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História Flor do deserto - Caminhos cruzados e meias verdades


Escrita por: HighLadyofNight

Notas do Autor


Dois capítulos em uma semana! Esse fluiu bem e consegui escrever rápido.
Temos algumas referências de capítulos lá nos primórdios, não sei se quem está lendo vai sacar.
E teremos um pouco do paradeiro de alguns personagens sumidos...

Boa leitura!

Capítulo 32 - Caminhos cruzados e meias verdades


[Katherine]

- Quando irá me dar mais aulas de montaria? – perguntei a Nathaniel enquanto ele estava arrumando a sela de Duquesa.

- Ah, podemos fazer isso quando quiser.

- Mesmo?

- Quer dizer... quando eu tiver tempo – ele sorriu, sem graça. – Imagino que possamos fazer isso nos próximos dias, quando eu tiver finalizado a catalogação dos artigos da expedição. Minha carga de trabalho se reduzirá e assim, acredito que conseguirei voltar para casa bem mais cedo.

Assenti com a cabeça e levei a mão ao pescoço de Duquesa, fazendo-lhe um carinho. Nathaniel terminou de ajustar o equipamento de montaria e voltou sua atenção a mim novamente.

- Gostaria de poder lhe oferecer tarefas menos enfadonhas.

- Perdão? – Eu disse, sem entender.

- Sei que ficar aqui o dia todo fazendo tarefas de casa não é a atividade mais agradável do mundo. – Ele declarou. - Ao menos se pudesse me ajudar com o inventário... – e concluiu, pensativo.

- Mas não estou me sentindo entediada, se é o que está pensando. Também tenho reservado um tempo para ler, para ler aqueles seus livros. Tenho aprendido bastante coisa e eles têm sido uma ótima distração.

- Está se entretendo com eles? Mesmo?

- Uhum. Não tive a oportunidade de aprender História e estou achando fascinante!

- Pensei que preferisse ler outro tipo de coisa... Romances, por exemplo.

Recordei-me de minha pequena coleção de livros de romance. Eu os adorava, sorria e chorava com aquelas histórias, mas minha leitura atual era algo inédito. Eu estava adquirindo conhecimento que me era negado pelo simples fato de ser mulher.

- Está certo neste ponto. Eu adoro romances. Adorava lê-los, tenho vários exemplares em minha estante. – Comecei a dizer. - Alguns títulos consegui a duras penas, pois papai os detestava. Dizia que eram inadequados para uma jovem dama. – Lembrei das implicâncias de papai e senti um pequeno aperto de saudade. - Mas este tipo de leitura é completamente diferente. É tão surpreendente descobrir como era o mundo há tantos anos atrás, como eram os costumes, as crenças, a sociedade... Eu não sei se teria chance de adquirir tal conhecimento de outra forma. E eu estou feliz por isso.

- Se está feliz, então, fico feliz também. – Ele deu um sorriso largo para mim. – Ainda assim, é lastimável que eu não possa encontrar algum romance para adquirir por aqui.

- Ah, não se preocupe. Estou bem com seus livros. – Respondi, retribuindo seu sorriso. - E ainda há muitos volumes em sua estante até que eu me canse deles.

Nathaniel veio até mim e fez uma carícia em meu rosto com o polegar.

- Sinto ter que dizer, mas preciso ir. – Ele disse e me deu um beijo. – Tentarei chegar antes do anoitecer. Gostaria de aproveitar ao menos o fim da tarde em sua companhia.

- Mas não acabou de dizer que tem muito trabalho a fazer?

- E tenho, mas só é preciso que eu consiga voltar uma hora antes. Desejo levá-la para ver um pouco da cidade e o lugar onde pretendo ir não fica muito longe.

Juntei as mãos em um gesto ansioso, como se fosse uma criança ávida por um presente.

- Quero que conheça o que esta cidade tem de mais bonito. – Ele disse de uma forma carinhosa. - Você já passou tempo demais aqui sozinha.

Não pude evitar de abrir um sorriso.

- É muito gentil de sua parte... – Eu respondi, agradecida.

- Enquanto isso, torça para que eu consiga terminar as tarefas em um tempo mais curto. – Ele disse. - Se é que meus pensamentos me deixarão em paz... – e acrescentou achando graça.

- Eu não tenho culpa de nada. – Respondi com um ar inocente.

- Claro que não tem. Aliás, se encontrar uma tal senhorita Hawthorne, uma bela dama, dona de lindos olhos verdes, diga-lhe para parar de atormentar minha mente, ou irei entornar o tinteiro no livro tombo mais uma vez.

- Direi a ela, com certeza. – Respondi rindo e no instante seguinte, a boca dele capturou a minha.

- Não esqueça – ele disse e me deu outro beijo – e diga também – e se interrompeu, mordendo suavemente meus lábios - que eu gosto muito dela.

- Uhum – foi a única coisa que consegui responder, visto que os lábios dele estavam grudados aos meus.

Quando nos afastamos, eu estava quase sem fôlego.

- Ficarei esperando por você. – Eu disse.

- Eu sei. – Nathaniel respondeu em um sussurro. - Não esperaria algo diferente. – E acrescentou com um ar convencido, fazendo-me franzir as sobrancelhas.

Beijamo-nos mais uma vez. Agora que havíamos enfim nos libertado das amarras do medo e dos pudores, não conseguíamos ficar longe um do outro por muito tempo. Eu desejava estar constantemente sentindo o calor e o sabor de seus lábios, queria estar abraçada a ele o quanto pudesse. Era um sentimento novo, algo que eu nunca sentira até então.

O relinchar de Duquesa nos despertou daquele momento de carinho e nos afastamos.

- Alguém está com ciúmes? – Ele perguntou bem humorado, olhando para a égua branca.

- Claro que não. Ela me adora! Não teria ciúmes de mim. – Respondi. - Apenas está tentando dizer ao dono que não aguenta mais esperar. E que ele irá se atrasar se continuar desse jeito.

Nathaniel pôs as mãos na cintura.

- Ora essa, sendo reprimido por uma égua? – Ele brincou.

- E no entanto, ela tem razão. Melhor que vá logo antes que se atrase e não consiga voltar cedo.

- Hm, tem mesmo razão. – Ele concordou.

Nathaniel deu um passo na direção de Duquesa, mas repentinamente se virou de volta para mim e me roubou um último beijo.

Depois disso, montou na égua e saiu.

 

~*~

 

Havíamos subido a galope o alto de uma colina. Agora estávamos passeando dentro dos limites dos muros altos da cidadela do Cairo, encontrando-nos de frente para uma construção magnífica.

- Uau! Como é grande! – Declarei, encantada pela grandiosidade arquitetônica que se descortinava diante de meus olhos.

Uma mesquita, pelo que Nathaniel havia me explicado. Esse tipo de construção tinha uma arquitetura bastante peculiar. Basicamente se compunha de uma edificação central coberta por uma imensa cúpula, quatro pilares externos, bastante altos a seu redor e dois minaretes ricamente decorados com entalhes na pedra na fachada. Ainda não havia sido concluída, mas já era possível adivinhar como seria quando estivesse finalizada.

- Esta é a residência do governante do país. – Nathaniel me disse enquanto observávamos a mesquita.

- Seria o equivalente ao palácio de Buckingham para a rainha Vitória? – Perguntei.

- Sim, podemos dizer que sim. Mas tem uma diferença marcante. Esta residência tem seus arredores bem fortificados.

Assenti com a cabeça.

Ficamos um tempo admirando a construção, até que Nathaniel disse:

- Na verdade, o melhor deste lugar é a vista que ele proporciona da cidade.

Ele encostou a mão em minhas costas e foi me guiando para além da mesquita, até chegarmos ao parapeito dos muros de pedra.

E ele estava certo. A visão que tínhamos da cidade era simplesmente incrível. Conseguíamos ver o Cairo em toda a sua extensão, suas construções e ruas, as pessoas passeando em tamanho diminuto de tão longe, o rio Nilo ao fundo, seguindo seu curso e acompanhando as margens da cidade.

- Que vista maravilhosa! – Exclamei fascinada.

Nathaniel sorriu para mim.

- Veja aquela construção, – ele apontou com a mão para uma edificação ao longe, bastante parecida com a mesquita atrás de nós – é assim que esta ficará quando estiver pronta.

Eu observei e vi a construção característica, notando a cúpula central majestosa com as torres laterais a seu redor.

- Essas construções, elas não lembram em nada os templos que visitamos.

- Não. São construções tipicamente árabes. Diferentes povos, diferentes histórias, diferentes arquiteturas. – Ele explicou. - Nós também temos um exemplo disso na Inglaterra. Nossas construções refletem o tempo em que foram erguidas.

- Como por exemplo os prédios da era Tudor e os de agora, que são completamente diferentes.

- Exatamente.

- Mas este lugar tem muito mais história do que nosso país. – Eu comentei e apoiei minhas mãos no parapeito de calcário. – Este país respira história em cada pedacinho de chão.

- Não é à toa que eu o considere como um paraíso arqueológico... – Nathaniel comentou. Suas mãos encontraram as minhas, se sobrepondo a elas. – E por falar em paraíso, há um lugar que quero que conheça um dia.

- Mais um? Você já me levou a tantos... – Respondi com os olhos brilhando.

- Mas este é um lugar quase secreto.

- Quase secreto? – Perguntei, curiosa.

- Sim, e é muito...

- Oh, mas que feliz coincidência! – Uma voz feminina ecoou a nosso lado, interrompendo a fala de Nathaniel.

Viramo-nos para observar quem era. Uma dama alta de cabelos castanho-claros, olhos também castanhos, rosto alongado e nariz arrebitado. Vestia um vestido vinho bastante decotado. Estava acompanhada de um cavalheiro de menor estatura que ela, porém com um porte robusto, que ao que tudo indicava era bem musculoso. Seus cabelos eram castanhos e ele tinha os olhos verdes. Os traços do rosto eram suaves e ele trajava um uniforme militar inglês.

- Milorde? – A dama desconhecida disse, se referindo a Nathaniel.

Quando olhei para ele, vi que o semblante tranquilo e sorridente de antes havia se desfeito.

- Perdão? – Ele proferiu com a voz estranhamente grave.

- Ah, perdoe a minha esposa. Ela tem uma mania irritante de achar que pode iniciar uma conversa. – O homem ao lado da dama se pronunciou. – Charlotte mencionou que o conhecia, então viemos cumprimentá-lo.

Eu alternei o olhar entre Nathaniel e o homem de uniforme.

- Como eu estava lhe dizendo, querido, - a mulher firmou as mãos no braço do marido – este cavalheiro me ajudou quando eu muito necessitava. Muito gentil da parte dele. – Ela terminou dizendo de uma forma doce.

Nathaniel passou a mão pela nuca e eu vi que os músculos de seu braço estavam rígidos.

- Ah! Desculpe-nos. Não fomos apresentados ainda. – Disse o militar.

- Este é o lor...

O cavalheiro olhou feio para a esposa, fazendo-a se calar. Nathaniel franziu as sobrancelhas e não esperou, apresentando-se em seguida:

- Senhor Smith, Nathaniel Smith.

- Senhor Smith. – O homem fez uma mesura. - Perdoe Charlotte, ela é afobada demais. Deveria saber que uma dama não deve se comportar assim. – E falou com um tom de voz ríspido, claramente reprimindo-a. – Tenente Kentin Grayson.

Foi a vez de Nathaniel lhe fazer uma mesura educada, mas eu sentia que ele estava desconfortável por alguma razão que eu desconhecia.

- E esta é Charlotte Grayson, minha esposa.

- Senhora Grayson – Nathaniel cumprimentou-a.

Tive a impressão de que sua voz soava ácida.

- Senhor Smith.

E pareceu-me que ela respondeu da mesma forma.

Então, os três se voltaram para mim.

- E esta é a – Nathaniel limpou a garganta – senhora Katherine Smith, minha esposa.

O quê? Esposa?

Seus olhos encontraram os meus discretamente e eu entendi a mensagem silenciosa que eles me transmitiam: “não me desminta”.

Um pouco atordoada, eu dei um sorriso amarelo ao casal diante de nós, mas internamente ainda me questionava a respeito daquela mentira.

- Esposa? – A dama pareceu surpresa com esta afirmação. Ela me varreu com os olhos, avaliando-me. – Muito graciosa, por sinal.

E não sei por que achei que suas palavras soaram falsas.

- Agora que fomos devidamente apresentados... Minha esposa me contou brevemente que o senhor a conheceu enquanto ela estava tristemente vendendo algumas mercadorias a um comerciante do grande mercado. Contou-me também que o senhor se compadeceu de sua situação e lhe doou alguns artigos, que ela posteriormente conseguiu vender quando voltou à Inglaterra e que assim, conseguiu algumas moedas extras que ajudaram a manter sua família, que no momento passava por dificuldades financeiras.

O maxilar de Nathaniel ficou rígido. E ali ficou claro para mim que alguma coisa estava errada.

- Exato. – Ele respondeu sem emoção alguma e olhou para a mulher. – Conseguiu ajudar sua família, senhora Grayson?  

A voz dele soou terrivelmente suave.

- Consegui. E agradeço muito ao nobre cavalheiro. Não sabe como minha mãe agradeceu aos céus por aquele dinheiro.

Ouvi a respiração de Nathaniel, pesada.

- Acredita que não conheço a família dela ainda? – o tenente se manifestou. – Eles moram numa cidade longínqua no norte da Inglaterra e como nos casamos com um pouco de pressa, pois eu precisava embarcar para cá e se não o fizéssemos, Charlotte não poderia me acompanhar, não pude viajar a fim de conhecê-los. Mas assim que retornarmos à Inglaterra, será a primeira coisa que irei fazer. – Ele fez um afago na mão da esposa.

Nathaniel tossiu, mas quando o observei, tive a estranha impressão de que ele na verdade estava reprimindo uma risada.

- Uma lástima. – Ele comentou. – Houve alguma razão grave para que precisassem apressar o casamento desta forma? – E perguntou.

Eu me espantei com sua falta de polimento. Uma pergunta daquelas era indelicada demais para ser feita.

- Precisamos nos apressar. – O militar respondeu parecendo um pouco incomodado. Um rubor subia-lhe pelo pescoço enquanto falava e confesso que fiquei um pouco constrangida por ele. - Não sabia ao certo quanto tempo ficaria aqui. Embarquei em Londres junto com mais 50 homens para monitorarmos alguns conflitos nas áreas de fronteiras, visando o bem das nossas rotas comerciais. Poderia ser que ficasse um mês, mas também havia a possibilidade de ficar seis. Não podia deixá-la esperando por tanto tempo, precisava acertar o compromisso logo.

Um ar pensativo e peculiar inundou o semblante de Nathaniel.

- E o senhor? Está aqui por causa dos tesouros, não é? – O militar retrucou. – É mais um desses aventureiros que vêm tentar a sorte nessas terras, imagino.

- Não vim tentar a sorte. Nathaniel respondeu prontamente. - Estou aqui porque sou formado em Arqueologia e naturalmente vim desenvolver meu trabalho aqui.

- Interessante. – O homem respondeu educadamente.  

- Foi ótimo conhecê-lo, tenente, mas receio que tenhamos que deixá-los. Está ficando tarde e precisamos retornar para casa.

Nathaniel se apressou em tomar meu braço.

- São casados e não usam aliança? – O tenente Grayson observou, como se para devolver a indiscrição de Nathaniel.

Eu, que não havia proferido palavra alguma durante aquela conversa, continuei quieta. Não havia pensado nos detalhes que aquela mentira implicaria.

- Não. Casamo-nos através de procuração, pois eu já me encontrava aqui no Cairo na época. Minha esposa veio se juntar a mim aqui meses depois. Não tive tempo de comprar um par de alianças até então.

- Deveria ter arranjado alguém que lhe fizesse o favor na Inglaterra. – O tenente respondeu parecendo julgá-lo pelo descuido.

- Não preciso de um criado para cuidar dessas coisas. – Criado? Eu não pensaria em um criado só para fazer isso. Parecia-me uma coisa de alguém muito extravagante, que tivesse uma infinidade de homens a seu serviço. Se o caso fosse verdade, pensaria talvez em um primo ou no pai para fazer este favor. - Prefiro eu mesmo fazer isso. – Nathaniel respondeu em tom afiado. – Agora, se nos dão licença...

Fizemos uma mesura educada e estávamos quase nos virando quando a dama fez um último comentário:

- Linda joia. É uma esmeralda?

Fitei-a e notei que ela tinha os olhos fixos em meu colar. Como sempre fazia, por instinto, e por ter tido uma sensação estranha e ruim, levei a mão à joia. A meu lado, vi Nathaniel fechar a mão do braço livre em punho.

- Nada que você possa ter, infelizmente. – Ele disse baixo, mas com ferocidade.

Não tenho certeza se o casal o ouviu, era mais provável que não, pois não se manifestaram contra a grosseria direcionada à dama.

Não tive tempo de responder àquele elogio. Nathaniel se virou rapidamente e sua mão pressionou minhas costas, obrigando-me a fazer o mesmo. Seu gesto foi tão descortês que eu fiquei momentaneamente sem reação, tal foi o choque que me tomou.

Não me atrevi a olhar para trás enquanto seguíamos nosso caminho.

 

Quando estávamos prontos para montar Duquesa, perguntei finalmente:

- Por que agiu daquela forma?

Nathaniel me olhou nos olhos ao responder:

- Era ela, a dama com quem havia me visto na porta da tenda do espanhol aquele dia. Era ela.

- Ah!

Como eu não havia percebido? Não, na verdade eu não poderia, já que na ocasião, eu não consegui ver seu rosto.

- Lembra-se quando eu lhe disse que ela havia me feito mal? – Ele me perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. – Pois então, aquela mulher me enganou, Katherine. Confiei nela e ela furtou alguns objetos de minha casa.

Abri a boca, perplexa. Então eram esses os “artigos doados”?

- Então...

- A história que ela contou é mentira. Não acredite em nada que venha da boca de alguém como ela. Ela não é alguém de moral.

- Era por isso que você parecia tão desconfortável... – Falei.

- Tenho certeza de que ela inventou muitas mentiras para aquele homem.

Peguei-me pensando em que situação ele a conheceu e qual foi o tipo de relação que teve com ela. Tive o ímpeto de lhe perguntar isso, mas ao invés disso, confessei-lhe uma coisa:

- Tive uma sensação ruim a respeito dela. Não sei bem por quê.

Ele balançou a cabeça e fez um afago em meu rosto.

- Esqueça isso. Vamos sair logo daqui. – Ele fez menção de querer me ajudar a montar na garupa de Duquesa. - E desculpe-me, não queria que nosso dia terminasse desta forma. – E falou, parecendo verdadeiramente chateado.

Mas não era culpa dele. E eu tinha adorado nosso pequeno passeio até então.

Antes de aceitar sua ajuda, indaguei-o:

- Por que disse que eu era sua esposa?

- Porque estava tentando preservar sua reputação. Não seria adequado apresentá-la como uma conhecida, nem como minha noiva, se quiséssemos pensar em algo mais próximo da nossa realidade. Sabe-se lá com quem o tal tenente é relacionado. Isso poderia chegar aos ouvidos de alguém na Inglaterra e não seria adequado.

Minha reputação. Era estranho pensar nisso agora depois de ter ido contra tudo que era considerado como bons modos para uma boa dama.

- Mas você inventou uma explicação muito rápido. – Falei.

- É porque talvez eu já tenha ouvido algo parecido com isso.

Meneei a cabeça. Se fosse em outros tempos, eu teria continuado a conversa a fim de descobrir mais detalhes sobre ele e a tal senhora Grayson. Mas eu desejava voltar para casa. Poderia fazer-lhe mais perguntas depois. E, afinal de contas, eu confiava nele. Sabia que ele não me esconderia nada importante.  

Montamos Duquesa e fomos embora.

 

~*~

 

[Eris]

Tínhamos acabado de montar nosso acampamento e eu estava exausto. E aborrecido. Muito aborrecido.

Tirei o cantil de bebida de dentro de meu alforje e entornei-o em minha boca, mas nenhuma gota saiu, ele estava vazio. Fiquei ainda mais irritado.

- Não fique assim, meu caro. Sei de um lugar bem escondido por entre as ruelas da capital onde podemos encontrar bebidas e até companhia para conversas. Podemos arranjar um tempo e passar lá antes de seguir para Alexandria. – Disse Sawyer ao me ver frustrado e irritado.

- Já disse que nós não iremos para Alexandria agora. Ficaremos perambulando um tempo pelos arredores do Cairo até que possamos embarcar em segurança. Tudo graças à sua impulsividade idiota.

- Não há razão nenhuma para ficar zangado desta forma, Eris. – Ele respondeu e eu o olhei com indignação pela ousadia do comentário. - Veja aquelas belezinhas, – Sawyer disse apontando com o queixo na direção das duas estátuas de ouro, cada qual medindo cerca de 40 centímetros, representando os deuses Hórus e Osíris – com elas nós nem precisaremos nos preocupar com dinheiro por um bom período de tempo.

- Não precisaremos nos preocupar com dinheiro? – Eu o indaguei e ri sarcasticamente. – Você quer dizer quando conseguirmos vendê-las. Esquece-se que elas estão marcadas como sendo o fruto do roubo e da morte de dois homens? E essa “notícia” irá se espalhar. Se nos pegarem com esses artefatos ou se tentarmos vendê-los às pessoas erradas, estaremos muitíssimos encrencados.

- Por isso acho que deveríamos embarcar logo para a Inglaterra. Eu conheço um bom comprador em Liverpool...

- Não, não iremos embarcar! – falei com rispidez. – Não acha que ficarão de olho em todo navio que partir para Londres?

- Então que embarquemos para Marselha e atravessemos a França até chegar em casa. Ah, há um conde genovês que poderia se interessar pelas peças. Poderíamos ir até ele...

- Cale-se! Não diga o que iremos fazer! Eu estou no comando! Já perdemos demais com sua imprudência. Então apenas cale a droga da boca!

Sawyer expirou o ar com força e resmungou em seguida:

- Você está mesmo precisando de uma bebida.

Olhei para meu cantil vazio. Eu estava aborrecido porque nossos planos não estavam saindo exatamente como o planejado. Não havíamos conseguido um grande aporte de artefatos. Tudo porque uma equipe havia chegado na área em que exploraríamos primeiro. No fim, estávamos no prejuízo, contando apenas com alguns artefatos que roubamos nos primeiros dias em que estávamos aqui.   

- Inferno! Talvez eu precise mesmo de um pouco de álcool. – Falei derrotado. – Mas se nos meter em encrenca mais uma vez, juro que minhas mãos irão parar em volta de seu pescoço.

Sawyer me olhou, vitorioso, exibindo seu sorriso amarelado. 



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