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História Fix You - Capítulo 07 - Head Over Heels


Escrita por: LuPetris

Capítulo 8 - Capítulo 07 - Head Over Heels


Fanfic / Fanfiction Fix You - Capítulo 07 - Head Over Heels

Dimitri POV

Eu sabia que Rosemarie Hathaway era encrenca assim que coloquei meus olhos sobre ela naquele aeroporto. A garota era bonita demais para seu próprio bem. E além de ter aquela beleza exótica potencializada por seus longos cabelos escuros e inacreditáveis olhos castanhos, tinha um corpo incrível. Não havia como não reparar como seu jeans se amoldava em suas pernas bem delineadas e em seu quadril largo, terminando em uma fina cintura. Nem como não notar os seios fartos mesmo sobre uma blusa azul larga. Não iria nem comentar a respeito de seu traseiro redondo tão bem marcado pela calça. Ela era a tentação em pessoa e sem fazer qualquer esforço.

Porém outra coisa que pude observar é que havia uma grande tristeza por trás daqueles olhos curiosos. Havia algo ali que me intrigou um pouco.

Rose também analisou tanto a Mikhail quanto a mim com a mesma atenção, então busquei mascarar minha admiração por sua beleza no mesmo instante. Precisava tratá-la da forma mais profissional possível para fazer jus à confiança em mim depositada pela agência. Aquela podia não ser a missão dos meus sonhos, mas eu iria cumpri-la da melhor forma possível.

Diferente de mim, Mikhail não estava  colaborando muito, aproveitando para flertar com Rose de todas as maneiras bem em frente à agente Petrov. Isso começou a me irritar e tentei me desculpar com a agente por aquela atitude. Não queria que pensasse que estava deixando sua testemunha nas mãos de pessoas que não iriam respeitá-la.

Logo que Petrov explicou a situação compreendi a natureza da tristeza no olhar de Rose. Ela havia perdido os pais há pouco tempo. Senti uma grande solidariedade por suas perdas e por aquilo que enfrentava, mas tranquei meus sentimentos. Não queria que ela usasse isso para se aproximar, uma vez que pude notar que a morena não parou de me olhar por um segundo enquanto Alberta fazia seu relatório. Por mais que eu me esforçasse para prestar atenção na agente, estava todo o tempo ciente daqueles olhos sobre mim.

Ao mesmo tempo que me envaidecia por ter despertado a atenção daquela mulher tão bonita, fiquei incomodado com isso. Eu não podia deixar que uma potencial atração pudesse surgir entre nós. Havia muito em jogo para mim e eu não iria permitir que mais nada pusesse em risco minha carreira.

Foi por isso que decidi manter uma linha estritamente profissional com Rose, mesmo que Mikhail estivesse vislumbrando uma possibilidade de tentar me empurrar para ela. Creio que meu parceiro também havia reparado a forma como a garota me olhava atentamente e achou que poderia tentar nos unir. Ele não percebia que eu não estava aberto a novos amores ou paixonites.

Infelizmente, seria bem mais complicado me manter distante daquela pequena do que eu pretendia. Ela era uma garota divertida e cativante, apesar das tristezas pelas quais estava passando, e senti que facilmente poderia quebrar a barreira que eu havia criado entre nós.

Por isso, evitei embarcar em suas brincadeiras e, em minha ânsia de me defender dela, acabei sendo até um pouco indelicado, mas apenas me dei conta quando ela jogou minhas palavras de volta para mim e elas soaram rudes aos meus ouvidos.

Confesso que quando Adrian informou que ela não poderia ficar no apartamento naquela noite havia me passado pela cabeça que talvez devesse levá-la para minha casa. Mesmo que ele houvesse fornecido uma solução, eu não fiquei totalmente confortável com o arranjo, mas eu não podia deixá-la chegar tão próximo a mim. Nas poucas horas que estivemos juntos ela já havia tomado uma parte de meus pensamentos.

É claro que cogitar algo era mais difícil do que fazer. Manter-me indiferente a ela pode até ter funcionado enquanto estávamos juntos, porém, quando cheguei em casa naquela noite, Rose não saía de minha cabeça. Sentia-me incomodado por tê-la deixado sozinha com meu primo. Não que Adrian fosse algum tipo de pervertido, porém eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele não perderia uma oportunidade para cantar uma mulher. Ainda mais uma tão bonita quanto Rose. Eu havia reparado como ele a avaliou descaradamente.

O que me aliviou foi pensar que eu tinha a chance de auxiliar a agência de Palo Alto a encerrar aquele caso o quanto antes para poder mandar Rosemarie de volta para a Califórnia o mais rápido possível antes que maiores danos ocorressem. Recebi um HD com vários dados recolhidos sobre o caso e uma pasta com alguns relatórios para que eu pudesse analisar e colaborar para encontrarmos as provas necessárias para incriminar Dashkov por seus atos.

Só de pensar naquele homem sentia minha raiva fervilhar. Como alguém poderia ser ter cruel e desonesto?

Eu já conhecia seu nome e tinha uma vaga ideia de que não era flor que se cheire. Meu grande amigo de infância, Ivan Zeklos, tinha um parentesco distante com esse homem e foi por conta desses parentes que sua família havia se isolado em Montana. Os pais de Ivan abominavam  a política suja de seus familiares, permeada de corrupção e mentiras.

Senti um grande aperto no peito com a lembrança de meu amigo. Ele fora como um irmão para mim desde que pisei nos Estados Unidos e juntos alimentamos o sonho de nos tornar policiais. 

Eu já carregava essa vocação desde a infância por amar romances de faroeste. Minha mãe dizia que eu tinha o sonho de me tornar um xerife justiceiro, tal qual Wyatt Earp¹, mas acredito que vê-la passar por tantos intempéries graças as falcatruas de meu pai fez aumentar ainda mais meu senso de justiça e a vontade de fazer o que era certo.

Ivan também possuía o mesmo ímpeto justiceiro que eu e logo começamos a compartilhar nossas pretensões. Planejamos entrar no FBI graças aos milhares filmes de ação que assistíamos após a escola.

E nós conseguimos nosso intento: nos formamos juntos na faculdade, ingressamos a polícia local e depois fomos aprovados no Curso de Formação Profissional da Academia de Polícia do FBI em Quantico.

Quando enfim conquistamos o título de agentes especiais do FBI, fomos designados para a agência residente de Missoula. Era comum enviar os novatos para as agências menores e, como tínhamos família naquela cidade, acabamos retornando para cá. Isso foi o júbilo para minha família, uma vez que ficaria próximo à ela. 

Se eu soubesse que alguns anos depois haveria de enterrar meu amigo por conta de nossos sonhos, creio que jamais teria seguido por aquele caminho. Ainda mais que sua morte fora causada por meus erros.

Esses pensamentos sombrios, aliados a minha preocupação com Rose fizeram com que eu tivesse uma noite extremamente mal dormida e esse era apenas o prenúncio de um dia miserável.

Logo após o café da manhã fui ao prédio de Adrian para verificar Rose, como havia combinado que faria. Para minha surpresa, nem ela nem meu primo estavam no apartamento dele, mas o cheiro de tinta e a porta entreaberta do imóvel que ela ocuparia denunciaram sua localização. Quando abri totalmente a porta que dava para a sala, presenciei uma cena que jamais acreditei ser possível. Adrian já estava de pé e ainda por cima trabalhando na pintura as paredes.

— Eu acho que eu entrei em uma realidade alternativa – comentei rindo do que via.

— Ha ha ha, muito engraçadinho – Adrian replicou ironicamente. – De onde você tirou aquela mulher? Ela é uma torturadora. E das boas.

— Estou vendo. Para colocar você para trabalhar tão cedo ela deve ter utilizado de métodos bem escusos. Falando nisso, onde está Rose?

— No banheiro tentando lixar aquela banheira sozinha. Ela é louca, Dimitri – meu primo parecia assombrado. – Me fez pular da cama de madrugada pra ajudar ela.

Enquanto ele falava atrás de mim fui até a porta do tal banheiro e me detive no mesmo instante. Rose estava de costas para nós ajoelhada no chão, quase de quatro, inclinada dentro de banheira. Ela não havia percebido minha chegada, pois estava com fones de ouvido, mas aquilo me deu uma oportunidade maior de observá-la. A garota usava um shorts jeans que era um tanto curto, acentuando seus quadris e deixando suas nádegas mais empinadas e incrivelmente deliciosas. Nenhum homem em sã consciência podia ignorar uma cena daquelas. Nem podia impedir as fantasias que vinham a mente ao vê-la nesse ângulo.

— Está compreendendo o que eu falei? – apontou Adrian, olhando-a com tanta luxúria quanto eu devia estar fazendo e tive a vontade irracional de empurrá-lo dali para fora. 

Nós estávamos sendo invasivos e completamente errados em olhá-la daquela forma enquanto Rose estava alheia ao que acontecia. Porém, todos esses pensamentos se desvaneceram quando Adrian continuou falando quase que para si mesmo:

— Você tinha razão. Não tinha como deixar ela sair sozinha desse jeito por aí.

— Eu não acredito nisso! Eu não te falei ontem que não era pra você ir com Rose a lugar algum? – senti a irritação por toda aquela noite insone se abater sobre mim.

— Disse, mas ela ameaçou ir sem mim. Você queria que eu fizesse o quê?

Tentei represar toda exasperação que estava sentindo naquele momento sem muito sucesso. Ela estava aqui a menos de vinte e quatro horas e já havia desrespeitado o que conversamos. Mas o que eu podia esperar? Ela havia crescido dentre o luxo e a riqueza. Deveria estar acostumada a fazer o que bem entendia na hora que queria.

— Sério que vocês dois estão secando a minha bunda? – Rose perguntou ao reparar a nossa situação.

Tive que me segurar para não brigar com ela por sua irresponsabilidade. Estava me controlando ao máximo para tentar fazê-la entender que precisava me avisar onde ia e que aquilo não era um jogo. Por sua postura birrenta, com braços cruzados, me fitando sem medo, achei que Rose iria ser mais resistente, mas ela me surpreendeu sendo flexível e aceitando meus termos após lhe explicar o que eu queria dela. Aquilo me desarmou um pouco. Como ela podia ter atitudes tão ambíguas? Uma hora era a típica garota mimada, na outra era compreensiva.

Porém sua concordância não veio sem um ônus: Rose pediu que eu ajudasse na reforma do apartamento. Considerei a proposta por alguns instantes. De certa forma ela tinha razão quando disse que era minha responsabilidade por estar naquele imóvel. Além disso, pelo que pude observar, não havia tanto que se fazer. Se eu trabalhasse ali durante a manhã, possivelmente tudo estaria pintado até o começo da tarde e ela sossegaria um pouco então acabei cedendo e passei a auxiliar Adrian na pintura. Se bem que estava mais para ele me ajudando, pois acabei assumindo a maior parte do trabalho.

— Estou quase encomendando uma banheira nova para esse apartamento – Adrian comentou em algum momento antes do almoço, quando Rose havia ido até a casa dele preparar a comida. Fiquei com medo do que sairia daquela cozinha. Tinha fortes dúvida que aquela mulher sequer soubesse cozinhar. – Ela nunca vai conseguir terminar sozinha.

— Deixe que ela se ocupe com aquilo – falei. – Pelo menos está entretida com algo e não me dá nenhuma dor de cabeça.

— Por que você é tão duro com Rose? – meu primo franziu a testa enquanto olhava para a porta que dava para o corredor como se pudesse vê-la dali. – Ela está triste com alguma coisa.

Então não fora só eu que reparara a tristeza daqueles olhos e ponderei o que ele disse por alguns instantes. Não era minha intenção ser tão austero com ela, mas eu precisava manter uma distância segura entre nós. Além disso, Rose havia sido imatura saindo sem me avisar. Era natural que eu reagisse daquela forma quando eu sou o único responsável por sua segurança.

— É melhor que as coisas sejam assim – acabei falando em voz baixa, sendo que aquilo saiu mais como um mantra para mim mesmo do que uma resposta para Adrian.

— Você está perdendo a oportunidade de conhecer uma grande garota. Rose tem um brilho próprio que não deixa apagar mesmo dentre as trevas que esta vivendo.

— Virou um poeta agora? – zombei me divertindo um pouco até perceber o real sentido por trás de suas palavras. – O que você sabe sobre o que ela está vivendo?

— Eu...

— Rapazes, está na mesa! – Rose anunciou interrompendo Adrian.

Minha irritação voltou com força total. Novamente estava aí a imprudência daquela mulher. Com certeza ela devia ter contado algo para Adrian sobre o que estava lhe acontecendo, algo que o fez proferir aquelas palavras.

Eu juro que tentei me refrear durante todo o almoço, mesmo com Rose me provocando e questionando sobre a minha vida, mas quando ela começou a deixar mais informações expostas para Adrian cheguei ao meu limite. Acabei jogando acusações sobre ela e falando o que pensava a seu respeito.

E isso foi um grande erro.

— Olha aqui você, Dimitri. Eu cansei da sua grosseria – Rose gritou se levantando da cadeira e apontando um dedo para mim. – Você já deixou bem claro que não está feliz com essa situação. Pois saiba de uma coisa: eu também não estou não estou nem um pouco feliz por estar aqui. Eu nunca quis ser testemunha de coisa alguma. Preferia mil vezes estar na minha casa com os meus pais do que tê-los visto serem mortos.

Suas palavras foram como um tapa em meu rosto. Só que antes que eu pudesse pensar em algo para dizer Rose se virou para a pia e continuou:

— À partir de agora vamos fazer do seu jeito, então. Você vai vir aqui para constatar que eu estou viva nos horários determinados e eu vou te mandar a porcaria da mensagem quando for fazer algo e esse é o máximo de contato que nós teremos.

Enfim ela estava me dando o que eu queria desde o começo, porém eu já não sabia mais se era aquilo que eu desejava. Fui até ela buscando as palavras para tentar me desculpar pelo que havia falado, mas Rose me cortou e me expulsou. Fitei-a por mais algum tempo antes de me decidir. Não era um bom momento para eu dizer coisa alguma. Ela não iria me escutar e, no fim das contas, nem eu sabia o que dizer, então parti sem dizer nada.

Passei rapidamente por minha casa para tomar uma ducha e mudar de roupa para ir à agência. A todo tempo as palavras de Rose ressoavam por minha mente. Como pude ser tão insensível? É claro que ela estava machucada com tudo o que acontecera, mesmo que estivesse lutando para parecer bem. Eu deveria ter sido mais compreensivo.

Durante a maior parte daquela tarde fiquei analisando os dados que me foram entregues sobre o caso Dashkov, mas, em dado momento, quando Mikhail estava fora da sala, peguei os arquivos sobre Rose. Ali havia um pequeno histórico acompanhado de vários dados a respeito de sua vida, desde seu currículo escolar, incluindo notas, até dados médicos.

Descobri que ela estava presente no atentado preparado contra a família Dragomir. Rose ficou três meses internada por conta de uma lesão em uma das vértebras que quase lhe custou o movimento das pernas. Ficou meses depois disso fazendo fisioterapia e outros tipos de terapias para voltar a andar normalmente.

O que mais me espantou sobre aquilo foi reparar que, após esse acidente, seu histórico escolar apresentou uma melhora espantosa. Antes, o que me parecia ser uma garota selvagem e intratável, passou a ser estudiosa e a se dedicar a inúmeras atividades, se tornou cheerleader e passou a apoiar algumas obras de caridade e grupos de apoio como voluntária. Os professores pareciam não mais ter reclamações a seu respeito, apenas elogios. E tudo isso lhe garantiu a aprovação para ingressar em Medicina em Stanford onde suas notas continuaram satisfatórias. Era como se o acidente a tivesse marcado de alguma forma que a fez ficar mais consciente até mesmo de seu próprio potencial.

E eu a julgando como uma garota mimada. Devia ter refletido mais a respeito. Se Rose fosse assim por que estaria fazendo Medicina? Ela poderia estar seguindo alguma profissão que a auxiliasse no comando dos negócios do pai, mas, pelo contrário, foi atrás de uma das áreas mais complicadas e, arrisco a dizer, penosas que existe.

Após ler todos aqueles relatórios, alguns que despertaram ainda mais minha curiosidade sobre a pequena morena e sua personalidade, acabei acessando no HD o depoimento dela logo após a morte dos pais.

A câmera captava Rose de frente e, ao seu lado, estava uma mulher que imaginei ser Sonya Karp, a advogada que vinha nos auxiliando. Meu coração se partiu ao ver o estado da garota. Ela estava devastada e não parou de chorar durante todo o depoimento. Eu não conseguia conceber como ela teve condições de relatar tudo aquilo.

Ela contou com uma clareza de detalhes inacreditável o momento em que descobriu sobre os negócios ilegais entre Ibahim Mazur e o Senador, depois a discussão que teve com o pai em que este lhe revelou tudo sobre os tais esquemas e, por fim, o trágico assassinato que, para minha surpresa, fora cometido pelo sobrinho de Dashkov com o qual Rose teve um "envolvimento", como ela mesma definiu.

Meu corpo foi tomado por tensão nessa última parte do relato. Era um sofrimento sem igual fazê-la reviver aqueles derradeiros momentos dessa forma. Eu entendo que os agentes precisavam saber tudo o que havia ocorrido e não podiam se envolver emocionalmente com a situação, mas a forma fria como o agente Stan Alto a tratou naquele momento me encheu de raiva.

Logo que a gravação se encerrou direcionei aquela raiva para mim mesmo. Meu Deus, onde eu estava com a cabeça quando a tratei tão mal? Rose tinha razão em estar irada comigo daquela forma. Ela vivera um inferno e eu estava sendo um dos maiores babacas da face da Terra para com ela.

— Isso foi intenso – disse Mikhail repentinamente atrás de mim. Não havia percebido que ele entrara na sala enquanto eu assistia ao vídeo. Estava muito absorto nos fatos que se desenrolavam na tela. – Pobre Rose. Não é fácil passar por isso e depois manter a serenidade que ela apresentou aqui.

Meu parceiro tinha toda a razão. Naquele instante, dei graças por pelo menos ele ter sido amigável com ela ontem. Agora eu compreendia porque a agente Petrov a havia tratado com tanta condescendência.

— Essa outra mulher na imagem era Sonya Karp? – questionou Mikhail enquanto me mantive em silêncio.

— Sim, era ela. Como você sabe? – foi a minha vez de perguntar.

— Ela me ligou pela manhã. Petrov pediu que mantivéssemos contato para poder passar à Rose as novidades sobre a amiga dela e, pelo que pude ver aqui, Sonya é tão bonita quanto sua voz ao telefone.

Revirei os olhos para o comentário de Mikhail. Ele sempre fora metido a galanteador.

— De qualquer forma – ele continuou –, avise Rose que a amiga está bem. Sonya conseguiu convencê-la de que a polícia não desistiu das buscas e a garota não vai fazer nada por hora que possa colocar em risco a investigação ou a ela mesma.

— Vou lá agora pra falar disso com Rose – anunciei me levantando, usando aquilo como pretexto. Eu tinha um grande pedido de desculpas para fazer.

Despedi-me brevemente de Mikhail que me olhava de forma indecifrável, mas não lhe dei muita atenção. Estava concentrado em escolher a melhor forma de justificar as minhas atitudes injustificáveis.

Enfrentei aquele dilema durante todo o percurso até chegar à porta de seu apartamento, onde Adrian e Rose pareciam se despedir com um abraço. Novamente senti o mesmo incomodo de quando ele a olhava mais cedo. 

— Já viu que eu estou viva – Rose falou para mim de forma fria, se soltando dos braços de Adrian e se afastando para dentro do apartamento. – Sua missão está cumprida por hoje.

— Rose, espera... – ela fechou a porta antes que eu terminasse.

Adrian, por sua vez, veio até mim, me empurrando para a ponta oposta do corredor.

— Qual é seu problema, Dimitri? Deixou a garota aos prantos mais cedo.

Senti meu coração se apertar ao imaginar que havia lhe causado mais tristeza.

— E você se aproveitou para consolá-la – acabei devolvendo em tom de acusação.

— Como se Rose deixasse. Eu só sei que esteve chorando por seus olhos inchados. Ela não me deixou chegar perto dela depois que você saiu. Fingiu que não era nada. Meu Deus homem, você sabia que a garota acabou de perder os pais?

Eu deveria ter ficado zangado novamente por ela ter revelado mais aquela informação a Adrian, mas não consegui. Rose precisava conversar com alguém e ele era a pessoa que ficara ao seu lado. 

— Eu sei que você está escondendo ela aqui por algum motivo e não quer que as pessoas saibam qualquer coisa a respeito de seu passado, mas Rose precisa do apoio de alguém e você sabe que eu não vou sair contando coisa alguma – meu primo pareceu ler o rumo de meus pensamentos. – Só que se você quer tanto manter esse segredo, devia se desculpar com ela e se aproximar mais assim a garota não vai precisar confiar em outra pessoa.

Adrian tinha razão. Se eu tivesse feito o meu papel corretamente desde o início não estaríamos nesse impasse. Eu fui negligente demais para perceber que Rose precisava de algo além de um segurança. Ela precisava de um amigo.

— Vou me desculpar com ela – declarei tentando me dirigir à porta dela, porém fui impedido por Adrian.

— Não vai lá agora. Ela está muito magoada e furiosa. E mulheres furiosas têm a tendência a não nos ouvir. Eu te falo por experiência – ele comentou. – Espere até amanhã. Deixa os ânimos esfriarem.

Relutantemente acabei concordando com a sugestão. Eu sabia que não adiantaria nada falar se Rose não me escutasse. Jamais conseguiria chegar a ela dessa forma. E, no fundo, eu não me sentia realmente preparado para encará-la ainda. Precisava de um tempo para colocar minha cabeça no lugar.

Fui para casa me sentindo ainda mais deplorável que antes. Eu vi a rancor nos olhos de Rose pouco antes dela fechar a porta e aquilo me assombrava. Não conseguia parar de me culpar. Estava tão atolado em minha autorrecriminação que nem reparei que Olena falou comigo quando entrei em casa. Apenas fui até o sofá e me joguei ali.

— O que aconteceu? – minha mãe indagou indo até mim.

— Nada. É só que eu sou um idiota.

Olena se sentou no sofá e pousei minha cabeça em seu colo. Ela começou a passar a mão carinhosamente por meus cabelos como só uma mãe sabe fazer.

— Você não é um idiota, meu filho. É uma das pessoas mais inteligentes e amáveis que eu conheço.

— Só que eu não me sinto assim já faz um bom tempo. – Voltei meu rosto para olhá-la – Desde quando eu me tornei essa pessoa?

Ela suspirou pensando a respeito. Tanto Olena quanto eu sabíamos bem desde quando eu havia mudado.

— Dimitri, cada um lida com a dor de uma forma diferente. Tem pessoas que gritam e descontam nos outros e outras que fazem como você e se fecham para os demais.

E tem pessoas como Rose que enfrentam seus problemas sem serem babacas com os outros, pensei. Se possível, me senti ainda mais miserável. Creio que minha mãe percebeu isso, então continuou na sua tentativa de me consolar:

— O que você passou não é fácil. Ivan era como um irmão para você. E depois sua mulher foi embora... – senti que ela se deteve nessa parte para evitar fazer algum comentário sobre Tasha que me desagradaria. Mal sabia ela que essa era minha menor preocupação naquele momento. – Enfim, é normal que você não deixe que as pessoas se aproximem, é o seu jeito de se defender e evitar se machucar novamente.

Ela tinha razão. Olena sempre tinha. O problema era que minhas perdas em nada se comparavam com o que Rose havia passado. Sim, eu havia perdido um grande amigo e depois fora abandonado por minha mulher, mas ela vira seus pais serem assassinados friamente e não pode fazer nada para impedir aquilo. E agora estava ali, tentando reerguer sua vida dentro de todas as limitações que lhe foram impostas, mantendo uma vivacidade sem igual. Eu jamais conseguiria ter essa força que Rose tinha. Se eu tivesse perdido minha mãe ou uma de minhas irmãs da forma como ela perdera os pais eu certamente não conseguiria me levantar novamente.

— O problema é que eu acabo machucando outras pessoas com esse meu jeito – retorqui a Olena. – Pessoas que não merecem ser magoadas. Por ninguém.

— Isso é mesmo um problema – admitiu minha mãe. – Mas é um bom sinal quando você tem a capacidade de perceber que fez isso. O passo seguinte é pedir desculpas para essa pessoa. Você já tentou?

— Eu queria, só que ela não me deixou falar.

Uma coisa boa de minha mãe é que, diferente de minhas irmãs, ela sabia quando era hora de saciar sua curiosidade e quando devia respeitar o meu tempo. Com certeza o "ela" na minha frase havia despertado sua atenção, mas Olena não questionou nada a respeito, se focando na questão em voga.

— Talvez você não tenha feito da forma certa.

Pensei alguns instantes sobre aquilo. Minha mãe tinha razão. Eu nem tinha realmente me esforçado.

— Obrigado – acabei falando após algum tempo enquanto me erguia e a puxava para um abraço. – Obrigado por sempre saber o que dizer.

— Não precisa me agradecer, meu filho. É sempre bom dar um pouco de colo para uma de minhas crianças – Olena sorriu de forma maternal.

— Acho que eu já sou um pouco grandinho para ser chamado de criança – sorri de volta para minha mãe.

— Para as mães os filhos nunca crescem realmente – ela acariciou meu rosto antes de se levantar e me deixar à sós com meus pensamentos.

Eu sabia o que precisava fazer, sabia como poderia me redimir. Agora era só por meu plano em ação.

__________________

¹  Wyatt Earp é mais conhecido como um temido xerife de fronteira que trabalhou nas cidades de Wichita e Dodge City, no Kansas, e em Tombstone, Arizone, onde sobreviveu ao tiroteio do Curral OK. Mas como xerife trabalhou somente por 5 anos de uma vida longa e aventureira, atuando em garimpos e investindo em salões de jogos. Era famoso por sua célebre frase: "Eu sou a lei e isso acaba aqui". Se tiverem curiosidade, tem um filme que retrata parte da história do Wyatt Earp. Chama-se "Tombstone" e tem no Netflix. Com certeza deveria ser um dos filmes prediletos do Dimitri, rs. 


Notas Finais


E vocês, o que acharam do Dimitri? Dá pra perdoá-lo por suas ações?
Digam-me tudo e não me escondam nada, hein!!!

Vejo vocês nos comentários! :*


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