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História Firewatch - Whisky e Tequila


Escrita por: LeeYaar

Notas do Autor


E cá estamos no único capítulo do ponto de vista da Clarke e último capítulo da fanfic.

Capítulo 5 - Whisky e Tequila


Fanfic / Fanfiction Firewatch - Whisky e Tequila

Dia 77

-Droga! - digo ao cortar o dedo com uma lata de feijão.

Não passa das duas da tarde e eu e Alexandria não nos falamos hoje, talvez ela esteja ocupada com algo, ou tenha tentado me contatar, mas eu estava tão morta de sono que não escutei. Ontem nós conversamos até tarde sobre algumas coisas aleatórias, família e hobbies.

Eu descobri que ela adora tomar cerveja de manhã, fez toxicologia na Universidade de Boulder e tem dois irmãos mais velhos, uma amiga inseparável que por acaso é sua cunhada e gosta de comer pizza, em qualquer lugar, a qualquer hora.

Eu contei pra ela que tocava e cantava às vezes, que era algo que eu fazia pra me acalmar e às vezes acalmar as pessoas. Ela dormiu enquanto eu cantava Yellow do Coldplay. Droga, eu estou fazendo de novo, me apegando a alguém que eu criei em minha cabeça.

-Hey, C! - ouço chamar no rádio. Só uma pessoa me chama de C e um sorriso idiota surge em meus lábios.

-Estou ouvindo.

-Uau, eu uh, encontrei uma tartaruga. - ela diz animada - Será que é mesmo uma tartaruga? É uma coisa com um casco. É tão fofo.

-Bom, se você decidir que quer que ele seja como seu bichinho de estimação, ninguém vai se importar.

-Como vou chamá-lo? Tem cara de, hummm… Whisky.

-Adorei. - digo sorrindo.

-Hey, eu dormi ontem sem dizer o quanto sua voz é linda.

-Qual é, você mal consegue me escutar através de um maldito walkie talkie.

-Ansiosa para ouvir pessoalmente então. - ela diz e eu fico calada - Ahn… eu estou num lugar bem bonito, resolvi tirar o dia pra explorar. Fui até aquela caverna e não tem nada legal lá, mas eu não pude te dizer antes porque meu rádio não funciona lá embaixo.

-O que esperava encontrar? O bicho papão?

-Talvez. - ela diz ofegante, talvez esteja subindo algum barranco - Acho que vou ver o pôr-do-sol na Enseada de Algodão amanhã.

-Só tome cuidado, o incêndio June continua se movendo pelo sul e eu fui avisada sobre um outro incêndio.

-Sério? - eu imagino ser uma pergunta retórica - Eu estive pensando, será que você é real? Tipo, será que não é só uma gravação ou sei lá.

-O quê?

-Como você é? Seu cabelo, seu rosto, altura, peso?

-Está brincando comigo? - eu enrugo a testa.

-Não, é só que… eu posso ter ficado meio louca depois de tudo, você pode ser só uma criação da minha cabeça.

-Lexa, eu não sou criação da sua cabeça, sou uma pessoa real. - ela fica em silêncio.

Eu ando até a limitada varanda que tenho e me sento numa cadeira que coloquei lá, pego minha luneta e observo um pouco o movimento da Two Forks, Alexandria está com uma camiseta folgada e um short extremamente curto, parece ter acabado de chegar na torre.

-Não é justo. - ela diz - Você sabe minha aparência, aposto que está me olhando de novo através da luneta e eu ao menos sei a cor do seu cabelo, ou se você tem cabelo.

-Na verdade eu tenho uma barba grossa. - eu sorrio - E um pênis enorme.

-Eu também tenho um pênis. - ela diz sussurrando como se fosse um segredo - Mas o deixei em Boulder.

-Eu prefiro que você não saiba como eu sou. - digo baixo.

-Qual é, não faz isso comigo. - ela diz arrastado - Não tem nenhuma atriz que as pessoas te acham parecida ou sei lá?

-Ahn… - eu penso um pouco e lembro de algo que alguém me falou uma vez - Ashley Benson?

-Uau, é loira então? - ela sorri vitoriosa - Olhos azuis, um metro e sessenta?

-Um metro e sessenta e cinco. - eu corrijo com um sorriso idiota no rosto que logo desaparece e eu mordo meu lábio inferior - Hey, tem algo ruim que eu quero te dizer. - ela fica em silêncio esperando que eu continue - Eu preenchi um formulário que dizia que bem eu nem você tínhamos visto ou falado com as garotas que desapareceram.

-O quê? - o tom dela é claramente confuso - Por que você faria isso? Eu disse pra falar o mínimo possível e apenas mantê-lo vago.

-Eu só não queria ser incomodada, okay? - digo massageando as têmporas - Mas agora me ocorreu que pode não ter sido uma boa ideia.

-Porra, Clarke. - ela diz antes de dar um longo suspiro.

Eu queria falar alguma coisa, mas não tenho o que dizer, eu assinei aquele formulário ciente do que estava fazendo, talvez tenha bebido alguns goles de vodka, mas estava ciente.

-Griffin? - ouço chamar no rádio.

-Tô escutando, Eddy. - digo sintonizando meu rádio.

Eu converso com mais alguns guardas durante o dia e faço palavras cruzadas, tento ver Alexandria com ajuda da luneta, mas sem sucesso, talvez ela não esteja na torre, ou esteja ocupada dentro da torre. Suspiro e me deito na cama pequena que me foi disponibilizada, fecho os olhos e devo ter dormido porque estou no quarto da casa de Finn, coberta apenas por um fino cobertor enquanto termino um cigarro. Ele entra no quarto com uma toalha enrolada na cintura e os cabelos molhados.

-Acho melhor eu ir, tá quase na hora de Raven chegar. - digo me levantando da cama e procurando minhas roupas, mas Finn me segura pela cintura - O que foi?

-Tenho uma surpresa. - ele diz com um sorriso largo - Terminei com a Raven pra ficar com você.

Eu franzo a testa e fico paralisada enquanto ele distribui beijos pelo meu pescoço, me afasto assim que volto à realidade.

-Você fez o quê? - pergunto retoricamente - Eu não mandei você terminar com ninguém, seu idiota.

Pego minhas roupas e visto rápido, Finn me encara com uma mistura de surpresa e decepção e quando saio pela porta ele me segue.

-Hey, espera. - ele diz e me segura pelo braço - Eu pensei que a gente tivesse… você sabe, uma química.

-É, a gente tem uma química. Sabe qual é a nossa química? Sexo! - digo meio irritada - Eu não quero ficar com você, Finn. Ter uma casa, filhos ou seja lá o que você planejava com ela. Sou sua amante, okay? Não confunde as coisas.

Eu saio da casa e a força com que a porta bate me desperta. Me sento e estou de volta à torre, já está escuro e alguém me chama no rádio.

-Torre Thorofare. - falo ainda um pouco desnorteada.

-Sou eu. - é a voz de Alexandria - Só queria dizer que fui picada por uma abelha mais cedo.

-Oh… okay(?) - eu não sei muito bem o que dizer - É isso?

-Sim. - ela responde apenas.

-Ahn… eh… Doeu?

-Sim, tipo isso.

-Sinto muito. - digo tentando não pensar o quanto aquela conversa era estranha.

-Quer saber de uma coisa?

-O quê? - pergunto me sentando na cadeira em frente à mesa.

-Não estou mais usando minha aliança. - mordo o lábio e espero que ela conclua - Não me sinto culpada, mas me sinto culpada por não me sentir culpada.

-Não precisa sentir. - digo baixo e por um momento eu só consigo ouvir o crepitar do rádio.

-Venha pra Boulder comigo.

-Lexa. - eu digo e suspiro.

-O quê? Eu te apresento minha família, meus amigos. É um lugar bom, eu juro. - ela diz num fôlego só - É só que… eu não queria que você fosse pra longe, não depois desse verão.

-Eu não sou assim, não sou como você.

-E como eu sou? - ela pergunta e eu não sei como responder - Sabe o que estou fazendo agora? Achei uma tequila Major Bueno na beira do lago.

-Por isso está falando arrastado? Está bêbada?

-Não, eu estou ficando bêbada. - ela dá alguns sorrisinhos - Eu penso que posso ficar me culpando por estar gostando de outra pessoa enquanto minha última pessoa está morta ou relaxar e tomar algumas doses de álcool.

-Eu penso que você deveria ficar sóbria. - digo meio desconfortável com a situação.

-Aaaah, gosto quando você pensa. - ela diz sussurrando, quase gemendo.

-Fictício com seis letras. - digo ignorando o flerte, sei que ela vai se arrepender amanhã.

-Okay, vamos pensar. - ela entende o que estou fazendo.

-Com meia garrafa de tequila na barriga? Difícil. - digo dando uma risadinha - Você deveria dormir.

-Irreal. A resposta da palavra cruzada, irreal. - ela responde - É algum tipo de indireta?

-Você está pirada, Alexandria. Vamos dormir.

DIA 78

Me levanto com o cheiro de fumaça invadindo minha torre, o horizonte está cinzento e eu mal consigo enxergar a torre de Alexandria, seja a olho nu ou com a luneta, tudo está tomado pela fumaça. Eles disseram que aquele incêndio na Estação Wapiti pode ter sido proposital, era uma estação de pesquisa, talvez sobre a natureza ou algo do tipo e agora o June tem um amiguinho novo.

-Acho que vou vomitar. - ouço no rádio.

-Bom dia, flor do dia. - digo sorrindo - Não deveria ter tomado aquela garrafa inteira de tequila.

-Ai, não grita.

-Tenho uma boa notícia, princesa. - digo num tom alegre - Aquelas meninas apareceram. Parece que você não as matou. Elas pegaram um trator de um fazendeiro para um pequeno passeio em Riverton e foram parar na cadeia.

-Ufa.

-Foi exatamente o que eu disse quando soube, já não basta ter que ser interrogada por conta do incêndio na Estação Wapiti.

-Eles acham mesmo que foi proposital? - ela pergunta e tenho a impressão que está mastigando alguma coisa.

-Eu acho que eles só precisam descartar todas as hipóteses. - digo dando de ombros - De qualquer maneira, amanhã iremos pra casa.

DIA 79

-Hey, você ouviu esse avião? - digo no rádio.

-Não, estava arrumando minhas coisas. - Alexandria responde do outro lado.

-Teremos bem mais. O serviço disse que este está 2% contido.

-Esse é o incêndio June ou o da Estação Wapiti?

-Os dois incêndios mesclados em um grande desastre total. - digo suspirando - Eles vão renomear depois disso.

-Okay, estou saindo da minha torre. - ela diz e eu ouço a porta bater - Do jeito que essa fumaça está, precisamos de um plano se não tiver notícias minhas por muito tempo.

-Ahn… eu vou lembrar de você. - digo sorrindo.

-Bom, eu estava pensando em um plano B ou algo do tipo.

-Sim, ahn, certo. Provavelmente eu vou me mudar para o Canadá. Ontario, talvez. - eu finjo desentendimento.

-Não! Se algo acontecer comigo! - ela insiste.

-Bom, terei que pôr o pé na estrada, não quero ser presa de novo. -

-Esquece.

-Se cuida, Alexandria.

Eu desligo o rádio e arrumo algumas coisas na mochila, respondo alguns guardas no rádio e tento ficar o mais longe da fumaça possível. Tento encontrar Alexandria em algum lugar com a luneta, mas sem condições com essa quantidade de fumaça cobrindo tudo.

-Serviço Florestal para Torre Thorofare. - ouço no rádio.

-Torre Thorofare na escuta. - respondo.

-Estaremos aí o mais rápido possível, o que não deve ser muito, mas também não pouco por conta de toda essa fumaça. Entendido?

-Entendido, mas preciso que liberem o acesso ao teleférico, a Torre Two Forks precisa, é uma emergência, o fogo está se alastrando rápido.

-Acesso liberado. - uma voz masculina diz após algum tempo - Câmbio, desligo.

Mexo na sintonia do rádio novamente.

-Hey, fiquei sabendo que estão vindo nos buscar. Na minha torre. - digo para Alexandria - Você precisa chegar no teleférico. É ao Norte. Bem longe. Lá onde você encontrou aquele corte em Maio.

-Okay, me lembro bem onde fica.

-Nós estamos no meio de um fogo que está tomando conta de 22000 acres e está aumentando. Seja rápida.

Desligo o rádio e volto a cuidar de minhas coisas, livros e revistas que trouxe, quando um helicóptero pousa em frente à minha torre, conversamos sobre as proporções do incêndio e como eles estão trabalhando no resgate dos guardas. Peço que esperem algum tempo e volto para dentro da torre.

-Alexandria, eles estão aqui, mas estão se revezando. Eles vão voltar. - faço uma pausa - Acho que vou com eles.

-O quê? Não! Espere. Só espere, okay? Não tô tão longe. - percebo um pouco de desespero em sua voz.

-Eh… Alexandria, eles estão aqui. Estão esperando, agora. - digo olhando para o nada.

-Por favor.

-Olha, estamos no meio de um incêndio, okay? - eu suspiro - Droga. Tá, vou esperar.

-Não tô longe.

Dispenso o helicóptero e torço para que ela não esteja realmente longe, é um péssimo dia para virar churrasco de urso. Me sento na varanda improvisada e aguardo algum sinal de Alexandria, nada. Me levanto e entro na torre novamente, remexo a mochila procurando alguma barra de cereal e quando me viro ela é a primeira coisa que eu vejo, sobressalto, não sei se é ela, deveria perguntar? Não sei, só o que consigo fazer é a observar dos pés à cabeça.

-Eu não queria te assustar. - ela é a primeira a dizer.

-Alexandria? - digo me aproximando - É bom te ver.

-Bom te ver também. - ela diz sorrindo de lado - Então, sua torre é bem diferente da minha. Eu posso cair de lá a qualquer momento com aquele monte de madeira velha.

-Bom, estamos em cima de uma montanha cheia de pedras, se houver um deslizamento… - não termino a frase.

Ela olha ao redor observa a torre e se aproxima da bancada que eu costumava fazer palavra cruzada. Ela para com um sorriso no rosto e pega o desenho em cima da mesa, aquele que eu havia desenhado há alguns meses.

-Ficou parecido. - ela diz me encarando - Bom, tirando a parte que parece mais a Angelina Jolie. - a gente cai na gargalhada - Você desenha bem.

-Obrigada. - digo desviando o olhar para a outra mão dela e aponto - É o Whisky?

-Oh, sim. - ela diz animada e se aproxima de mim mostrando a pequena tartaruga.

-É um filhote. - eu digo pegando o pequeno nas mãos - Oi, Whisky. - digo quando ele coloca a cabeça pra fora do casco - Você é muito fofo.

Volto a olhar para Alexandria e ela está me encarando com seus olhos verdes e com um sorriso largo.

-Venha pra Boulder comigo.

-Você não me quer lá. - meu maxilar enrijece.

-Bom, eu tô te chamando. - ela diz e eu percebo o quanto a voz dela é gostosa pessoalmente, como soa lindo.

-Olha, eu tenho algumas coisas pra resolver em Casper, mas eu posso passar em Boulder, te visitar. - eu digo mordendo o lábio, Alexandria encara minha boca, eu devolvo a tartaruga e me afasto um pouco negando com a cabeça.

-Tudo bem. - ela põe uma das mãos no bolso - A gente se visita então.

Eu sorrio fraco e a gente se encara durante um tempo. Quase agradeço a Deus quando ouço o helicóptero se aproximando. Pego minha mochila e a capa do violão. Descemos os degraus e eu subo primeiro, a ajudando a subir logo depois. O helicóptero levanta vôo e é perceptível o desconforto de Alexandria, seguro sua mão e percebo que é nosso primeiro contato físico. A prova que ela precisava pra saber que sou real.



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