História Flatline - Katharine?

POV. Justin Bieber

Eu tentava viver os meus dias da forma mais saudável possível. Tentava não me recordar da Katharine, apesar de ficar me perguntando algumas vezes como ela deveria estar.

Ela nunca foi de aceitar muito bem a doença e eu sentia uma necessidade muito grande de protegê-la, mesmo que ela não queira.

Eu queria poder entender o medo que ela teve quando eu contei a minha história com a Tasha. Foi por esse motivo que eu não quis contar antes: medo dela se afastar. Acredito eu que todas as mulheres que ouçam a minha história queira se afastar por medo, ou então por eu soar alguém deprimido e falido em sentimentos.

Pior que ter encerrado algo com Kath que nem ao menos começamos direito, era aguentar Mandy perguntar dela diariamente.

- Mas por que ela foi embora, papai? – Mandy perguntava pela décima vez enquanto jantávamos na mesa.

- Ela achou melhor, querida.

- Mas ela vai voltar, não vai?

- Não filha, ela não vai.

Olhar para o rosto triste de Mandy era a pior coisa. Ela havia se apegado muito na Kath por não se recorda muito de Tasha, já que quando ela faleceu Mandy tinha apenas 3 anos e não se lembra muito.

Mandy nunca teve alguma mulher pra lhe dar a atenção adequada. Kath supria todos os seus desejos, toda a falta que Mandy sentia de alguma mulher, e talvez seja por esse motivo que ela esteja sentindo tanto a falta de Kath.

Eu estaria até melhor caso a minha filha não ficasse me lembrando a cada 20 minutos que Kath não voltaria.

É terrível quando algo destrói os seus planos. Eu esperava por isso, mas tudo estava indo muito bem com Kath, eu estava realmente preparado pra fazer um quarto de hospedes só pra ela. Eu estava preparado pra criar tudo o que ela desejava fazer antes de morrer e eu tinha esperanças dela começar o tratamento. Eu estava pronto pra usar todas as teorias pra que eu ouvisse um ‘sim Justin, eu faço o tratamento’ vindo da sua boca.

Mas ela havia partido. Não tão distante, ela estava do meu lado, ainda na terra, mas ela havia partido de mim. Ela decidiu que seria melhor viver o resto da sua vida longe de mim. Tudo seria melhor pra ela, menos, estar ao meu lado.

Eu já vivi muitas coisas nessa vida. A pior época da minha vida foi após a perca de Tasha quando eu tive que me virar com Mandy. Tasha sempre foi uma mãe presente, trocava as fraldas, dava banho, mamadeira, alimentava, dava carinho. É claro que eu também era um pai presente, eu fazia até ela dormir de vez em quando, mas de repente Tasha se foi e eu estava despreparado disso tudo. Alem de sofrer com a falta da minha mulher, com a ausência dela naquela casa onde morávamos – é obvio que eu me mudei, fiquei morando em uma casa durante 1 mês após a morte da Tasha e tudo me lembrava a ela. Me recusei a ficar mais um dia lá e arrumei um apartamento, onde moro atualmente – eu tive que cuidar de Mandy e ao mesmo tempo, trabalhar.

Mandy estava em uma fase difícil onde tudo era eu. Eu sofria por ela sentir falta de Tasha, e claro, eu sentia falta delas todos os dias. Ainda sinto. Mas hoje é melhor, eu já me conformei por ela ter partido, já aprendi a viver nesse mundo injusto sem ela, mesmo que as vezes a saudade doa e a única coisa que eu quisesse era ter o seu abraço.

Eu não sei o que ela falaria pra mim em uma situação dessas. Eu fui deixado mais uma vez. Ela iria rir de mim, ou falaria que eu continuo me importando com essas coisas.

Mas eu me preocupo com Katharine. Eu sinto uma vontade louca de ter ela comigo. E cara, ela foi embora. Eu não me conformava com isso. Por que diabos ela resolveu viver longe de mim agora que tudo estava bem?

Ela não queria viver o mundo que eu vivo, mesmo quando eu estava pronto pra viver as suas dores, mesmo estando ciente de todas as consequências que eu traria pra minha vida tendo ela comigo. Câncer não é algo fácil de lidar, mas eu estava preparado. Pela primeira vez eu estava gostando, pela primeira vez eu estava me deixando levar e pensando na hipótese de que não importa onde Tasha está, ela iria estar feliz por eu estar seguindo em frente de qualquer modo.

Mas somente eu estava preparado pra Katharine, ela não estava preparada pra mim. 

Assim que eu e Mandy terminamos de jantar, resolvi que daria banho nela naquele dia pra ver se ela esquecia um pouco da Kath já que eu não suportava mais ouvi-lá perguntar a todo instante sobre ela.

Levei Mandy no cavalinho até o andar de cima, o banheiro do seu quarto.

- Vai ligando o chuveiro. – Disse pra ela enquanto tirava a minha camiseta.

Eu não tomava banho com Mandy, apenas a ajudava a dar banho e dava a devida atenção que ela queria, mas eu não podia ficar de camiseta já que ela me molhava todo.

- Já está quente papai, posso entrar? – Mandy perguntou do banheiro.

- Pode. – Disse, enquanto colocava o seu conjunto de pijama na cama.

Fui até o banheiro e ela estava de baixo do chuveiro. Assim que ela notou a minha presença, ela sorriu.

- Lava o meu cabelo, papai?

- Sim Mandy. – Disse, rindo fraco em seguida.

Peguei o seu shampoo de criança e coloquei uma quantidade na minha mão, logo, passando nos seus fios loiros e massageando.

Mandy ficava brincando com o Box, passando seus pequenos dedos por ele enquanto desenhava coisas aleatórias. Eu massageava o seu cabelo e ela parecia gostar daquilo.

Reconheço ser um pai ausente e muitas vezes me dou conta disso tarde demais. Me dói ver o quanto Mandy precisa de mim e que pode demonstrar ao contrario algumas vezes, mas eu a amo mais que tudo. Ela foi um fruto meu e da Tasha, a primeira mulher da minha vida. Ela é tudo o que eu tenho,  a minha menininha, e eu daria qualquer coisa pra faze-la feliz todos os dias, pra estar ao seu lado, pra não deixar que ela sinta falta dos outros. Eu queria suprir todo o vazio que Mandy sente já aos seus 5 anos de idade.

- Pode tirar o sabão do cabelo, Mandy. – Disse a ela, vendo-a de olhos fechados com medo de arder.

Mandy assentiu e entrou de baixo da água. Assim que eu tirei o sabão da minha mão, pronto pra pegar o sabonete e ensaboar o seu corpo, ouvi Stella me chamar.

- Senhor Bieber... – Ela disse, chegando na porta do banheiro.

- Oi Stella. – Falei, a olhando na porta e voltando a olhar pra Mandy em seguida.

- Tem visita pra você. – Ela disse e eu a fitei novamente.

- Pra mim?

- Sim. Ela já dormiu aqui uma vez, senhor Bieber. Me desculpe deixa-lá entrar, eu sei que o senhor não gosta disso, mas ela disse que precisava falar com o senhor urgente.

- Tudo bem. – Falei, secando a minha mão em uma toalha. – Mandy, termine de tomar banho, eu preciso descer pra ver quem é.

Mandy assentiu e eu sai do banheiro, encostando a porta. Stella desceu as escadas em direção a sala e eu fiz o mesmo caminho que ela, mas parei no segundo degrau da escada quando vi Katharine na sala, me olhando com os olhos inchados de choro.

- Katharine? – Perguntei, piscando algumas vezes pra ter certeza do que eu estava enxergando. – O que você faz aqui?

Antes dela responder, notei que ela me olhou de cabeça aos pés e os seus lábios tremeram um pouco. Me olhei em seguida e percebi que vestia apenas uma calça, sem camiseta e o meu peitoral estava todo molhado.

Péssimo modo de dar boas vindas a Katharine.

- Justin... – Ela sussurrou. – Me desculpe.

Franzi a testa sem entender.

- O que aconteceu? – Perguntei.

- Eu não sei se você vai aceitar, mas eu andei pensando direito e eu... eu senti tanto a sua falta. E eu fui radical demais por te deixar, eu não deveria fazer isso.

- Você está bem? Essa não é a Katharine negativa que eu conheço.

Ela riu, deixando algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

- Emilly me ajudou a chegar a essa conclusão.

- Adoro a Emilly! – Exclamei abrindo um sorriso e Kath riu.

- Mas não é só essa decisão que eu tomei. – Ela disse e eu engoli seco.

- Não? Existe outra decisão além dessa?

- Sim. Eu resolvi que vou fazer o tratamento.