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História For the love of her - A mulher desaparecida


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, todas novamente e bem-vindas.

Há alguns meses venho pensando em postar essa história que nada mais me serviu como um grande trabalho de RPG feito há mais de três anos. Acabei sentindo uma grande necessidade de adaptar essa fanfic e postá-la agora e eu espero sinceramente que agrade. Não pretendia postar nada além de IE até que ela terminasse, porém não consegui conter a inspiração para começar a reescrever uma nova história.
Conforme for a resposta de vocês para este primeiro capítulo, darei continuidade.

Espero que façam uma boa leitura.

Capítulo 1 - A mulher desaparecida



Minhas duchas matinais nunca estiveram tão escaldantes. Hoje, novamente, tenho a companhia de uma bela mulher, chama-se Elsa, mas não faço ideia de quem exatamente ela seja desde que nos beijamos no bar do Hotel Scala. Ela me parece jovem, deve ter seus vinte e cinco anos no máximo, e um corpo escultural, embora pequeno. Foi uma noite intensa, como as outras em que me aventuro em trazer uma mulher para casa. Alguns resquícios da posição invertida em cima dela ficaram em meu corpo, doendo da forma mais sutil, e só sentia quando ela insistentemente me arranhava as costas, descendo suas unhas compridas até a curva de minhas nádegas. Seus cabelos úmidos cada vez mais se uniam dando-me espaço para abocanhar o pescoço alvo que ainda nem teria se recuperado dos meus chupões de algumas horas atrás. Nós estávamos nos rendendo ao sexo pelo terceira vez, agora embaixo do chuveiro com a água testemunhando a euforia dos meus braços no corpo daquela mulher e as mãos dela me segurando a cabeça que pendia de um lado para o outro no pescoço já não mais tão pálido dela.

Eu me perguntava se a veria outra vez, hoje ainda, nessa noite, mas o meu receio de fazer essa pergunta as mulheres com quem me envolvo, ainda que só por uma noite, me impede. Não posso deixar de gostar dessa vida insana que escolhi viver após meu sucesso no caso do banco de crédito e comércio internacional. Foi um caso de fraude envolvendo associados dos banqueiros mais importantes de Nova York. Desmembrar esse caso e inocentar meus clientes me rendeu uma fama inesperada nas capas de jornais como a mais talentosa e brilhante advogada de Manhattan. Nunca achei que merecesse o título, eu não me sinto brilhante, muito menos talentosa, sou apenas eficiente. Porém, as consequências da fama e do bom trabalho andam me rendendo dinheiro e sexo. Na minha idade - com trinta e dois anos- , dinheiro e sexo caindo no colo como se eu fizesse um pedido ao gênio da lâmpada, significam que mais dia ou menos isso irá passar. O caso do BCCI ocorreu há um ano e três meses. Acho que estou durando muito tempo nessa fama de advogada brilhante, por isso talvez que sinta o receio em questionar as mulheres com quem eu transo. Elas logo perderão o interesse em mim, elas em breve conhecerão outras mulheres mais bonitas, com mais dinheiro para oferecer. Não tenho uma agenda onde anoto com quantas dormi, muito menos seus telefones, não acho que devo. Elas me rondam, me encontram ou seria eu a encontra-las? Pode ser minha boa lábia, meus olhos muito escuros, a maquiagem ou meu avantajado traseiro que elas adoram apalpar que as mantenham por perto.

Elsa me lembra Kris, a editora chefe de uma revista de moda da capital. Ambas ambiciosas para alcançarem seus objetivos. No caso de Elsa, ela queria apenas saber como era o meu gosto, me disse com essas mesmas palavras. Não deu muito certo para ela a tentativa mesmo que nossa transa tenha sido boa. Kris, a editora, me contratou há dois meses para ser sua advogada em um processo contra uma revista concorrente, e meio que se aproveitou da ocasião para me seduzir ou foi o contrário. Fazemos visitas regulares uma para a outra e nunca falamos pessoalmente sobre o processo, embora usemos isso como desculpa para trancar a porta do escritório quando ficamos sozinhas. Mesmo tendo uma grande atração física por Kris, não me apeteço com seu comportamento mesquinho na hora de negociar e persuadir, por isso essa relação nunca foi nada além do sexo casual.

De novo me vem à mente a pergunta que nunca faço para as mulheres que dormem comigo: vamos voltar a nos ver? Para quê? Para depois me envolver e me ver num beco sem saída por alguém ter se apaixonado por mim? Para decepcionar alguém, pois a pessoa por quem  se apaixonou não sabe como corresponder?

Senti que não devia prosseguir com Elsa, a solto devagar do meu corpo observando um olhar desentendido para mim. Seguro em sua cintura e peço desculpas intuitivamente para ela.

— O que foi?

Devia ser um pecado largar uma mulher dessa forma, abandonando-a para manda-la embora em seguida porque alguma reação freava seu tesão.

— Meu celular, estou ouvindo o meu celular tocando...

Deixo o box completamente enevoado de vapor, puxando a toalha mais próxima de mim. Não espero para me secar, apenas enrolo meu corpo e volto ao quarto, indo buscar o aparelho celular dentro do bolso do terno pendurado sobre uma poltrona no canto. Ao abrir, percebo que não há mensagens a não ser as do dia anterior, nenhuma novidade e nem ligação perdida. Levo até minha orelha e falo qualquer coisa para Elsa entender que a hora dela no meu apartamento acabara. Para meu azar, ela surge enrolada numa toalha gêmea a minha, me abraçando pelas costas à procura do meu pescoço, a fim de dar o troco pela marca avermelhada que deixei na pele dela. Solto o celular sobre a mesa de cabeceira e seguro suas mãos, me virando e evitando que ela se prolongasse.

— Desculpe, meu bem, tive um problema e em pouco tempo preciso ir para o escritório.

— Hum, que pena. — Elsa solta um muxoxo. — Vou voltar a te encontrar?

É ela quem pergunta e por muitos segundos penso nas mulheres que me livraram do fardo de responder essa dúvida.

— Sim, claro que sim. Tem meu telefone. Qualquer dia, quem sabe? — me inclino e beijo sua boca como despedida, ela finalmente parece compreender.

Elsa pega suas roupas espalhadas pelo chão do quarto aos poucos e se veste, peça por peça. Ela não me pede dinheiro, não me pede nada além do meu número outra vez antes de ir embora. Entrego um cartão com meus contatos para ela ir satisfeita, mas Elsa não vai até me dar outro beijo sereno na boca. Ela deixa meu quarto e quinze segundos depois ouço a porta da sala sendo fechada por fora, isso me causa um grande alívio.




Tarde nesse mesmo dia, juro a mim mesma que não vou sair essa noite para beber e me encontrar com alguma mulher ao acaso. Inconsequentemente, por um ano eu repetia as saídas duas vezes por semana, colecionando casos de uma noite só com quem quer que se interessasse por mim na bancada dos bares por onde eu ia. Muitas vezes voltei para casa sozinha, porque algumas mulheres e até alguns homens me propunham coisas que abomino desde a época da faculdade. Preferi sempre ser a caçadora solitária atrás da presa solitária. Mas hoje eu estava particularmente incomodada desde a hora do banho com Elsa. Podia ser minha consciência me cobrando, meu fogo se apagando, qualquer aviso que me fizesse levar esse lado da minha vida a sério.

Este pensamento ia me durar pouco, até o final da tarde quando minha secretária na firma para qual eu trabalho entra em minha sala e anuncia sobre um casal de clientes.

— Regina, há um casal querendo consulta-la. Deixo entrar?

Não havia um horário marcado para um casal de clientes na minha agenda. Isso me parece estranho, mas acabo assentindo para Belle que segura a porta para os dois.

Uma mulher de cabelos bem curtos e aparentemente jovem para sua real idade entra acompanhada de um homem alto e louro. Ela imediatamente estende sua mão a mim e me levanto para cumprimentar.

— Boa tarde. Regina Mills? — sua pergunta se parece mais com uma afirmação de surpresa. O homem que eu suponho ser seu marido também me cumprimenta com um aperto de mão.

Mostro aos dois os lugares a minha frente na mesa e confirmo.

— Eu mesma, em que posso ser útil?

O casal se senta e troca um olhar, mas quem começa a falar é ela.

— Primeiramente, gostaria de dizer que conhecemos a senhora dos jornais, você é famosa.

O homem pigarreia antes de falar:

— Margaret, querida, precisamos ser breves.

Ela concorda e respira fundo.

— Pedimos desculpas por vir assim sem marcar uma hora, acontece que estamos desesperados. — Ela olha o marido de relance mais uma vez e continua: — Não sei se pode nos ajudar, é um caso de vida ou morte. — Vejo quando ela tira trêmula de sua bolsa um retrato. Ela estende para mim sobre a mesa e seguro atenciosamente, observando a fotografia de uma mulher. — Ela se chama Emma, é nossa filha e está desaparecida.

Enquanto seguro o retrato, observo o rosto de Emma; Um anjo encarnado, Emma é bonita. É loira como seu pai, tem feições da mãe e seu olhar é expressivo de um jeito que jamais vi.

— Nossa filha saiu de casa há muitos dias e não temos notícias ao certo. — o homem começou a falar. — Ela é muito arredia quando quer, desobediente, desinteressada nos estudos e acho que fugiu porque eu fazia pressão para ela continuar a faculdade.

— Não foi apenas você, David, eu também impus muitas coisas à Emma, ela estava muito aborrecida conosco, não aguentou. — a mulher disse esbanjando trejeitos antes que eu os interrompesse.

— Vejam bem, senhores, não sou detetive. — digo, sem deixar de admirar a foto de Emma. Noto que ela deve ser pouca coisa mais nova do que eu.

— Foi isso que eu falei para Margaret, mas ela insistiu em procurar a senhora. — o homem, que agora eu sabia o nome, David, comentou.

Solto um suspiro discreto e devolvo o retrato a Margaret que me olha apreensiva. Aqueles eram os primeiros clientes que me procuravam para resolver um caso de desaparecimento. É sem dúvida o pedido mais estranho que eu recebi em toda minha curta carreira de advogada.

— O que exatamente posso fazer para ajudar nessa situação?

— Nós consultamos muitos detetives e não obtivemos as respostas esperadas. Um deles se recusou a continuar o serviço depois que Emma descobriu que estava sendo seguida. — Margaret revela.

— Conte a ela, querida, talvez ela compreenda melhor se contar. — David lembra a esposa.

— Bem, Emma basicamente se rebelou quando dissemos a ela que mandaríamos ela a Londres para completar os estudos. — Margaret diz.

Passo longos segundos encarando o casal, ainda não compreendendo por que me procuravam.

— Que mal os pergunte, o que os senhores fazem da vida?

— Trabalho como empresário em uma rede de lojas de departamento. Margaret é uma professora particular. — ele responde e ela confirma com a cabeça.

— Ainda não compreendo como posso ajuda-los. — eu falo posicionando minhas mãos e braços sobre a mesa de vidro.

— Isso foi ideia minha. — Margaret retorna. — Após Emma enxotar o último investigador, cheguei à conclusão de que talvez fosse mais útil contratar alguém que não fosse claramente um detetive. Como a senhora está em evidência como advogada, tem bom retrospecto em seus casos, pensei em pedir a sua ajuda.

Continuo encarando o casal e penso que a ideia dela parece inteligente.

— A senhora disse que sua filha descobriu o último investigador, então ela não está propriamente desaparecida? — questiono.

— Ela é muito arredia, tem frequentado muitos lugares inapropriados da cidade e nós só sabemos que nunca é o mesmo. Bares, aqueles clubes onde as mulheres trocam nudez pelo dinheiro e o pior de tudo, zonas de consumo de droga. — ela começa tranquila, mas a última palavra embarga na garganta.

David ao lado da esposa não parece conformado com as escolhas da filha.

— Nós não podemos ir atrás dela sem correr riscos. Nós apenas queremos que ela converse conosco, que se trate e tenha um futuro.

— Estamos dispostos a bancar tudo o que ela desejar fazer para o bem dela, menos isso que ela chama de “brisa”. — Margaret completa mais uma vez.

Eu conheço esse tipo de pessoa, ou acho que conheço. Viciadas em drogas que deixam o lazer da vida em família para curtir a “brisa” em paz. No caso de Emma, eu acredito que sua vida fosse muito monótona e ela encontra nos vícios uma forma de descontrair. Pela cara de David e Margaret, isso é mais grave ainda do que estou pensando.

— Há quanto tempo sua filha está envolvida com entorpecentes?

— Faz quase seis anos. — quem responde é David. — Ela deixou a primeira faculdade e se envolveu com pessoas erradas. Descobrimos quando abrimos as gavetas no quarto dela, parece que nunca fez questão de esconder.

— E quantos anos ela tem?

— Vinte e seis, quase vinte e sete.

Estou certa sobre Emma não ser tão mais nova do que eu. Peço o retrato dela de volta com a mão estendida a Margaret e ela me devolve. Olho para aquele rosto com muita calma, tentando escolher se aceitaria ir atrás dessa mulher para convencê-la a conversar com seus pais. Parece-me uma missão muito fácil, que coincide com minhas conquistas pela lábia. Eu posso convencer Emma se antes seduzi-la, mas não poderei leva-la para a cama como faço com as outras. Emma é diferente, Emma é um trabalho e localizar seu paradeiro não deve passar disso.

— Pagamos o que a senhora pedir se a encontrar. — a mãe de Emma diz.

Ambos aguardam minha resposta enquanto olho o retrato. Solto um suspiro e uma palpitação no peito começa a me deixar ansiosa.

— Senhores, eu sinceramente não sei se posso fazer isso.

— Poderia ao menos tentar. — David conclui e me deixa sem saída.

Há alguma coisa mal contada nessa história. Fui sorteada por esse casal para encontrar a filha fugida deles. Isso não está normal. Passo mais alguns segundos olhando a foto de Emma e só aceito o trabalho porque não parece que vai me tomar tanto tempo.

— Está bem. Eu posso ir atrás dela e convencê-la a conversar com os senhores.

— Graças a Deus. Alguma coisa me diz que finalmente vamos ter Emma de volta e será graças a você. — Margaret fala.

— Por favor, não depositem tanta esperança em mim, nunca trabalhei com esse tipo de caso.

Aceito, deixando claro que isso poderia dar errado. Margaret e David me confirmam os últimos passos de Emma que tinham conhecimento. Fico com o retrato para levar enquanto a procuro. É aí que minha promessa de não sair essa noite não se cumpre.

 

Para resolver logo o drama dos pais da mulher perdida chamada Emma, decido ir fazer uma visita a um velho conhecido inferninho dos becos de NY. Assim que termino minha janta - um prato de salada Caesar -, troco meu terno escuro de trabalho por um de cor acinzentada com um único botão na parte da frente. Eu jamais usei esse terno para ocasiões que não fossem a trabalho, se bem que o que eu ia fazer tinha a ver com trabalho. Me dirijo para a área central da ilha, mas onde pensei que encontraria Emma fico sabendo que nem sua sombra passara por ali. Não ia ser tão simples assim encontra-la, chego à conclusão depois de mostrar sua foto no décimo strip bar por onde passei. Pelo o que entendi, Emma tinha fases. As de frequentar bares para conseguir dinheiro com pequenas apresentações particulares e as de se esconder em pensões para desabrigados. Margaret me dissera que o último investigador havia encontrado a filha dela em um pub no SoHo na última vez em que teve contato. Decido arriscar minha preciosa paciência nesse palpite e me desloco até o bairro no sul da ilha. Chegando lá, me recordo do quão charmoso esse lugar podia ser de dia, mas deixo a nostalgia de lado e parto para minha jornada em busca de Emma. No primeiro pub, me confirmam que a loira andava pela região, mas que há muitos dias não era vista ali. No segundo, o barman me diz que será mais fácil encontra-la trabalhando em um cassino a dois quarteirões dali. Dou uma gorjeta de cinquenta dólares para o rapaz abrir a boca e me dizer o endereço, ele não recusa a informação.

O tal cassino na verdade é uma casa no final de uma rua sem saída. Com a senha, toco o interfone e entro sendo observada por três câmeras na entrada que fica curiosamente no subsolo. Duas outras portas luxuosas se abrem a minha frente, ando por um corredor, passo por uma sala de estar com bifurcações para outros cantos da casa, e em um deles vejo a placa com a senha, então sou recebida por um metre que sem dizer uma palavra me guia até um salão abastado de requinte, mesas de jogos, pessoas bem vestidas e principalmente garçonetes. Se Emma estava ali, não seria um problema encontrá-la. Ao que indicava, esse cassino servia igualmente de casa noturna para encontros entre homens casados e prostitutas e por incrível que pareça, elas não eram as garçonetes. Me dirijo ao bar, puxo do bolso a foto de Emma e mostro a um barman careca.

— É a Swan? — ele fica com um enorme ponto de interrogação no rosto ao ver a foto de Emma.

— Conhece essa mulher? Ela está aqui?

— Ela trabalha aqui, madame. Nesse momento ela está atendendo um cliente. — diz ele, chacoalhando uma coqueteleira.

— Onde posso esperá-la? — pergunto e recolho a fotografia para dentro do terno a última vez.

Sou levada até uma sala no interior do cassino e fico me perguntando até onde aquela casa aparentemente modesta da fachada tinha espaço para tantos cômodos. O lugar é bonito, decorado com cores quentes, tapetes, réplicas de quadros famosos, móveis de estilo clássico e até espelhos. Me sento zonza e perdida com tantos detalhes. Chegam a me oferecer um drinque, mas ao invés disso, peço que me tragam cigarro. Não, não é para mim que peço. Vinte minutos de espera e nada dela. Não há janelas nessa sala e em nenhuma outra para a qual eu fosse levada, por isso começo a sentir uma sensação estranha, talvez claustrofobia. Deslizo minha mão pelos cabelos curtos que começavam a alcançar minha nuca quando a porta é aberta e ela aparece. De repente, nossos olhos se tocam.

— Me disseram que havia uma mulher bonita me esperando. Precisei terminar o showzinho com o outro cara mais cedo.

Fico sem palavras. Vejo ela fechar a porta com muita tranquilidade e se dirigir a mim com os olhos bem abertos. Enfim, eu estou sozinha com Emma. Já podemos conversar e eu convencê-la a voltar para casa. Estou secretamente feliz por ter sido mais rápida que os outros detetives, acho que porque eu sempre soube onde encontrar esse tipo de gente que precisa de dinheiro fácil.

Eu não tiro os olhos dela. Não está tão bonita quanto na foto que sua mãe me entregou, mas ainda assim é bonita. Está de vestido escuro, simples e ao mesmo tempo elegante. A maquiagem é muito singela sobre o rosto e os cabelos caem enrolados para baixo dos ombros, diferente da fotografia onde vi um liso escorrido.

Me ergo para ela e estendo o maço de cigarros importados. Ela não recusa.

— Obrigada. — parou diante de mim, me devolveu o olhar e retirou um cigarro de dentro do maço. Eu rapidamente acendo para ela com o isqueiro.

Emma me olha da cabeça aos pés, sorri enquanto solta a fumaça do cigarro. Seus dentes não parecem sujos como os de uma viciada.

Minhas pernas estão trêmulas, meu coração disparado, e no entanto tenho que fingir que tudo está bem, que sou apenas uma cliente, que estou interessada em pedir um drinque para ela. Isso jamais ocorreu com qualquer outra mulher. Eu nunca fui tímida quando o assunto era conhecer uma pessoa. Nem nos tribunais deixei que meus receios me dominassem. Então eu não faço ideia por que isso está acontecendo. Começo a me arrepender de ter aceitado o caso. É tarde demais para se arrepender com Emma diante de mim. Eu não sei o que dizer a ela, não sei como começar a conversa, a seduzi-la e me apresentar como advogada de seus pais. Deixo ela terminar o cigarro e sobra-me tempo para reunir coragem.

— Você é muito bonita. Exatamente como falam. — digo, inventando um assunto para nos aproximar.

— Falam, é? — ela fica curiosa, ergue uma das sobrancelhas.

— Muito.

Emma abre um sorriso molenga, entorpecido, volta a me olhar.

— E olha que eu nem transo com eles. O cliente que estava comigo antes de você queria que eu o chupasse, mas eu tenho nojo, sabe?

— Se não transa com eles o que faz para ganhar dinheiro?

— Hum — ela deu de ombros. — Sento no colo deles, falo algumas besteiras no ouvido, danço, tiro a minha roupa e deixo que passem a mão em mim. Alguns se masturbam e é o máximo que acontece.

— E com mulheres, o que acontece?

— Com mulheres eu dou uns amassos, mas você é a primeira que vem como cliente me procurar.

— Para quase tudo há primeira vez.

— Então será a primeira cliente com quem vou transar. — Emma se aproxima e respira rente ao meu rosto. Ela me olha diretamente nos olhos, nossos narizes estão por um centímetro um do outro. Eu vejo o verde em seu olhar, meu reflexo nele. Meu coração continua disparado, mas consigo manter a calma.

— Quer transar comigo? — me mostro surpresa.

Emma passar seus olhos pelo meu corpo de cima a baixo outra vez e sorri com convicção.

— É claro. Você é bonitona, tem cara de ser gostosa também. — ela direciona os olhos para o decote por baixo do meu terno. — Foi para isso que veio me procurar, não foi? Quer pagar por uma horinha comigo, e quer saber? Não vou cobrar, gostei de você.

— Na verdade, eu, antes de tudo, gostaria de conversar com você. Uma hora hoje, mais uma amanhã e depois combinamos alguma coisa. — tive de quebrar suas expectativas quanto a mim. Como eu imaginava, Emma era bonita e atraente, embora muito mais despojada do que pensei que fosse.

— Conversar o quê?! Quer me pagar para conversar? Você é louca ou o quê?

— Eu sou uma mulher diferente. — sorrio para ela e isso a desmonta. Ela é surpreendida e fica sem ar. Meu sorriso já fizera vítimas antes, eu sempre soube do poder dele.

Emma passa vários segundos me olhando e se eu estivesse no lugar dela iria embora, pois já estaria desconfiada.

— O que você faz? Não trabalha com política, né?

— Não. Por que acha que sou política?

— Ah, sei lá, se veste do mesmo jeito que eles. Muitos políticos frequentam esse cassino.

— Não sou política. Sou advogada.

— Nome?

— Mills, Regina Mills.

— Hum, entendi. — ela mal balança a cabeça, só me olha. — Bem, se vamos conversar, peça um drinque para mim para ficar mais interessante.

— Claro. — eu digo indo buscar dois copos com vodca. Fico de olho na direção das salas enquanto busco as bebidas. Emma podia ter me enganado e estava aproveitando minha ausência para fugir nesse momento. Felizmente ela não saiu da sala, nem desconfiou que eu estivesse ali a mando de seus pais. Assim que retorno ela está parada acendendo outro cigarro. Colocou uma música para tocar no som e eu reconheci - Jennifer Lopez. Se vira para mim quando volto e dá a terceira olhada da cabeça aos pés no meu corpo.

— Gosta de dançar?

— Só se for bem de perto. — entrego o copo para ela e brindamos. Ela bebe logo em seguida mais da metade da bebida e eu dou um gole breve.

Ela começa a fazer sua própria coreografia de You belong to me, o que não passa de uma provocação. Era como se me dissesse com seus olhos e movimento: “Não vamos transar, vai ter que aguentar.” Ela bebe o segundo gole e o copo está vazio, mas ela não se dá por satisfeita. Se aproxima e toma o meu copo. De propósito, ela bebe sobre a marca de batom deixada por mim nele e não tira seus olhos dos meus até fechá-los e curtir sua parte predileta da música.

Tell her, tell her you were foolin’... you belong, you belong, you belong to me.

Ela canta como se estivesse em seu palco particular e larga o copo para se atirar nos meus braços. Emma está alta desde cedo esta noite. Acho que ter deixado ela beber mais um pouco não foi boa ideia. Eu a seguro pela cintura e encontro com seu rosto novamente. Eu devia ser rápida, continuar a conversa e ganhar sua confiança, mas isso se torna cada vez mais complicado.

— Dança comigo, vamos.

— Não, eu não posso.

— Vai, não seja tímida. Uma mulher tão bonita e tão acanhada, onde já se viu? — ela ria.

— Vamos sentar um pouco, tá bem?

Levo ela até o sofá e nos sentamos no mesmo instante uma ao lado da outra. Ela ainda parece não compreender por que não estamos nos beijando ou como ela disse, dando uns amassos. Vejo na expressão dela uma dúvida cruel sobre mim. Uma hora ela vai acabar desconfiando meu real motivo de estar ali.

— O que quer falar comigo?

— Me fale sobre você. — peço com suavidade.

Emma estranha. Acho que já se passaram muitos minutos e perdemos tempo.

— Por quê? Você gosta de ouvir história de vagabundas drogadas? Já sabe que não transo com todo mundo que me dá dinheiro.

— Nem toda mulher drogada é uma vagabunda. Às vezes nem todas que transam com todos são vagabundas.

— É bem por aí, Regina. — ela guarda meu nome. — Eu sou mais vagabunda porque poderia ter uma vida de princesa e no entanto prefiro estar aqui me vendendo por cinquenta dólares ou um pacote de cocaína. Maconha é bem-vinda também. Você não teria um baseado escondido por aí não, né?

— Não, eu sequer fumo.

— Pois então o cigarro era pra mim?

— Sim.

— Quanta gentileza. — ela sorri.

— Pode ficar com o maço. — entrego a ela.

— Valeu — ela o guarda na alça do sutiã por dentro do decote de seu vestido e devo ter me perdido nesse momento, ela percebe. — Já saquei qual é a sua, faz o tipo romântica. Conquista primeiro e depois leva pra cama. É, esse estilo cabe mais a você.

— Ainda bem que você entende, gosto de ter um afeto pela pessoa que levo pra cama. — isso acaba sendo uma verdade.

— Tem cara de quem tem pegada e come gostoso. Uma pena eu não estar sentada no seu colo agora. — De duas coisas uma; Emma queria mesmo transar comigo ou seu linguajar ousado faz parte do show dela.

— A oportunidade teremos que criar.

— Sinceramente, eu não gosto de pessoas que demoram para tomar uma atitude.

Na realidade eu não demoro tanto com as mulheres, sei que o tempo é precioso quando excito uma e não gosto de perde-lo. Emma seria minha primeira exceção, o que considero uma pena. Mesmo que seja muito difícil fingir que estou à vontade, conversando com alguém que devo convencer a rever os pais, preciso fazer algo.

— Não se preocupe quanto a isso, valerá a pena. — olho em meu relógio de pulso e noto que uma hora já se passou. — Aceita jantar comigo amanhã nesse horário? — sou direta e objetiva.

Ela ergue suas sobrancelhas e arranja uma desculpa.

— Acho que não vai dar.

— Por que não?

— Porque eu tenho que ganhar dinheiro e pagar a mensalidade da pensão.

— Então você está morando em uma pensão.

— Um quarto mais especificamente, e sabe como é, eu andei enrolando o dono para pagar tudo no final do mês, mas com o dinheiro que ganhei aqui adivinha o que fiz. — ela fala de um jeito bem humorado como se fosse uma piada muito boa.

— Comprou baseado.

— Exatamente. — Emma solta uma gargalhada.

Uma ideia me cai na mente como um lampejo.

— Eu pago a mensalidade da pensão, mas apenas se aceitar jantar comigo.

— Vai me dar a grana pra pensão?!

— Vou, com essa condição.

Ela para e pensa se vale a pena ou não. Para quem se mostrava tão interessada em transar comigo, seu ânimo não está lá grande coisa agora.

— Hum, pode ser um café? Não tenho roupa para ir jantar com você, mas podemos tomar um café juntas.

Compreendo que o vestido escuro talvez seja sua única roupa de sair, ainda mais para trabalhar em um lugar como esse. Começo a ver que Emma teve sorte em ser aceita no cassino, e provavelmente só aceitaram por ter boa aparência.

— Um café então, está ótimo.

— Conheço um lugar que é a sua cara, fica só a duas ruas daqui.

— Me encontre amanhã nesse lugar às cinco.

Me levanto e ela acompanha.

— Já está indo embora? — parece surpresa.

— Minha hora acabou de terminar. Conversaremos mais amanhã.

— Não tenho outro cliente depois de você, por que não fica mais um pouco?

— Realmente eu não posso, nem devo. — digo para ela pensar no encontro de amanhã.

— Que pena, eu gostaria que ficasse agora que a conversa está boa. — Emma se mostra desapontada.

— Continuamos essa conversa amanhã, srta. Swan. — sorrio para ela novamente e outra vez ela fica sem fôlego.

Me afasto em direção a porta, mas ao me virar e dar tchau, Emma está no meu encalço.

— Eu vou te esperar amanhã no café, é sério. — ela agarra a gola de minha roupa e me puxa fazendo nossos rostos se aproximarem bruscamente. Por um triz não me rouba um beijo, nem eu abocanho seus lábios como usualmente ocorre nessas situações. — Há muito tempo que ninguém me chama de srta. Swan.

— Eu sabia que iria gostar. — sussurro em cima dela.

— Eu é que adorei você...

Algo nos impede, como se houvesse uma fina parede nos limitando àquele beijo que fatalmente ocorreria. Não posso ceder, não devo. Por um momento me sai da cabeça que Emma é filha dos meus clientes e que estou ali para ter seu contato. Não posso estragar tudo, ela é apenas um trabalho.

Minha mão sobe até seu rosto que toco como se fosse feito de porcelana, com muito cuidado. Ela ainda me olha, implora por um beijo me dando seus lábios entreabertos. Não me permito ceder.

— Até amanhã.

Tenho que soltá-la, mas eu sequer a toco. Dou as costas lentamente e me retiro sem olhar para trás. A porta se tranca sozinha nos separando, me libertando para os efeitos colaterais que esse encontro me causa. Noto que minhas pernas bambas ainda estão ali, minhas mãos suam e meus batimentos estão subindo a garganta. Nenhuma mulher me causara tantas reações antes. Acredito que só esteja assim porque Emma não passa de um trabalho a ser feito. Ela jamais poderá ser algo maior do que isso.


Notas Finais


Esse é apenas o primeiro capítulo, eu nem sei se vocês gostaram da ideia que embora semelhante em alguns pontos a de tantas outras histórias que vocês acompanham, tem algumas particularidades, mas espero estar fazendo diferente de certa forma.

Qualquer impressão boa ou ruim é bem-vinda. Agradeço desde já.

Um abraço a todas e fiquem bem.


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