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História Forbidden - Our Heaven


Escrita por: cherrylispector

Notas do Autor


espero que gostem do último capítulo, e muito obrigada por terem acompanhado até aqui 💜

Capítulo 16 - Our Heaven


Existe uma linha tênue entre o errado e o correto, e ela pode ser facilmente atravessada. O que pode parecer profano aos olhos de outros, nem sempre possui esse nível secular a partir de um outro ponto de vista. Amar Sérgio mesmo estando casada, na verdade nunca soou como adultério, pois meu coração nunca pertenceu a outro homem, foi sempre dele. Ao mesmo tempo que, independentemente de quem fosse o meu marido ou o que eu estava sentindo, eu não considerava correto o que aconteceu, foi uma circunstância inesperada da vida, a qual eu decidi fazer parte mesmo sabendo de todas as consequências.

O sol parecia ter nascido mais claro naquele dia. Era só uma sensação. Eu não tinha notícias de Sérgio há alguns meses, e um lado de minhas esperanças começavam a deixar de existir, querendo aceitar o inaceitável, mas naquele dia em especial, eu estava repensando. Então, eu levantei da cama e fiz o que eu costumava fazer todos os dias, só que com uma disposição bem maior em comparação a que eu possuía em dias normais.

A casa havia se tornado mais vazia e mais feliz depois da morte de meu marido. Não havia mais suásticas, eu as substituí por flores. Não havia tantos empregados e nenhuma menção ao exército alemão.

A Alemanha estava em um tremendo caos, a guerra havia acabado e ninguém mais sabia do futuro, não havia o que esperar, o que confiar ou temer. Já era junho de 1945 e não havia holocausto e nem Führer, mas o antissemitismo não havia acabado e nunca iria terminar.

E eu ainda sentia falta da Espanha e queria ir embora dali o mais rápido possível, pois aquele lugar não me trazia boas lembranças.

A vitrola tocava uma música da cantora que eu gostava, e Jonas estava com Andrés e Alicia, os dois passaram a morar juntos depois de um certo tempo se divertindo em festas e possuindo encontros noturnos. Isso era levemente surpreendente, já que Alicia sempre negou os preceitos de um casamento e desprezava o sentimento de se apegar a alguém.

Tudo estava bem diferente em nossas vidas após alguns meses. 

Pela solidão, senti vontade de abrir um vinho e só não o fiz por conta da criança que eu trazia em meu ventre.

- Você acha que eu devo fazer um suco para nós dois? - Acariciei a minha barriga, conversando em voz alta, como se o bebê realmente pudesse me ouvir, a gravidez ainda era imperceptível e eu agradecia aos céus por esse fato, pois eu realmente não precisava do rótulo de “viúva e grávida”. - Ou devo beber café? - Coloquei os meus cabelos para trás e em seguida ouvi algumas batidas na porta da frente. - Deve ser o carteiro. - Falei novamente com o bebê, enquanto me dirigia para a porta. - Bom dia... - Eu disse a abrindo, e me surpreendendo com Sérgio na minha frente, ele estava sem óculos e com uma roupa simples. Havia um machucado começando a cicatrizar um pouco abaixo de seu olho. Ele estava bonito, apesar de um pouco diferente, o que era totalmente compreensível depois de uma guerra em um país diferente.

Eu o olhei por alguns longos segundos, sem saber o que dizer ou como começar a dizer.

- Não vai me... - Antes que ele terminasse a sentença, eu pulei em seus braços, o surpreendendo e até retirando um pouco de seu fôlego. Ele riu, me apertando forte em seus braços e me retirando um pouco do chão. - Eu também estava com saudades. - Brincou e eu me afastei dele, para o ver melhor.

- Céus... E-eu nem acredito, você está vivo e está inteiro. - Apontei com uma das mãos para o seu corpo e ele me olhou com uma falsa repreensão. - Foram meses longos. Eu tive tanto medo. Tanto medo, você nem imagina... todos os dias eu ficava pensando nas milhões de coisas que poderiam te acontecer e me machucava tanto... Pensava que você poderia não voltar mais e que a qualquer momento eu iria receber uma carta me dizendo que...

- Shhh... - Ele colocou os dois dedos sobre meus lábios de uma forma carinhosa, um costume que ele possuía desde que éramos jovens. - Eu te disse que iria voltar e eu jamais quebraria essa promessa. Já quebrei promessas demais. - Passou uma das mãos em meu rosto, e eu pulei em seus braços novamente, sentindo as lágrimas caírem quase descontroladamente de meus olhos, enquanto ele deslizava os dedos por minhas costas e afagava o meu cabelo.

Não houve nada mais que eu desejasse tanto naqueles meses do que o ver novamente. E agora ele estava bem ali.

- Você está tão bonita. - Disse perto de meu ouvido. - Eu seria um idiota se não voltasse. Mas não vai me convidar para entrar? - Ele brincou um pouco envergonhado.

- Claro que irei, entra. - Ele assentiu e eu fechei a porta atrás dele, enquanto entrávamos devagar na casa.

- Onde está o Fabio? Vim pela manhã porque sei que ele está no trabalho e não queria que o nosso reencontro fosse baseado a brigas, mas...

- Sérgio... - O cortei. - O Fabio morreu. Morreu há meses. - Ele abriu a boca surpreso. - Houve um atentado em Munique e ele foi a vítima fatal. Não sei se você soube... as notícias demoram um pouco para correr de um país para outro...

- Não há mais nada entre nós dois? - Ele perguntou surpreso e sorrindo de forma esperançosa. Eu apenas assenti em confirmação. Porém, ele logo limpou a garganta. - Mas... bom, isso foi doloroso para você? Ele era o seu marido, pai do seu filho e vocês viveram um bom tempo juntos...

- Não me machucou em nada. Sérgio... - Eu me sentei no sofá da sala e ele sentou ao meu lado.

- Não precisa mentir achando que irá me machucar, eu sei que vocês viveram vinte anos juntos.

- Não é isso... - Eu abaixei um pouco a cabeça, sem saber se deveria o contar sobre certas coisas ou não. Porém, o medo deu lugar a segurança assim que olhei em seus olhos, Sérgio era a pessoa que eu mais confiava no mundo inteiro.

- Quando você estava fora, aconteceu uma coisa. - Comecei dizendo e ele me olhou atento. - Ele... Ele me bateu. Me agrediu na noite que descobriu sobre... o nosso caso. Eu não consegui sentir nada na morte dele por conta disso.

- Raquel, eu sinto muito. Eu... - Ele negou com a cabeça. - Por que você nunca disse isso antes? Eu não teria ido embora e deixado você sozinha com ele...

- Exatamente, você não teria ido embora. - Alcancei a sua mão e a acariciei com a minha. - Eu conheço você o suficiente para saber disso.

- Mas você nunca disse nas cartas...

- Eu nunca achei necessário citar isso em nossas cartas, é um episódio que eu quero esquecer. - Ele limpou as lágrimas de meus olhos e juntou as duas mãos com as minhas, beijando o torso delas em seguida.

- Nós dois possuímos feridas bem profundas. - Ele concluiu. - Marcas que não serão esquecidas tão facilmente, mas que eu pretendo superar com você. - Eu assenti, percebendo que a partir dali, haveria muitas camadas em nosso relacionamento que não havia antes, mas iriam ter que ser descobertas e cuidadas por nós dois. Juntos.

Ele se aproximou de mim um pouco inseguro, e me beijou na boca com certo receio, mas com um desejo bem conhecido por nós dois.

- Desculpa, eu sei que você queria conversar, mas eu estava com muitas saudades e queria te beijar. - Voltou a se afastar, um pouco envergonhado.

- Sérgio... - Eu sorri. - Não tem problema...

- Você pode voltar a falar. - Acariciou as minhas mãos. - Ele te bateu aonde? - Ele perguntou com cautela. - Não precisa falar sobre se não quiser.

- No rosto. Várias vezes. - Ele engoliu em seco com aquilo como se eu houvesse o dado um soco no estômago.

- Raquel, eu não sei o que te dizer. Eu nunca saberei a dimensão dessa dor, porque eu sou um homem e...

- Não precisa me dizer nada. Ele não está mais aqui. Você está aqui e eu tenho certeza que jamais faria isso comigo independente da situação. - Ele sorriu, voltando a acariciar as minhas mãos. O beijei nos lábios, sem pensar no depois.

Ele correspondeu com a mesma gana, deitando o meu corpo por cima do sofá, mas voltou a se sentar depois de alguns minutos de beijos.

- O que foi? - Eu perguntei, já indo em direção a sua boca novamente, mas ele me parou.

- Você quer isso? Digo... eu não sei como uma mulher fica depois de... você sabe, um homem te agrediu, era seu marido. Eu não sei...

- Você possui medo que eu me confunda? - Ele assentiu. - Meu amor, isso nunca vai acontecer. - Juntei as nossas mãos novamente. - Nunca... você não é o Fabio. É o Sérgio, eu te conheço desde... sempre? - Perguntei e ele sorriu. - No fundo eu sempre soube que o Fabio era capaz daquilo. Ele nunca havia me agredido antes, mas não começa com agressão. - Limpei uma lágrima que começou a se formar em meu olho. - Começa com ciúmes excessivos, apertos no braço, gritos, ameaças... - Engoli em seco.

- Isso jamais vai acontecer novamente.

- Eu sei... - Assenti o olhando.

- Onde está o seu filho? - Olhou ao redor, como se procurasse por Jonas.

- Com Alicia e Andrés. Eles estão morando juntos agora e parecem estar muito felizes. E a Alicia queria passar um tempo com o sobrinho.

- Morando juntos? - Eu assenti enquanto sorria. - Por essa eu não esperava.

- Ninguém esperava para ser sincera.

- E eu estava com tantas saudades de você. Raquel, cada dia e noite que eu passava naquele lugar, eu só pensava em voltar para você. Eu ficava repensando o que vivemos e... eu não devia ter ido embora quando éramos jovens.

- Isso não faz mais diferença. Remoer o passado não vai o tornar diferente. E... quem sabe as coisas tinham que acontecer assim. - Dei de ombros.

- É. Talvez houvesse que ser assim. - Sorriu e desceu o olhar para a minha boca, de forma quase maliciosa, mas ainda sim trazia a sua essência romântica.

- O que foi? - Perguntei, descendo o olhar para a sua boca também.

- Nada. - Voltamos a manter contato visual.

- Nada mesmo? - Ajoelhei no sofá e fui até ele, sentando em seu colo com as pernas em sua cintura. Ele segurou os meus quadris e me beijou devagar, apenas saboreando os meus lábios da mesma forma que eu fazia com os dele.

Sérgio acariciou os meus quadris, e parou de me beijar, me olhando nos olhos.

- Você está diferente. Não está mais usando espartilho? - Franziu um pouco a testa.

- Não posso mais. - Sorri um pouco. - Diferente... como?

- Não pode por quê? Achei que você gostasse.

- Eu gosto. Mas em que eu estou diferente? - Indaguei curiosa.

- Hum. - Ele limpou a garganta e desviou o olhar para baixo. - Seu quadril parece estar um pouco mais largo e... seus seios maiores. - Ele enrubesceu um pouco após dizer isso e eu sorri. - Por que está rindo? Você está ainda mais bonita, só está diferente.

- Por que você acha que eu estou assim?

- Bem... Raquel, você está zombando de mim?

- Não vem nada na sua mente? - Abaixei um pouco a cabeça, mordendo de leve o seu pomo de Adão.

- Não. - Ele franziu a testa e segurou o meu rosto com as mãos, começando a juntar algumas peças. - Você...?

- Eu estou grávida. É seu. Descobri pouco tempo depois de você ter ido embora. - Eu sorri de lado, sem saber como ele reagiria com a notícia, ele ficou em silêncio por alguns segundos e eu franzi a testa. - O que foi? Não gostou da novidade? Eu sei que foi rápido, mas eu...

- Não, não é isso, eu só... Raquel, eu vou ser pai. Em alguns momentos eu pensava que não conseguiria sair da guerra e quando eu volto... você está aqui, me esperando e grávida. - Desceu o olhar para a minha barriga. - É bastante coisa para assimilar, mas por que não me contou antes?

- Bom, eu não sabia como abordar isso nas cartas, eu queria te dar essa notícia olhando em seus olhos e hoje quando você chegou... eu não poderia simplesmente despejar tanta informação sobre você. Mas, isso te deixa feliz?

- Isso me faz o homem mais feliz do mundo inteiro. - Segurou o meu rosto com as mãos e me beijou novamente. Ele impulsionou o corpo para cima e nos levantou do sofá, começando a subir as escadas comigo nos braços, nos beijávamos o tempo inteiro, ansiosos para chegar no quarto e finalizar aquela saudade que havia nos matado por tanto tempo, primeiro em vinte anos e depois em meses sem resposta.

- Espera... - Ele disse quando chegamos na porta do quarto e eu franzi a testa.

- O que foi? Está com medo de machucar o bebê? - Zombei.

- Não. Isso não é possível. - Ele revirou os olhos e eu ri. - Eu só não quero... na cama que você dormia com o seu marido.

- Eu troquei os móveis quando ele morreu. Eu tinha umas economias no banco, então fiz várias mudanças na casa, foi a minha forma de recomeçar. A cama é só minha. - Eu ri e ele assentiu, voltando a me beijar na boca e abrindo a porta do quarto com um dos pés.

Deitamos na cama, ainda aos beijos, sem parar por ao menos um segundo. Ele deslizou os dedos pelos botões de meu vestido e o abriu, até retirar a parte superior por cima de meus ombros.

Ele me levantou em seus braços, nos mudando de posição, e me deixando sentada por cima de seu colo.

- E se nos casarmos? Agora que você é viúva, nós podemos. - Disse aquilo descendo os beijos para o meu pescoço e retirando um pouco da minha capacidade de concentração.

- E o que faremos com a sua religião? - Levantei o seu rosto para olha-lo. - Sei que você não vai abandonar o judaísmo e você me disse uma vez... que se eu quisesse me converter teria que ser de coração e não porque quero me casar com você. A conversão precisa ser genuína.

- Eu sei, mas se for assim, viverei fora de minha religião para sempre. - Eu assenti em concordância. - O que seria errado a vista das pessoas e...

- O fato de algumas pessoas acharem que é errado, não irá afastar você do que acredita. Eu quero que você continue seguindo o que sente que é certo, é o mais importante. E se você me ensinar um pouco mais sobre... talvez possamos. Eu posso pensar. - Beijei os seus lábios de leve.

- Eu te amo. - Ele sussurrou, já esquecendo do que falávamos ou de qualquer dúvida que nós dois tínhamos.

- Eu também te amo. - Sussurrei perto de seus lábios, começando a abrir a camisa que ele usava e a retirando por seus ombros. Voltamos a nos beijar assim que o tecido foi retirado, a calma foi se esvaecendo aos poucos, tornando tudo mais desesperado entre nós dois, os beijos, os toques, as carícias...

- A verdade é que... você é o que realmente importa. Eu fui para a guerra por você e iria novamente se fosse preciso. - Disse respirando de forma pesada. Eu levantei da cama, retirando a parte de baixo de meu vestido e ele desceu o olhar, observando o meu corpo inteiro. Eu adorava quando ele fazia aquilo, havia algo de diferente em seu olhar, ele ficava fascinado mesmo já tendo me visto daquela forma milhões de vezes.

Com ele, tudo sempre soava como a primeira e a última vez.

- Que pasa, cariño? - Indaguei aquilo em nosso idioma, e ele estreitou os olhos de leve, engolindo em seco.

- Nada, eu só... - Me olhou novamente e eu sorri, indo até ele enquanto retirava as alças do meu sutiã, levando as mãos para abri-lo quase no mesmo segundo. Ele levantou da cama, vindo até mim e me beijando na boca, porém descendo para o pescoço, para os ombros, o meio dos seios... o puxei para cima novamente, o sentindo deslizar a minha calcinha para baixo. Andamos alguns passos para a cama, e quase tropeçamos nos pés um do outro, rindo logo depois. Algumas lágrimas se formaram em meus olhos e ele me olhou preocupado. - O que houve? - Passou os dedos por meu rosto.

- Eu ainda não acredito que estou aqui exatamente da mesma forma que sempre quis estar com você... - Passei os dedos por sua barba e sentamos na cama, ele comigo no colo mais uma vez.

- Raquel... - Ele me olhou sério. - Você me perdoou? Por ter ido embora pela primeira vez? - Eu o olhei por alguns segundos e assenti.

- Eu sei que já disse isso outras vezes, mas dessa vez é real, não quero mais nada entre nós dois e muito menos isso. - Sorri. - Já não importa... Você está completamente perdoado. - O beijei mais uma vez. Estávamos nos beijando muito mais do que o normal e totalmente sem explicação.

A sensação de estar com ele, daquela vez totalmente livre, sem absolutamente nada entre nós dois era intensa. Não havia mais os nossos pais, nem Fabio, nem holocausto. Possuíamos aquela liberdade que tínhamos quando éramos jovens, trancados em um mundo só nosso. Ainda tínhamos mais do que aquela liberdade, porque a partir dali não precisaríamos esconder de mais ninguém o que sentíamos.

Sérgio segurou um lado de meu rosto com uma das mãos e me deitou na cama, eu abri as pernas quase de forma automática e ele retirou o restante de suas próprias roupas, começando a se encaixar dentro de mim, me fazendo gemer baixinho sobre os seus lábios enquanto ele ofegava.

Ele levantou uma de minhas pernas para colocá-la sobre o ombro – atitude que até me surpreendeu um pouco – e sorriu acima de mim, segurando a cabeceira da cama com uma das mãos. Deitei a cabeça totalmente no colchão e fechei os olhos.

- Amor, não fecha os olhos... - Ele disse com dificuldade. - Gosto de olhar para você.

- É difícil os manter abertos. - Suspirei, arrastando as mãos por suas costas e até as arranhando com as unhas. Porém, abri os olhos, o vendo acima de mim, com olhar em meu rosto. - Vamos voltar para a Espanha? - Perguntei, direcionando a minha boca para o seu pescoço, enquanto ele apertava a minha coxa com uma certa força.

- Você quer realmente... voltar para Madri? - Indagou, se abaixando um pouco para me beijar na boca. - E quer conversar sobre isso agora? - Investiu um pouco mais forte dentro de mim.

- Quero... - Mordi o lábio inferior, tentando controlar os gemidos que insistiam em escapar de minha garganta.

O jeito que estávamos transando naquela manhã, era diferente de tudo que já havíamos feito antes, como se estivéssemos descobrindo uma parte diferente de nós dois. Havia um desejo quase insano entre nós como se a qualquer momento pudéssemos nos fundir em um só.

Talvez fosse a saudade.

- Ah, Sérgio... - Eu franzi um pouco a testa, o sentindo deslizar os dedos por meu clitóris de forma devagar, do jeito que ele sabia que eu gostava. Movi os quadris um pouco para a frente, tentando acompanhar o seu ritmo e ele gemeu perto de meu ouvido, me arrancando um suspiro. - Mais forte... - Eu pedi, mordendo o lábio inferior novamente. Ele investiu ainda mais contra mim e eu senti a minha cabeça tontear um pouco.

Sérgio desceu alguns beijos para o meu pescoço e me puxou para cima, trocando as nossas posições.

- Ah... - Eu quase gritei, jogando a cabeça para trás e começando a me movimentar por cima dele.

- Eu gosto quando fazemos assim. - Ele sorriu levemente malicioso. - Com você por cima. - Desceu os beijos para meus seios e eu enfiei as mãos em seus cabelos, me movendo rápido, para cima e para baixo e rebolando por cima dele. - Na verdade, eu gosto de todas as formas que fazemos. Acho que não tenho preferências...

- Você sabe que existe muitas formas que ainda não fizemos, não sabe? - Ele engoliu em seco, mas assentiu.

- Mas não é um problema, teremos muito tempo para isso, não teremos? - Indagou e eu assenti, sorrindo um pouco. - Já que iremos viver juntos a partir de agora... - Ele dizia tudo de forma ofegante e eu gostava muito da tonalidade de sua voz.

- Ah-ham... - Assenti em concordância. Ele passou a se movimentar junto comigo e continuamos até chegarmos ao orgasmo juntos, em uma completa sintonia. Aquilo nunca havia acontecido antes.

Deitamos na cama, com a respiração entrecortada, e tentamos nos acalmar, o que parecia quase impossível. Nós rimos olhando um para o outro, e eu deitei a cabeça em seu peito, encaixando o corpo ao lado do seu.

- Quer mesmo voltar para a Espanha?

- Quero. Você quer...?

- Bom, para mim é importante estar onde você estiver e se é a Espanha que você quer, eu irei. - Eu assenti, e movi um pouco o corpo, me esticando para beijar a sua boca.

[...]

Em setembro daquele mesmo ano, houve bombardeios no Japão, que ficariam famosos e temidos pelo restante da história da humanidade. E em meio a tantas crueldades que aconteciam ao redor do mundo, o nosso filho nasceu, era um saudável menininho. O chamamos de Salvador, por algum motivo eu gostava do nome. Pensava que era por causa do pintor surrealista espanhol.

Voltamos para a Espanha de onde nunca deveríamos ter saído e eu voltei a falar com o meu pai. Ele estava velho e sozinho e não possuía mais ninguém, e às vezes eu o visitava e levava os seus dois netos para que estivessem juntos. Ele adorava as duas crianças e eu conseguia retirar alguns sorrisos de seu rosto com aquilo.

Com o passar dos meses, Jonas começava a cada dia mais sentir a ausência do pai, ele era uma figura importante para ele, e obviamente Sérgio não era um substituto. Eu sempre tentava explicar que ele havia ido embora, porque era a hora, mas ele era jovem demais para entender tudo o que havia ocorrido e às vezes chegava a chorar porque dizia que Sérgio havia me levado embora do pai dele e por isso ele havia morrido. Então, depois de alguns minutos de estresse os dois jogavam xadrez e as coisas melhoravam.

Sérgio não voltou a estar ativamente no judaísmo, mas todos os dias sem falta, eu o via ler a bíblia hebraica e orar. Eu nunca entenderia, mas estava ali para o que ele precisasse. Eu não precisava entender. Ele também voltou a ser professor e ensinava em uma escola de ensino médio, e eu trabalhava em uma empresa na parte de contabilidade.

E eu guardava tudo o que havia escrito sobre a guerra em uma gaveta, esperando o dia que eu possuísse a coragem de queimar tudo.

- Amor? - Ele perguntou após voltar para o quarto e não me ver no cômodo. - Na varanda. - Eu disse baixinho para não acordar as crianças. - Ele dormiu rápido? - Perguntei me referindo ao nosso filho, já que ele havia deixado o quarto por causa do choro de Salvador.

- Sim, está no berço como um anjo. - Sorriu.

- Cada dia ele fica mais parecido com você. - Dei de ombros. - É a sua cópia. - Toquei o seu ombro, por cima da camisa leve que ele estava usando. - Ele vai ser um homem muito bonito. - Sorri e ele sorriu também, Jonas entrou sem bater no quarto e cruzou os braços vindo até nós dois.

- Por que ainda está acordado, meu amor? - Indaguei passando as mãos por seus cabelos loiros.

- O Salva fica chorando. - Ele agarrou uma das minhas pernas e eu sorri.

- É porque ele ainda é muito novinho meu amor. - Me abaixei para ficar a sua altura.

- E quando ele irá crescer e me deixar dormir em paz?

- Daqui há um tempinho. E você também era chorão quando bebê, não me deixava dormir. - Voltei a me levantar.

- Okay. Vou para a minha cama. Boa noite, tio Sérgio. - Ia saindo da varanda, mas eu segurei a sua pequena mão.

- Não quer que eu te faça dormir? - Perguntei e ele negou.

- Não. Não sou um bebê chorão que nem o Salva. - Disse sorrindo quase de forma maldosa.

- Tudo bem, e cadê o beijo da mamãe? - Me abaixei novamente e ele me abraçou pelo pescoço, beijando a minha bochecha logo depois. Ele saiu do quarto, Sérgio olhava a situação com ar de riso.

- O que farei com tantos homens chatos nessa casa? - Arqueei uma das sobrancelhas em zombaria.

- Não sei, mas podíamos tentar uma menininha. - Ele me abraçou por trás, com as mãos em minha cintura, e eu sorri.

- Uma menininha? - Coloquei as mãos sobre as suas. - E se a tentativa falhasse e nascesse outro menino?

- Aí, tentaríamos de novo... - Beijou a minha nuca e eu sorri.

- Para você é fácil.

- Não é, eu que coloco eles para dormir. - Brincou e eu virei-me um pouco, o beijando na boca com certa delicadeza. - O que estava fazendo aqui do lado de fora?

- Olhando as estrelas. Lembrando de antigamente...

- Antigamente... especifique.

- Quando éramos jovens e apaixonados e o mundo parecia ser apenas nosso.

- Ainda somos apaixonados. - Sussurrou e eu assenti em concordância.

- E se não houvéssemos nos encontrado?

- Isso seria impossível. Acho que a probabilidade de nos encontrarmos era bem maior do que imaginávamos.

- Você continua me amando. - Afirmei, virando-me totalmente para ele.

- Como assim?

- Mesmo vinte anos depois. Mesmo que sejamos diferentes agora. Temos uma bagagem pesada...

- Eu te prometi isso uma vez, e você me prometeu também. - Colocou as mãos ao meu redor, me beijando na boca novamente. Ainda éramos melhores amigos e todos os dias trazíamos aquele tópico para as nossas vidas.

E apesar de não sermos casados formalmente, possuíamos um amor genuíno e intenso que nos ligava muito mais que uma simples formalidade. Éramos um do outro e às vezes eu sentia que havíamos nascido para aquilo.

Não era algo que poderia ser explicado. Jamais alguém poderia explicar a intensidade e natureza de nosso amor, que não era para se entender ou ser lógico, era apenas algo que sentíamos e que jamais poderia ser calculado ou compreendido para quem estivesse de fora.

Éramos capazes de viver o nosso próprio paraíso, em coisas muito simples, e sempre havia sido assim.

- Eu te amo muito. - Sorri, o encarando.

- Eu também te amo muito, Raquel.



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