1. Spirit Fanfics >
  2. Fora do tom >
  3. Casamento

História Fora do tom - Casamento


Escrita por: KaoruUrameshi

Notas do Autor


Olá moças! Cá estou eu de novo com mais uma fic!
E como prometido, para quem acompanhou o Último Lance, está aí a perspectiva do casal SessRin! Espero que seja uma fic empolgante e que atenda as expectativas!!!
Sem muitas delongas, quero agradecer a betagem impecável da minha beta real/oficial @KarinaSesshy !!! Muito obrigada amiga por acreditar nesse novo projeto e pelos comentários imprescindíveis ao longo do docs!

Bora lá???

Obs: Agradecimentos mais que especiais a @Anaharae pela capa da fic!

Obs2: A imagem do capítulo foi feita a partir de um IA.

Capítulo 1 - Casamento


Fanfic / Fanfiction Fora do tom - Casamento

Londres, Inglaterra, março de 1761.

Pelas enormes janelas espelhadas do castelo era possível observar a neve bem branquinha e densa cobrindo todo o solo. Em contrapartida, também se via um belíssimo dia ensolarado sem uma única nuvem no céu cerúleo. O sol, vibrante e intenso, beijava as copas salpicadas de gelo produzindo fugazes arco-íris. 

Decerto, um bálsamo para os olhos cansados de dias cinzentos e temperaturas austeras. 

Há quem dissesse que aquela era uma eventualidade que só a natureza era capaz de proporcionar, da qual não se explica, somente se agradece. Outros, mais fervorosos, prendiam-se na tese das bênçãos divinas e que tal fato deveria ser um bom presságio.

Afinal de contas, a cerimônia de casamento entre Sango e Miroku havia sido tão resplandecente e bonita como aquele inusitado dia de inverno.

Mas o que poderia se esperar? Se aquela relação era por si só excêntrica, coerente que o dia do casório assim também fosse. 

Parando para pensar até que calhava. Aqueles dois combinavam com o enlace desalinhado, afinal.

Ninguém em Surrey, Exeter e tampouco em Londres poderia discordar da anunciação do casal mais fora do comum que já existiu. 

Seja como for, também ninguém poderia dizer que não havia sido o mais empolgante dos cortejos! 

Fazia tempo que a aristocracia estava submersa a um tédio profundo. Temporadas e temporadas passaram e nenhum casal proeminente parecia saltar as vistas. Era sempre a mesma coisa, os mesmos nobres, indivíduos e famílias chatas a se unirem com total falta de assombro. 

Então, quando finalmente Miroku Evans, o maior dos maiores libertinos e Marquês de Exeter, oficializou seu cortejo com a filha mais velha do Visconde, Sango Higurashi, ninguém conseguiu tirar os olhos daqueles dois.

Isso porque Lord Evans não tinha uma reputação da qual poderia chamar de boa, tampouco havia motivos para se gabar de ser um bom partido. De longe ele era. Envolta a escândalos, em especial, o cortejo fracassado com a primogênita dos Cook, era natural que as damas de boa família fugissem das suas investidas. 

Na outra ponta, Sango, apesar de advir de uma respeitável linhagem, não era também muito apetecida pelos cavalheiros. Sua audaciosa língua afiada bem como seus hábitos tidos como “pouco femininos” não davam a ela o merecido destaque. Pior ficou sua situação no dia do famoso baile do Duque Taisho, onde a jovem dama categoricamente desafiou o Marquês de Exeter usando verbetes escandalosos para uma partida de dardos.

Portanto, ao ser anunciado publicamente o casamento daqueles dois indivíduos, protagonistas de um dos cortejos mais insanos de toda Inglaterra, não havia sequer um lugar que se frequentasse do qual não se ouvisse dizer da união do casal.

Até mesmo a Rainha que possuía ojeriza pelo Marquês e que, inclusive, incitou ao Rei a tirar o título de nobreza do dito cujo, parou todos os seus afazeres para acompanhar as últimas notícias sobre o casal.

Sendo assim, chamando involuntariamente a atenção, nem mesmo a realeza conseguiu ignorar o fato de que finalmente surgia um casal que valia a pena. Portanto, apesar dos dois não quererem em absoluto um super evento para celebrar sua união, — principalmente Sango que odiava ser o centro de qualquer coisa — eles não tiveram muita escolha, dado que, a Rainha foi pessoalmente ao encontro do recente casal e ofereceu o castelo para a celebração.

Sango chegou a suar frio pelo presente de grego. Mas não pôde fazer nada a não ser acatar e agradecer com um sorriso amarelo. Sorriso esse que a Rainha compreendeu como um gesto de pura modéstia e estupefação. Pois, quem é que não perderia o ar em sua magnífica presença?

A Lord Evans restou também consentir e agradecer quase de joelhos pela honra, ainda mais ao saber que seu título seria restituído ao final do casamento. 

Sendo assim, conforme o combinado, em meados do inverno, eles finalmente disseram sim no Altar pomposo mediante ao sacerdote e a realeza em peso!

Oficialmente, perante a Deus e seu representante, estavam casados.

De fato, não havia como negar que a cerimônia foi uma das mais bonitas que já se viu na vida. Tudo realmente parecia perfeito e impecável até o último centímetro. Choros emocionados e fungadas contidas não mentiam. 

No geral, casamento sempre deixava os corações alheios aquecidos, destaque para as jovens damas recém debutantes e para aquelas que sonhavam com o seu grande dia.

Partindo dessa premissa, ninguém estranhou o fato de que Kagome, uma das irmãs mais novas de Sango, estivesse praticamente se afogando em lágrimas. Quem podia culpá-la pela emoção? Além do casamento de Sango garantir um futuro pra lá de promissor para os demais, também era entendível que ela estivesse tocada pela irmã mais velha ter angariado um voo tão alto. Impossível recriminar! 

Também era notável o esforço do Visconde, Lord Higurashi, de se manter alinhado, mas seus olhos marejados o entregavam com facilidade. Igualmente não houve julgamento no caso. Qualquer um na posição de pai, ao ver a filha tão desacreditada no mundo casamenteiro, seguramente, choraria torrencialmente pelo feito! Casar uma Sango, indubitavelmente, não era para qualquer um…

Kohaku, o segundo filho do Visconde, também parecia seguir a mesma premissa. Apesar dele ter cedido em determinado momento, limpou as lágrimas o mais rápido que pôde e fingiu ter sido atingido por um cílio indigesto. 

Mas, quanto a caçula… Bem… 

Não se podia dizer que ela esbanjava forte emoção como os demais integrantes da família. O que era esquisitíssimo!

Além de nenhuma lágrima ter recortado a sua face, ela não parecia muito confortável em estar no altar, próxima a irmã. Vez ou outra, algum Higurashi precisava segurar seu braço e puxá-lo discretamente para baixo a fim de fazê-la parar de se mover ou batucar os pés de forma nervosa. Uma típica repreenda que se dá a uma criança... 

Quando a cerimônia acabou, algumas pessoas juraram ter visto a mais nova soltar um respiro aliviado, o que ocasionou um murmúrio engraçado contendo o seu nome em virtude do comportamento irrequieto. 

Não é que Rin Higurashi não estivesse contente pela irmã. Para falar a verdade, ela estava extremamente feliz por Sango ter encontrado uma pessoa como Lord Evans. Na mais profunda sinceridade, ela reconhecia que o até então pretendente a mão da sua irmã mais velha era a melhor opção que poderia bater à porta.

Rin legitimava com todo o seu coração os sentimentos do Marquês de Exeter e consentia que sua irmã possuía os mesmos por ele. Em seu âmago, ela tinha a absoluta certeza de que eles seriam felizes e não podia estar mais grata aos seres celestiais bem como ao destino por ter empurrado a irmã a um casamento recheado de amor.

O real motivo da sua inquietude nada tinha a ver com a união dos dois, mas sim com o fato de se manter tanto tempo em silêncio e parada.

Aquilo era um verdadeiro tormento!

Além disso, estar no altar dava a sensação de que muitos olhos a espiavam. O que não era de todo mentira, tampouco paranóia. 

Sendo assim, quando tudo finalmente acabou, ela não conseguiu evitar o semblante extremamente aliviado por poder agir livremente.

Enfiando um bolinho na boca, um pouco da geleia de framboesa manchou os lábios artificialmente pintados de rosa e um bocado do chantilly grudou em uma mecha dos seus cabelos pretos que jaziam presos, em maior parte, em um airoso penteado. 

Rin rosnou irritadiça e franziu o olhar castanho para a sua total falta de jeito. 

Rapidamente, ela tentou consertar o desleixo, mas ao esfregar as costas da mão na boca, tudo o que conseguiu foi somente uma mancha nas suas luvas, antes impecavelmente brancas, e espalhar a geleia pela sua face tão bonita.

Ela quis ter xingado por ser tão estabanada, mas sabia que aquilo seria algo extremamente indecoroso a se fazer, ainda mais estando dentro do castelo do Rei! Assim, ela teve que engolir em seco sua maneira de ser e agradecer por pelo menos o vestido estar intacto.

Isso é… 

Até ela esfregar a luva acidentalmente na lateral do vestido amarelo!

— Ah, não é possível! — Esbravejou incrédula. — Que merda

— De fato.

O coração de Rin batucou severamente contra o peito pelo susto que a misteriosa voz masculina a causou.

Até o momento, ela pensou que estivesse devidamente sozinha na frente da gigantesca mesa de doces. Inclusive, a Higurashi mais nova tinha escolhido aquele canto justamente por não ter avistado ninguém.

Em todo caso, pelo espasmo, seu corpo a fez virar-se imediatamente para o lado.

E foi então que, erguendo seus olhos castanhos, ela o viu.

Quer dizer, erguendo um bom tanto os olhos! 

Aquela pessoa era bem mais alta do que ela, o que necessitou que Rin jogasse alguns centímetros a cabeça para trás.

De toda maneira, o encontro dos seus olhos se deu e ela acabou entreabrindo os lábios pela figura que jazia à sua frente com uma face indecifrável. Havia muitos verbetes para nomear o dito cujo, entretanto dentre todas as palavras existentes no dicionário, Rin não conseguiu encontrar a melhor para definir o sujeito. A única coisa que sabia era que nada similar a algo depreciativo poderia ser proferida para se referir ao homem de marcantes olhos dourados.

Ele estava há uma pequena distância, apesar de apropriada. Usava a roupa inerente aos cavalheiros, o batido traje de casaca, camisa de linho, colete, culotes, meias e botas. Diferente das espalhafatosas cores dos demais, ele escolheu a mescla perfeita entre o preto, cinza e branco. Discreto, sem dúvidas. Talvez por saber que não precisava chamar a atenção, já que naturalmente a face inacreditavelmente perfeita faria o trabalho.

O rapaz parecia um pouco mais velho do que ela, Rin chutava vinte e seis no máximo. Embora ele tivesse os cabelos grisalhos, quase completamente platinados, não aparentava ser muito mais velho do que isso. A face lisa e praticamente sem rugas era moldada severamente em um contorno quadrado. Aquele formato casava de forma impecável com as sobrancelhas grossas que demarcavam o olhar âmbar. O nariz, levemente arrebitado, dava a ele um ar airoso e, diga-se de passagem, prepotente também. Por fim, a boca fina e alinhada terminava o conjunto mais arrebatador que os olhos castanhos já experimentaram em vida.

Apesar da mocinha não ficar para trás no quesito beleza — vale destacar que, inclusive, o nome Higurashi estava sendo enaltecido pelos quatro cantos do salão como uma família de genes incríveis — ela sentiu-se literalmente diminuta na presença intimidadora daquele homem. 

O que era uma bobagem, é claro. Afinal, os comentários faziam mesmo juz a sua aparência. O rosto com traços delicados se assemelhavam a de uma boneca de porcelana, sem marcas e completamente harmônico. A silhueta fina e os seios modestos eram enfatizados pelo corset que detalhavam o perfil sensual de uma jovem dama que despontava a melhor idade.

Ainda assim, Rin encolheu os ombros. 

Ainda mais quando ele esticou um lenço em sua direção terminando de uma só vez com o seu devaneio.

— Limpe-se de uma vez, senhorita. Está ridícula.

Rin chegou a inclinar a cabeça para aquela frase. Se ele tinha a intenção de ajudar, não era necessário ser tão direto quanto ao seu estado, não é mesmo? Ponderou em silêncio que aquele homem era extremamente direto.

Tão logo, após pegar o lenço ofertado, ela sentiu o rosto inteiro pegar fogo. Não precisava de um espelho para saber que todo o sangue do corpo havia subido, com toda a certeza do mundo sua face jazia rubra, posto que mais encabulada impossível.

Rapidamente, a jovem dama levou o lenço à face e assim que o fez, da mesma forma que o enigmático rapaz apareceu ao seu lado, ele se foi, deixando um rastro de mistério que ela fez questão de acompanhar.

— Fiquei louca ou acabei de ver que estava falando com Lord Taisho?

Mais uma vez naquele dia, quase a alma da jovem dama havia saído do corpo. Dessa vez, o susto foi tanto, que Rin acabou espremendo os resquícios do bolinho amassado na sua palma, o que ocasionou mais sujeira e geleia na sua luva.

Naquele minuto, ao se dar conta do caso, ela teve vontade de chorar.

— Kagura… Céus!

Ao seu lado, encontrava-se a prima, montada em um elegante vestido bordô e abarrotada de joias de puro ouro. Possuidora de olhos castanhos-avermelhados e cabelos pretos, ela destilava uma beleza franca e bem destacada pela sutil maquiagem.

— Céus, digo eu! — A mulher arregalou os olhos por conta da cena esdrúxula. — Olha só o seu estado!

Rin suspirou pesadamente e repousou o que restou do bolinho em cima da mesa. Aquela altura sua luva completamente tomada pelo doce possuía uma exagerada mancha avermelhada. Sem saída, ela optou por retirar a peça.

Kagura balançou a cabeça em negativa e tratou de ajudar a caçula limpando os resquícios de geleia no rosto gracioso, bem como o chantilly das mechas soltas que ornamentavam o contorno delgado.

— Pronto... Hm... — A prima falou, embora tivesse pegado o queixo da mocinha e analisando cuidadosamente a fim de verificar se algo havia escapado das vistas. — Acho que agora está melhor. — Kagura complementou, soltando a face da outra.

— Obrigada... — Rin suspirou e tão logo tratou de assentir a mais velha como forma de gratidão pelo auxílio. — Sou muito desastrada.

— Bastante — Kagura girou os olhos, abrindo o leque sutilmente na frente da face. — Não arrume motivos para esses abutres falarem de você. Sua família está em evidência no momento, então, comentários podem surgir. Precisa tomar mais cuidado.

— Tem razão — Rin esmoreceu os ombros com a face desanimada. — Não quero causar problemas...

Kagura a olhou de soslaio por trás do leque da qual movia de forma lenta e ritmada. Depois, como a mulher de olhos amendoados, ela suspirou por conta do semblante abatido que Rin lhe ofertou. Aquela jovem dama tinha a habilidade quase sobrenatural de deixar todos péssimos quando se dava a ela uma repreenda...

Em virtude disso, Kagura preferiu não mais insistir naquele assunto.   

— Hei, não me respondeu. — A prima desconversou. — Estava conversando com Lord Taisho?

— Lord Taisho? — Rin franziu a testa e num súbito associou o nome a pessoa.

De posse ao lenço ofertado pelo rapaz de antes, a jovem moveu o olhar na direção previamente percorrida pelo tal. Assim, como quem segue um rastro, ela rapidamente o encontrou um pouco distante, em uma roda de pessoas que pareciam ter uma conversa privada.

Rin não conhecia nenhum dos três, mas imaginava que sua prima se referia ao platinado de olhos âmbares como sendo Lord Taisho. A frente dele encontrava-se uma jovem dama e ao que tudo indicava o pai da moça.

Mas, a princípio, ela não deu muita importância para os outros. Seu olhar estacionou no rapaz de porte airoso e face impassível que se assimilava a uma estátua de mármore, talhada com todo o zelo.

— Então, aquele é Lord Taisho... — Rin falou, de forma que pareceu não se dar conta de que havia verbalizado o pensamento.

Não era para menos que estivesse embasbacada.

Mas o motivo do seu assombro não era exatamente por finalmente comprovar o que sempre ouviu por todos os cantos. Naturalmente, a beleza do rapaz estontearia qualquer moça e as fariam suspirar por horas a fio, estando elas em sua avassaladora presença. No entanto, aquele dia em especial, não era bem esse o motivo que fazia todo mundo do salão o olhar.

Isso porque, as últimas notícias no passeio público referiam-se ao terrível caso que afundou os Taisho em pleno caos no mês pregresso. Ninguém sabia exatamente o que havia acontecido, mas se difundia o trágico assassinato do Duque de Sussex, Tōga Taisho, como uma tragédia imensurável e verdadeiramente lamentosa.

A nobreza em peso havia comparecido ao velório precoce do homem de sorriso fácil, beleza extraordinária e gentileza notável. Houve até mesmo um decreto de luto oferecido pelo Rei que perdurou quase todo o mês de Fevereiro.     

Miroku, por ter uma ligação forte com os Taisho desde a tenra idade, cogitou mudar a data do seu casamento por conta do infortúnio, mas os irmãos não aprovaram a intenção do Marquês de Exeter.

A vida precisa continuar. Foi o que o primogênito e atual Duque de Sussex, Sesshoumaru Taisho, falou. E Miroku não teve alternativa a não ser prosseguir com o plano tecido por ele e Sango.

Com franqueza, ninguém esperava que os irmãos aparecessem no casamento, então quando ambos brotaram na cerimônia, foi impossível negligenciar a presença dos Taisho. Em particular, do mais velho, já que era ele a representar agora os interesses da família e a herdar o título de nobreza.

Diferente do irmão mais velho, Inuyasha, o caçula, bastou a ficar somente durante o rito religioso. Assim que a cerimônia terminou, ele fez questão de cumprimentar o recente casal. Rin estava próxima durante a situação, chegou a ouvi-lo pedir desculpas aos dois por deixar o local tão cedo, mas obviamente não ocorreram protestos. Todos imaginavam o quanto ele deveria estar abalado e por isso o rechearam de palavras encorajadoras e repletas de sentimentos.

Como estava de costas, ela só os ouviu conversar. Quando pensou em olhar a face do rapaz, ele já havia girado os calcanhares parecendo esfregar as vistas e saído a passos extremamente rápidos. Provavelmente por não querer enfrentar conversas como aquelas.

Partindo dessa premissa, por mais que Sesshoumaru não tenha sido a pessoa mais afável do mundo com ela, Rin julgou em seu íntimo o quanto os últimos dias deviam estar sendo difíceis. Mesmo que o atual Duque não mantivesse a face arrasada, tampouco demonstrasse que sairia correndo por conta de alguma pergunta a respeito do assunto, ela podia imaginar a sua dor. Cada um tinha um jeito de lidar com suas tristezas, afinal. Assim, ela não resguardou em si qualquer irritabilidade pelo enquadramento. No fim das contas, tudo que conseguiu sentir foi pesar.

— Ele é mesmo duro na queda — Kagura falou como se adivinhasse os pensamentos da prima.

— É... — Rin assentiu, retomando a realidade.

— Aqueles que estão com o Duque são os Chapman. Ao que tudo indica, há uma intenção de Lord Taisho em cortejar a filha de Sir Chapman. Parece que se chama Sara.

— Eu os conheço — Rin assentiu, retomando o olhar para a prima. — Já tocamos juntas em uma reunião, não se lembra?

— Hm... — Kagura concordou com um aceno em positiva e fechou o leque de uma só vez. — É verdade, foi na casa dos Dawson. Ela tocava uma flauta, se não me engano.

— É, isso mesmo.

— Tsc! Tão enfadonha quanto o instrumento que toca — Kagura girou os olhos.

— Isso não é algo muito cruel de se dizer? — Indagou Rin, com um sorriso amarelo.

— Só seria cruel se fosse mentira, minha cara.

Rin deu uma risadinha e acabou voltando o olhar para aquela roda. Dessa vez, focou a atenção na senhorita Chapman.

Sara Chapman possuía traços bem marcantes. Seus olhos verde-escuros eram acentuados pela densa floresta de cílios e pela franja espessa que encobria as sobrancelhas. Os cabelos pretos, presos num singelo penteado e adornados por enfeites dourados, davam um toque sofisticado. A silhueta também não deixava a desejar, o contorno esbelto e bem delineado pelo vestido rosa estampado atraía olhares curiosos para uma das possíveis jovens cobiçadas durante a temporada.

— Hm... Ela é bem bonita — Rin comentou, voltando a fitar Kagura.

— De fato é. E ao que parece, tem grandes chances de se tornar a Duquesa.

— É...

Mas, de alguma maneira, parecia haver algo dissonante ali. Rin não sabia bem explicar, no entanto, o olhar que o recente Duque lançava para a senhorita Chapman soava tão... Correto?

Aquilo deveria ser um problema?

Seja como for, a jovem Higurashi não conseguiu ponderar mais a respeito, uma vez que algumas risadas femininas tiraram a atenção tanto dela como de Kagura para quem jazia atrás da mesa de doces a qual elas estavam em frente.

De imediato, ambas reconheceram a portadora principal do assunto “engraçadíssimo” que estava a tirar boas risadas das demais damas. A senhorita Mitchell discursava em tom modesto, apesar da grande alegria e da face repleta de sarcasmo. A loira encontrava-se tão implicada no enredo e com suas amigas que nem havia reparado que, bem próximo, jazia Kagura e Rin.

Aquilo não seria um problema, é claro, se ela não estivesse falando de Sango...

— ... É o que eu sempre digo. — A Senhorita Mitchell endossava o raciocínio às demais, em sua roda privativa. — Hoje em dia pode-se chamar até um gorila de vestido de dama.

— De fato, minha querida, de fato — Uma delas concordou, colocando a mão na frente dos lábios a fim de esconder uma risadinha.

— Era você quem deveria ser a Marquesa de Exeter. — Proclamou a outra com um tom repleto de certezas. — Lord Evans só pode ter ficado louco para não propor casamento a você. E sejamos francas, ela nem é tão bonita assim...

— Definitivamente não! — Concluiu a que se encontrava imediatamente ao lado da Senhorita Mitchell.

— E ainda por cima, não tem classe alguma. — Enfatizou a outra.

— E o que é aquela grinalda ridícula que ela está usando? É de longe a coisa mais horrorosa da face da terra! — Destacou a senhorita Mitchell, fingindo um arrepio, retirando ainda mais risadas. — Mas como competir, não é mesmo? Uma mulher com tantos anseios animalescos como os dela, decerto, ofertou mais do que deveria ao Marquês e por isso...

Se não fosse pelo banho de champanhe que a loira dos olhos azuis recebeu, com toda a certeza, ela teria concluído o raciocínio repleto de veneno. Todavia, tendo sua face sendo atingida em cheio bem como parte do seu colo e vestido, ela só conseguiu deixar um espasmo surpreso escapar dos lábios pintados de vermelho vivo.

Assim como ela, todas as outras quatro se assustaram e soltaram um sonoro “oh!” pela condição da amiga.

Terminado o baque, de imediato, todas se viraram para o lado e só então puderam notar a presença da Higurashi mais nova segurando uma taça vazia nas mãos com a face completamente enraivecida.

Kagura arregalou os olhos para aquela atitude inusitada, mas vendo a Senhorita Mitchell daquela forma deplorável com a face mais estupefata do mundo, a fez engolir uma risada entre dentes de forma fracassada.

— Oh! Mas que infeliz contratempo! — Kagura falou fingindo comoção. Chegou a levar a mão ao peito, com a face torcida. — Querida Mitchell, queira nos desculpar, eventualmente a barra do vestido torna-se um empecilho, não é verdade?

Tendo o silêncio como devolutiva, só nesse instante que Rin tomou a consciência do que havia acabado de fazer.

Seu coração bateu rápido contra o peito ao absorver seus próprios atos. Sua vista simplesmente havia nublado quando aquela mulher despontou a não só subjugar sua irmã mais velha dentro do próprio casamento como também a falar da tal grinalda.

Justo aquela grinalda...

A que sua finada mãe usou no casamento.

— Acidente? — A Senhorita Mitchell retrucou incrédula, com o tom ríspido. — Todas nós sabemos que...

— Que Rin pisou na barra do vestido e derramou acidentalmente a taça de champanhe — Concluiu a mulher dos olhos castanho-avermelhados, sem qualquer pudor e com o tom tão ríspido quanto a outra. Olhando as demais, ela ergueu somente uma sobrancelha. — Não foi isso o que aconteceu? Hm?

As jovens damas engoliram em seco e toda aquela valentia de antes se liquefez como a neve do lado de fora que paulatinamente era derretida pelos afáveis raios solares.

Para a surpresa da loira, as demais concordaram com um aceno de cabeça em positiva.

— Um terrível acidente, claro, Condessa — Uma das mocinhas disse, abaixando levemente a cabeça em respeito.

— Mas sabemos que não foi por mal — A outra também complementou, segurando a barra do vestido com uma breve reverência.

— Evidente, minha cara — A Condessa de Berkshire sorriu abertamente, apesar do tom nada franco. Tão logo, ela voltou-se a prima, a olhando de soslaio. — Não é mesmo, Rin?

Estática, tanto pela situação como por ela própria ter protagonizado um escândalo, Rin não pôde fazer nada a não ser seguir o roteiro nenhum pouco convincente da prima. Dessa forma, a jovem dama bastou a dar uma breve reverência como quem pede desculpas.

Em contrapartida, a Senhorita Mitchell faltou espumar de tanto ódio.

— Pedimos as mais humildes desculpas pelo infortúnio, mas penso que deveria se recompor, Senhorita Mitchell. — Kagura a fitou com ironia escancarada. — No momento, não está muito adequada para a solenidade.

Sem alternativa, as moças mantiveram-se em silêncio e ofertaram uma curta reverência da qual foi correspondida por Kagura e Rin. Após, elas se afastaram, mas Rin pôde ver o olhar repleto de amargura que a Senhorita Mitchell a lançou antes de definitivamente saírem de perto.

— Achei que Sango era a parte impulsiva da família, pelo visto me enganei todos esses anos — Kagura comentou, abrindo novamente o leque.

— Desculpe — Rin encolheu os ombros. — É só que... Ela...

— Esqueça. — Kagura a interrompeu sutilmente. — Aquela vaca merecia, afinal. — Deu uma piscadela. — E também, não é como se pudessem contra a Condessa de Berkshire.

Rin piscou lentamente por não sofrer uma repreenda, em seguida, sorriu inteiramente grata por ter a prima ao seu lado.

...

Depois da cena com a senhorita Mitchell, a festa de casamento seguiu como deveria. Rin comeu mais doces do que o pretendido e deu mais risadas do que ela imaginava ser capaz. Especialmente quando suas irmãs e prima se juntaram a fim de relembrar as diversas histórias da infância.

Quando o bolo finalmente foi cortado, diferente dos demais que comentavam sobre a decoração e no quanto aquela iguaria deveria estar saborosa, Rin fixou o olhar no recém-casal. Especificamente, na forma em que seus olhos se encontravam e na cumplicidade que existia.

Era como se eles pudessem conversar em silêncio.

Um sorriso involuntário brotou na sua face.  

E com o coração transbordando felicidade, Rin desejou internamente que um dia, se possível, pudesse também dividir algo assim com uma pessoa.

...

CONTINUA...


Notas Finais


Por hoje é só!! Espero que tenham gostado desse início!!!
Teremos certamente muitas coisas pela frente! Conto com a companhia de vocês!!!
Até o próximo!!!!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...