História Foi na Primavera? - It's gon' get better

Narrador Pov

Já era de se esperar que as coisas entre as duas estivessem sobre o fio da corda bamba. Entre lágrimas e suspiros longos, sorrisos e vitórias. Como se o relacionamento fosse um campo minado   cheio de bombas e belos girassóis. Sophia uma completa escorpiana decidida, dona de si, pé no chão. Total foco, cheia de coragem. Manu uma aquariana totalmente deslocada do seu próprio eu. Perdida nas próprias indagações, o medo de sentir tão pouco, o medo do insuficiente, medo dos espelhos que acusam e destroem. Egoísta e covarde. Totalmente insegura.

O que se espera disso?

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Era um domingo ensolarado quando Manu acordou, os cabelos misturando-se aos lençóis vermelhos da cama. Havia um fio de luz passando pela grande porta de madeira que dava pra sacada do seu quarto. Ela xingava Deus e o mundo por ser acordada com o sol torrando suas coxas e fazendo seu corpo nada esbelto suar. Levantou-se devagar espreguiçando-se lentamente enquanto começava a pensar no que faria com aquele dia maravilhoso de sol de um verão gostoso que estava por vir. Como era de se esperar, o primeiro pensamento da manhã voou para uma certa garota de cabelos loiros e humor aguçado.

Saudades.

Foi o que sentiu no momento seguinte. Por que tem que acabar tão horrivelmente? Quando você terminar um relacionamento ele acaba no mesmo instante? Bom, talvez na ordem natural das coisas sim. Mas bem, se tratava de Emanuele; uma estranha poeta recém formada no ensino médio. Uma garotinha irritantemente fadada a insistência naquilo que não deve acontecer. Mas misteriosamente acontece; ela imagina uma porção de beijos, flashbacks com Sophia dos mais variados estilos, a áurea de todo o romance rondando sua inconsciência e ah, o cheiro! Sim, o cheiro da enfermeira! Único, irresistível.

Dias de sol não devem ser desperdiçados – pensou.

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Manu Point of View

– Caramba, será que essa calça não vai me deixar morrendo de calor? – disse a si mesma, olhando o reflexo no espelho do closet. – CARAMBA QUE DIA LINDO, OLHA ISSO ANTENA! – pegou o gato laranja no colo e apontou para a janela aberta onde os raios de sol se misturavam a vegetação verdinha e as flores. O gato miou sem entusiasmo.

"Eu tenho que convencer minha mãe a me deixar sair sem nenhum problema e poder ficar fora o dia todo aproveitando com a minha pessoa preferida" – pensou tristemente com a possível ideia da mãe saber seus segredos.

*tu tu tu*

– atende Chris!!! – disse.

*barulhos de coisas ao fundo*

– oi meu anjo, a que devo a honra dessa ligação?

– Chris, eu preciso de um…. Assim, de uma coisa, mas eu sei que t-talvez seja estranho…. Mas…. Tudo bem sabe, p-porque eu vou entender se…. Caso assim…. Nao der certo e….

– Eiiii, PARA, faz favor de me explicar logo isso baby – *risadas* – o que você quer?

– eu preciso de um favor muito grande – respondi o mais rápido que consegui e ouvi ele soltar mais uma risada ao fundo.

– você sabe que é só pedir – respondeu

– eu quero sair com Sophia e você tem um carro que pode me levar, e eu não quero te incomodar sabe? Não quero causar problemas e nem nada, também queria deixar ela feliz mas se não der assim sabe… tip

– Eu te levo! Vai se arrumar – ele me interrompeu e eu quase cai da cama gritando eufórica.

– você tá falando sério? AI MEU DEUS!!!! – respondi rindo – obrigada, muuuuito obrigada Chris! Você é demais!

– até logo anjo!

Ele desligou o telefone.

EU. VOU. SAIR. COM. SOPHIA.

Na verdade eu tenho um grande problema: eu não falei com Sophia. Caramba! Qual o problema? Me pego perguntando a mim mesma se as vezes falta um pedaço do meu cérebro! Caramba!

Busco o celular novamente ja jogado em cima da cama e abro o app de mensagens:

Manu

– Hey sofi, eu sei que nós estamos assim e bem eu só queria ver o teu sorriso. Mas tipo, sei lá esse dia é um dia bonito. Você quer ir ao parque comigo?

Sophia

– você ta falando sério?

Manu

– Sim, podemos aproveitar esse dia lindo, eu levo meu violão e podemos tomar sorvete e ficar na grama e conversar, qualquer coisa.

Sophia

– ta falando sério mesmo? Como sua mãe deixou? Eu posso passar aí pra te pegar…

Manu

– Ahn... não, eu já tenho como ir. Um amigo vai me dar carona ate lá.

Sophia

– amigo? Que amigo?

Manu

– não importa, você quer ir ou não?

Sophia

– …….

Manu

– não fica com ciúmes por favor, ele é APENAS um amigo, eu só quero aproveitar esse dia com você.

Sophia

– tudo bem, que horas?

Manu

– 14h, posso ficar até umas 18h. Pode ser?

Sophia

– Ok, te vejo lá. Vou de carro, minha mãe liberou *emoji risonho*

Manu

– Hahahah, okay baby. Até lá.

Fechei o aplicativo de mensagem e deixei meu celular na pia do banheiro enquanto tomava um banho delicioso. Meus pensamentos voando pra Sophia. Fiquei pensando no quão irritada ela ficaria o ver Chris me servindo de táxi, ela realmente odiava aquele garoto por um simples motivo, que até hoje eu sempre achei super insignificante.

Flashback on

Estávamos na festa de um de meus amigos, Sophia estava sentada ao meu lado sorrindo, enquanto minha mão repousava em sua coxa. Nós conversamos com alguns amigos e observávamos outros dançarem na pista improvisada daquela área de festa. Estava tão divertido. Eu levantei quando Sarah me chamou pra encher meu copo de vodka e coca-cola que eu prontamente aceitei. Adorava o efeito de leveza que o álcool transmitia, como se o seu corpo você embalado por uma dança natural de si mesmo. Entretanto, odiava ficar totalmente bêbada, e acabada. Sabia meus limites.

Quando voltei a sentar do lado de Sophia e Pedro, no qual mantínhamos uma conversa descontraída sobre seus relacionamentos "furada", Chris se aproximou. Ele sentou ao lado de Sophia e chamou nossa atenção. Eu simplesmente o adorava, adorava conversar com ele e discutir. Ele sempre fora um ótimo amigo mesmo quando eu repreendia algumas de suas atitudes um tanto quanto infantis e imaturas. É como aquele velho ditado:

“O sujo falando do mal lavado.”

Ele começou uma conversa um tanto estranha, que me deixou com um semblante engraçado no rosto, tentando entender a onde ele queria chegar, coisa que Sophia já tinha se tocado.

– Assim, vocês namoram a algum tempo…. E eu tava pensando se… tipo, não quero passar uma imagem idiota e tal… sabe, mas queria saber uma coisa…. – ele dizia meio sem jeito, e rindo.

Cocei a cabeça e olhei sophia que me encarou por alguns segundos com um semblante desacreditado.

– o que você quer saber? – perguntei

Sophia me olhou incrédula.

– é sério isso amor? – perguntou e entrelaçou meus dedos apertando de leve a minha mão numa tentativa de me fazer cair a ficha.

– hã?

– tipo, vocês duas são garotas, mulheres…. É um relacionamento não muito comum…. Eu só queria saber algo…. É talvez seja íntimo mas sei lá acho que tipo… – ele voltou a repetir enquanto eu ria, certamente já tambem alegre pela bebida.

Sophia não estava bebendo.

– amor, eu não acredito que ele quer perguntar isso, por isso que eu sempre digo que relacionamentos héteros são sempre tão podres e sem sal. – ela disse sussurrando

Eu cada vez mais sem entender do que aquilo se tratava, tudo bem, eu amava ser mulher e não ter aquele negócio horrível entre as pernas, mas bem? O quão estranho essa conversa parecia se tornar? E o mais curioso? O que Chris queria saber sobre nosso relacionamento totalmente feminino?

Não sei, definitivamente. E me incomodava Sophia saber e não me contar. Tudo bem. 1x0 para minha lerdeza.

Depois de algumas horas curtindo a festa, Sophia recebeu a ligação de sua mãe dizendo que estava por perto e que ia passar para buscá-la.

Eu assenti quando ela teve que ir embora, me despedi com beijos em seu rosto e selinhos, e um abraço delicioso. Era 1h da manhã. E eu decidi voltar pra casa e curtir mais um pouco com meus amigos.

Fui ao pequeno bar me servir de mais um pouco de vodka e coca-cola. Depois já sentindo minhas pernas levemente bambas eu me sentei no mesmo banco em que estava com Sophia e vi Chris se aproximar de mim e sentar ao meu lado junto de Pedro. Um de cada lado. Descansei minha cabeça no ombro de Pedro e voltei o olhar para Chris que soltou logo:

– eu não tenho nenhuma intimidade com ela, e não sei se ela gosta muito de mim… mas talvez eu possa tirar minha dúvida com você sem problema algum, né? – ele disse com receio e eu sorri dando um tapa em seu ombro.

– claro, o que você quer saber?

– ah, bem, vocês são mulheres... Queria saber qual das duas é a…. Sabe? na relação, porque é diferente de mim que tenho um brinquedo aqui – ele disse rindo apontando para aquele local onde ficava seu amigo.

Eu coloquei as mãos na boca soltando uma longa gargalhada, sem acreditar naquilo que ele dizia. Então era isso? Ele queria saber quem mandava na relação que tínhamos na….. cama?

Meu deus!

Inacreditável!

Agora eu entendia o porquê de Sophia não gostar muito dele! Que atrevimento perguntar sobre nossa vida íntima. Bom… eu não sei o quanto me importava, mas isso é tão óbvio em qualquer relação. Todos dão e esperam receber em troco. Eu amo e espero ser amada.

Acho que é isso que verdadeiramente importa, não é?

Flashback off.

Desliguei o chuveiro. Enrolei meus cabelos com uma toalha e fui escolher as roupas que usaria, uma calça bem coladinha e flexível e uma camisa bege simples, com minha alpargata. Simples e bonita. Talvez desejável já que o mais importante era deixar meus cabelos lindos em cachos caindo pela extensão do meu ombro. Comecei a fazer minha maquiagem enquanto cantarolava uma de minhas músicas favoritas.

I'm not gonna leave you now

(Eu não vou te deixar agora)

Oh, I know it's gon' get better

(Oh, eu sei que isso vai melhorar)

*1 mensagem não lida*

Abri as mensagens do meu celular, e li a mensagem de Chris.

"Daqui a cinco minutos estou parando na frente da sua casa, esteja bonita e arrase a sua garota!"

Sorri involuntariamente. Sophia era isso. Um trilhão de sentimentos bonitos e involuntários.

I won't leave you for a money man

(Eu não vou te deixar por um cara rico)

No matter what we go through

(Não importa pelo que passamos)

I'm not gonna leave you now

(Eu não vou te deixar agora)

I know it's gon' get better

(Eu sei que isso vai melhorar)