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História Fiquei com seu número - O Anel


Escrita por: 1dayus

Capítulo 32 - O Anel


 

Clarke

A chuva fina escorria pela janela do quarto do hotel. Niylah estava inquieta. Era como se a qualquer momento a polícia fosse chegar e nos levar presas.

- Não era pra ser assim, não era.

- Niylah, nós estamos bem. Vai ficar tudo bem.

- Vai mesmo? Você acha que ninguém percebeu, mas, as pessoas não são burras, Clarke. Uma hora ou outra alguém vai se dar conta.

- E vão provar como?

- Eu sei lá.

- Nós estamos casadas agora. - Digo, tentando trazer algum senso de realidade pra situação.

Ficamos em silêncio. Nos encaramos. Sei que foi um erro ter dito aquele "aceito." Ela também sabe. Niylah está irritadíssima por estar casada comigo.

- Talvez devêssemos contar a verdade...

É quando alguém começa a bater insistentemente na porta do nosso quarto. Niylah fica apreensiva, quase que tremendo. Tento parecer tranquilinha, afinal, as próximas horas seriam cruciais para a concretização do nosso plano.

- Meu Deus, nós vamos pra cadeia, Clarke!!!

- Calma. Deve ser só o serviço de quarto. - Sugiro.

- Nós não pedimos serviço de quarto. Nós estamos aqui com esses vestidos há mais de duas horas tentando achar algum sentido pra essa merda toda.

- Calma, Niylah. Respira, respira.

Pelo olho biónico da porta, dou de cara com a última pessoa que eu queria ver no momento.

- Mãe!

Abby Griffin passa por nós apressada e se joga na cama.

- Mãe, que merda tá fazendo aqui?

Silêncio. Nem um pio sequer. Abby tira um cigarrinho do seu sutiã e um isqueiro também, ela acende o cigarro de maconha, mas, não fuma. Ela só deixa a fumaça pairando pelo quarto mesmo.

- Abby... – Minha esposa tenta, mas, parece que Abby Griffin está determinada a arruinar as nossas núpcias.

Niylah faz um sinal de rendição e vai em direção ao closet, certamente, louca para tirar as roupas do casamento. Estávamos casadas há algumas horas . A festa, os convidados, as piadinhas, as conversas sem sentido, as perguntas... Conseguimos passar por tudo isso, mas, lidar com Abby agora, era demais.

- Tem noção do quão inconveniente isso é?

- Clarke, minha querida filha, eu vim aqui avisá-la que um furacão se aproxima.

- Ah, me poupe, mãe!

- Não acredita? O seu casamento mal começou e vocês já estão com problemas.

- Nós vamos viajar em algumas horas, e eu só quero paz. Então, diga logo o que tem pra dizer.

Minha mãe se levanta bruscamente e vem na minha direção, até que se inclina um pouco próxima ao meu ouvido e sussurra:

- Sua esposa está com os anéis.

Quando Abby Griffin vai embora, Niylah já está mais relaxada.

Se tudo desse certo, nós embarcaríamos para a Suíça em breve.

- Tudo vai ficar bem. - Digo, tentando reafirmar a única coisa que não estava sob o meu controle.

Afinal, Niylah realmente estava com os anéis.

Para você entender essa história, precisamos voltar ao início. Então, vou contar por partes.

Aqui vamos nós.

Numa tarde de verão, um crime fora cometido. Um crime quase que perfeito.

Fora Raven quem tivera a brilhante ideia de fazermos um chá de cozinha. "Vai ser super legal, Clarke."

A questão é a seguinte, meus caros, se eu pudesse contar como tudo aconteceu... bem, começaria pelo sumiço do anel:

- Então, Clarke... Deixa a gente vê esse anel.

E o tal anel rodou pelas mãos de todos. Absolutamente, todos. Com exceção de Abby Griffin, que não estava presente na ocasião.

Enquanto passava pelas mãos maldosas dos meus amigos, alguém furtou a joia. Foi quando me desesperei, e isso vocês já sabem, eu surtei naquele saguão do hotel.

Lembre que eu viria a conhecer Lexa minutos após perder a joia preciosa.

Depois de uns dias, tava óbvio na minha cabeça que de duas uma, ou a joia realmente estava perdida, ou alguém havia furtado.

Eu até cheguei a supor que Lexa havia sido contratada para ser uma distração. Fazia sentido, não fazia? A mulher maravilhosa de olhos verdes intensos, estava na minha vida pra me distrair.

E os problemas só estavam começando.

É claro que eu precisaria dar de conta do sumiço da joia para a família do meu noivo. Então, quando Lexa me entrega o número de um joalheiro especializado em réplicas, era como se milagrosamente todos os meus problemas desaparecessem. Uma réplica perfeita? Isso era tudo que eu precisava.

Mas, não funcionou. O tal joalheiro, convenientemente, estava com o telefone sempre ocupado.

Agora, era preciso distrair o meu noivo e sua família. E que belo trabalho Abby Griffin fez com aquele jantar desastroso. Batizar a comida com maconha? Era genial.

O plano estava funcionando exatamente como elas haviam planejado. Afinal, Lexa era sim a distração ideal. Só havia um pequeno probleminha que ninguém contava: Costia.

E assim, meus caros, amarrada em um quartinho qualquer na casa de Lexa, eu encontro a mulher que mudaria para sempre o rumo desse roubo.

Pensem bem, eu não sabia quem tinha roubado a joia. Eu não sabia como distrair a família de Monty. Eu nem mesmo conseguia lidar com os sentimentos que tinha por uma certa mulher.

É claro que eu já desconfiava, a essa altura, eu já desconfiava muito. Especialmente de Raven Reys.

- Qual o seu maior sonho, Reys?

- Ser milionária. Custe o que custar.

Todos pareciam tão suspeitos... então, teve aquela vez em que peguei Raven, Abby e Anya entrando de fininho na casa de Lexa. Sim, elas definitivamente estavam aprontando.

Quase tudo passou pela minha cabeça naquele dia...

Mas, um roubo? Quanto valia o anel? Quem compraria? Elas venderiam no mercado negro? É claro que elas precisariam esperar a poeira baixar, fazer todos aqueles esqueminhas para distrair tanto a mim quanto a família de Monty.

Será que Lexa estava alheia a tudo?

Então, eu questiono.

Pergunto diretamente a Lexa, o que diabos ela estava fazendo com Abby Griffin naquele galpão?

- Abby me falou sobre um projeto muito lindo, você sabia que a maconha serve pra tratar diversas doenças? Enfim, ela disse que queria levar os benefícios para as pessoas que são proibidas de comprar. E eu achei válido.

Maconha medicinal. Eu não acreditei nisso nem por um segundo. Mas, era uma boa mentira.

Então, tenho uma briga com Lexa. Depois disso, corro para a única pessoa que não poderia mentir pra mim.

E Costia realmente me conta a verdade.
Aqui, meus amigos, é quando eu realmente tenho a certeza.

O anel havia sido roubado.

 

- Lexa foi contratada para te conhecer.

- Como assim, Costia?

- Você não percebeu né? Todos agindo estranhamente. Abby Griffin e Raven contrataram Lexa para bagunçar a sua vida e te distrair.

- Me distrair?

- Você não acha que é muita coincidência que o seu anel sumiu no mesmo dia que Lexa apareceu, né?

- O que porra você tá dizendo, mulher?

- Presta atenção, Loira. Você foi vítima de um roubo. Elas são especialistas. Estavam planejando isso sabe-se lá desde quando.

- Lexa?

- Não, sua louca! Raven e Abby.

- E quem está com o meu anel?

- Nós não sabemos. Lexa não sabe nada sobre o roubo em si. Ela sabe que houve um roubo, afinal, ela não é boba. Eu só juntei as peças até pouco tempo atrás. Afinal, o timing fora perfeito. Abby e Raven contrataram...

- Sim, sim. Já sei que contrataram Lexa para me enganar esses meses todos.

Fazia sentido. O anel valia mais de 1 milhão, uma joia de família, de herança.

Isso tudo era a maior traição de todas. Era até imperdoável.

Daí eu tive aquele acidente.

Perder a memória era conveniente também. Foi quando decidi que não ia deixar isso continuar acontecendo.

Abby, Raven, Anya e Lexa não sabiam o quanto Costia havia me contado. Então, eu tinha a faca e o queijo na mão.

O meu plano era fingir por um tempo que não lembrava de nada. Isso me daria margem para enganá-las. Pegá-las em seu próprio jogo. E funcionou direitinho. Até Costia me confrontar e dizer que sabia que eu não havia perdido a memória coisa nenhuma.

É claro que eu precisava de aliados. Mas, acima de tudo. Precisava de um anel falso.

Foi quando consegui ir até o joalheiro misterioso. As cópias custaram parte do dinheiro da venda do meu apartamento. Mas, valeu a pena. Agora, eu tinha duas cópias perfeitas.  E guarde bem essa informação, duas réplicas são melhores que uma réplica.

A primeira coisa que faço é entregar uma cópia para Monty.

Depois, eu só precisava descobrir onde estava o anel original. E rouba-lo de volta de quem havia roubado primeiro.

Sei que parece confuso, mas, um roubo milionário nunca é simples.

Não foi difícil de imaginar que Raven escondia o anel. Ela parecia menos suspeita que Abby. Mas, com um motivo forte o suficiente para guardá-lo a sete chaves.

Fora Costia quem se ofereceu, como uma forma de se redimir.

- Eu encontro o anel. Deixe comigo.

Então, alguns dias depois, descubro que o anel original estava bem debaixo dos meus olhos.

- Investiguei Raven Reys. Investiguei Abby e Anya. E você sabe que Anya não consegue mentir por muito tempo. O anel está com Raven. Dentro de um potinho daquele whey protein sexual que vocês vendem.

- Você coloco câmeras escondidas em tudo, não foi?

Costia não respondeu mais nada.

Precisava ver com os meus próprios olhos. Então, sutilmente sugiro que Raven e Octavia precisam de um tempinho a sós, e elas caem nessa. É quando entro na casa de Raven, procuro entre uns 100 potes de whey protein sexual, nada de anel.

Costia havia pego.

Agora eu tinha que descobrir em qual pote o anel estava primeiro, assim, eu poderia substituir pelo anel falso.

Ligo para Costia. A vagabunda não atende.

Entro em desespero. O casal já deve estar voltando. Elas podem entrar a qualquer momento. Ouço o som da garagem abrindo. Pronto, tudo estava indo por água abaixo.

Costia atende.

E finalmente diz que era o potinho do meio, escondo o anel falso lá e saio correndo pelas portas dos fundos.

Raven era louca mesmo. Ela não tinha medo algum de acidentalmente vender o pote de whey contendo um anel que vale 1 milhão. Ou Costia estivera mentindo esse tempo todo?

Não, não... eu não podia cair nesse de novo.

Pego a Kombi velha e vou até a casa de Costia. E lá, no balcão da cozinha, brilhante, reluzente, está o anel.

- Agora eu entendo. Ele é lindo. - Costia diz aos sussurros.

Ambas estamos admirando a joia. Não havia dúvidas de que era o anel original. Mas, eu levo até o joalheiro da réplica, o cara é estranho, mas, confiável. E ele confirma, aquele era o maldito anel.

Então, a vida segue. Todos estão satisfeitos, as ladras não se dando conta de que eu havia trocado os anéis. Costia sabendo que eu tinha o anel original. Monty e sua família felizes com o anel falso. O que mais poderia dar errado?

- Acho que precisamos nos apressar. - Niylah está reorganizando as malas pela segunda vez.

- Passaportes, confere?

- Sim.

Continuando... O que mais poderia dar errado?

Bem, eu tinha feito um plano, mas, o universo tinha uma forma bem particular de jogar com os meus sentimentos. É claro que eu não poderia esquecer de Lexa. Ela merecia um lugarzinho especial nas minhas ideias de vingança.

Assim, com ajuda de Costia, e de Octavia, as duas únicas pessoas em quem eu confiava no momento, tive a brilhante ideia de criar o anônimo safadinho. Funcionou por um tempo, agora, era Lexa quem estava distraída, enquanto eu continuava com os planos.

Tudo estava indo bem demais, até a noite em que Lexa me levara para sua antiga casa. Naquele dia, eu cheguei muito, muito perto de confessar que estava fazendo tudo aquilo pela joia milionária. Cheguei muito perto de abandonar o plano e viver uma vida ridicularmente doce com ela. 

Mas, a grande verdade é que. Eu queria o anel.

Agora... onde Niylah entra nessa história?

- Eu recuperei a memória. - Disse isso numa tarde chuvosa, ainda no hospital.

- Quando? Como? Senhorita, Griffin... deveria ter nos informado imediatamente e...

- Escuta. Eu preciso da sua ajuda.

E ela ouviu. Escutou toda a história que antecedera o acidente. Agora, Nyilah sabia que Lexa estava envolvida. Que Raven e Abby eram ladras, e que Costia era parcialmente confiável.

- Não sei como posso te ajudar nisso, Clarke.

- Pode pelo menos fingir que não sabe de nada, ou sei lá... fingir que é minha amiga?

Mas, ela virou uma amiga de verdade. Daquelas que valem mais que um anel milionário. 

Talvez vocês nem tenham conhecido Niylah de verdade. Ela é divertida e topa tudo por aventuras. Ela também investia tempo nas pessoas. E ela investiu tempo em mim. 

Conversamos por horas e horas. E aqueles momentos significavam muito pra mim, afinal, era a única parte do meu dia em que eu não precisava me preocupar em estar mentindo. Então, trouxe a médica para o plano. Confiei e contei tudo que eu planejava fazer.

- Eu acho que isso é genial.

Foi tudo que ela disse enquanto dividíamos um Mcdonald's com Coca Cola.

Quando tive aquele momento com Lexa em sua casa, como disse... eu estava pronta pra abandonar tudo. Daí eu acordei e ela não estava lá. Eu não entendi quando cheguei na casa de Niylah naquele dia, buscando por uma amiga, e encontrei uma possível noiva.

Ela havia me pedido em casamento. E com um anel real, um lindo anel de diamantes.

Percebam, é aqui que o segundo anel valioso entra. Contanto com as duas réplicas e o maldito primeiro anel. Agora temos quatro anéis.

Sei que matemática é chato. Mas, com quatro anéis na jogada, alguns precisam sumir. 

Mesmo assim, eu não podia casar com Niylah. Não quando eu estava perdidamente apaixonada por outra mulher. Até que...

- Clarke. Se você aceitar, garanto que vai conseguir concluir o seu plano.

- O que está dizendo?

- Você ama Lexa. Mas, não consegue superar a traição dela e da sua família. Se o que você precisa é de uma confissão, esse anel aqui é o atrativo perfeito.

E ela tinha toda razão. Era o atrativo perfeito. Afinal, se você rouba um, o que te impede de roubar um segundo?

- Mas, eu não entendo... O que você ganha com isso?

- Metade do dinheiro. - Niylah diz firme.

- 500 mil????

- Clarke, eu também preciso da grana.

- Doutora, nunca pensei que você fosse topar algo assim.

- É por uma boa causa.

Não duvidava que fosse. 

Então, estava decidido. Nós iríamos roubar o anel da família de Monty.

Caros leitores, eu já estava com o anel verdadeiro. Agora, era uma questão de vitória interna. 

Eu iria fazer com que Abby Griffin e os outros se matassem tentando descobrir quem havia roubado o meu segundo anel de noivado. 

Fica assim.

Raven Reys tinha um anel falso.

Monty e sua família tinham o outro anel falso.

Clarke Griffin tinha o anel verdadeiro.

E todos supunham que Clarke Griffin havia sofrido um segundo ataque e que sua outra joia havia sido furtada. Mas, por quem? 

A semente da desconfiança estaria plantada. 

Para realizar um roubo dessa magnitude, a mentira precisaria ser tão bem contada que até mesmo quem conta precisava acreditar nela. 

O casamento era o ponto mais alto do nosso acordo, seria o evento onde tudo culminaria. Depois, fugiríamos por uns meses ou até mesmo um ano, e não venderíamos o anel, não... já pensou? A joia não poderia ser rastreada, e sobretudo, a família de Monty deveria acreditar firmemente que estavam com o anel verdadeiro.

Haviam desconfianças. 

Afinal, eu acabei sendo presa pelo suposto roubo do anel. A mãe de Monty não engoliu muito bem a história toda e ainda tinha ressentimentos. Mas, tudo fora resolvido rapidamente quando eu sutilmente sugeri ao meu ex noivo que levasse o anel a qualquer joalheiro e aquilo iria provar como 2 + 2 são 4, que eles estavam com a joia certa. Funcionou. A réplica era perfeita.

Então, Lexa apareceu.

Quero que vocês entendam que eu ainda estava apaixonada por Lexa. E segui com o meu noivado mesmo assim.

Apesar de suas sabotagens, como eu previ que ela faria.

Niylah já não estava tão segura. Ela queria que eu falasse não. Ela queria que eu assumisse meus sentimentos e abandonasse o plano. Mas, com um milhão em jogo, com uma vingança em jogo? Não dava. 

E eu segui. Nós iríamos para a suíça, nós roubaríamos o anel milionário da família de Monty, e enganaríamos todos. Eu faria isso.

E deixaria meu coração para trás.

- É isso? Nós vamos mesmo para a suíça? - Minha esposa encarava as malas feitas.

- Você prefere roma?

- Não brinca... - Seu sorriso se alarga, Niylah nunca estava triste de verdade, sabe? Ela não tinha isso de melancolia. Ela era sempre genuinamente contente com a vida.

- Então... O que vai fazer com sua parte do dinheiro?

- Comprar uma casinha?

- Falo sério, você disse que era por uma boa causa.

- Eu acho que quero ajudar algumas pessoas... 

Fico em silêncio, afinal, os planos dela eram mais puros que os meus. 

- Abby sabe que você está com os anéis. Todos eles acham que me casei com uma bandida. E que você os roubou. 

Niylah me encara, chega mais perto e toca o meu rosto. É suave e delicado demais. 

- Clarke...

- Sim?

- Vai conseguir viver longe deles?

- Como assim?

- Nós vamos pra Suíça, por sabe lá quanto tempo até despistarmos a policia e a família de Monty. Não vai sentir falta?

- Vou.

Respondo suave também, até um pouco triste, eu sentiria uma falta absurda de todos eles. 

Horas depois, já estávamos prontas para irmos embora. Niylah vestia roupas pretas com um sobretudo meio caramelo, eu estava terminando de arrumar quando ela informou que iria fazer o check-out no hotel. 

Tive medo que ela fugisse. 

Mas, quando cheguei no saguão, ela ainda estava lá. 

O anel não iria com a gente pra Suíça. Ele estava bem escondido. Então, nós iríamos só com a cara e a coragem. No caminho até o aeroporto, minha esposa estava calada, pensativa e distante. Talvez, ela não quisesse ir. Segurei sua mão e olhei para o lado de fora, Nova York estava fria e cinza. 

E eu temia que o meu coração ficasse cada vez menor e menor. 

 

Lexa

- Não entendo, não dá pra acreditar!

- Calem a boca, estou tentando relaxar. - Octavia está uma pilha de nervos, acho que também está aliviada pelo casamento finalmente ter acontecido.

- Não faz sentido nenhum, Clarke está casada! Casada!!! Casadaaaaa!

- Sim, e transando pra caralho nesse exato momento, suponho. - A voz de Octavia sai ríspida. 

Bebi o restante do suco de maracujá que a chef  havia feito. Não duvidava que estivesse batizado com soníferos. Era como se elas temessem que eu pudesse impedir Clarke de entrar naquele avião. 

- Não acho que elas estejam transando. Será que já viajaram?

- Ninguém sabe. Ou sabe? Alguém sabe a hora do voo? - Murphy indaga, bastante desconfiadinho. 

Todos ficaram calados. Bebiam suas cervejas e sucos em completo silêncio. 

Eu só queria ir pra casa ou nunca ter conhecido Clarke Griffin. 

- A energia aqui tá péssima. Tô vazando. - Era Murphy. Pronto pra ir embora, desconfiava que ele desconfiava que eu sabia que ele sabia de algo.

- Também tô indo nessa. - Octavia pegou sua bolsa Chanel com uma delicadeza absurda. E os dois rapidamente foram embora, me deixando sozinha com Costia. 

- Não dá pra acreditar!

- Já entendi que você não acredita, Costia. Você repetiu isso pelo menos umas dez vezes desde que cheguei.

- Clarke Griffin... aquela loira idiota, casada com a médica. Não sei não, Lexa... acho que você deveria ter impedido o casamento.

- Eu o quê? Pirou de vez? Jamais faria isso.

Ela me encara, atônica.

- Você já impediu casamentos por bem menos, então... se tem uma coisa que não entendo mesmo, é o porquê de você nem ter dado as caras por lá. 

- Olha aqui, Costia... Você se meteu demais nessa história.

- E ainda bem que me meti, você estaria arruinada se eu não tivesse feito o que fiz.

Sorrio ironicamente, afinal, o lugar onde eu estava agora parecia muito com estar arruinada.

- Não quero mais falar sobre Clarke Griffin.

Costia se aproxima, senta ao meu lado no sofá e dá aquela olhada, me analisa por inteiro, então coloca a mão no meu ombro de um jeito fraternal e decidido.

- Você tem menos de uma hora pra mudar de ideia.

- Como assim?

- O voo de Clarke sai daqui uma hora.

- Tipo? Daqui uma hora?

- Tá surda, Lexa? - Ela pergunta genuinamente.

- Eu não pedi por essa informação. - Por uns segundos, cogito impedir que Clarke viaje com Niylah. Penso até em coisas absurdas, tipo sair correndo e gritando pelo nome dela. 

- Não é mais uma questão de querer ou não, é uma necessidade, uma grande e absoluta gigantesca necessidade.

- Do que infernos você tá falando, mulher?

- Eu ouvi uma música esses dias, sobre como o amor muda a química do nosso cérebro. Achei bem pertinente, bem a cara de vocês duas.

- Merda, eu não tô te entendendo, Costia.

- Daqui um ano você pode nem estar aqui, daqui um mês você pode tá em um universo completamente diferente, mas, hoje... tipo, agora... você pode ir atrás da mulher que ama.

- Você tirou isso de um programa de TV?

- Se quiser, te levo até lá. 

Pensei apenas por alguns minutos, afinal, o tempo corria. E talvez, nem chegássemos a tempo. Mas, era mesmo uma questão de necessidade. Eu não teria paz se não tentasse pelo mais uma vez. 

- Tudo bem. Vamos lá.

- Tá falando sério?

- Claro que estou.

- E você vai assim? - Costia analisa minhas roupas, estava com um chinelo e meias,  calça moletom e uma blusa preta de banda de rock.

- É. Vou assim.

Então, a gente saiu pelo transito louco de Nova York. Tentei não pensar muito no que diria para Clarke, estava movida por pura adrenalina, minhas pernas tremiam pra caramba e minhas mãos estavam suando bastante também. Costia dirigia como uma selvagem, dizendo coisas aleatórias. Pensei em todas as pessoas que faziam parte da minha vida, pensei em Aden e em como ele teria invadido o casamento, pensei que se chegasse tarde demais e Clarke já tivesse embarcado, então, eu me sentiria como a maior idiota de todas.

- Você tá nervosa. - Costia constatou, colocando uma mão sobre as minhas, que não paravam de tremer.

- Até parece que estou num filme de comédia romântica. - Disse, tentando amenizar minha ansiedade.

Sorrimos juntas. Pelo GPS dava pra ver que ainda faltava muito para chegarmos ao aeroporto. 

- Costia?

- Sim?

- Obrigada. - Digo, com toda a sinceridade e afeição que consigo juntar em palavras. E ela sabia que eu estava agradecendo por tudo. 

- Eu sei, sou a melhor.

- Sabe de uma coisa? Você é sim. - Sorrimos mais uma vez. 

Coloco a mão pra fora pela janela do carro e sinto o ar frio penetrar minha pele. Nova York parecia fria e cinzenta, mas, aqui dentro desse carro, com minha melhor amiga, correndo até a mulher que eu amava, as coisas estavam quentes e gigantes. 

Quando chegamos no aeroporto, o ritmo frenético de pessoas mais atrapalhava que ajudava, havia gente por todos os lados e eu achei que jamais encontraria Clarke. 

- Vamos nos separar, assim, a gente consegue encontrar ela mais rápido. - Costia sugere.

- Beleza, me manda mensagem se achá-la primeiro.

Ela me abraça rapidamente e segue na direção oposta. Praticamente correndo pelo lugar. Não faço diferente, e dou passos apressados, ligeirinhos. Tento ligar para Clarke, mas, o telefone só vai para a caixa de mensagens. Eu devia ter pensado em ligar antes, né? Tudo bem, tudo bem, só preciso continuar procurando.  O tempo vai passando e nada de Clarke, nenhum sinal de Costia também. Vou pelas áreas mais movimentadas do aeroporto, procuro por todos os lados, e o pior... Eu não sabia o local de destino que a loira havia escolhido para a lua de mel, então, eu não podia perguntar a ninguém que trabalhasse ali. Eu estava perdida, literalmente. Respira, respira, Lexa. Paro um pouco e dou um giro de 360º, nada. Absolutamente nada que indicasse que Clarke estava por ali. Tento não olhar para o relógio, mas, é impossível, faltando tão pouco tempo, a essa hora ela já devia estar no voo. 

- Lexa?

Paraliso. 

Droga.

DROGAAAAA

- Niylah...

- Ora, ora... você finalmente decidiu fazer alguma coisa.

- É... parece que decidi sim. - Digo, um pouco confusa. Niylah está sozinha. 

- Você bem que podia ter escolhido umas roupas melhores né? - Já estava acostumada com a falta de filtros da médica, mas, acho que ela estava tentando mesmo era me distrair.

- Gostou das meias? 

- Eu adorei as meias.

Eram meias pretas com desenhos de bananas estampadas por todas as partes.

- Tudo bem, pare de enrolar e me diga onde ela está. - Falo apressada, quase engolindo as palavras.

- Lexa... - A médica se aproxima um pouco mais de mim, e para a minha absoluta surpresa, me abraça. - Você é tão doce.

- Eu...

- Ela está na sala de embarque 17A. Eu recebi uma mensagem de Costia, então, menti para Clarke e disse que iria ao banheiro. Então, foi quando te encontrei. 

- Certo. Sala 17A. Certo, tô indo nessa. - Me desvencilho do abraço e começo a procurar setas que indiquem onde fica a tal sala.

- Fica pra direita.

- Tudo bem. - Já estou correndo. Já estou quase gritando pelo nome de Clarke Griffin.

- Boa sorte! - Escuto resquícios da voz da médica, mas... não consigo mais processar nada do que está acontecendo, estou tomada pela adrenalina da situação. Eu estou quase caindo.

E cai.

Tropeço na malas de alguém, paradas bem no meio do maldito corredor.

Tento levantar, mas, não tenho forças, meu corpo tá me deixando na mão.

Quando finalmente consigo levantar, quase chorando, dou de cara com ela. 

 

 



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