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História For the love of my family - Capítulo 22


Escrita por: Believe8

Notas do Autor


OLÁ PESSOAS, COMO VÃO?
Alguns avisos no início do capítulo, porque sim!
Primeiro: A fic terá mais uns 15 a 20 capítulos. Sim, ainda tem chão nessa poha. Então podem respirar, que ainda tem água para rolar.
Segundo: todo mundo vai engolir tudo o que xingou do Paulo e da Marcelina nesse capítulo. Vocês desceram a lenha neles por terem ido embora, chamaram eles de egoísta e aquelas bosta tudo... Vai preparando.
Terceiro: não me responsabilizo por choros e nem forninhos quebrados. Obrigada, de nada, eu.

Capítulo 23 - Capítulo 22


“Espera, volta do início e explica isso direito.” Pietro levantou e começou a andar em círculos, nervoso. “Como assim nós temos uma doença?”

“Nós temos o gene da doença, Pietro.” Marcos suspirou. “Ele veio da família da vovó, mas ela nunca teve nenhum sintoma. Mas foi diferente com o seu pai.”

“Foi logo depois que diagnosticaram o autismo no Paulinho.” Alice continuou. “O papai começou a ter tremedeiras e alguns lapsos, e achou estranho. Ele começou uma bateria de exames, sem contar para a ninguém; até porque, todos estavam meio surtados tentando aprender a lidar com o autismo. Quando saiu o diagnóstico, ele não sabia o que fazer. Para ter noção, nem nome a doença tinha na época.”

“E agora tem?” Perguntou Eric.

“É o nome de algum médico, não sei ao certo qual.” A garota desdenhou. “Em suma, tinha uma universidade no interior do estado, mas muito tradicional. Eles estavam começando um estudo aprofundado sobre a doença e precisavam de cobaias.”

“Cobaias?” Mili ecoou, desgostosa.

“Não é esse o termo que eles usam, mas é basicamente o que significa. Eles estavam fazendo exames, testando medicamentos, estudando... O médico sugeriu que o tio Paulo se voluntariasse, mas, bom... Era quase uma vida de rato de laboratório.” Contou Marcos, nenhum pouco animado em falar naquele assunto.

“E ele aceitou?” Se horrorizou Ella.

“A princípio ele pensou em recusar, mas havia muita coisa envolvida. Primeiro que ele era o caso mais avançado que eles tinham da doença, a melhor chance de se chegar a respostas.” Explicou Alice. “E depois, tinha o Paulinho.”

“O que tinha o Paulinho?”

“De todos nós, nós três ou a Mili e o Marcos, o mais suscetível a desenvolver a doença é o Paulinho, por causa da condição de autista.” Ela contou, desarmando o irmão. “E foi essa a gota que faltava para ele se decidir.”

“E por que ele não nos contou, Alice? Por que ele foi embora sem avisar ninguém?” Aquela havia se tornado uma conversa apenas entre os dois irmãos, e os demais observavam em silêncio.

“Pietro, o papai nunca me contou o que aconteceu naquele hospital. Eu sei que a mamãe sabe, mas eles nunca me contaram. Ele tomou muitos remédios estranhos, passou por uma porrada de tratamentos, até quimioterapia. Em uma das vezes ele teve uma reação e ficou em coma por meses, quase morreu. Seja lá o que fez ele achar que o melhor era não nos contar, hoje eu acredito que ele fez o certo.” Alice chorava, assim como seu irmão. “Eu acho que a nossa dor teria sido ainda maior se tivéssemos que passar por toda essa merda.”

Atrás do arbusto, Paulo chorava de soluçar, escondendo o rosto no colo de Alicia para não fazer barulho. Ela mesma chorava muito, agarrada com ele, com medo.

“Eu não sei se quero saber mais alguma coisa sobre o futuro.” Sussurrou Daniel, angustiado.

“Mas nós temos que saber.” Lembrou Mário, se sentindo tão mal quanto o amigo. “Por eles.”

“E quanto a mamãe?” Mili perguntou, encarando Marcos.

“Você sabe que ela nunca engoliu ou aceitou a partida do tio Paulo. A ligação deles é igual a nossa, Mili, eu te conheço melhor do que qualquer um no mundo. Ela sabia que algo não estava certo e começou a fuçar, até parar no mesmo médico que o irmão. O médico achou que ela queria fazer um exame de rotina, para ver se também tinha a doença, e ela acabou descobrindo que tinha sim o gene, que estava começando a aflorar. Quando ela disse que ia passar um mês fora, já estava tudo combinado com a universidade.”

“Ela já sabia que não ia voltar?”

“Não, não sabia. A ideia dela era convencer o Paulo a voltar, a contar a verdade. Assim como a Alice, eu não sei tudo o que aconteceu lá, não sei nem metade.” Marcos desabafou, cansado. “Ela tomou a decisão no dia em que deveria voltar. Nós falamos com ela pelo telefone aquela última vez, e então ela o jogou fora.”

“Mas vocês falaram que o tratamento funcionou nela, não é?” Eric se intrometeu.

“Sim, funcionou. Como nós dissemos, o papai foi a chave para eles chegarem a um resultado sobre essa doença. Muita gente morreu por ela, em casos mais simples que o dele, mas ele jurou que não ia morrer até acharem a cura, por causa do Paulinho.” Contou Alice, sorrindo. “Infelizmente o caso dele já está muito avançado para a cura, ou o tratamento de prevenção, mas na tia Marce deu certo e ela se curou. Nós três já começamos a tomar as vacinas de prevenção, e é um ‘final feliz’.”

“Não vejo onde.”

“E quanto a minha mãe e o Nicholas? Desculpa, amor, mas eu to angustiada.” Ella cortou o namorado, nervosa.

“Espera, vocês estão namorando?” Alice arregalou os olhos, surpresa. “Pelo visto não é só o futuro que está cheio de novidades.”

“Lice, por favor.” A Cavalieri pediu, angustiada.

“Desculpa, Ella. Bom, é o que você deve imaginar: sua mãe engravidou pouco antes de se separar do seu pai. Ela descobriu no meio da confusão do divórcio, mas manteve segredo com medo dele tirar o novo bebê. O Nicholas nasceu quando ela já estava morando fora, mais ou menos na mesma época que ela conheceu o Celso. Ele parecia um cara bacana, ajudava ela com o Nicholas... E ela estava bem machucada, se sentindo sozinha, desamparada.”

“E acabou se deixando levar pelo babaca.” Concluiu a garota, irritada.

“Bom, é. Eles voltaram para o Brasil e foram para Porto Alegre. Depois que você e o seu pai apareceram, sua mãe quis ir para São Paulo com o Nicholas, ajeitar as coisas. E foi aí que a máscara do Celso caiu.” Marcos estava inseguro de prosseguir. “Ele deu a maior surra na Margarida e ameaçou o Nicholas, caso ela não desistisse de ir atrás de vocês.”

“Ele fez o quê?” Gritou Ella, exaltada.

Atrás do arbusto, Margarida levou as mãos em frente a boca, enquanto os rapazes seguravam Jorge, que estava prestes a gritar.

“O Celso era um escroto, um bosta ambulante. Ele passou os anos seguintes ameaçando o Nicholas e abusando da Margarida, porque àquela altura ela não queria mais saber dele. E então, quando seu irmão ficou um pouco maior, começou a confrontar o suposto pai e apanhar também.” Continuou Marcos, sem jeito.

“Eu vou matar esse filho da puta.” Gritou a garota, começando a chorar.

“Olha, seu pai já se encarregou disso. Pelo menos de colocar ele na prisão, o que fizeram com ele lá dentro depois não teve nada a ver com ninguém da nossa família.” Alice tinha uma satisfação imensa ao falar isso. “Ele foi atrás dela depois que o meu pai e a tia Marce voltaram, e ficou horrorizado.”

“O Celso mantinha ela em um cativeiro discreto. Ela convivia com as pessoas, conversava, podia até sair de casa. Mas tudo sobre a rédea dele, com o Nicholas em constante ameaça. Ela não podia ver TV, entrar na internet, ter telefone, então não ficou sabendo do que aconteceu até o seu pai chegar lá” Prosseguiu Marcos. “Assim que ele botou os olhos no Nicholas, percebeu que era o pai dele. E para o azar do Celso, foi querer bater no Nicholas naquela mesma hora.”

“Diz que meu pai deu uma surra bem dada nele, por favor.”

“Quase. Deu um susto e mandou ele sumir. Depois trouxe sua mãe e irmão de volta.” Contou Marcos. “Depois mandou ele para a cadeia quando o imbecil tentou invadir sua casa e bater na sua mãe.”

“Sorte dele que já está morto, ou eu mesma matava quando voltasse para o futuro.” Resmungou Ella, e Pietro a abraçou. “Por que a nossa vida tem que ser uma série tão grande de desencontros, amor?”

“Eu não sei, linda.” Ele suspirou, beijando a testa dela.

“Dá para vocês nos atualizarem rapidinho do que está rolando aqui? Porque eu estou vendo o Eric com a mão na perna da minha irmã e não sei se gosto disso.” Marcos se intrometeu.

“Francamente, mais um Guerra ciumento?” Resmungou Marcelina.

“Melhor sairmos daqui, antes que eles resolvam voltar para o salão.” Propôs Jorge, angustiado e os amigos concordaram.

~*~

“Tudo explicado?” Roberto perguntou para os netos, assim que eles voltaram do jardim. Àquela altura seus pais já estavam lá dentro há tempos, calados.

“Tirando o fato de a Alice estar anos mais velha do que, tudo explicado.” Brincou Pietro, causando alguns risos. “Onde nós vamos dormir hoje, vô?”

“Não dá para ficar vocês nove no apartamento, Pietro. Então a Alicia e o Paulo vão levar você e seus irmãos para a casa dela, e a Marcelina e o Mário ficam aqui com a Mili e o Marcos. Amanhã nós conversamos com o Germano e explicamos essa situação toda.” Pediu Lilian, gentilmente.

“E vocês vão ficar na casa do Jorge, Ella. Em casa não dá para ficar vocês quatro.” Luisa se manifestou, vendo a neta assentir.

“No nosso caso nada mudou.” Valentim deu de ombros, encarando o filho e a nora, que ainda estava bem calada. “Mas talvez precisemos de um calmante.”

~*~

Pietro e Alice estavam no chão da sala, ajudando Paulinho com um quebra-cabeça de 5.000 peças que Roberto havia encontrado jogado em casa. O caçula estava bem agitado com todas as novidades, então provavelmente não dormiria cedo.

Não que os irmãos ligassem, na verdade. Estavam matando a saudade de passar o tempo uns com os outros, algo que sempre fizeram muito. A ligação dos gêmeos era única e especial, e eles se provavam isso naquele momento, enquanto conversavam sobre os acontecimentos que o outro havia perdido sem precisar explicar muito, com um entendimento simples.

Do alto da escada, sentada no último degrau, Alicia os admirava com um sorriso bobo no rosto, enquanto acariciava Kira em seu colo.

Tentava entender seus sentimentos em relação aos três, algo tão inédito e arrebatador. Seria possível sentir amor assim, tão depressa? E um amor tão grande assim? Não sabia descrever o que sentia, mas sabia que era a coisa mais intensa que já passara por seu coração.

“Hey.” Paulo sentou ao seu lado, recém-banhado e se sentindo um pouco mais leve.

“Está melhor? Dos choques que tivemos hoje?” Ela perguntou, entrelaçando seus dedos.

“Ainda tentando digerir todos eles.” Suspirou o rapaz, deixando que ela deitasse em seu ombro. “Estou surpreso que você não está surtada. Você que teve os maiores choques hoje.”

“Paulo, você ouviu que está à beira da morte.”

“Não, Ali, eu ouvi que eu sou um bosta. Eu abandonei você com três crianças pequenas.” Ele resmungou, e ela segurou o rosto dele, irritada.

“Larga a mão de se martirizar, Guerra, isso não faz o seu estilo. Eles podem não ter descrito, mas está bem claro para mim que você se submeteu ao inferno pelos nossos filhos, para eles poderem se ver livres dessa tal doença. Se isso não é ser um grande pai e marido, eu não sei o que é.” Ela colou seu rosto com o dele. “Eu estava sim a ponto de surtar mais cedo, até ouvir tudo o que a Alice disse, sobre o que você fez pela nossa família. Então eu tenho uma resposta para a pergunta que você me fez ontem.”

“Que pergunta, Alicia?”

“Você me perguntou se eu aceitaria casar com você, caso você quisesse me pedir em casamento agora... E a resposta é sim, Paulo. Eu me casaria com você amanhã, se você quisesse, porque eu sei que você faria tudo o que pudesse por nós dois e pelos nossos filhos, não importa qual fosse a situação.” Ela declarou, emocionada.

“Mas é isso que você quer para a sua vida, Ali? Uma doença maldita que pode pegar nossos filhos... Que pode ser a responsável por o Paulinho ser assim.” Paulo começou a chorar de novo. “Eu não consigo me sentir em paz, linda, achando que eu vou foder com a vida de vocês.”

“Então, amor da minha vida, me faz um favor e olha para lá.” Ela virou o rosto dele na direção em que os três filhos montavam quebra-cabeça, alheios aquela conversa. “Você está vendo isso? Eles três? Eu nunca senti, por nada e nem ninguém, nem mesmo você, o que eu sinto por eles três. E isso me assusta, Paulo, me assusta muito. Porque isso só existe, ou pelo menos eu sei que existe, há algumas horas. E eu to pronta para dar um braço ou uma perna por eles. E se no final dessa estrada maluca que for a nossa vida, cheia de percalços e merdas, estiver eles três, eu a enfrento quantas vezes forem precisas.”

“Eles vão ter a mãe mais incrível do mundo no futuro, sabia?” Ele sorriu para ela, que retribuiu.

“E o pai também. Ele só precisa perder a insegurança e a frescura no cu, e entender que eu e eles três amamos ele para caralho, e vamos estar do lado dele para tudo.” Os dois riram, antes de Alicia puxá-lo para um longo beijo. “Te amo, meu marrento.”

“E eu amo você, mãe dos meus filhos.” Eles sorriram um para o outro. “Será que vai demorar para eles irem dormir?”

“Paulo, tem três crianças em casa, nós não vamos fazer nada.”

“Alicia, nossa filha tem três anos a mais que a gente, lembre-se disso.” Ele parou, surpreso. “Isso é tão estranho de falar.”

“Pois é.” A morena riu, encarando Kira mordendo sua meia. “Vamos montar quebra-cabeça com os seus irmãos, pequena?”

“Ótimo, temos quatro filhos. Eu sou muito novo para isso, sabe?” Os dois se levantaram, descendo de mãos dadas. “Nós levamos a sério esse negócio de crescei e multiplicai-vos.”

“Legal é que fui eu que pari os três, né?” Ela resmungou, enquanto se aproximavam. “Querem ajuda com o quebra-cabeça?”

“Bordas, grandes, bordas, primeiro.” Paulinho sorriu para os pais, enquanto ele e os irmãos terminavam de dividir as peças.

“O Paulinho é bem metódico.” Explicou Alice. “Primeiro precisamos separar as peças da borda, e depois dividir por cores. Isso geralmente leva algumas horas, mas ele só começa a montar depois que tiver separado tudo.”

“Kira, nada de fazer bagunça com o quebra-cabeça do seu irmão, ouviu?” Paulo bronqueou a cachorrinha, a colocando na caminha da sala e sentando ao lado de Pietro. “O que eu faço?”

“Pode me ajudar a ir separando as peças da borda em azuis e verdes.” O rapaz disse, tentando manter o clima harmônico.

“Pode ser.” O Guerra mais velho começou a ir separando as peças nas pilhas que ele indicou, enquanto Paulinho seguia seu trabalho de forma extremamente concentrada e Alicia e Alice sorriam uma para a outra.

~*~

“Mili, podemos conversar?” Marcelina parou na porta do banheiro, vendo a filha escovar o cabelo com dificuldade. “Quer ajuda?”

“Seria bom, obrigada.” Ela sorriu, caminhando até a cama e entregando a escova para a mãe. “Foi a primeira coisa que você fez quando eu cheguei aqui.”

“Eu lembro. Você estava toda estranha e arrisca comigo. Agora eu entendo porque.” A Guerra suspirou. “Desculpa pelo meu surto mais cedo, Mili, por causa do Mário. Eu só... Não sei lidar com tudo isso ainda.”

“Acho que nenhum de nós sabe, mãe. Por um lado eu queria contar logo que o Mário é o meu pai, mas eu não sabia como. O futuro é tão... Estranho, diferente desse tempo. Fica meio difícil diferenciar uma coisa da outra.” Desabafou Mili. “E desculpa se eu te fiz pensar que eu queria algo diferente com o papai. Mesmo que essa ideia seja nojenta.”

“Tudo bem.” Marcelina riu. “É legal, sabe? Ouvir você chamar ele assim.”

“Eu te disse que ele era o melhor pai do mundo, não disse?” A mais nova sorriu, vendo o reflexo no rosto da mãe.

“Eu tenho certeza que ele é. Eu realmente escolhi muito bem.” Marcelina a abraçou pelos ombros, e Mili retribuiu. “Só não fomos muito criativos com os nomes de vocês, né? Viramos a família MMs”

“Me irrita mais você ter me chamado de Milena por causa da Mili de Chiquititas, na verdade.” A mãe riu, beijando o rosto dela.

“Hey, mulheres da minha vida.” Mário entrou no quarto, surpreendendo as duas. “O Marcos quer assistir Rei Leão.”

“Não é um filme meio infantil?” Perguntou Marcelina, um pouco derretida com o que ele havia dito.

“É o filme favorito do Marcos desde que ele se entende por gente. E olha que já tinha umas boas décadas quando nós nascemos.” Contou Mili, correndo abraçar o pai.

“Você gostou de me abraçar, não é?” Mário riu.

“Qual é, passei dois meses sem poder fazer isso direito, me deixa.” Resmungou a menina.

“Tá vendo, filha, você precisa aprender com ela. Sempre reclama quando eu te abraço em público.” Roberto estava passando pela porta e entrou.

“Gente, isso tudo é tão estranho, de tantas formas.” A baixinha se levantou e foi abraçar o pai. “Parece o enredo de algum filme de ficção científica muito viajado.”

“Ah, mas eu gosto, de certa forma.” Disse Mário, sorridente. “A minha storyline, pelo menos, é boa.”

“Ele é realmente o cara mais otimista do mundo, desde sempre.” Mili beijou o rosto do pai. “Vovô, vamos fazer pipoca?”

“Claro.” Roberto entendeu que ela queria deixar os pais conversarem, então a abraçou e caminhou com ela para fora do quarto.

O casal ficou sozinho, um pouco sem graça.

“Você está com raiva de mim?” Perguntou Marcelina. “Sabe, pelo que aconteceu mais cedo e no futuro?”

“Pelo que aconteceu no futuro?” Mário se surpreendeu. “Pequena, eu sei que doeu em você e no Paulo quando o Pietro e a Mili explodiram daquele jeito, mas você ouviu o que a Alice e o Marcos explicaram depois. Vocês só fizeram as coisas como fizeram para nos proteger, ou melhor, para proteger eles.”

“Mas isso machucou tanto as crianças.” Marcelina ameaçou começar a chorar.

“Mas salvou a vida delas, e a sua.” Ele segurou o rosto dela, secando as lágrimas. “Marce, por mais dor ou chateação que possa vir a acontecer, a única coisa que eu sinto de você é orgulho, meu amor. Eu entendo porque eles não queriam que soubéssemos do futuro, mas fico feliz de poder dizer que ele só me faz sentir orgulho de você.”

“Você é bom demais para mim, Mário. Eu não mereço um cara como você.” Ela disse baixinho.

“Ah, merece. Até porque eu não sou perfeito, sabe? Sou ciumento, tenho chulé, solto uns puns bem fedidos.” Os dois riram, enquanto ele beijava a testa dela. “Você não sabe o quanto eu fico feliz, pequena, cada vez que eu penso que eles dois são nossos filhos. Sabe, parte minha, parte sua. Que nós fizemos eles juntos.”

“Eu sei, grandão, porque eu sinto a mesma coisa.” Marcelina sorriu para ele. “Vamos descer ficar com eles? Acho que tenho uma vida ausente para compensar.”

Na sala, Marcos estava no sofá, mexendo no notebook para colocar o filme. Mili estava vindo da cozinha com dois baldes de pipoca, enquanto Roberto trazia copos e refrigerante. Lilian fechava o cortejo, com doces.

“Pronto, crianças, abastecidos de gordices. Agora nós vamos dormir, e vocês se comportem. Mário, Marcelina, juízo na frente dos filhos de vocês.” Avisou Lilian, indo para o quarto.

“Francamente, mãe, você acha que eles foram feitos como?” Marcelina resmungou, vendo a cara de nojo dos dois. “Tá, desculpa, acho que isso foi demais.”

“Vamos assistir o filme logo, por favor.” Pediu Marcos, pegando um balde de pipoca.

Mário e Marcelina sentaram no meio do sofá, e Mili deitou no ombro do pai. Marcos deitou e colocou as pernas por cima do colo dos pais, colocando o balde sobre a sua barriga, para a mãe poder comer também.

“Acho que é um bom futuro, Marce.” Mário disse baixinho para ela, que apenas sorriu enquanto encarava a TV.

~*~

Daniel estava sentado em sua cama, com Carmen encolhida contra ele. Eric havia deitado sob suas pernas e acabou adormecendo, e agora a garota se ocupava em acariciar os cabelos dele.

Estava começando a ficar preocupado por não ter escutado uma palavra sair da boca dela em horas, quando ela afinal falou:

“Você acha que é meu destino, Dan?” Ela perguntou baixinho, algumas lágrimas escorrendo.

“O que, meu amor?”

“Morrer.”

“Não fala isso, anjo...” Ele pediu, angustiado.

“Uma vez eu ouvi minha avó falando isso, Dan. Que todos nós temos um número certo de batidas no coração, e quando chega ao fim, não há o que fazer.” Ela contou, chorando mais. “Eu não quero deixar você e o Eric, Dan.”

“Você não vai deixar a gente, Carmen. Eu não acredito nisso, nem por um instante. Eu acredito que existem escolhas e as consequências a elas.” Daniel segurou o rosto dela, tremendo. “E eu juro, meu amor, nós vamos fazer as escolhas certas dessa vez.”

“E se as escolhas certas não forem ele, Dan?” Ela indicou Eric, assustada. “Eu não vou aguentar viver sem ele, não mais.”

“Ele é a nossa escolha mais certa, Carmen, eu tenho certeza disso.” Ele também chorava àquela altura. “Nosso erro foi não entender que ele era, e sempre vai ser, nossa única prioridade. Foda-se a ONG e o que mais aparecer, foda-se tudo. O que tem que importar e ser o mais importante, sempre, somos nós três, juntos. Quando ele disse que eu perdi uma tarde para ir na escola dele... Nada do que disser respeito a ele ou a você nunca, eu repito, nunca será perca de tempo.”

“Mas e se essas coisas precisarem acontecer com a gente? A cegueira do Eric, a minha...”

“Você não vai morrer, Carmen.” Daniel a abraçou com força, os dois chorando tão alto que acabaram acordando Eric.

“Mãe? Pai? Cadê vocês?” O rapaz perguntou assustado, tateando a cama.

“Nós estamos aqui, filho, calma.” Daniel segurou a mão dele.

“Vocês estão chorando.” Ele constatou. “Por quê? Mãe, por favor, não fica assim.”

“Vem aqui, meu amor.” Carmen o puxou, fazendo que ele deitasse entre o peito dela e Daniel. “Nós só estamos um pouco assustados, filho... Não é fácil descobrir tanta coisa.”

“Me desculpem por não ter contado toda a verdade antes, mas... Eu não queria que vocês ficassem assim, especialmente você, mãe.” Ele disse baixinho. “Dói reviver tudo isso, dói muito.”

“Você não vai ter que viver isso, Eric. Você não disse que nós estamos mudando as coisas, deixando aquela bosta de plano de lado?” Perguntou Daniel, e o rapaz concordou. “Eu nunca vou deixar vocês dois sozinhos, principalmente quando vocês precisarem de mim. E isso não vai acontecer, eu prometo.”

“Deixa eu te ver, Eric.” Carmen o puxou, fazendo com que ele se sentasse à sua frente. Ela puxou os óculos, que ele ainda usava, e revelou os olhos machucados. “Isso vai mudar, não é? você vai poder ver o mundo.”

“Eu não sei, mãe... Eu não sei qual é o meu destino.” Ele disse baixinho.

A morena não disse nada, apenas se ajoelhou e se inclinou sobre Eric. Com carinho, segurou o rosto dele e beijou cada uma das cicatrizes que conseguiu definir à luz fraca. As lágrimas dos dois se misturavam, enquanto Daniel afundava o rosto no próprio joelho.

“O seu destino é ser feliz, Eric, e o meu destino é fazer tudo o que estiver ao meu alcance para isso, mesmo que para isso eu precise dar a minha própria vida. Porque é isso que você é, Eric, você é uma parte de mim. Eu sei disso desde o momento em que nos vimos pela primeira vez, e vou saber com muito mais força no futuro. E eu vou fazer tudo, tudo que eu puder, para que você seja feliz.”

“Só me promete que não vão mais fazer planos.” Ele a puxou para baixo, fazendo-a se sentar. “A vida não pode ser planejada, mãe, e foi esse o erro de vocês. Nós precisamos viver, um dia de cada vez, da melhor forma possível. Se vocês me prometerem que vão fazer isso, é só o que eu preciso.”

“Viver cada dia como se fosse o último, parece justo.” Daniel fungou, abraçando os dois, Carmen ficando entre eles. “E seja lá o que acontecer, nós vamos enfrentar juntos, ok?”

“Juntos.” Concordou Carmen, segurando a mão dele e fazendo as alianças se roçarem.  

~*~

Antes de irem embora, Alice havia chamado Ella para conversar sobre Nicholas.

“Ele é bem traumatizado, Ella... Ainda age como uma criança de menos de dez anos na maior parte do tempo, e o psicólogo disse que isso é normal. Então ele tem pesadelos, ele tem birras e principalmente, ele tem muitos medos. Tenha paciência com ele, por favor.”

Mas a menina não conseguiu entender o que ela queria dizer. Quando chegaram a mansão Cavalieri, Nicholas pareceu um menino normal de 13 anos. Tomou banho, jantou reclamando dos legumes, escovou os dentes e foi dormir.

Foi só no meio da noite que ela sentiu que tinha algo errado. Acordou com o choro do irmão na cama ao lado do quarto de hóspedes, um pouco desorientada.

“Nicholas? Nicholas, tá tudo bem?” Ela acendeu o abajur, o encontrando encolhido sobre a cama. “Nicholas, fala comigo, por favor.”

Ela ficou tentando que ele falasse por alguns minutos ainda, até que a porta foi aberta, revelando Margarida e Jorge, os dois de pijamas e cara de sono.

“Nós ouvimos o choro dele, está tudo bem?” A morena mais velha se aproximou da cama, sentando na beira dela.

“Não sei, ele não me responde.”

“Nicholas, querido, está tudo bem?” Margarida perguntou, acariciando o rosto dele.

“Desculpa, mamãe.” Ele disse trêmulo, parecendo uma criança.

“Desculpa por que, querido?” Marga falava com doçura, enquanto Jorge parava ao seu lado.

“Por isso.” O menino mostrou os lençóis molhados, e os demais entenderam.

“Você fez xixi na cama, Nicholas?” Jorge perguntou de forma mansa, mas o menino se encolheu mais.

“Foi sem querer, papai, desculpa.”

“Não precisa ficar assim, está tudo bem.” Prometeu o loiro mais velho.

“Você não vai gritar comigo? Nem me bater?” Aquilo chocou os três.

“Eu já fiz isso alguma vez, Nicholas?” Perguntou Jorge, temeroso.

“Não, nunca. Mas o Celso fazia, sempre.” Ele disse baixinho.

“Mas eu não sou ele, sou?” Jorge se ajoelhou ao lado dele, sorrindo. “Você está com medo de alguma coisa? Para ter feito xixi na cama?”

“Um pouquinho.”

“Medo do quê, querido? Do escuro?” Margarida perguntou, mas ele negou. “Então do que, Nicholas?”

“Eu sempre durmo com a mamãe, eu tenho medo de ficar longe dela.” Explicou o menino, sem graça.

“E por que você não disse, Nicholas?” Perguntou Ella. “Você achou que a gente ia ficar bravo?”

“Quando a mamãe não dormia comigo, era porque o Celso ia machucar ela.” Ele disse baixinho, fazendo os estômagos se embrulharem. “Mas o Marcos falou que não é assim quando a mamãe dorme com o papai, porque eles se amam e o papai não machuca ela. Então, como a mamãe ia dormir com o papai, eu não falei nada.”

“Ah, meu amor.” Margarida o puxou para o seu colo, fazendo carinho. “Não precisa guardar nada para você, tá bom? Pode falar tudo para a gente, sempre.”

“Vem, vamos trocar de roupa enquanto a mamãe e a Ella tiram essa roupa molhada daqui. E depois você fica com a gente no outro quarto, para ver que eu não vou machucar a Margarida, tudo bem?” Propôs Jorge, e ele assentiu.

Nicholas se levantou e deu a mão para o pai, saindo do quarto. Assim que eles sumiram, Ella se levantou e socou a parede, irritada.

“Hey, calma, você vai se machucar.” Margarida correu e a abraçou com força, segurando os braços dela.

“Eu não acredito que ele fazia isso com vocês, mãe.” Ella disse baixo, tremendo.

“Ele não vai fazer nada, Ella.” Prometeu a mais velha. “As coisas vão ser diferentes, agora. Eu e seu pai não vamos cometer os mesmos erros com vocês, e nem com nós mesmos. O Celso não vai mais atrapalhar a nossa vida, nem machucar o seu irmão. E você não vai mais ter esse sofrimento, essas crises. Tudo vai dar certo, ok?”


Notas Finais


Engoliram tudo o que falaram? Ótimo, podemos seguir com a vida.
GENTE, EU CHOREI PARA ESCREVER ESSE CAPÍTULO, MAS PROMETO QUE O PRÓXIMO VAI SER DE CAIR O CU DA BUNDA DE TANTO RIR!
Um beijo na alma, amo vocês <3


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