1. Spirit Fanfics >
  2. Folklore >
  3. If I could never give you peace?

História Folklore - If I could never give you peace?


Escrita por: whydelena

Capítulo 17 - If I could never give you peace?


Capítulo Quinze: if I could never give you peace?

Eu nunca tive a coragem de minhas convicções
Enquanto o perigo estiver próximo
E ele está logo na esquina, querido
Porque ele vive em mim
Não, eu nunca poderia te dar paz


 

Elena fitava o teto há horas.

O espaço vago da cama de casal lhe apertava o peito, pois lançava sussurros de que precisava seguir em frente, continuar a viver num mundo onde Matt não mais estava. Tantas pessoas desejaram que sua dor passasse, e até mesmo afirmaram que ela passará, mas essas vozes se tornavam murmúrios quando Elena encarava o lado da cama que seu esposo costumava dormir.

Os olhos de Elena nadavam em lágrimas e há tempos já não estava sob seu controle decidir se elas iriam escorrer ou não, logo não tardou para que seu rosto estivesse molhado e avermelhado. Uma rotina obscura preenchia as manhãs de Elena, acordava no mesmo horário e encarava por longos minutos o lugar que Matt deveria estar. Um lado de Elena queria se apegar ao novo, a alegria e a paixão, portanto o novo disco do David Bowie tocava em sua vitrola no canto do quarto, e externava o “Let’s Dance” como se também a convidasse para uma “New Wave”.

O divórcio a pegou de surpresa, uma onda gigantesca que destruiu o seu recanto natural e sagrado. Há um ano, Elena lutava contra a inútil certeza de que Matt não mais queria viver uma vida com ela, e que gozava de uma nova família em outro Estado. Quase dez anos ao lado do homem que no fim massacrou seu coração e saiu andando como se nada tivesse acontecido. Ela suspirou derrotada e finalmente se levantou, aproveitou para trocar o disco de David Bowie para Cyndi Lauper e seguiu para o banho. O inverno rigoroso não lhe dava trégua, mas a água quente fora como um bálsamo ao corpo cansado e alma dolorosa. Elena se perfumou e escondeu as olheiras intensas com maquiagem, optou por uma saia-lápis, blusa de linho e gola alta, além de um casaco de caxemira. Ao deixar o quarto se encaminhou para a cozinha, onde apesar da voz de Cyndi Lauper ecoar proferindo o quanto as garotas só querem se divertir, também havia o silêncio atenuado pela falta de Matt. Ele ainda era presente nas fotografias, móveis que compraram juntos e cômodos que dividiram. Por toda a parte havia rastros de Matt, e sufocava Elena, a garota congelada pelo tempo e abandonada.

Uma segunda-feira fria saudou Elena assim que deixou o prédio, o caminho para o trabalho era marcado pelo trânsito caótico da ilha, o dia intenso era recebido com desânimo pelos demais moradores da big apple, mas ela tentava considerar afinal perdeu o amor de sua vida, mas ainda possuía um bom trabalho. Elena suspirou ao chegar ao edifício do escritório de contabilidade, ser uma contadora nunca fora o maior de seus sonhos, contudo ser boa com números e ter uma carreira estável era uma sensação melhor do que correr riscos com anseios.

Ao adentrar o hall se deparou com o ambiente abarrotado de engravatados, ela acenou para a recepcionista e encontrou Caroline à espera do elevador, ela usava uma camisa que estampava uma cena do filme “Scarface” e portava o page em mãos.

― Estou tão cansada! ― Caroline resmungou, antes de qualquer cumprimento. O que fez Elena revirar os olhos, hábito este adquirido pelo convívio com a amiga. ― Fim de semana em família é tão cansativo e tedioso.

 ― Hm... Queria que meu fim de semana tivesse sido assim ―Elena murmurou.

― Então no próximo venha comigo para Vermont!

― Eu não estou no clima, Care.

― Você nunca está... Cristo, já fazem meses, Elena! ― Caroline resmungou. ― Já passou da hora de começar a se divertir, a viver...

O convite de Caroline foi negado com uma aceno cansado e o assunto se encerrou antes de ser iniciado. As duas amigas deixaram o elevador, e Elena suspirou ao ser recebida por sua mesa abarrotada por documentos que pediam sua atenção. Decerto, uma segunda-feira agitada à aguardava. Elena só concluiu o último documento às 14hrs, e seguiu para um restaurante onde almoçou sozinha, com apenas as conversas das pessoas em mesas ao seu redor a fizeram se distrair de seu martírio.

**

O relógio da sala de reunião marcava às 16hrs quando o debate terminou, a reunião semanal entre Caroline, Esther e Elena sempre era marcada por planejamentos e estudo de caso dos clientes.

Elena sentia uma mistura de felicidade e tristeza ao ver o trabalho concluído, pois era satisfatório ter uma tarefa feita, mas a solidão que já a aguardava no apartamento era de congelar os ossos.

― Ainda tenho que comprar o presente para o meu namorado ― Caroline resmungou.

Elena apertou os olhos, conseguiu por horas se esquecer da existência do dia dos namorados, porém Caroline trouxe o assunto junto com as lembranças e a tristeza que a assolava desde que abriu as pálpebras pela manhã.

― Eu já sei como vou passar o meu ― Esther disse, com um sorriso malicioso.

― Desde quando você tem um namorado, Esther?!

– Ele não é bem o meu namorado, é só um companheiro de 600 dólares – ela explicou. – Seiscentas pratas de puro prazer!

Elena estranhou. Não pela idade de Esther, que já estava na casa dos quarenta e poucos, mas sim pelo alto valor por uma companhia.

 – Sério? Como funciona isso? – Elena indagou.

– É simples, hoje ele aparecerá no meu apartamento, nós iremos jantar... E depois bem, vocês sabem o que acontece.

 – Oh meu Deus, Esther! Você está saindo com um garotão! – Caroline exclamou, surpresa. Elena também estava boquiaberta com as confissões de sua diretora.

– Caroline, fale baixo! Eu não quero que o edifício todo descubra. Ele não é um garotão, é até um pouco mais velho que eu. Seu nome é Mikael. Um verdadeiro Don Juan. Deveria contratar um rapaz também, Elena! – Esther ofereceu.

― Eu não preciso dessas coisas ― ela se defendeu.  

– Minha querida, você não terá vinte e seis anos para sempre – Esther aconselhou. ― É melhor aproveitar!

 – Concordo plenamente – Caroline resmungou, fitando Elena, que corou, pois não gostava de assuntos que envolviam sua vida particular. Era extremamente discreta nesse sentido.

 – Vou embora, essa conversa não é para mim. Nós nos vemos amanhã. Ok? – Elena levantou-se e saiu antes que umas de suas melhores amigas pedissem para que ela ficasse.

A ideia de contratar um garoto de programa era ridícula, era capaz de sentir as bochechas ganharem um tom avermelhado só de se imaginar ligando a uma “central” e pedindo por um homem, como se este não fosse um ser humano, mas sim um delivery.

– Não precisava ter saído daquela forma, foi deselegante, Lena – Caroline murmurou, ao alcançar a amiga.

Elena e Caroline já passaram por diversos percalços, a amizade de longa data acompanhou diversas mudanças em suas vidas, Caroline foi testemunha do amor e devoção que Elena entregará a Matt, e todo o luto e dor que o divórcio causou, ela não gostava nem um pouco de ver a amiga se arrastar por um homem que vivia outra vida bem, enquanto Elena definhava.

– Me desculpe... É, que... é o primeiro dia dos namorados que passarei longe dele. – Elena confessou.

 – Eu sinto muitíssimo, Elena – Caroline deu um meio sorriso, e se aproximou da amiga. – Por que você não contrata o serviço desses rapazes. Sei lá, só para conhecer alguém do sexo oposto.

 – Não! Vou parecer uma tia velha! – Elena resmungou, ultrajada.

 – Esther não é uma tia velha.

 – Eu sei! Não irei fazer isso... por favor, esqueçam – ela deu por fim.

– Aqui está caso mude de ideia – Caroline entregou o cartão que Esther havia lhe dado assim que a amiga deixou a sala de reunião.

Elena encarou aquele pedaço de papel como se ele fosse capaz de lhe queimar, mas cansada das investidas da amiga, apenas o pegou e o jogou dentro da bolsa para que Caroline se desse por vencida.

 – Não mudarei – Elena resmungou.

 

**

 

A volta para casa foi silenciosa.

A música melodiosa que saia pelos alto-falantes do elevador cortou a névoa de pensamentos de Elena, mas durou pouco tempo, logo, ela estava caminhando por um extenso corredor e chegou ao seu apartamento. Lar doce lar. Elena suspirou. O ambiente estava na penumbra, as janelas da sala sem cortina permitiam a imagem da neve caindo de maneira despreocupada. A noite do dia dos namorados estava apenas começando, mas Elena já contava os minutos para o seu fim.

Ela retirou as sandálias de salto que tanto lhe machucavam.  Caminhou até seu quarto, e depois para ao banheiro. Abriu a torneira, para que enchesse a banheira em água morna, pois era tudo o que precisava. Sua pele gelada em contato com a água, fez com que os músculos de Elena relaxassem. Após deixar o banho, ela retornou a sala, buscou por sua bolsa e procurou a agenda para checar seus compromissos do dia seguinte, contudo assim que fechou o caderno notou que o cartão que Caroline havia lhe entregado estava grudado na capa.

Elena o fitou receosa, as pernas falharam diante das vontade que lhe corroía e se sentou no sofá. Encarou o pequeno cartão e vislumbrou a oportunidade, o olhar traiçoeiro mirou ao telefone descansando na base. Era uma noite solitária, assim como a estrela escrita no cartão. Elena era capaz de deslumbrar gargalhando de sua solidão, o porta-retratos na mesa de centro externava a fotografia dos dois e isso lhe embrulhou o estômago.

Não deveria ouvir a ideia maluca de Caroline, e principalmente não deveria pensar em Matt quando este gozava de uma vida perfeita longe dela. Elena respirou fundo, o cartão em mãos chamava a atenção por conta de suas cores fortes e letras prateadas – “Estrela Solitária” ... decerto, Elena se sentia assim.

A curiosidade era um redemoinho que a roubava para o centro e de onde não era capaz de escapar, as vozes familiares brigavam em sua mente e isso a deixava exausta, então por um segundo de insanidade e sabendo que iria se arrepender, Elena pegou o telefone e discou os números que constavam no cartão. Não demorou para que uma voz feminina sobressaísse aos chiados de interferência:

– Estrela Solitária, boa noite – a voz era simples e calma.

 – Boa noite, é... Que... – Elena se engasgou com as palavras e com a enorme vergonha que sentia.

 – Quer contratar um dos nossos serviços?

– Como funciona?

A mulher suspirou, a impaciência latente nas palavras.

 – Bem, temos de todos os tipos – ela informou. – De rapazes a homens mais velhos. Há também pacotes personalizados, onde é garantido a companhia de um a cinco rapazes conjuntos. Mas senhora, como hoje é dia dos namorados não teremos muitas opções.

 – Oh... – Elena sentiu seu rosto esquentar. – Tudo bem, mas ainda há algum?

Ela não tinha certeza do que queria, mas caso perdesse a coragem em algum momento não deixaria o homem entrar. Houve um silêncio na ligação e Elena se viu perdendo as esperanças que se quer estava ciente que as possuía.

– Acabou de chegar um rapaz e ele está disponível.

 – Ótimo! – Elena vibrou e isso a fez sentir ainda mais patética. – Como pagarei?

 – Para o rapaz, em dinheiro vivo. Ok?

 – Tudo bem...

 – O seu endereço senhora?

Elena descreveu como o garoto de aluguel chegaria com facilidade a seu prédio residencial.

 – Ok, boa noite senhora e bom aproveito! – A mulher sorriu sacana, e desligou o telefone.

Elena ouviu o silêncio da ligação e finalmente caiu em si. Não era capaz de acreditar no que havia feito e se quer chegou a comentar com a atendente a aparência do tal garoto de aluguel. Nem sequer sabia seu nome ou a idade. Isso era um grande problema, mas ela não teve coragem de ligar novamente para a Estrela Solitária e fazer perguntas.

Elena encarou as próprias mãos trêmulas, a adrenalina em um pequeno ato se tornou um mar em ressaca – ela não era uma mulher desse tipo, que ligava para um bordel e solicitava a companhia de um homem. Elena se valorizava e, acima de tudo, acreditava no amor verdadeiro. Contudo, era tarde demais. Por minutos, Elena preferiu deixar os questionamentos de lado. Pulou do sofá, correu para o quarto e procurou algo para vestir.

A TV mostrava o atentado na sede da baixada americana no Líbano, e como o ano que 1983 estava se tornando violento, mas Elena preferiu desligar o canal de notícias e ligar a vitrola que ainda tocava o novo disco da Madonna. Com uma aura alegre e sensual, ela escolheu o conjunto de roupas íntimas, cheia de transparência e rendas na cor preta, e vestiu um short de moletom e uma blusa soltinha. Borrifou seu perfume favorito, e passou seus cremes de aroma doce:

 – Você está sexy, Elena Gilbert! – Disse olhando para si mesma no espelho. 

 

***

 

– Você tem outra cliente, Damon!

O homem a encarou boquiaberto e irritado. Ele ainda segurava o dinheiro do programa anterior, em que uma senhora o contratou apenas para fazer companhia enquanto comprava flores que levaria ao túmulo do falecido esposo.

– Eu estou muito cansado, Bonnie! – Damon ralhou. – Cristo, será que essas velhas taradas não dão sossego não?

– Você sabe que eu não posso fazer nada – Bonnie murmurou, aos risos. – Dia dos namorados é o melhor dia da casa, sabe disso. Há muitas mulheres carentes lá fora...

– O Kol não pode ir? – Damon resmungou, numa tentativa de reverter a situação. 

– Não! Ele já está atendendo uma cliente em Williamsburg. É melhor você se apressar. Aqui está o endereço – Bonnie entregou o pedaço de papel, e Damon o encarou.

Nunca amaldiçoaria tanto uma pessoa, quanto a essa mulher que o contratou.

 

Assim que parou em frente ao endereço apontado no papel, ele suspirou. Era um prédio comum entre tantos outros. Ao adentrar o hall, ele foi parado pelo porteiro, que só liberou a sua subida pelo elevador após confirmar com a “Senhora Elena”. Pela formalidade, Damon já era capaz de imaginar a aparência daquela mulher. Tudo o que pensava era em rugas e cabelos brancos.

Ele já estava quase cochilando em pé quando o elevador parou no andar escolhido. Damon não sabia justificar precisamente o motivo de ainda estar naquela vida regada a luxúria, parando em camas que não lhe pertenciam. Abrindo sorrisos, piadinhas sacanas e oferecendo o seu corpo a mulheres que só via por uma noite. De certo, Damon era um ótimo amante. Mas, este empenho sempre era queimado pela luz da manhã.

 

***

Elena sobressaltou quando a campainha tocou.

Seus batimentos eram tão frenéticos quanto uma batida de rock, mas ao constatar que o homem que havia contratado já se encontrava do outro lado da porta tornava o seu conflito ainda pior. Elena criou coragem e girou a maçaneta, e diante de si e parado no corredor, o homem que havia comprado por uma noite a encarava assustado:

– Boa noite... Hm, eu estou congelando aqui fora – ele murmurou, tentando soar engraçado.

Elena observou o homem que a encarava e se questionou caso haveria chance do próprio deus da beleza sair do olímpio e a vir lhe visitar em plena NYC. Ela poderia afirmar que aquele homem havia saído de um catálogo de modelos internacionais. Ele era charmoso demais. O tipo de beleza que a faria olhar duas vezes caso o visse na rua, com seus ombros retos, braços de músculos salientes, pele branca, olhos azuis quase cinzas, o cabelo preto como carvão e o rosto esculpido por mãos precisas.

Era inverno em Nova York, mas Elena sentiu um calor zapear em seu corpo.

 – Oh, me desculpe! Entre, por favor – Elena despertou do seu pequeno transe, e deu espaço para que aquele homem passasse.

Damon adentrou o apartamento dela, encarou o aconchegante espaço e suspirou. As frias ruas de NYC parecia distante agora. Ele retirou sua jaqueta de couro preto, enquanto observava Elena fechar a porta e se virar para ele. Ela parecia intimida e até desconfortável. Não sabia como agir.

– Hm... Meu nome é Elena. O seu é?

 – Damon – ele estendeu a mão para Elena.

Ele mordeu o lábio, pois havia revelado o seu nome verdadeiro. Damon nunca dizia o seu nome aos clientes, sempre usava pseudônimos. Costumava utilizar nomes de vocalistas de bandas de rock ou até mesmo astros do cinema.

– É um prazer te conhecer, Damon – ela o apertou firme.

– Digo o mesmo.

Apesar das apresentações, Elena ainda era o constrangimento em forma e Damon percebeu o rubor em suas bochechas, dado pela maneira como o olhar dela parecia fugir do dele e a inquietude com as mãos. Então, imaginou que era a primeira vez dela com um garoto de aluguel.

– Bem, está com fome?! Eu preparei macarrão com parmesão. Aceita? – Elena sugeriu.

 – Estou faminto! – Damon admitiu.

Ele realmente teve um dia cheio. Afinal, entre discussões com o pai antes do café da manhã, empenho sexual durante o final da manhã e à tarde, não houve tempo para se alimentar corretamente. Os dois caminharam para a cozinha, e Damon se sentou no banquinho e apoiou-se no mármore da ilha. Ele observava Elena buscar pratos e talheres. Ele se questionou como uma mulher tão bonita poderia pedir por serviços da Estrela Solitária. E a curiosidade a respeito da vida dela começou a tomar conta de sua mente. Elena os serviu de macarrão e abasteceu as taças com vinho, e se empenhou a não se sentir estranha ao sentar ao lado de Damon para comer.

Já ele, saboreava a refeição caseira e deliciosa.

– Você cozinha muito bem, Elena.

 – Obrigada!

  – Posso te perguntar uma coisa? – Damon sabia que não deveria, porém era algo mais forte do que ele. Elena assentiu.

 – Bem, você não parece querer sexo... então, quer apenas conversar, acertei? – Damon indagou.

Elena riu fraco, estava tão na cara o fato dela estar farta do silêncio?!

 – Acertou. Por que está tão surpreso?

 – É a minha primeira cliente jovem e bonita que quer somente conversar – ele murmurou, e teve a sensação de seu ego ser reduzido a frangalhos. Damon aguentaria várias sessões de sexo longas, mas alguns minutos apenas conversando seria demais para ele.

 – Agora sou eu que estou surpresa.

Os dois se observaram, nos lábios um breve sorriso era delineado e o fluxo era contínuo entre eles – uma amizade surgia como um reflexo, afinal quando dois corações exaustos da solidão se encontram uma magia acontece.

Contudo, o momento de frisson foi interrompido pelas luzes do apartamento que falharam, e Elena se sentiu encurralada. Mais uma sequência de falhas até o blecaute se instalar por completo.

 – Cristo! Eu acho que alguém não pagou a conta de luz – Damon gargalhou.

 – Ei! Eu paguei sim, não acredito que vamos ficar sem energia. Desculpe-me Damon, vou pegar as velas – Elena se levantou e tentou tatear algo.

Elena caminhou até seu quarto, pegou o pacote de velas que tinha guardado na mesinha de cabeceira e retornou para a cozinha. Ela as acendeu e distribuiu algumas pelo apartamento. Decerto, seria uma noite mais fria e escura. Elena pegou a taça de vinho e a garrafa, e chamou Damon para acompanhá-la até a sala. Os dois se sentaram no sofá, acomodando-se entre as almofadas. Madonna não mais cantava e agora um silêncio confortável zapeava entre eles. O apartamento começou a ficar mais frio pela ausência do aquecedor.

– Sabe, eu acho que ficou até romântico – Damon gargalhou, e Elena o seguiu.

 – Realmente – ela assentiu, sorrindo. – Hmm, agora é a minha vez de fazer perguntas... posso?

 – Quantas quiserem – Damon parecia estar seguro, mas a sua segurança era uma farsa, pois dentro de si os nervos enrijeceram.

– Por que é um garoto de programa? 

 – Uau, você é bem direta – Damon assobiou. – Na verdade, eu não sei o motivo... foi algo que eu fiz sem pretensão no último período da faculdade, e não parei mais.

 – Hmm, fez faculdade de que?

 – Direito, mas infelizmente me arrependo – ele confessou. Damon quis morder a língua ao perceber que estava revelando demais. – Não fiz por gosto, fui meio que obrigado pelo meu pai.

– Entendo – ela suspirou, mesmo que de fato não entendesse. – Eu cursei Contabilidade, adoro números. Eu e meu marido...

– Você é casada? – Damon não se importava com isso, mas queria saber o motivo de ela ter parado a frase de repente.

 – Divorciada... eu e meu marido nos conhecemos na faculdade, alguns anos atrás – Elena foi bombardeada por várias memórias vividas com Matt.

 – Sinto muito – Damon mentiu.

 – Tudo bem... já faz alguns meses.

Damon não acreditou em suas palavras, o sorriso triste que entrega provava que não a mulher diante de si não estava nem um pouco bem. O semblante penoso e até mesmo a postura côncava denunciava o verdadeiro sentimento e isso causou uma estranha onda de pena em Damon, e o fez se aproximar e a abraçar. Algo singelo. Apenas um abraço. Ela sentiu o perfume forte dele, e algo acendeu dentro de si. Damon sorriu ao inalar o aroma gostoso dos cabelos macios de Elena e os acariciou. Sabia que jamais seria capaz de magoá-la.

– Está tudo bem, Elena... – ele a trouxe mais para perto de seus fortes braços

Foi o raro momento em que Damon se sentia assim. Um instante indescritível. Ele lembrou-se de sua infância em dias tropicais, na Carolina do Norte. A sua mãe ainda não havia falecido e tudo era paz entre Giuseppe – seu pai –, Stefan e ele. Não queria que Elena chorasse, pois suportaria ver aquela frágil mulher chorar em sua frente, pois ele não sabia como poderia consolá-la.

– Eu sei... é que, é complicado. – Elena balbuciou.

Diante de tanta dor e ressentimento o mundo ao redor de Elena havia perdido o sentido, envolvida em um espiral de tortura sem fim, ela acreditou que jamais poderia ser livrar do passado com Matt e toda a felicidade que ele resolveu abandonar, contudo quando Elena abriu a porta ao estranho naquela noite fria algo interessante surgiu, por segundos ela teve a sensação das vozes barulhentas se silenciarem, restando assim apenas o garoto de aluguel e ela. Elena levantou sua cabeça, e seus olhos fitaram os de Damon. Tão azuis, em um dégradé com cinza. Ela acariciou o rosto do rapaz, e ele sorriu tímido. Às vezes era assim que Damon ficava quando o olhava nos olhos e Elena o olhava de modo particular. A troca de calor dos corpos foi feita quando Damon aproximou-se de Elena e a beijou. 

Damon era o primeiro homem que beijava desde a separação com Matt, e a sua alma clamou por mais carinho e atenção, por uma atividade que era negligenciada há meses. Elena se sentou no colo dele e investiu contra o corpo que a recebia sem protestos. Nessa noite não seria mais uma estrela solitária, pois em um lugar sem esperanças ela encontrou uma companhia que brilhava tanto quanto ela.

Elena se sentiu viva naquele momento em que os lábios de Damon deslizavam pelos seus, quando a boca preenchia a dela, quando as suas mãos a acolhia e era tocada. A sensação de ser sentida novamente era eletrizante. E quando o beijou ganhou velocidade, Elena mal teve tempo para assimilar os acontecimentos, e nem quis. Afinal, estava no colo de um homem bonito, que possuía um beijo gostoso e não a olhava com um semblante de compadecimento, pois, Damon e ela eram apenas dois adultos se beijando em uma sala iluminada pela luz das velas.

Elena puxou o cabelo da nuca de Damon com robustez. O beijo ganhou vida própria ao decidir que precisava de mais toque, mais carícias e mais intimidade. Ela gemeu dentro da boca dele ao sentir as mãos de Damon apalpar seus seios. Elena estranhou por estar pronta tão rápido para aquele momento, mas não se deixou importar. Afinal, a língua áspera de Damon acariciando sua boca despertava sentimentos mais urgentes.

– Vamos para a cama – ele sussurrou, os lábios contra o pescoço de Elena. – Fazer amor no sofá não é o meu estilo.

– Nem o meu... – Elena se levantou do colo dele, e pegou a vela que estava na mesa de centro com a mão direita. E segurou a mão de Damon, com a esquerda. Ela o guiou até o quarto, Damon e Elena se sentaram lado a lado.  Ela estava cautelosa, pois não queria dizer ou fazer algo errado. Ele pegou a mão dela e a beijou, que sorriu ao toque.  

– Se você não quiser...

 – Damon, está tudo bem – ela murmurou, e o beijou.

Damon deitou na cama, e trazendo Elena para cima dele. As suas mãos seguiram para a blusa e a retirou, mantendo a forte conexão visual com ela, apertou-lhe os seios, e suas mãos desceram até sua bermuda e a retirou. A sintonia dos dois fluía bem, tudo ia seguindo sem ordens. Como algo inesperado. Elena deslizou seus dedos dentro da camisa de Damon, e com as unhas arranhou seu peitoral. Em um movimento para cima tirou a camisa do rapaz. Elena estava fazendo algo que não fazia há meses, mas não era isso o que lhe preocupava, pensando bem, nada nesse momento em que está com Damon lhe trazia preocupações. Ela deslizou o seu corpo no dele, distribuiu beijos em seu peitoral e com as mãos tateou pela cintura dele. Damon a fitou, sentindo o prazer daquela imagem. Ele arfou ao observar Elena segurar seu membro entre as mãos e o colocar na boca, num espaço úmido, macio e quente.

Damon percebeu que agora não se importava de proporcionar quantos orgasmos Elena quiser. Não havia mais cansaço em seu corpo, pois naquele instante ele só queria que ela sentisse prazer. Elena viu Damon explodir em sua boca, tão quente. Ela sorriu ao subir pelo corpo dele novamente. Beijando cada parte do abdômen, se sentindo orgulhosa.

Ele inverteu as posições, a abraçando com o corpo como se quisesse a proteger de tudo. De certo, as preliminares com Damon era uma tortura gostosa, que Elena adoraria ser submetida sempre. Ele mordiscava seu pescoço, proferia palavras sacanas ao pé do ouvido e a beijava com vontade.

– Damon...

Ele a ouviu clamar, sussurrando como uma gata manhosa e isso o deixou ainda mais louco de tesão. Damon pegou o preservativo no bolso da calça, e o vestiu. Quando voltou para Elena, ela a aguardava. O seu olhar era o máximo da expressão de desejo e volúpia. Como se sua pele fosse capaz de transpirar prazer por vê-lo e senti-lo. Damon se posicionou entre as pernas de Elena, e a preencheu com cuidado.

Elena afundou a cabeça no travesseiro ao sentir o íntimo de Damon. Ele estava por toda a parte, reivindicando espaços e se deslizando por ela. A íris chocolate encontraram as azuis. Não havia nada o suficiente para ser dito. Apenas a dança daqueles corpos, suados e cheios de desejo. Ela entrelaçou a sua mão com a de Damon. Ele lhe trouxe de volta a margem, lhe trouxe segurança.

 – Elena.. – Damon gemeu entredentes. Não importava mais quantas clientes ele havia tido naquele dia, pois agora olhando Elena... o passado parecia irrelevante. Era apenas ela, o beijando, o tocando e gemendo baixinho próximo ao seu ouvido.

Ela erguia o quadril para recebê-lo ainda mais, e quando Damon aumentou o movimento Elena gritou de prazer. Ela pensou que poderia morrer ali mesmo, quando seu corpo lhe dava leves choques de desejo. Ela sentiu seu corpo em chamas, o ar que saía de seus pulmões ficava mais pesado a cada estocada que Damon lhe submetia. Naquele momento para ela nada seria impossível. Damon não conseguia distinguir seus sentimentos, pois ambos estavam confusos.  Ouviu Elena gemer de prazer, e em segundos sentiu todo seu corpo vibrar em um orgasmo fabuloso.

Com ela não foi diferente, Elena se sentiu mole. Como se estivesse em um banho-maria, onde Damon a elevou em um grau de prazer nunca alcançado por ela antes, nem mesmo com Matt. Damon suspirou, deslizando seu corpo trêmulo entre o de Elena e se deitando ao seu lado. Ele tornou a respirar fundo. Não possuía mais forças no corpo. Elena as roubara. E caso pedisse mais, ele as ofereceria novamente. Seria tudo por ela. Mas, Elena apenas fechou os olhos, e se aninhou no peito de Damon. Não queria adormecer, mas sentia suas pálpebras pesarem. Amanhã será outro dia, mas agora a única coisa que preferia, era dormir sentindo o forte e delicioso perfume de Damon.

 

**

 

Damon abriu os olhos em fendas.

E o desagradou toda aquela iluminação: A energia havia voltado, e o relógio apontava 06hrs. Ele suspirou ao sentir o corpo de Elena sobre o dele, e ao inalar o aroma de seus cabelos castanhos e brilhosos veio à certeza, que aquela noite não havia sido um sonho. Apenas uma bela realidade. Ele se levantou com calma, erguendo o braço de Elena, e ela se aninhou no outro travesseiro. Damon andou para o banheiro, tentou fazer o mínimo de ruídos possíveis. Quando saiu, teve a visão de Elena dormindo como um bebê.

Damon pensou em ir embora, mas não era capaz de ir sem antes se despedir. Ele não a deixaria sozinha, pois pensar em virar as costas para aquela bela mulher mais lhe parecia uma ideia absurda demais. Então, ele se deitou novamente ao lado dela.

– Você ia embora? – Elena indagou assustando a Damon.

 – Estava fingindo? Que coisa feia Elena – Damon inclinou-se e a fitou.

 – Tudo bem se você quiser ir embora.

– Você quer que eu vá? – Damon questionou, apesar dos sentimentos de Elena estarem facilmente estampados em seu rosto, ele temia que ela não tivesse sentido também a energia gostosa que transcorreu entre os dois. Seria uma morte lenta caso aquela sensação não fosse recíproca.

 – Não, mas tenho que trabalhar – ela disse triste. Damon sentiu seu ego inflar, por suas suspeitas terem se comprovado. Ela o queria.

  – Ok – ele disse, mas por dentro soltava fogos de artifícios. Em um breve espaço de tempo Elena conquistara esse efeito sobre Damon, ela o fazia se sentir como um adolescente, e não como um homem de trinta anos.

– Tenho que te pagar – Elena levantou-se enrolada do lençol.   

 – Elena – ela parou todo seu raciocínio ao ouvir a voz de Damon. – Venha cá.

Ainda enrolada no lençol, ela retornou para cama e foi acolhida pelos braços de Damon.

– Hmm, é melhor deixarmos essa burocracia para depois. Ainda temos uma hora! – Damon de seu mais convincente sorriso.

– Ainda bem...

E ali se iniciava mais um momento de intensidade entre os dois.

Elena fitava seu corpo pelo reflexo no espelho, ela enrolou o cachecol em seu pescoço e sua mente reviveu pequenos trechos da noite anterior. Ela ouviu o barulho da água cessar, e presumiu que Damon já havia saído do banho.  Elena fechou o zíper da calça jeans, e arrumou seus fios, em um coque simples. Damon abriu a porta do banheiro com a toalha envolvendo sua cintura, e viu Elena se arrumando.

 – Bem, acho que deveríamos ter saído do banho juntos – ele sorriu.

 – Se fizéssemos isso, eu não seria capaz de trabalhar hoje – Elena gargalhou, e colocou seu blazer cinza em contraste com sua blusa cor azul.

 – Não seria uma má ideia. – Damon sentou-se na cama. Ainda admirando toda a beleza de Elena.

 – Nós temos apenas meia hora, e bem... eu estou faminta – Elena virou-se para ele e esboçou um sorriso torto. – Irei preparar o café enquanto você veste suas roupas.

 – Tudo bem, mas antes... – Damon levantou-se e caminhou de encontro à Elena. – Um beijo...

Elena não entendia o que se passava naquele quarto, a energia quente e vibrante de Damon a prendia àquele cômodo, àquela cama. Não conseguia resistir, não queria, mas precisava. Ainda não havia parado para refletir o que tinha feito ao ligar para um garoto de programa. Elena separou seus lábios do de Damon, e os olhos foram de encontro aos dele. Eram tão azuis. A íris oferecia uma paz que há tantos dias não era capaz de sentir.

– Vá se vestir... – Elena se virou, e saiu do quarto com a imensa vontade de voltar e se aninhar nos braços de Damon.

Ela ligou a vitrola e Madonna voltou a cantar, então começou a preparar o café para os dois. Algo naquele pequeno apartamento havia mudado, como se houvesse ganhado vida. Uma aura gostosa zapeava pelos cômodos. Pela primeira vez em dias, Elena não queria ir trabalhar. Quando Damon chegou à cozinha, ouviu uma canção e começou a cantarolá-la.

– Sabe eu acho, que esse balcão é ótimo para fazer am... – Damon foi interrompido pelo olhar incrédulo e pelas gargalhadas de Elena. – Estou falando sério, mocinha.

 – Eu sei, concordo com você – ela colocou duas canecas no balcão. – Mas na situação que estamos isso seria nojento.

Damon balançou a cabeça. Elena serviu porções de ovos mexidos e bacon para os dois e se sentou ao lado do homem que havia passado a noite entre carícias. Os dois começaram a comer em um silêncio agradável, que era cortado apenas pela música. Pela primeira vez em meses, Elena não tomaria o seu café da manhã sozinha, afinal havia mais alguém em sua cozinha e os dois iniciaram uma conversa sobre diversas coisas, uma conversa que fluía com facilidade.

Ela percebeu que Damon era diferente dos outros homens, não apenas por sua profissão nada ortodoxa, mas por ele ser gentil, educado e possuía uma admirável facilidade em fazê-la sorrir. Verdadeiramente. Não um sorriso falso que externava apenas um “estou bem, obrigado por perguntar”, com Damon gargalhadas eram provocadas por Elena. De certo, ela não era capaz de apontar em que momento a atenção do café e da conversa fora desviada para beijos provocantes e com Damon colocando o seu corpo contra o balcão.

Contudo, Elena fora capaz de perceber o toque alto e estridente do telefone.

– Elena Gilbert... onde se meteu? – Caroline gritou.

 – Ainda estou no meu apartamento, mas já estou indo...

Damon gargalhou.

 – Quem está aí? Elena sua...

 – Tchau Caroline! – Elena finalizou a chamada. – Engraçadinho! Preciso ir.

Elena se desvencilhou dos braços de Damon e caminhou para o quarto, numa tentativa de arrumar o cachecol para usar um pouco de maquiagem numa tentativa de esconder as marcas de uma noite cheia de paixão e desejos. Ainda na sala, Damon se pegou observando uma foto de Elena, deixada de lado. Porém, quando ele ouviu os passos dela, Damon pescou a fotografia e a colocou no bolso.

– É melhor irmos... – Elena murmurou, e os dois saíram do apartamento. Quando adentraram no cubículo do elevador, havia um pouco de silêncio, porém este durou pouco, no instante em que Damon se aproximou de Elena.

– Sabe o que eu quero... – ele sussurrou em seu ouvido.

– Damon não comece, por favor... – Elena sentia arrepios causados pela voz grave de Damon. De certo, ela gostaria muito de se perder novamente naquele calor corporal gostoso, mas antes que decidisse dar voz às vontades, uma senhora adentrou, o que fez com que eles parassem qualquer iniciativa de contato. Elena praguejou em silêncio.

Damon a acompanhou até o estacionamento do prédio e abriu a porta do veículo para que ela entrasse. Porém, antes de Elena ligar o motor e mover qualquer músculo, ele a beijou. Com calma e leveza, não queria que aquele momento acabasse.

 – Iremos nos ver de novo? – Damon perguntou passando o polegar pelo lábio exterior de Elena.

 – Você quer me ver de novo? – Elena o olhava com cuidado.

 – Sim, e você?

 – Quero! – Elena respondeu. No momento era tudo o que ela mais queria.

 – Então nos veremos! – Damon sorriu.

 – Tenho que te pagar...

 – Deixa para a próxima, a de ontem foi por minha conta! – Damon riu e selou seus lábios nos de Elena novamente. – Bom trabalho, e até sábado!

Ele fechou a porta do veículo, e Elena ligou o motor. Assim que deixou Damon na garagem e seguiu para o trabalho, tinha a certeza que hoje não importava quantos documentos iria revisar ou quanto trânsito pegaria. Ela veria Damon em poucos dias.  E sentia-se a mulher mais feliz do mundo por isso.

 

***

 

A semana passou de modo torturante para Elena, pois ela não tinha notícia alguma de Damon, até tentou ligar para Estrela Solitária, porém a atendente mal educada disse que ele não mais trabalhava lá. Elena se empenhou em não ficar triste, censurou qualquer sentimento de arrependimento e buscou seguir sua vida como se nada tivesse acontecido. Talvez o homem com quem dividiu os lençóis fosse apenas um delírio de sua mente cansada. Talvez algo grave aconteceu com Damon. Eram inúmeras probabilidades e em nenhuma delas Damon batia em sua porta.

Elena quis esquecer a felicidade que sentiu após se despedir de Damon e ir para o trabalho, as perguntas de Caroline a respeito da voz masculina e, principalmente, a ansiedade de vê-lo novamente. Decerto, não acontecerá. No sábado, Elena ligou para a mãe e perguntou por novidades. Ela sentia saudades do convívio com os pais, mas não poderia visitá-los ainda, afinal não estava de férias. Pela tarde, Elena foi ao mercado e comprou sorvete. Era 19hrs e já estava no segundo filme do dia, quando a campainha tocou. Ela assustou-se já que não estava esperando ninguém. Contudo, ao olhar no olho mágico, Elena sentiu seu pulso acelerar, tentou respirar fundo e organizar os pensamentos, mas, praguejou ao perceber que estava usando um pijama flanela e o cabelo bagunçado. Não queria que ele a visse assim, logo tratou de pelo menos arrumar os fios.

 – Oi – Damon sussurrou, parou em frente à porta, segurando um buquê de rosas brancas e com um sorriso de tirar o fôlego e a sanidade de qualquer uma.

– Oi. – Elena repetiu ainda perplexa. – Entre.

Damon ignorou o convite, apenas se preocupou em beijá-la. Elena sentiu seu mundo parar e toda a angústia da falta de notícias se findar. Ele sorriu ao separar os lábios e adentrou o cômodo.

 – Trouxe-as para você! – Damon as entregou. – Espero que goste.

 – São lindas! – Elena as pegou, e caminhou até a cozinha. – Muito obrigada, Damon.

– Quando as vi, lembrei-me de você! – Damon disse.

– Por que não me ligou?

O pensamento de Damon se confundiu.              

 – Eu não sumi! Apenas não tinha seu número – ele explicou.  

– Liguei para a Estrela Solitária e eles não sabiam onde você estava.

 – Eu saí de lá, Elena – ele murmurou, calmo. – Não vivo mais aquela vida vulgar, tóxica e suja. Tenho um emprego agora, um espaço só meu e outra perceptiva. Tudo mudou.

Damon estava orgulhoso. Um recomeço. Foi tudo o que ele sentiu necessidade quando saiu do apartamento de Elena. Damon queria ter uma vida que não se envergonhasse, queria ser digno. Queria ser digno do amor de Elena. Logo, a primeira coisa que fez foi ir ao Estrela Solitária e pedir demissão, se despedir da vida antiga para ressurgir uma existência digna.

Elena se surpreendeu ao ouvi-lo. Ela ficou feliz com a mudança e o sorriso enorme e sincero fora a prova. Elena largou o buquê no balcão e correu até Damon, num impulso que fez com que os lábios se juntassem e ela entrelaçou suas pernas na cintura dele. Os dois já sabiam o caminho para o oásis – a cama de Elena.

Ambos se perderam em si mesmos. Poderiam ver fogos de artifícios entre os cômodos, Damon e Elena se amavam como nunca antes. Um amor, que os consumiam de tal forma, que poderia até sangrar.  Os corpos de ambos se colidiram e tornaram-se um só. As almas a partir dessa noite seriam apenas uma, em um fogo que os queimarão eternamente se necessário. Duas mentes pensantes diferentes, que se completariam com suas imperfeições para sempre...

Quer dizer, até uma tarde chuvosa em que Damon chegou ao apartamento de Elena, sentindo que o mundo desmoronava em suas costas. Assim que ela abriu a porta, ele a abraçou com força. Sentiu nela seu porto seguro, que agora seria quebrado por um diagnóstico.

Pela primeira vez, desde que sua mãe morreu, Damon chorou. Como se nunca tivesse chorado antes, chorou como se suas lágrimas nunca acabassem. Chorou como um menino.

Elena o abraçou firme, ainda sem entender a situação a que seu amado estava sendo submetido. Ela estava assustada, o coração estilhaçado no peito ao ver Damon chorar em seus abraços e pressentia que o que havia acontecido iria afetar os dois.

– Damon... o que aconteceu?                             

A mente de Damon foi bombardeada por momentos em que esteve com Elena. Quando tomaram banho de chuva na Broadway, ele se sentiu de volta aos tempos de menino. Lembrou-se de quando foi apresentado às amigas dela, dos jantares em grupo o fizeram se sentir amado e aceito. Ou no dia em que apresentou Elena a seu pai e Stefan, em um jantar, milimetricamente planejado por ele.  Sentia-se feliz por sua família aceitar, e entender que seu coração não baterá por qualquer pessoa e sim por Elena. Os cinco meses que havia passado com ela foram os melhores de sua vida, pois juntos vivenciaram muitos momentos. Assistiram a filmes, viajaram para Miami e se hospedaram na casa dos pais de Elena, e também brigaram muitas vezes. Por causa do jeito explosivo de Damon e a teimosia de Elena, mas também acabaram as brigas se amando como se nada os bastasse apenas a presença do outro.

Damon chorou mais ainda ao perceber o vazio em seu corpo, pois, só havia as memórias dos dias felizes que o assombravam agora. Os momentos em que passou com Elena o ensinando a cozinhar, quando se amavam à luz de velas. Tudo se transformara numa névoa, que agora havia se dissipado. Damon só conseguia enxergar o túnel escuro. E piorou quando constatou que seria obrigado a se separar de Elena em breve.

– O que aconteceu, Damon?!

– Eu sinto muito, Elena... – ele não conseguia terminar a frase, as palavras agora pareciam pesadas demais.

 – Me conte, eu irei te ajudar! – Elena se desprendeu do abraço, fechou a porta, e segurou a mão de Damon e o trouxe para o sofá. Os olhos dele estavam vermelhos, e ele possuía um olhar torturado.

Elena não sabia o que estava acontecendo com ele. Pensou que ela havia feito alguma coisa, mas nos últimos dias tudo havia sido as mil maravilhas. Elena se sentia cada segundo mais apaixonada.

Damon pela primeira vez na noite a olhou nos olhos, e o corpo de Elena se congelou. Tudo havia ficado mudo, nem mesmo o som que vinha da TV fazia ruídos na mente dela.

 – Eu tenho AIDS e irei morrer.

Damon possuía a ciência que nunca havia sido um santo durante sua vida, afinal antes mesmo de se tornar garoto de programa ele havia passado por situações nada ortodoxas entre sexo em grupo, drogas e muito álcool. Porém, ele imaginava que havia deixado tudo para trás ao conhecer Elena. Ele acreditava que a sujeira da sua vida passada não os alcançaria.

  – Você está mentindo? – Elena gritou, sentindo vontade de quebrar algo. – Diga para mim, que está mentindo!

 – Não, eu não estou! – Damon se virou para ela. Os olhos encharcados por lágrimas e se sentiu miserável por estar à fazendo chorar. – Olhe...

Damon entregou a Elena o envelope que continha o diagnóstico de sua doença. Ela o abriu, e apesar de cega pelas lágrimas, conseguiu ler com dificuldade o que estava escrito. Elena deixou o papel de lado e envolveu Damon num abraço forte. Ela não conseguia mais imaginar um futuro onde Damon não estivesse. Lembrou-se das vezes em que ambos planejavam um futuro, onde se casariam e teriam filhos, onde até chegariam a adotar um cachorro e o chamariam de Tyler.

Elena não sabia se conseguiria resistir a mais um luto.

– Meu amor, você não iria morrer! Eu tenho certeza que não. Nós iremos encontrar uma cura, Damon!

 – Não, Elena... não iremos.

Damon não possuía mais esperança e isso a irritou.

– Iremos sim!

Damon levantou-se sem ao menos conseguir sentir suas próprias pernas.

 – Não, Elena!

 – Damon, eu amo você!

Ele também a amava, mais até que sua própria vida, porém, não poderia arrastá-la ao espiral de dor e doença que agora o preenchia. Damon balançou a cabeça e deu passos para trás.

– Não seja egoísta, Damon, não me afaste de você!

Elena não queria separar-se de Damon, não compreendia os acontecimentos e os fatos. Tudo agora parecia tão distante.

 – É isso que eu sou, Elena, egoísta! E seria mais ainda se permanecesse com você. Eu irei morrer, entenda! Não quero mais ocupar seu tempo, você é jovem e não será feliz comigo, nós não seremos felizes! Não me perdoaria se infectasse você!

As lágrimas escorriam com vigor pela face de Damon.

 – Se você morrer, parte de mim irá junto! – Elena gritou. – Não consegue entender? Você é a minha vida, Damon!

Ela respirava com dificuldades e mal conseguia pensar. O chão estava ruindo sob seus pés e nada parecia oferecer ajuda. Queria uma vida ao lado de Damon. E odiaria passar por mais um ciclo de luto. Não aguentava mais. Ele se sentou ao seu lado e a abraçou. Doía tanto vê-la tão triste.

– Elena...

Ambos estavam quebrados por dentro.

Damon não queria morrer e deixar Elena sozinha novamente.

 – Me entenda.

― Eu te amo, Damon Salvatore! ― Elena murmurou furiosa, observando os olhos avermelhados por conta das lágrimas.

― Eu também te amo e continuarei a te amar até o fim dos meus dias ― ele proferiu. ― Mas, não me foi permitido continuar com você, então eu prometo que em nossa próxima vida eu te encontrarei novamente e juntos nós vamos continuar a nossa história, Elena. Eu prometo!

Damon a abraçou e implorou aos ouvidos atentos do universo que aceitassem o seu maior desejo, pois naquela sala ambos estavam no chão chorando como se um sonho fosse soprado para longe, como um castelo de areia que a maré derrubou. A felicidade se dissolveu como grãos de açúcar num copo de água. O amor deveria ser justo, mas havia perguntas que não chegavam acompanhadas por respostas.

Nos dias seguintes, Damon tentou ao máximo expulsar Elena de sua vida, mas, não conseguiu. Ela se manteve presente em todos os estágios. Elena o assistiu tomar um coquetel de remédios todo dia, aderindo a um regime antirretrovirais, e seguir com a vida, mas a doença ainda estava ali, latente. Damon começou a frequentar grupos de apoio, onde conheceu a história de inúmeras pessoas que também viviam com a doença por anos. E isso o fez sentir esperança, porém, a AIDS inferia na capacidade do seu organismo de combater a infecções e Damon sofria com a debilitação de seu sistema e, infelizmente, o seu organismo não era capaz de se proteger nos inúmeros ataques bacterianos que nos ronda ao dia-a-dia.

Quando Damon piorou, foi obrigado a contar para a família sobre a doença. O quarto de hospital que havia sido internado havia ficado barulhento diante dos gritos de Giuseppe, inconformado com o destino do filho. Elena se retirou, dando privacidade a família, mas isso não a impediu de chorar. Quando soube do diagnóstico ela passou horas buscando por algum tipo de tratamento, e só encontrou relatos de pessoas que conviviam com a enfermidade. Mas, nunca uma cura. Ela possuía esperança de que Damon poderia conviver com a doença por muitos anos, assim como vários pacientes.

 Elena tentou realizar os últimos desejos de Damon e até adotou um vira-lata e o nomeou de Dan. O cachorrinho de olhos amarronzados visitava o seu dono todos os fins de tarde, quando Elena saía do trabalho. Ela pensou em se demitir para ter mais tempo com Damon, mas ele a proibiu, afinal, não queria que ela parasse sua vida por sua culpa.  Contudo, Damon notava a forma que Elena o olhava. Era diferente, como se tivesse a certeza de que ele nunca morreria, contudo, na primeira semana que a primavera abrira os botões de flores, Damon sofreu de tuberculose decorrente da fragilidade de seu organismo. Uma semana depois seria o seu aniversário, mas a infecção generalizada se alastrou rapidamente.

Na segunda semana da primavera, Damon faleceu por insuficiência respiratória.

O segundo dia mais triste da vida de Elena.

Seu mundo havia perdido a cor novamente. Desde o sepultamento de Damon à pequena reunião na mansão dos Salvatore. Elena folheava o álbum com as fotos de Damon, desde sua infância até a adolescência. Viu a foto de sua mãe e de como os dois se apareciam. Não importava quantas lágrimas escorreram de seus olhos por Damon, estava feliz por ter o conhecido. Por ele ter enchido os seus sete meses em que conviveu com aquele homem com uma felicidade infinita.

Elena vendeu seu apartamento em Nova York, e comprou uma casa na praia de Wrightsville, na Carolina do Norte. Pela manhã passeava com o Dan, e cada vez que o vento soprava seus cabelos sabia que Damon, de alguma forma, também estava presente, até o fim dessa vida, e se os dois tivessem sorte e se houvesse de fato um ouvido atento no universo, quem sabe, na próxima vida eles se encontrem novamente e, então seriam capazes de continuar essa história de amor.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...