História Flores - Camren - Capítulo II

A primeira semana de faculdade se resumiu em adaptação. Para alguns alunos, isso significava montar uma grade coerente com seu tempo livre ou até mesmo enturmar em projetos não acadêmicos.

Para Lauren foi um pouco mais do que isso. Seus dias se resumiram em evitar Dinah ao máximo, mas, principalmente, em não ver Camila.

E estava tudo bem, desde seu primeiro dia no campus ainda não havia topado com a garota dos olhos castanhos. Lauren estava até um pouco surpresa e orgulhosa por ter chegado tão longe.

Durante essa semana também foi bombardeada com algumas novidades... Interessantes.

Descobriu que Dinah e Normani não eram tão conhecidas assim. Segundo Mani, elas estavam na mesma turma de dança há anos e se davam muito bem.

Inclusive amavam muito a Beyoncé e compraram ingressos para irem juntas ao show. Lauren ficou um pouco magoada, mas sabia que se Normani a chamasse – implorando – para ir, negaria de qualquer forma.

Levando em conta o quanto sua melhor amiga era sociável, e o quanto Dinah se dava bem com qualquer pessoa, literalmente, não era novidade alguma encontrar as três reunidas na sala de seu apartamento e conversando sobre algo.

Quase sempre Ally preparava algo gostoso para comerem enquanto batiam papo, e até acontecia de às vezes Lauren se juntar a elas.

A morena dos olhos verdes agradecia muito por Dinah ter o bom senso de não convidar Camila, afinal, ia ficar um clima muito esquisito que provavelmente terminaria em briga. De novo.

Lauren havia passado o dia inteiro fora, mesmo sendo domingo. Ela procurava algum grupo interessante que pudesse a aceitar e ainda estava com um pouco de dificuldade para decidir em qual entraria.

Depois de conversar com diversos líderes de grupos artísticos, movimentos sociais e até mesmo clubes sem nenhum objetivo, estava pronta para relaxar em seu sofá assistindo alguma série interessante.

Recentemente havia começado a assistir Game Of Thrones e estava apaixonada por uma das personagens, talvez se rendesse à série ao chegar em casa.

Enquanto Lauren andava até seu apartamento (havia adotado o hábito de não usar carros aos domingos, parece pouco mas acaba ajudando o meio ambiente) Dinah estava no 304, tentando convencer Camila a juntar a elas no 305 pelo menos uma vez.

Todos os dias, quando Normani e Ally se juntavam a Dinah na sala do apartamento maior, a polinésia fazia questão de se levantar – mesmo que ela odiasse ser interrompida em seus momentos de relaxamento – e ir chamar Camila.

Sabia que ela havia um passado com Lauren que era no mínimo esquisito, mas não entendia nenhum pouco o motivo de as duas terem brigado.

Por isso, importunava que Camila tentasse deixar isso de lado e que fosse se divertir no apartamento em frente ao seu.

Cabello já até mesmo havia conhecido Ally e considerava a garota um raiozinho de sol. Normani e ela ainda não se entendiam muito bem, mas Camila sabia que era por pura proteção.

Dinah também tinha suas precauções, mas era normal que Normani fosse muito mais radical do que ela. Afinal, Kordei havia visto sua melhor amiga sofrer por meses, sem comer, sem sair, sem praticamente viver.

Era comum que ela quisesse proteger Lauren a todo custo.

Quando Jauregui finalmente chegou em seu apartamento, lutou um pouco com as chaves do chaveiro para abrir a porta. Ela ainda não havia decorado qual a chave correta para as portas da casa e do prédio.

Fez uma nota mental para gravar nas chaves alguma coisa que as diferenciasse melhor.

Como sempre, ao abrir a porta, se deparou com as três garotas sentadas no sofá assistindo – ou tentando – televisão.

Ally queria ver a tal J-Lo enquanto Dinah e Normani insistiam em colocar o documentário da Beyoncé.

Lauren revirou os olhos e seguiu direto para a cozinha, de onde ainda era possível ver as meninas brigando, já que era tudo um cômodo só.

Ao ver que sua colega procurava algo na geladeira, que ela sabia estar vazia, Dinah a chamou.

“Lauserrrr,” brincou, sabia que Lauren não era das mais fãs do apelido “nós pedimos pizza!”

Lauren tirou a cabeça de dentro da geladeira e encarou Dinah, estava ponderando se seria muito rude ir para o quarto e aparecer só na hora de comer.

Antes que pudesse decidir, Normani a chamou para sentar-se com elas, batendo levemente o lugar ao seu lado para que sua melhor amiga pudesse se sentar.

Mais uma vez, Lauren revirou os olhos. No entanto, agora carregava nos lábios um sorrisinho tímido.

Estava com saudades de sua melhor amiga, desde que se mudaram para o campus tudo estava corrido e não tinham tempo de se encontrar e ficarem juntas.

Tudo bem que todos os dias desde que chegou, Mani ficava no 305 conversando com Ally e Dinah.

Mas eram papos que Lauren não tinha interesse, fora que ela não queria se aproximar de Dinah. Sabia como a polinésia era fácil de lidar e como uma aproximação com ela seria estranha por conta de Camila.

Decidiu ignorar isso, no entanto. A semana toda sequer havia visto Cabello, estava na hora de se libertar um pouco desse receio e ir curtir um momento com sua melhor amiga.

Antes de se direcionar ao sofá, pegou uma garrafa de cerveja e a abriu.

Se era para ver alguma diva pop genérica por mais de uma hora, pelo menos podia fazer isso bebendo.

Dinah, que havia roubado o controle de Ally para poder finalmente colocar algo da Beyoncé, encarou Lauren da cabeça aos pés e cerrou os olhos, pensativa.

Quando decidiu a coisa certa a fazer, entregou o controle para Lauren.

“Você nunca senta com a gente, então pode escolher o que vamos ver.” falou enquanto esticava-se por cima de Ally e Normani para entregar o controle na mão da cubana de olhos verdes

“Mas é só dessa vez” ela completou, arrancando risadinhas de Ally e Normani.

Lauren sorriu, achou fofo o ato da garota de cabelos dourados, mas com certeza iria tirar daquele documentário que com certeza ela e Mani já viram mil vezes.

Pensou em colocar Game Of Thrones, mas elas não entenderiam e se fossem ver um dia estariam recebendo spoilers.

Decidiu então por colocar Friends, afinal, mesmo que Normani reclamasse de sempre assistirem isso, ela acabava rindo toda vez.

Três episódios se passaram quando ouviram alguém bater na porta. Ally achou estranho, afinal, havia uma campainha que o cara da pizza poderia tocar.

Após as quatro discutirem quem deveria levantar e abrir a porta, de um jeito muito maduro devo dizer, Dinah perdeu e correu para não deixar o entregador esperando.

Abriu a porta, mas ao invés de sentir o cheiro delicioso das pizzas que tinha pedido, se deparou com o cheiro familiar de sua melhor amiga.

A polinésia franziu o cenho, achando estranho ver Camila ali.

Já a garota mais baixa acenou timidamente com a mão e deitou um pouco a cabeça, espiando quem estava ali.

Seus olhos se arregalaram ao ver Lauren.

Dinah prometera que a cubana dos olhos verdes não estaria ali, pois nunca passava tempo com elas.

Camila já estava se virando para ir embora, mas antes que ela pudesse fazer isso sentiu uma mão forte em seu braço a puxando para dentro.

Do sofá, Ally e Normani já assistiam à cena com receio do que poderia acontecer. Por outro lado, Lauren ainda sequer tinha tirado os olhos da TV.

Dinah fechou a porta atrás de si e somente depois conseguiu dar uma olhada em sua amiga. Ela tinha olheiras e uma cara de cansada, seus ombros estavam caídos e literalmente ela parecia um lixo.

Vestia uma calça xadrez vermelha e uma blusa grande e cinza. Camila estava parecendo um mendigo.

Antes que a levasse para o sofá, Dinah levou a garota para a cozinha. Camila se apoiou na ilha que separava a cozinha da sala de jantar enquanto sua amiga estava em sua frente, apoiando no balcão onde alguns utensílios estavam instalados.

“Pode falar”, disse a polinésia, acenando com a cabeça para que Camila falasse logo o que estava acontecendo.

A dona dos cabelos castanhos ondulados, que olhava para seus pés, levantou a cabeça com os lábios trêmulos e os olhos cheios d’água.

“Austin e eu terminamos” ela disse.

Dinah uniu as sobrancelhas, confusa. Não sabia que Camila gostava tanto de Austin. O relacionamento dos dois parecia mais uma tentativa de manter o status do que algo real.

“Eu sei que a gente não parecia o casal mais apaixonado” Cabello continuou, “mas ele era um dos meus melhores amigos e sempre cuidava de mim.”

Ao ver como a amiga estava começando a chorar de novo, a mais nova a abraçou bem forte.

E Camila não se conteve, somente deixou que as lágrimas caíssem.

Austin era meio burro e, às vezes, até ignorante. Mas quando Camila estava sozinha após se afastar de Lauren, foi ele quem estendeu a mão para ela.

Ele a fazia sorrir, ele cuidava dela e a mostrava o quanto ela era especial.

Tudo bem que Mahone havia sido também um dos motivos para que Lauren e Camila brigassem mais, afinal, ele quem havia iniciado aquela cadeia de ofensas e agressões verbais direcionadas à Lauren.

Mas, na realidade, para Austin a forma mais sensata de proteger Camila era se vingando de Jauregui e importunando a vida dela no ensino médio. E Cabello acreditou que isso fosse funcionar, também.

Até que xingar Lauren se tornou cada vez mais cansativo e decepcionante, então ela parou.

No começo Austin viu isso como problema, mas, como sempre, ele entendeu Camila e aceitou que aquilo não estava fazendo bem pra ela.

Mudar para longe um do outro, no entanto, não estava sendo bom para o casal.

Discutiram todos os dias desde que Austin se mudou para Oklahoma – uma semana antes de Camila ir para o campus de sua própria faculdade.

Cada vez as brigas ficavam piores, Mahone não tinha segurança alguma com Camila morando tão longe e tampouco a cubana tinha.

Talvez ela não fosse realmente apaixonada por ele. Os beijos de Mahone não eram nada demais, não sentia paixão por ele. Mas sentia amor.

E ela tinha medo de perder ele, porque sabia bem que ao morarem na mesma cidade já não entregava o que um garoto gostaria de receber, mesmo que ele nunca tenha reclamado ou exigido algo mais que amassos.

E agora, longe, tinha medo que ele se envolvesse com outra mulher e a deixasse de lado.

Talvez seria mais saudável ter terminado com ele antes, para manter uma amizade, e agora que tinham brigado de verdade ela estava com medo de perder a amizade e segurança que ele passava.

Dinah a abraçou bem forte, tentando confortar a amiga, e quando ouviu a abertura de Friends tocando de longe ao mais um episódio começar, a guiou até o sofá.

Lauren finalmente notou que Camila estava no apartamento, e até mesmo abriu a boca para protestar.

Mas, ao observá-la melhor, notou que a garota chorava e parecia muito fraca. O que teria acontecido? Será que era por conta de Lauren?

Normani e Ally pareciam ter notado também que Camila chorava, e mesmo que Kordei não fosse tão fã assim da garota, torceu mentalmente para que Lauren não fizesse nenhum comentário.

As cinco somente se sentaram ali.

Dinah e Camila se sentaram no sofá menor, enquanto Ally, Mani e Lauren ficaram no maior.

Após alguns episódios com aquele clima estranho pairando, Normani decidiu que já não dava mais.

Respirou fundo e encarou Camila, com um sorriso enorme nos lábios.

“Achei que você não vinha de novo, Mila” ela falou, tentando quebrar aquele gelo.

Camila estranhou a interação, mas não mais do que o antigo apelido que Normani usava para se referir a ela, o que também não passou despercebido por Lauren.

A cubana de olhos castanhos fungou, tentando se livrar daquele nariz entupido pós-choro, e olhou para as três no sofá, se demorando um pouco ao tentar entender o que Lauren estava sentido, mas parando seu olhar em Kordei.

“Dinah disse que hoje tinha pizza” ela respondeu, dando de ombros. Lauren precisou conter um sorriso, por mais que Camila tenha amadurecido e se tornado uma mulher, naquele momento parecia a mesma garotinha tímida que sempre precisou da proteção de Lauren.

A primeira a se entregar foi Ally, soltando quase que um berro em forma de gargalhada. Logo Dinah e Normani se juntaram, até mesmo Camila ria.

Por fim, Jauregui também se entregou e começou a rir.

Realmente, ela já deveria saber que Camila jamais recusaria uma pizza.

Talvez ela não tenha mudado tanto quanto Lauren pensava nos últimos anos, certo?

A dona dos olhos verdes ainda estampava em seu rosto um sorriso após o fim daquela crise de gargalhadas, o que não passou despercebido por Camila.