História For the love of my family - Capítulo 19

No domingo, perto da hora do almoço, Ella e Pietro propuseram para Eric e Mili que fossem almoçar na casa dos Guerra, já que Lilian iria fazer lasanha naquele dia. Os dois, claro, concordaram na hora.

“Ela falou para irmos para o salão de festas, está usando o forno de lá.” Avisou Pietro, assim que entraram no prédio.

“Eu estou ouvindo murmúrios.” Comentou Eric, enquanto se aproximavam.

Ella abriu a porta e deu passagem, e Mili puxou o namorado. Assim que cruzaram a porta, buzinas, confetes e gritos.

“SURPRESA!” Os amigos gritaram juntos.

Eric se encolheu, assustado, e Mili o abraçou.

“Calma, amor, é uma festa surpresa.” Ela explicou, sorrindo.

“Ai, Eric, desculpa. A gente esqueceu que você não podia ver e poderia se assustar com o barulho.” Pediu Cirilo, sem graça.

“Tudo bem, gente. Foi só o susto inicial.” Eric gaguejou, enquanto se aprumava. “Obrigado.”

“É, obrigada.” Mili sorriu ao ver os nomes dos dois nas paredes. “Tem várias bexigas azuis e rosas espalhadas pelo salão, amor. E tem letras formando Parabéns Eric e Mili na parede. Tem uma mesa cheia de docinhos, um bolo de chocolate enorme, e muitos salgadinhos.”

“Ele nem precisa mais pedir e você já descreve tudo para ele?” Mário observou.

“É o costume. Faço isso há anos já.” Mili sorriu, guiando o namorado pela sala, deixando que ele tocasse e sentisse tudo.

“Nós nunca tivemos uma festa juntos, sabiam? Sempre falamos sobre, mas nunca fizemos.” Contou Eric, sorrindo.

“Nada mais justo para seu primeiro aniversário como namorados.” Pietro lembrou, enchendo a boca de coxinhas.

“Chega de conversa e vamos todos comer, antes que o Pietro, a Laura e o Jaime limpem a mesa.” Mandou Paulo, puxando a namorada consigo.

~*~

A festa foi animada, com todos conversando e se divertindo. Mário e Alicia mantiveram distância de Mili e Pietro, e os dois também não tentaram se aproximar. Perceberam que Marcelina e Paulo estavam bem agarrados aos namorados e os casais trocando sorrisos e carícias.

No final da tarde cantaram parabéns para os aniversariantes, que assopraram as velas juntos e tiraram muitas fotos sorridentes. Cortaram o bolo e deram o primeiro pedaço para Ella e Pietro.

Logo todos comiam os doces espalhados pelo salão, animados pelo fato de não terem aula no dia seguinte graças ao feriado.

“Linda, eu vou ao banheiro rapidinho, já volto.” Paulo deu um selinho na namorada, se afastando.

Pietro esperou que o pai estivesse no banheiro para se aproximar de Alicia. Ela sorriu para o garoto, o abraçando.

“Senti sua falta, cara. Você está me evitando?” Ela perguntou.

“Acho que meu pai está precisando de um tempo a sós com você.” Ele explicou, rápido. “Hã, Ali, eu preciso conversar com você.”

“Claro, pode falar.”

“Não aqui, e nem agora. Mais tarde, depois que todo mundo for embora, no escritório do meu avô.” A garota arqueou a sobrancelha, curiosa.

“E posso saber sobre o que você quer falar, Pietro?”

“Sobre nós, Alicia.” Pietro suspirou. “Sobre o que nós somos.”

“Eu sabia que não era coisa da minha cabeça.” Antes que percebessem, Pietro estava jogado contra a parede, com Paulo o segurando pelo colarinho. “Desgraçado.”

“Paulo, calma, por favor.” Pediu Alicia, desesperada.

“Deixa eu te lembrar que eu sou seu pai, e que ela é minha namorada? E você vem falar da relação entre vocês.”

“Você entendeu tudo errado, Paulo.” Gritou Pietro, tremendo.

“Se você não tem respeito a mim, tenha respeito a Ella pelo menos.” Gritou Paulo, espumando.

“Ouvi meu nome, já cheguei.” A morena se aproximou, enquanto todos os presentes os observavam. “O que acontece aqui?”

“Paulo, menos, por favor.” Pediu Alicia, segurando o braço dele.

“Menos? Que merda, Ali, ele está dando em cima de você na cara dura. Ele e a Milena não descolam de você e do Mário, parecem chiclete. Ele te olha como um idiota apaixonado, ele é louco por você. E tá bom, ele não gosta de mim, mas que pelo menos respeite a namorada que ele diz amar e pare de dar em cima de você.” O Guerra estava nervoso.

“Espera, vocês acham que nós estamos afim da Alicia e do Mário?” Milena encarou a mãe estarrecida.

“Pelo menos é o que vocês estão fazendo força para demonstrar.” Resmungou Marcelina, desgostosa.

“Ai meu Deus, não.” Gritou a garota, irritada.

“Nem faz a ofendida, Milena. Você não para de ligar para o Mário, está sempre com ele... O mesmo que o Pietro.” Paulo ainda estava nervoso.

“É claro que eu estou sempre perto da Alicia, inferno.” Gritou o Guerra mais novo, descontrolado. “Eu amo ela!”

“E você fala isso assim, na minha cara?” Paulo avançou contra ele de novo.

“Falo, seu energúmeno. É claro que eu amo a Alicia, ela é minha mãe!” O berro de Pietro desarmou a todos, especialmente os pais. “E a Mili quer ficar perto do pai dela, e não da Marcelina.”

“E-eu sou o pai da Mili?” Mário gaguejou, surpreso.

“Agora a vaca foi pro brejo de vez.” Resmungou Eric, preocupado.

“E sabe por que nós não contamos a verdade, papai?” Pietro perguntou, debochado. “Porque você é o mesmo bosta que eu sempre imaginei, e eu queria muito que a minha mãe escolhesse alguém melhor do que você."

“Pietro...” Ella tentou intervir, vendo que o namorado ia falar demais.

“Não, Ella, me deixa falar. Eles não querem saber tanto o que o futuro reserva? Por que eu tenho tanto ressentimento do meu pai, e você e a Mili da mãe de vocês? Então eu respondo: porque vocês são uns bostas, Paulo Guerra. Você é um escroto que foi embora, sumiu, e deixou eu, minha mãe e meus dois irmãos para trás. E sendo uma imbecil covarde que nem você, a Marcelina foi atrás e deixou o tio Mário, a Mili e o Marcos para trás, para nunca mais dar notícias.”

“Pietro, pelo amor de Deus.” A prima foi até ele, mas o garoto estava sem freios.

“E você, Margarida, queria saber o que fez de tão mal para a Ella? Você quis ser modelo e foi embora, para outro país. Você e o Jorge se divorciaram de uma forma horrível e ele ficou com a Ella, e você logo arranjou filho de outro e deixou a sua filha para trás, para conviver com a culpa do que aconteceu.” O garoto já chorava enquanto falava. “E toda essa merda de situação só aconteceu porque o Daniel sempre foi um desgraçado que só sabia trabalhar, e que não estava em casa quando o Eric precisou. E passou o resto da vida se culpando pelo maldito acidente que ele e a Carmen sofreram, e por ela ter morrido. E construiu aquela maldita máquina do tempo, no maldito dia do meu aniversário, e nós só fomos parar lá porque eu não aceitei a merda do noivado da minha mãe e do tio Mário, porque apesar de todo esse inferno que vocês fizeram na nossa vida, vocês são nossos pais, e nós amamos vocês. E eu, a Mili e a Alice ficamos por dez anos esperando que vocês dois iam voltar para casa, e aceitar aquela droga de casamento era aceitar que isso nunca ia acontecer.”

Quando ele terminou de falar, sua voz já saia estrangulada e marcada pelo choro. Ella e Mili choravam copiosamente ao seu lado, enquanto Eric havia sentado no chão, escondendo o rosto entre as mãos.

A maioria dos presentes tinha a boca e olhos estatelados de espanto pelas revelações recentes, com exceção dos quatro casais de futuros pais. Carmen se ajoelhou ao lado de Eric, se agarrando a ele e soluçando alto, enquanto Daniel chorava estático, absorvendo a realidade que Pietro acabara de apresentar, na qual ele era culpado por perder o que tinha de mais importante na vida.

Margarida e Jorge se encaravam cheios de culpa, lágrimas grossas escorrendo de seus olhos. Mário tinha os olhos correndo de Mili para Marcelina, e vice-versa, sem saber qual das duas ele corria acudir primeiro, já que elas choravam com igual intensidade. Alicia tentava entender tudo o que havia acabado de ouvir, se encolhendo contra a parede, enquanto Paulo permanecia uma máscara quase impassível de choque, pontuado apenas pelas lágrimas que escorriam de seus olhos.

“Pronto, agora já sabem. O futuro é uma merda, vocês não fizeram porra nenhuma certa.” Pietro disse, assim que conseguiu falar de novo. “Obrigada por estragarem nossa vida, em todos os tempos possíveis.”

E saiu tempestuosamente, deixando o pai olhando para o nada.

“Eu vou atrás dele.” Alicia se levantou, nervosa.

“Tia, é melhor não. O Pietro está explodindo mais que fogos em noite de ano novo, ele vai disparar merda para todo o lado. E do mesmo jeito que só ele me acalma nas crises, só eu consigo controlar ele.” Ella a impediu, tentando parar de chorar. “Mili, você e o Eric ficam, por favor. A última vez que o Pietro surtou e todos nós tentamos ajudar, acabamos dentro de uma máquina do tempo.”

A jovem Ayala concordou, enquanto a amiga sumia atrás do namorado. O silêncio continuou por um tempo ainda, até Paulo perder as forças e cair sentado no chão, chorando.

“Calma, amor.” Alicia ajoelhou ao lado dele, o abraçando pelas costas.

“Eu sou um bosta, Ali. No presente, no futuro, no passado... Eu sou um grande estúpido que não presta.” Ele disse em voz baixa, amargurado. “Eu destruí a vida de vocês.”

“Não fala assim, Paulo. O Pietro está nervoso, não deve estar falando coisa com coisa.” Pediu a morena, acariciando as costas dele.

“Mili, Eric... Expliquem tudo isso, por favor.” Pediu Lilian, ainda um pouco chocada. Já sabia tudo o que havia acontecido no futuro, mas ver Pietro jogando as verdades daquela forma foi no mínimo chocante.

“Eu não sei nem por onde começar, vó.” A menina disse, com a voz engasgada.

“Eu sei.” Disse Mário, atraindo a atenção dela. “Começa me dando um abraço e se acalmando, porque tá me doendo o coração te ver desse jeito.”

Não foi preciso pedir duas vezes, porque no instante seguinte ela já chorava contra o peito dele, agarrada em sua cintura. Ele a abraçou pelos ombros, apoiando o queixo no topo da sua cabeça.

“Tá tudo bem, baixinha. Eu to aqui, ok?” Ele prometeu, deixando que ela chorasse enquanto os amigos os observavam e Marcelina chorava em silêncio.