História Flórida - I Can

Andávamos pelas ruas sem trocar nenhuma palavra, eu observava tudo quieta, sorrindo quando avistava algum casal a caminhar de mãos juntas.

Isso me fazia imaginar se algum dia poderei ter este tipo de liberdade sem precisar somente segui ordens de meu pai...

— Acho que não gostaria de entrar nest…— Falou Harry me despertando de meus pensamentos. Só então percebi que eu estava prestes a entrar em um lugar aparentemente grande e que eu não fazia ideia do que poderia ser.

— O que tem lá dentro? — Caminhei até ele que estava um pouco mais para o lado.

— Eu acho que voc… — Não completou a frase pois eu pude ver com meus próprios olhos o que fazem lá dentro. Era um homem branco literalmente arrastando uma negra pelos seus cabelos, mais minha raiva triplicou quando vi que este homem era Xavier, ou seja, está pobre moça está sendo levada para o lugar que eu moro. — Me desculpe, o lugar que iria te levar ao tem por esse caminho que é... — Parou de falar, percebendo que eu não o escutava acredito eu, e realmente esqueci de suas palavras no instante seguinte, ainda descrente do que estava vendo.

É aqui que eles vendem os escravos!

Senti a raiva enorme subir por todas minhas veias sanguíneas, fazendo minhas narinas dilatarem e minhas testa franzi levemente.

Dei um passe firme, com a intenção de entrar no lugar e fazer alguma coisa, ou até mesmo enfrentar aquele homem inescrupuloso que serve a meu pai. Porém antes de fazer isso, Harry age mais rápido, ele entrou em minha frete e segurou de leve em meus dois braços.

— O que está fazendo? Me solte, tenho que impedi-lo.— Alterei um tanto o tom de voz, e comecei a tentar soltar-me de seu toque, o que o fez apertar mais as mãos ao redor de meus braços.

— Você não pode fazer isso! Flórida, este homem é perigoso!— Parei de me mexer encarado seus olhos, ele me chamou de Flórida pela primeira vez, ele me chamou pelo meu nome! Meu nome saiu com uma pronúncia única de sua boca, eu faria de tudo para ouvi-lo me tratar assim novamente, o que espero que de fato isto aconteça — Você está bem? — Perguntou preocupado, rapidamente retirando suas mãos de mim, que agora obtinha um sorriso bobo nos lábios.

— Está. — Respondi sua pergunta saindo do pequeno transe. — É que… Você...

— Meu Deus, eu lhe machuquei? — Olhou com sua visão desviando para os meus braços que a pouco segurava. Mas rapidamente balancei a cabeça discordando de sua afirmação.

— Você me chamou pelo nome, a primeira vez! — Sorri mais ainda ao vez seu semblante tomado pela confusão, como se tentasse realmente se lembrar se me chamou de tal forma como eu havia dito.

— Me desculpe, não vai mais acontecer!— Garantiu-me, porém neguei rápido e estiquei minhas mãos até tocarem nas suas, ele me olhou assustado.

— Não, nada disso, eu gostei! Quero que me chame assim sempre!— exclamei e por um momento, esqueci completamente onde estávamos e me perdi completamente no incrível verde de seus olhos, que não poderia explica-los se me pedissem para mim descrevê-los. — Só minha família e amigos me tratam de tal forma, é quero que saiba que lhe considero um amigo. —Estiquei minhas mãos até às suas que estavam levemente sujas de terra, e as juntei com as minhas enquanto ainda olhava em seus olhos confusos. — Espero que você possa me considerar assim também um dia…— Sorri sem mostrar os dentes.

— Eu acho que já pos…— Ele ia me responder, porém antes disso ouvimos o som estrondoso de uma risada, que de verdade me enjoou, fazendo com que eu segurasse meu café da manhã em minha garganta por reconhecer aquela risada forçada como a de Xavier.

Isso fez com que eu rapidamente soltasse a mão de Harry, o mesmo que estava de cabeça baixa diante da desagradável presença de Xavier.

— Olha só, a filhinha do Benjamin de namorico com um escravo imundo desses?— Alargou mais seu sorriso, e puxou com violência a escrava que só agora percebi que ainda estava com ele. — O que ele vai achar disso rosinha? — Se aproximou de mim, então virei meu rosto por minha vontade de vomitar triplicar com o seu péssimo hálito, mas isso não adianto já que ele segurou de forma bruta meu rosto, me forçando a olhar para ele, percebi pelo canto do olho, que Harry tentou se manifestar, mas eu estiquei meu braço tocando o seu, em um aviso silencioso de que ele não podia fazer isso.

— Eu tenho nojo de você! — Cuspi toda a saliva que consegui em sua face, o que só o fez apertar ainda mais sua mão no meu rosto que já doía bastante. — Retire essa sua mão imunda do meu rosto!— Tentei fazer minha voz soar o mais firme possível, porém a mesma acabou falhando no meio de minha fala.

— Vai fazer o que boneca? — Debochou enquanto passava sua mão livre pelo seu rosto molhando por minha saliva, esboçando um sorriso que só aumentou minha vontade de faz algo muito ruim com ele.

— Você não ouviu? — Arregalei meu olhos ao ouvir a voz de Harry o enfrentando. Não, ele não pode fazer isso, se algo o acontecer não sei do que seria capaz! — Solte ela agora!

Xavier soltou meu rosto e o olhou em pura ironia. Coloquei a mão em meu rosto, massageando o mesmo, na intenção de melhorar a dor que estava sentindo, meu olhar estava focado em Harry, que mantinha a cabeça erguida olhando assustado para o homem a sua frente. Ele parecia não acreditar que falou alguma coisa.

— Você falou alguma coisa? — Falou entre dentes mas nunca tirando o sorriso irônico do rosto, e quando percebeu que eu iria para o lado de Harry segurou com brutalidade meu braço, e eu tenho certeza de que isso ficaria com uma marca roxa.

— Harry, não! — Praticamente gritei quando ele deu um passo a frente.

— Solta, ela! — Falou firme e olhou em minha direção, pude ver olhando em seus o medo que ele estava sentindo apesar de está parecendo forte por fora.

— E quem vai me obrigar? — Apertou-me ainda mais Xavier.

— Me solta seu petulante!— Tentei puxar meu braço, mas esse gesto só fez com que machucasse ainda mais.

— Você está se achando durão demais, não? — Olhou para Harry desafiador, e o vi engolir em seco.

— Não faz nada com ele!— Falei em tom alto enquanto, ainda me segurando se aproximava de Harry que dava um passo para trás a cada um de Xavier, mas bateu em uma espécie de poste que tinha ali no meio. — NÃO!!— Gritei quando vi Xavier levantar a mão fechada em punho e então o rosto de Harry virar velozmente ao ser atingido pelo homem que ainda me segurava com a outra mão, e depois deste soco ele continuou, Harry ao menos tentava se defender, e quando tentou acabou tendo seu braço preso por Xavier, isso fez com que ele usasse a outra mão e acabou me soltando, me afastei e comecei a pedir ajuda. — POR FAVOR, PARE, ALGUÉM ME AJUDE, ELE VAI O MATAR!— Era a mesma coisa de estar falando com um monte de espantalhos que sequer pareciam notar nossa presença ali, ou eles realmente conheciam Xavier e não queria se meter para poupar a só próprio. A Escrava que estava com o Xavier ao estava ali, pois suas mãos e pra estavam acorrentados.

Não tendo mais nada para pensar e vendo que Harry já cuspia sangue, fui até Xavier novamente e comecei a puxa-lo, porém ele não mexeu nem um músculo.

Foi quando Harry finalmente consegui acertar um golpe nele, que por mais que não tenha sido forte o suficiente, o fez andar alguns passos para trás, então aproveitei a situação e me enfiei na frente dos dois, mas de frente para Xavier, que não se importou com minha presenta ai, ele fechou novamente a mão em punho e quando ia acertar em Harry entrei em sua frente, e mais rápido do que eu poderia imaginar, ergui um pouco a saia de meu vestido e acertei em cheio suas partes íntimas com toda a força que consegui por neste gesto, o fazendo cair no chão pela dor, mas não sem antes acertar um forte soco em meu nariz, o mesmo que me fez cair no chão de tão forte.

— Sua vadia, você me paga caro por isso!— Gritava coisas sujas enquanto rolava no chão e tinha as mão no local acertado. Harry por sua vez veio até mim com bastante dificuldade por conta de Xavier também tê-lo golpeado na barriga.

Consegui me levantar e fui até ele colocando seu braço envolta de meus ombros, enquanto o via cuspir uma grande quantidade de sangue, ele ia tentar falar algo, porém neguei.

— Não fale nada, precisamos te levar para casa!— Disse sentindo meus olhos pinicarem querendo derramar as lágrimas presas.

— Ele vai... — Tossiu— Vai vir atrás de nós.— Falou com dificuldade. Ele tinha razão, ele não ficaria no chão por muito tempo, logo nos alcançaria e descontaria toda sua raiva.

— Eu nã…— Cheguei até a fechar os olhos por um momento, aliviada ao ver meu tio e sua esposa saindo de uma casa próxima. Tentei caminhar mais rápido com Harry, o mesmo que soltava um baixo gemido de dor a cada passo, e ao estarmos perto o suficiente gritei por meu tio. — Tio, me ajude aqui! — Harry tentou protestar, porém antes disso meu tio já estava caminhando rapidamente até o nosso alcance sem Ana Beth.

— Céus Flórida, o que houve com o seu nariz? — Perguntou parecendo realmente preocupado. Passei a minha mão que não estava segurando a cintura de Harry em meu nariz e senti algo saindo dele, logo vendo a ponta de meus dedos Vermelha de meu sangue que escorria devido ao soco.

— Isso não importa agora! Precisamos ir para casa imediatamente— Só então meu tio pareceu perceber a presença de Harry ali, e o olhou de cima a baixo.

— Não me diga que foi este escravo que fez isso com você? Por que se tiver sido ele va…— Cortei-o no mesmo instante.

— Claro que não! Ele me defendeu, se não fosse por ele eu nem sei o que teria acontecido comigo!— Meu tio pareceu absorver as palavras e assentiu levemente.

— Eu vou acreditar. Mas só um aviso para os dois, que Benjamin não saiba que eu fiz algo para ajudar um escravo, isso morre aqui! — Ele tinha uma expressão nada contente no rosto, portanto concordei rápido com a cabeça. — Venha, vamos o coche está me esperando, vocês voltaram na minha, e depois pegarei a de vocês— Falou referindo-se a carruagem que nos trouxe, e andou na frente, e sequer teve o trabalho de me ajudar com Harry.

— Você não pode mesmo fazer isso! Está louco de vez? — Perguntei quando vi ele caminhando em direção ao celeiro, com certeza com a intenção de trabalhar em alguma coisa.

— Eu estou bem! Não precisa ficar atrás de mim, não preciso da sua piedade. — Falou caminhando ainda com dificuldade até o lugar.

— Piedade? Eu ajudei você e ajudaria qualquer outro. Por que está me tratando desta forma? Pensei que estivesse começando a confiar ao menos um pouco em mim!— Falei em tom baixo, parando de caminhar e me lembrando da conversa de hoje mais cedo, ele ia falar algo, mas aquele desgraçado apareceu! Pensar nisso fez com que meus olhos de encherem de lágrimas, mas de raiva.

Virei-me percebendo que ele aparentemente bem ouviu o que eu disse, é parece que estamos novamente na estaca zero!

Comecei a andar, mas quando ouvi seu baixo gemido de dor voltei a olha-lo novamente, agora ele estava virado para mim, e tentava caminhar até mim, mas por conta das dores isso se tornava difícil, então fui até ele.

— O que voc…— Interrompeu-me.

— Eu ia falar hoje que…— Pausou e respirou fundo, levantando o olhar, me fazendo enxergar o fundo de suas florestas incrivelmente verdes.

—…que…? — Incentivei-o a continuar.

— Eu posso confiar em você agora!— Senti meu coração acelerar-se, e então peguei em suas mãos, sorrindo. — Eu posso ver agora que você também sofre com tudo isso, seu pai, aquele insolente do Xavier, posso entender você, de verdade! — Me olhou.

Sorri mais largo ainda deixando as lágrimas caírem, não meti esforços e o abracei apertado, mais ao ouvir seus gemidos lembrei-me que ele estava todo machucado.

— Obrigada, mesmo! — Sussurrei perto de seu ouvido, e o vi de arrepiar, o que me fez sorrir.

— Obrigada você!— Sussurrou também.

— Não, digo— Me afastei dele o olhando. — Por tudo mesmo, por ter me defendido, por consegui confiar em mim, por tudo mesmo! — Ele assentiu com a cabeça vagarosamente. E quando ia falar mais alguma coisa, aquela voz irritante invade meus ouvidos, me fazendo olhar na direção que ela vem.

A mesma mulher que perguntei onde estava Harry mais cedo estava parada em frente a porta dos fundos da cozinha que dava acesso para onde eu e ele nos encontrávamos. Ela ao ver o estado de Harry veio desesperadamente até ele, e literalmente de jogou em seus braços, o mesmo por pouco não perdeu o equilíbrio, mas soltou um gemido de dor mais alto que os anteriores.

Depois de alguns minutos ela o soltou e olhou para mim de cima a baixo com uma cara nada amigável.

— O que aconteceu Harry? — Perguntou ainda me olhando, especificamente para meu nariz machucado, e do depois redirecionou-se para Harry que negou com a cabeça.

— Eu estou bem Domitila! — Então este era seu nome, Domitila…

— Se vocês me dão licença! — Falei e me virei, seguindo o caminho até a entrada de casa sorrindo de orelha a orelha, o movimento fez meu nariz arder por conta do corte que há havia parado de sangrar.

Na frente da mesma a carruagem que eu havia saído já se encontrava lá, então imaginei que meu tio pudesse ter retirando meu vestido de dentro da mesma como havia lhe pedido.

Entrei na sala, e como estava vazia subi as escadas até o meu quarto, sorrindo por encontrar o pacote com meu vestido sobre minha cama.

Olhei para a banheira no canto do quarto e resolvi chamar alguém para me ajudar no banho, eu realmente não sabia preparar meu banho naquela grande caixa de madeira.

Resolvi descer até a cozinha, já sabendo a quem pediria ajuda.

Mas ao chegar no cômodo o encontro vazio, então caminho até a porta que dá para o quintal a procura dela, desci os pequenos degraus e ao olhar para a direita, vejo Harry encostado na parede e aquela Domitila a sua frente selando levemente de sua boca a seu pescoço em enquanto ele ria de olhos fechados.

Arregalei os olhos e tratei de sair o mais rápido possível dali, e me senti aliviada ao ver que eles não notaram minha presenta.

Confesso que já esperava que Domitila fosse o "romance" de Harry, mas fiquei surpresa sim ao ver aquilo, é como se eu já conhecesse ela e não gostasse, ela me passa um pressentimento ruim no peito.

Agradeci mentalmente por o vestido ter mangas longas e assim poder esconder o escuro roxo que foi marcado por Xavier em meu braço. E com a ajuda de um pó de arroz consegui esconder um pouco o hematoma que ficou em meu rosto e nariz, onde estava muito dolorido, por isso evitaria passar a não por minha face toda a noite.

— Pode entrar— Gritei de dentro de meu quarto já imaginando ser Kate para ver se eu já estou pronta.

A mesma abriu a porta fazendo-me vê-la, estava deslumbrante em um estudo de alças grossas no tom de verde claro, e o cabelo jogado para o lado.

— Kate, você está maravilhosa! — Falei indo até ela e segurando sua mão em seguida a fazendo girar para que eu pudesse a enxergar por completo.

— É o que eu diga sobre você, esse vestido é lindo, depois me fale onde o comprou preciso dar uma passada lá— Falou sorrindo e me olhando dos pés a cabeça. Sorri ao lembrar que o escolhi por obra de Harry. —Eu só acho que você está um pouco pálida, exagerou no pó de arroz? — Deu um risinho, e eu mordi o lábio inferior não querendo mesmo falar sobre isso agora. — Mas tudo bem, não está estranho!

— Vamos — Ela assentiu e abriu a porta saindo na minha frente.

Ao chegar na sala avistei várias pessoas que nunca sequer havia visto na vida, estavam espalhadas por todo o cômodo, com seus copos de bebida e seus assuntos de negócios.

Logo avistei meu pai, ele conversava com um senhor e um homem mais jovem, temi ser aquele o meu ‘noivo’. Mas resolvi não me preocupar tão cedo com isso.

— Venha Flórida, vamos beber algo! — Falou Kate arrastando-me até um homem, que suponho ser algum garçom já que estava com algumas garrafas de bebida servindo as pessoas.

Ainda sendo puxada por Kate, no meio do caminho acabei tropeçando em alguém, isso fez minha mão soltar da de Kate abruptamente, a mesma que nem olhou para trás, só continuou seu caminho até o senhor que agora servia um casal.

Olhei rapidamente para a pessoa, e com não entendi o motivo pelo qual meu coração seu um enorme salto, me encontrei hipnotizada por seus olhos. Pensei seriamente se ele não pegou da água do mais puro oceano e colocou em suas íris azuis, azuis como o mais puro lápis-lazúli.

Meu coração batia forte, e eu tentava controlar a respiração que começou a sair pesada, ele me olhou preocupado e logo se prontificou em perdoe desculpas pelo acontecimento anterior.

— Peço perdão pela minha distração, a senhorita está bem? — Perguntou se mostrando um cavalheiro.

— Eu estou, e também pelo desculpas! — Respondi ainda hipnotizada por seu olhar.

— Sou Logan, Logan Stuart— Se apresentou erguendo a mão para ser aceita pela minha. De imediato me recordei da conversa que o vi entre meu pai e meu tio, o mesmo que queria que eu me casasse com Logan. Suspirei frustrada por ele ser da família que eu menos gostaria de ver agora.

— Flórida Tudor. — Ergui minha mão por educação e ele depositou um suave beijo em cima da mesma.

— É ainda mais linda do que me falaram. — Falou me olhando por inteiro, me senti constrangida com a situação, então apenas sorri sem mostrar os dentes.

— Se o senhor me der licença. — Falei, e o observei concordar e então me retirei indo até Kate que pegava outra taça com o servente.

O que me deixava intrigada era que eu não conseguia tirar aqueles brilhantes olhos de lazuli de meu pensamentos, e o que me deixou mais confusa ainda foi que ele competia atenção com um par de esmeraldas.

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