenhum...

MERDA?

SERÁ QUE DORMI TODO ESSE TEMPO?

MERDA.

Calma, respira. Certo. Está tudo bem, eu só preciso fazer perguntas...

- Raven, você não estava na galeria?

Mais que confusão, em mim, crescia aquela familiar sensação de desespero, bem aguda.

- Galeria? Clarke, do que está falando? - Ela se aproximou de mim e nossa!!!

A briga na galeria havia mesmo acontecido?

- Nós estávamos na galeria e você apareceu só de camisola, fez um barraco. RAVEN VOCÊ ME MANDOU PARA ESSE HOSPITAL? Sua VACA. - Disse finalmente me dando conta de que eu estava aqui por causa dos surtos da Raven.

As três pessoas no quarto se entre olharam. 

- Acho que temos um probleminha aqui. - A médica falou.

- Clarke, qual a sua última lembrança? – Minha mãe se meteu.

- Bem... - Meu cérebro parecia ter um grande vácuo e por alguma razão isso me assustava. Eu lembrava que... - Você estava no banheiro com Anya e... - Parei rapidamente, as náuseas me impedindo de terminar o que estava falando.

Então a lembrança de um certo rosto, e de um par de olhos quentes e malandros tomou conta de tudo que parecia estar faltando no meu cérebro. É... então foi isso que aconteceu.

- Clarke? – As três falaram meu nome ao mesmo tempo, incentivando, como expectadoras de uma tragédia shakespeariana

- Lexa estava dando um discurso... Octavia e eu, é...

Eu lembrava claramente de todos os eventos da Galeria.

- Se esforce um pouco mais, Clarke. Não consegue lembrar de nada depois disso? - A médica sentou-se ao meu lado, checando os meus sinais vitais na tela perto da cama.

NADA.

- Eu... não lembro.

Era tãoooo frustrante.

- Ok, Clarke. Você sofreu um acidente. Talvez você tenha passado por uma situação muito estressante antes do acidente. Misturando-se a perca de sangue e a batida na cabeça... Temos então uma perda de memória recente decorrente de uma concussão cerebral e o agravante pós-traumático.

A médica continuou falando, mas tudo que eu conseguia focar, era nos olhares sonsos das outras duas pessoas dentro do quarto.

- Você me ouviu, senhorita Griffin? – Quase que invadindo todo o meu espaço, ela se inclina para chegar minha temperatura.

- Sim?

- Com o descanso propenso, tenho certeza que você vai lembrar de tudo.

Estranhamente Abby fez cara feia.

- Quais as chances de ela não lembrar de nada?

Abby Griffin...

- Bem... - A médica se levantou e anotou algo na sua prancheta. - Ela pode não se lembrar, mas tenho certeza que Clarke foi vítima de um ato próprio de estupidez. Beber em condições estressantes e sair numa motocicleta não é a coisa mais inteligente a se fazer. De qualquer forma, os exames mostram que ela deve ficar bem. Além do mais, encontramos indícios de remédios calmantes no seu sistema. Isso afeta.

Essa mulher estava me repreendendo?

Minha mãe e Raven assentiram. Niylah voltou para perto de mim com uma seringa nas mãos.

- O QUE VOCÊ PENSA QUE VAI FAZER COM ISSO? - Gritei, nem fodendo que ela vai enfiar essa coisa em mim.

- Encare isso como um empurrão para o seu cérebro voltar a funcionar, tudo bem?

- NEM FODENDO. - Rebati. E para minha surpresa, Abby se aproximou rapidamente de nós e agarrou a seringa, jogando-a no chão.

- Se ela não quer ser furada novamente, ela não será. - Minha mãe disse firme. ELA DEFINITIVAMENTE TINHA PERDIDO O JUÍZO.

- Senhora, eu acho que é melhor vocês saírem. – A médica alertou suavemente.

- SENHORA O SEU CU. - Abby gritou.

- MÃE! TENHA MODOS. Essa mulher só está fazendo seu trabalho. E você tá agindo bem estranho. Que é que tá pegando?

- Nada, querida. Foque em melhorar, tudo bem?

- Clarke, eu irei te dar um tranquilizante e veremos o que vai acontecer quando você acordar. - Informou suavemente, apenas assenti. O que mais poderia fazer? Um protesto?

Tudo em mim doía, e parecia que eu havia corrido uma maratona. Sem falar na bagunça que estava no meu cérebro. Lentamente, fui empurrando-me de volta. Em mais uma soneca cheia de sonhos preto e branco, e olhos verdes dominantes.

Infelizmente, nada mudou quando acordei.

Não sei por quanto tempo dormi, mas tinha a impressão que perdi muita coisa. E não era só a falta de memória, era mais. Algo estava errado. Havia urgência em mim.

- Isso é ótimo, não vê? Ela não lembra de nada. Isso é bom pra caralho. - Era a voz de Raven novamente.

Dessa vez fingi que estava dormindo.

- Eu não sei, Raven. E se ela lembrar?

AQUELA VOZ.

Minha respiração ficou tão pesada, e meu coração bateu em um ritmo tão ridículo, que tive medo que isso aparecesse na tela que monitorava meus sinais vitais.

- Ela não vai lembrar.

ESTRANHO.

A dor na minha cabeça veio em uma onda tão forte que não pude segurar o gemido.

Tinha plena consciência das duas paralisadas, olhando para mim. Mas, fiquei imóvel. Queria entender tudo que estava acontecendo. E rezei para que as duas voltassem a sussurrar sobre os acontecimentos que antecederam o meu acidente.

Mas, tudo ficou em silêncio. E então ouvi a porta ser fechada. O quarto estava vazio.

Tentei arrancar os curativos e a agulha enfiada no meu pulso. Não podia ficar aqui. Haviam coisas a serem resolvidas.

Era essa a urgência! Precisava achar o anel.

- Nem pense nisso mocinha. - Era Niylah. 

- Tenho muitas coisas para resolver.

- Não tem, você tem uma recuperação pela frente. Você lembrou de algo?

LEMBREI. CLARO QUE LEMBREI.

LEMBREI QUE SOU IDIOTA.

- Não, está tudo tão confuso, doutora.

- Eu realmente achava que você iria lembrar de algo quando acordasse, Clarke. - Ela parecia desapontada.

Eu também estava. 

- Por quanto tempo dormi? – Qualquer que fosse a resposta, eu estava aterrorizada.

- Quatro dias, e dormiu por dois dias desde que te dei o sonífero. Ao todo são seis dias, nossa. É muito tempo. - Novamente ela pareceu conversar consigo.

- Faz isso sempre?

Sua expressão de confusão me fez sorrir devagarinho.

- Ahhh... – Bateu na própria testa.

- É treinada para confundir os pacientes?

- Sou treinada para tudo.

Não pareceu arrogante vindo dela. Então, simplesmente permiti-me flertar com a médica, na cara dura mesmo.

- Atrapalho?

Era ela. Parada na porta com um buquê de hortênsias.

Tentei evitar contato visual. Não estava nada no clima para lidar com Lexa agora.

- Claro que não. Clarke e eu estávamos apenas testando as águas. Que bom que resolveu aparecer, Lexa.

As duas se cumprimentaram.

- Devia ter vindo antes.

- É, visitas de madrugada não contam. – Niylah brincou. Mas, Lexa parecia nervosa demais.

Elas se conheciam. Parecia muito que sim. Oh não... 

- Quê? - Perguntei, que droga de confusão.

- Venho trocar seus curativos mais tarde, Clarke. - Disse a médica já de saída.

- Flores para alegrar seu dia. - Ela disse suave. Aproximando-as ao meu nariz.

- Elas cheiram a mentira. - Tentei, desafiando-a.

- Não estou entendendo. - Pareceu genuinamente ofendida.

- O que aconteceu? Lexa, eu não lembro de nada.

- Nada?

Neguei com a cabeça. E ela se fechou por alguns minutos, sentada em uma poltrona próxima à minha, até parecia familiar ali. Me pergunto se Niylah estava brincando sobre Lexa ter vindo aqui de madrugada. Veio por culpa ou por cuidado?

- Vai ficar muda, mulher?

- Clarke, você teve uns problemas comigo e saiu para beber, pegou a moto de um amigo e acabou batendo em um poste. - Ela evitava o contato visual. – Teve um corte profundo na perna, bateu a cabeça.

- Olhe para mim. – Pedi. Até que seus olhos estivessem em mim. - Quais problemas?

- Tivemos uns problemas sexuais.

Era tudo que eu esperava que ela dissesse. Perplexidade, meus caros.

- Sexuais? - Quase me engasgo. Lexa tinha uma expressão tão séria que dava pra acreditar que algo havia acontecido quando transamos. - Você me engravidou com o dedo? - Tentei fazer piada, mas ela estava tão calada e distante.

- Quase isso. - Sorriu brevemente.

- Ninguém está fazendo sentido algum.

- Eu fiquei muito preocupada. - Ela admitiu, suspirando fortemente.

E estava chorando?

SIM.

LEXA ESTAVA CHORANDO BEM NA MINHA FRENTE.

- Ei, eu estou bem. Eu só não lembro das coisas, não é nada demais. - Ela enxugou as lágrimas com as costas da mão, olhos agora em qualquer lugar que não fosse em mim.

- Trouxe algo para você, além das flores.

Seu nervosismo era estranho. Não é como se tivéssemos acabado de nos conhecer.

Ela tirou um mp3 e um par de fones de ouvidos de dentro do seu bolso. Era daqueles antigos. Quase extintos.

- Isso ainda existe? – Juntei as sobrancelhas.

- Fiz uma playlist, hospitais são tediosos e odiaria que ficasse aqui sem uma boa companhia. – Sua mão tremia quando me entregou o aparelho.

- Isso é tão gentil da sua parte, Lexa.

Quando nos olhamos tão de perto, parecia que tudo fazia sentido. Clichê né? Não dava pra saber quando a gente ia parar de foder com a outra. Clichê também.

- Clarke, está tudo bem? – Sua urgência fez todo o meu corpo arder.

Quis sair de perto dela, mas estava presa nessa cama fedorenta.

- Tudo bem. Foi só uma dor. - Respondi, quase distante.

- Quer que eu chame a médica? - Ela já estava se levantando, quando eu toquei seu pulso.

- Não, eu quero que você... - Fiquei completamente imersa na cagada que era a minha vida.

Maldito anel amaldiçoado.

- Quer que eu...? - Ela sorri nervosa.

- Estou cansada, Lexa. Pode vir mais tarde? - Tentei ser cordial e não deixar transparecer nada.

- Claro. – Seu rosto estava meio torcido. Levantou-se e deixou o mp3 no criado mudo, bem ao lado da minha cama.

Ela percebeu. Ela percebeu que algo havia mudado.

Inesperadamente, vem até mim, e beija minha testa. É demorado e termina com um suspiro. Sua mão direita desliza pelo meu rosto e repousa atrás da minha orelha. Era um gesto bem familiar vindo da parte dela.

Enquanto observava-a dando passos largos até a porta, pedia pelos céus que eu tivesse tudo muito bem organizado na minha mente. Vá logo...

- Clarke?

- Sim? – Tossi, meio sem ter como reagir à sua parada abrupta.

- É horrível para mim, ter que que te ver nessa cama... Talvez você nunca vá entender. Não vou dizer eu sinto muito. O lógico seria que você não lembrasse o que aconteceu. Mas, eu quero que lembre. Quero que a gente continue nessa corrida sem freios. – Ela finaliza com um sorriso travesso, e fecha a porta.

Quero que a gente continue nessa corrida sem freios.

Era um teste? Uma provocação? Um click para que eu recuperasse as lembranças?

De repente, percebo que:

Eu não era a pessoa que cagava, e não era a privada, eu era a merda toda.

 

Dois dias se passaram desde que chorei copiosamente. Ainda não tinha previsão de alta, e os médicos achavam que minha memória não iria voltar. Não recebi muitas visitas desde que Lexa me dera aquele mp3. Objeto este que continuava intacto no mesmo lugar onde ela deixou.

Apesar de ter levado dez pontos no braço esquerdo, não sei mais quantos em uma das panturrilhas, e perder parcialmente lembranças da última semana, minha mente estava tudo menos cansada, sentia como se estivesse preparando-me para uma guerra.

Quero que a gente continue nessa corrida sem freios.

Que tipo de pessoa te diria isso depois de você sofrer um acidente?

Que tipo de pessoa se infiltra na sua cabeça desse jeito?

Meus planos eram... incertos.

Como poderia dar certo, algo que você não sabe se vai dar certo, e mesmo assim está pronto para que não dê certo?

Recebi visitas no final da tarde do domingo.

- Viada, não me mata de susto assim novamente.

- Murphy cagou nas calças quando soube do acidente. - Octavia denunciou, enquanto tirava um saquinho de castanhas de sua bolsa.

- Vou colocar sodá caustica no seu sabonete íntimo... - Murphy avisou, seu rosto tomando uma coloração mais avermelhada.

- É a mais pura verdade. Você é um cagão frouxo, não tenho culpa se seu cu é fraco.

- Octavia, dá um tempo, você não sabe nada sobre cus.

Sempre que brigávamos, todos nós, era como se fôssemos atirar pedaços de madeira um no outro, então, qualquer discussão boba sobre cu, poderia se tornar um inferno.

- Nem quero. - Octavia misturou algumas frutas em uma pequena tigela. - Aqui, não vou conseguir dormir direito pensando que você está comendo a comida horrível desse lugar. - Ela me entregou a comida que ela tinha trago escondida.

Arroz, bife acebolado e vegetais grelhados.

Comi em silêncio, enquanto os dois cochichavam em um canto. 

- O que estão tramando?

- Clarke, eu te trouxe um presente. - Murphy mexia em sua bolsa lilás cintilante. TÍPICO. - Você deve estar subindo pelas paredes. – Completou.

Foi quando jogou uma revista playboy e um vibrador preto gigante na minha cama.

Gargalhei. Apenas esses dois seriam capazes disso.

- Você vai conseguir colocar esse troço lá embaixo? - Murphy perguntou, genuinamente preocupado.

- Eu não vou me masturbar aqui. - Era ridículo e perigoso. Caso estivesse mesmo considerando.

- Me diga isso depois das duas semanas de tédio por aqui.

- Esse troço é tão grande que me dá náuseas. - Octavia balançava o vibrador perto da minha cara.

- NOSSA SENHORA, EU ACHO QUE TEREI PESADELOS. - Meus olhos vagaram até a porta, de onde a voz assustada tinha vindo. Era Niylah, minha médica.

- Desculpe por isso. – Intervi, antes que ela pensasse errado. 

- Não é como se você nunca tivesse visto algo assim antes, Doutora. – Octavia disse.

- Ela tem cara de quem é virgem. - Completou Murphy.

- Está tudo bem, Niylah. O ambiente está seguro. Eles só estão brincando. - Dei um meio sorriso.

- Vou me retirar, não fui criada para ficar perto de virgens. - Murphy brinca, e sai acenando freneticamente para que a outra o acompanhe.

Sentia-me bem melhor desde o dia em que acordei desmemoriada. Era como se eu tivesse recuperado o controle.

- Quando vou dar o fora daqui? - Disparei.

- Não hoje.

- Talvez eu não recupere mais a memória, vai me manter aqui até a minha morte? – Brinquei.

Niylah tinha olhos serenos sobre mim. Algo que eu estava começando a me acostumar.

- Seus exames saíram esta manhã. - Disse com cautela, será que ela havia achado algum problema na minha cabeça? Além do óbvio, é claro. - É estranho, está tudo na mais perfeita ordem.

Ou seja, algo está errado.

- Então, posso ir embora?

- Eu não disse isso. Você ainda está fraca, perdeu tanto sangue que daria pra alimentar um vampiro durante um século. Teve sorte... não fosse o doador... Mas, eu acho que você deve ter um acompanhamento psicológico...

- Doador?

- Sim, Clarke. Você teve sorte.

- Eu não acho isso. - Afirmei, pensando na minha vida.

- Eu vou te recomendar para a psiquiatria.

- Não.

- Você precisa disso, como quer recuperar a memória?

- Não sei se quero recuperar a memória.

Ela ficou em silêncio.

- Quero saber do doador. Quem é?

- Clarke, podemos falar disso depois? Agora tenho que checar outros pacientes.

Se eu insistisse... Niylah iria recuar...

- Ok. Só cuidado para não aplicar soro na veia errada. – Brinquei.

Então ela sorriu, feito uma criança boba.

- Pode deixar.

Você recebeu minhas flores? Lexa

Sim, eu havia recebido uns dez buquês de flores está manhã. Eu estava tão entediada que peguei algumas para fazer o famoso jogo do bem-me-quer, mal-me-quer. E advinha?

Ouviu as músicas? Eu aposto que está um tédio aí. Lexa

Fui visitá-la hoje e você estava dormindo. Clarkie, você é a mulher mais linda quando está dormindo.

Essa era uma mensagem de Monty.

CHUPA MEU PAU.

Clarke, onde estão as minhas meias dos bananas de pijamas?

Depois foi a vez de Raven. Todos enviaram quase no mesmo horário...

EMBORA EU ODIASSE ESTAR SOZINHA, toda essa atenção virtual só piorava as coisas.

Foi no final da noite que eu recebi a única mensagem que eu estava disposta a responder.

555-754-999:

Não confie neles. São uns monstros destruidores de corações. Não CONFIE. MK

QUE MERDA É ESSA? QUEM É?

ME RESPONDA DIABO.

555-754-999:

Foi engano. Desculpe.

Engano?

Ah

VAI TOMAR NO CU

Cansei.

Narrador

Clarke Griffin cansou.

Três semanas desde que nosso ícone saíra do hospital. Três semanas longe de todos. Clarke finalmente havia reconhecido a importância de colocar sua vida de volta aos trilhos. E foi o que ela tentou fazer, pelo menos nos papéis, um plano completo de ataque ganhava forma.

Niylah aceitou o pedido da loira, e proibiu todas as visitas, pelo menos nos últimos dias de internação. O objetivo, era dar um passo para fora e ter uma visão ampla de tudo que estava acontecendo.

Frequentemente, Clarke irritava-se com o quão trabalhoso era organizar sua bagunça.

Mas, não havia dúvidas, algo havia mudado, não era ruim ou bom, era um vento forte e quente vindo em todas as direções.

Na mesma tarde em que recebera alta, a loira fora até o joalheiro que Lexa recomendara. O lugar era sinistro, o joalheiro, um homem com sobrancelhas raspadas e roupas largas, fora bruto e grosseiro. A situação era ainda mais desconfortável que ter que se depilar na clínica que Murphy a levara. Mas, não haviam arrependimentos, estava decidida.

Então, depois de metade da noite na espelunca, Clarke Griffin, ainda cheirando a hospital, sai do local com uma réplica perfeita do seu anel de noivado milionário.

Ali, meus caros. Entrava em ação o plano reviravolta de vingança mais bem orquestrado de todos.

Só havia um problema...

Lexa.

E talvez, o mais assustador era a probabilidade dela nunca deixar de ser um problema.

Clarke

7:21PM

Monty, precisamos conversar. Me encontre no Caffé's em uma hora.

Meu futuro ex noivo, vestia um terno preto bacana e gravata borboleta com estampa florida.

Foi inevitável não suspirar quando o vi, de desgosto. Tempos atrás, estaríamos planejando a lua de mel, os nomes dos filhos, é surpreendente o quão fácil as coisas podem mudar.

Esse, acima de todos os outros, era um ato de amor próprio, era mais sobre mim que sobre eles. Era hora de finalizar.

- Clarke, você está tão... - Ele parou para me observar. Eu sei que estava deslumbrante. Queria que ele sentisse que ninguém poderia ser melhor que eu.

- Atrasada. - Completei, e ele sorriu sem jeito.

Eu sabia. Desde que nos conhecemos, que Monty era gay. E eu sabia, que o casamento, para ele, era uma segurança, a família jamais aceitaria que ele cassasse com um homem. Então, eu seria uma... fachada? É, uma fachada.

- Gostosa, na verdade.

É aquele velho ditado, a gente só dá valor quando perde. 

De alguma forma, me sentia segura demais na minha própria zona de conforto, a vida não parecia mover para qualquer lado, então, eu aceitei ser fachada.

Monty puxou a cadeira para que eu sentasse, e nos olhamos por algum tempo.

Tanta coisa estava passando pela minha cabeça. Eu odiava terminar as coisas. Odiava ser a pessoa a dar o primeiro passo.

- Senhorita, deseja alguma coisa? - O garçom me abordou gentilmente.

- Uma água com gás, por favor.

- Um café bem forte. - Monty passou a mão pela cabeleira enorme dele, e sorriu para o atendente. Maldito, flertando com o outro bem na minha frente.

- Monty! - Comecei, entretanto, contive-me. Não podia estragar tudo por causa do meu temperamento. - Eu estive pensando e acho que está é a hora... - Ele arregalou os olhos, enquanto eu tirava da minha bolsa uma caixinha preta de veludo.

Sua tosse é quase descontrolada. SANTA VIRGEM DAS VIRGENS.

- Clarke?

- Acabou.

- Não entendo...

- Esse anel era a única coisa que nos ligava, e aqui está. – Depositei a caixinha na mesa.

Ele ficou em silêncio. Nossos pedidos chegaram. As pessoas entraram e saíram. O tempo passou. E nada me deixou mais feliz que testemunhar o completo desespero desse canalha mentiroso.

- Você não pode fazer isso comigo. - Ele começou.

Tinha minha própria parcela de culpa, eu sabia? Sabia né. Mas, ele não sabia que eu sabia. E continuou mentindo...

- Claro que posso, eu sou livre para fazer as minhas escolhas, não sou? – Instiguei.

- Eu... docinho, eu não entendo. Nós estávamos bem, e você estava feliz com o casamento. Eu... - Ele estava quase chorando. POR DEUS, NÃO SEJA UM BABACA.

- Não, Monty. Nosso casamento seria só mais uma mentira, cansei de mentir pra mim mesma. – Admiti.

Talvez, eu fosse a mais hipócrita de todos.

- O que quer dizer com isso? - Nunca o vira tão nervoso e desolado.

- Eu sou lésbica, Monty. - Tomei um gole da minha água e encarei-o, será mesmo que ele iria fingir que não sabia.

- O quê?

- Lésbica. SAPATÃO, como é que as pessoas chamam hoje em dia?

- Então, você gosta de mulher? - Ele estava em choque. 

- Sim, eu adoro as tetas das mulheres, a bunda redondinha e as coxas salientes, gosto de cheiro de mulher, e adoro vaginas. EU AMO VAGINAS. - Gritei, e todo mundo no pequeno Café me olhou, FODAM-SE.

- Vaginas? - Ele era lerdo, eu sabia disso. Mas, não imaginava que fosse TANTO.

Tirei uma camiseta de dentro da minha bolsa, estava escrito. EU AMO VAGINAS. Sem hesitar, coloquei por cima do meu vestido.

Perplexidade, no rosto de todos. Exceto na figura com um chapéu que cobria metade do seu rosto, sentada na mesa mais afastada de tudo.

- Entendi. - Ele sussurrou.

- Tenha uma boa vida, Monty.

- Divirta-se com as vaginas, Clarke. - Seu tom era de pura tristeza. Certo.

Saí não muito apressada, confiante.

Afinal, era uma réplica perfeita.

Lexa

Depois de adiar a reunião por semanas... Era a hora de dar satisfações aos acionistas e membros da diretoria.

Fiz tudo que me foi ensinado, tudo conforme o protocolo, nada de deixar as coisas do coração intervirem na razão. Entretanto, o sumiço de Clarke estava fodendo com absolutamente tudo.

Em resumo, essa reunião veio em uma péssima hora.

- Então? - Carol, a dona de 1,2% das ações, tirou-me de transe.

Respeitava todos os meus funcionários e apoiadores, entretanto, hoje eu queria ligar o foda-se pra tudo e todos.

- Não vejo problema algum em tentarmos a sua abordagem. - Disse, sem ânimo.

- Metade dos acionistas não concordam com a abertura de uma filial no Brasil, tem certeza que quer ir contra nós? - O homenzinho ao meu lado arqueou a sobrancelha, ele se achava mesmo o dono da MINHA empresa?

- Arthus, a empresa é minha, e eu abrirei uma filial em uma ilha deserta se eu quiser.

A sala ficou em silêncio, já estavam muito bem acostumavam com minha postura "gentil." Que ficassem me olhando com essas caras de quem comeu e não gostou, essa reunião está prestes a acabar...

- Desculpe incomodar. Senhorita, alguns rapazes estão querendo vê-la com urgência. - Era a minha secretária.

- Estou ocupada. - Cortei.

- NÃO TEM PROBLEMA, A GENTE ENTRA. - Dois homens barbudos, passaram pelas portas de vidro, cada um segurando caixas relativamente grandes.

- O QUE SIGNIFICA ISSO? - Gritei, já acenando para que chamassem os seguranças.

- Entrega para. - Um dos homens parou para analisar um papel e sorriu. – Lexa? É você? É sim.

Todos na sala estavam atônicos, observando a audácia daqueles homens, meus seguranças se aproximaram rapidamente. Observei-os travando uma luta e então tudo aconteceu tão rápido que eu não pude reagir.

As caixas foram jogadas no chão e todos olharam diretamente para os objetos que cobriram um espaço da minha sala de reuniões.

Vibradores.

Centenas deles.

Espalhados vergonhosamente.

Era uma brincadeira comigo, e de muito mal gosto.

- DIVIRTA-SE. - Os entregadores falaram juntos, jogando um pedaço de papel no chão.

No bilhete, em uma caligrafia morna e quase ensaiada, continha isso:

Acho que tem o bastante para suprir suas necessidades sexuais. Divirta-se. - Anônimo Safadinho. 

 



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