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História Forever as we can - Capítulo XV


Escrita por: yourhighness

Notas do Autor


Olá personas -acenando-

Espero que vocês leiam estas notas iniciais u-u sinceramente kkk'


Bem, como avisei no último capítulo -quem leu sabe- este é o último capítulo \o/ e... que triste não? Jamais pensei que o final de 'Forever as we can' chegaria tão depressa assim ;-; estou sofrendo por antecipação >.<
Queria agradecer, muito, a cada um de vocês que favoritaram e comentaram desde o começo. Aos fantasminhas que surgiram nos últimos capítulos, aos que ainda são fantasmas e ainda assim leem e acompanham essa minha primeira fanfiction e que significou tanto para mim. Então, obrigada a todos que tiveram paciência e gostaram de ler essa minha escrita tão falha e cheia de erros, mas que de uma forma ou de outra consegue demonstrar o que sinto.
Sintam-se abraçados por mim.. Pois é isso que gostaria de fazer com cada um de vocês <3 afinal, vocês não tem ideia de como me incentivavam a continuar e tudo isso e... Sou péssima em descrever meus sentimentos '-' perdão kk'

Espero do fundo do meu coração que gostem deste capítulo, que ironicamente, é o maior da fic toda.
Comentem o que acharam no fim e tudo isso que vocês já sabem, e não se esqueçam que na semana que vem eu trarei um capítulo extra para vocês <3

Amo cada um de vocês *-*


Enjoy

Capítulo 15 - Capítulo XV


Cinco dias.

 Cento e vinte horas.

Sete mil e duzentos minutos.

E eu estava exatamente na mesma posição. Fazendo a mesma coisa. Olhando a mesma parede.

A respiração se fazia rarefeita em meus pulmões, a saliva pesava em minha língua e as lagrimas que eu segurava ardiam em meus olhos.

Eu estava me sentindo o ser mais inútil e incapaz do mundo, e olhar Ana ali, deitada em uma cama de hospital com as horas contadas, somente fazia piorar este sentimento. Eu não demonstrava de modo algum o que sentia. Não a parte negativa ao menos, mas era inevitável que ela percebesse, afinal, por mais que ela teimasse em me mandar ir para casa, eu insistia em ficar ali, ao lado dela, até o fim.

Ela estava visivelmente diferente.

Mesmo que continuasse a agir como a mesma garota teimosa e com a cabeça velha demais para a idade dela, ela estava diferente. Parecia dormir tranquilamente, o que me aliviava em partes, pois eu detestaria vê-la sofrendo como já presenciei incontáveis vezes. Tanto nas sessões de quimioterapia, quanto no momento que os sintomas daquela maldita doença que insistia em tirá-la de mim atacavam.

Ela se fazia de forte. Claro que fazia. Mas eu a conhecia bem o suficiente para saber que não era fácil lidar com tudo aquilo, ainda mais sendo uma pessoa tão pequenina quanto ela era.

Respirei fundo pela milionésima vez naquele incontável segundo que se arrastava. Ainda era cedo, e ao mesmo tempo em que eu queria que ela mantivesse seu sono, eu também ansiava para que ela acordasse logo para ver mais uma vez o brilho inteligente de seus olhos.

Mais uma vez.

Uma última que fosse.

Nos meses que haviam se passado aconteceram tantas coisas que dariam um ótimo livro. Fizemos coisas que há muito desejávamos. Conhecemos Donghae, que se tornou um ótimo amigo, e bem mais do que um simples caso para mim, coisa que não posso deixar de pensar que seria culpa de Ana. Ela sempre reprovou minha maneira de ‘aproveitar a adolescência’. Ela, tão pequena. Tão nova, e tão mais esperta que eu.

Ana estava certa. Aliás, acho que ela sempre esteve certa e eu apenas nunca havia me dado conta disso. Estava certa quando dizia que quando eu encontrasse a pessoa certa, eu saberia, e se não soubesse ela avisaria. E ela avisou. E eu soube também. Assim como sempre soube que ela era a melhor amiga que eu poderia ter querido na vida. Mesmo com a diferença de idade entre nós dois. Mesmo que racionalmente falando os dois não devêssemos nos dar bem. Mesmo com tudo conspirando contra nós. Ela era e sempre seria a melhor amiga que eu poderia desejar.

Passamos por tantas coisas juntos. Aventuras, filmes, livros, historias, conselhos da parte dela e sexo inconseqüente de minha parte. Passamos por tanta coisa juntos... e ainda deveríamos passar, mas dessa vez, algo bem maior do que alguns anos de idade de diferença nos impediriam.

Apoiei a cabeça nas mãos esfregando os olhos. Eu havia virado a noite velando o sono daquela pequena, e não havia cafeína suficiente no mundo que me ajudasse a dispersar o sono no momento. Talvez eu conseguisse tirar um cochilo. Seria um descanso merecido. Ouvi um suspiro vindo de sua direção e a olhei. Seus olhos estavam brilhantes como sempre quando ela acordava e um sorriso sonolento desenhava seus lábios. Mas ela estava pálida. Pálida demais.

Sorri triste em sua direção e soube que ela notou quando sua mão foi estendida para mim. Segurei-a com cuidado para não machucá-la, já que uma agulha intravenosa se encontrava ali. Funguei pelo nariz sentindo as lágrimas marejarem minha visão. Eu ainda não me permitia chorar.

- Se for uma lagrima que estou vendo – ela disse com a voz pesada pelo sono – eu juro Hyukjae que levanto daqui pra socar a sua cara.

Ri com a afirmação sem encará-la. Sabia que ela me fulminava com seus olhos inteligentes demais.

- É o sono.

Menti.

Ela sabia que eu mentia, mas não se importou em me forçar a dizer a verdade, e eu agradecia por ser assim. Se eu falasse o real motivo de estar ali, acabaria sendo mais difícil pra nós dois do que eu planejava.

Ela começou a falar então, calmamente, respirando mais fundo do que seria realmente necessário em uma conversa normal. Aquela sonda em seu nariz a estava incomodando, e eu percebia isso, mas nada podia fazer. Em alguns momentos ela ria, despreocupada com que poderia vir e viria a seguir. Ela era um ótimo exemplo a se seguir. De força principalmente.

- Queria sorvete – sua declaração me fez sorrir verdadeiramente – mas as enfermeiras já disseram que sem condições.

- Que maldade.

- Concordo. – ela riu mostrando a língua de leve – Nem para me concederem uma última vontade.

Meu coração se apertou com aquela declaração. Ela conseguia encarar aquilo melhor do que eu. Apenas anui em concordância sem a olhar nos olhos, e então a ouvi retomar os assuntos de antes, sempre pausando mais do que necessário enquanto falava. Cada vez que sua respiração ficava mais profunda e cansada, eu sentia um nó se apertar em minha garganta e nem toda a água do mudo me ajudaria a empurrá-lo para baixo.

Ana começou então a falar sobre nossa viagem a Paris.

Sorri sinceramente desta vez quando ela disse estar feliz, ‘do fundo do que chamo de coração’, foi o que ela disse. Ela estava feliz por ter ajudado Donghae aquela vez na rua. Feliz por termos nos tornado amigos daquele coreano de sorriso fácil e olhos bonitos. Feliz que eu e ele tenhamos finalmente assumido algum tipo de relacionamento que fugia do sexo usual que eu geralmente preferia.

Minha pequena curiosa me encheu de perguntas. Perguntas estas que teriam sido feitas de qualquer forma, ela estando ali naquela cama de hospital, ou em meu pequeno e apertado quarto. Perguntou como havia sido minha primeira vez com alguém que eu gostava realmente. E eu ri soprado enquanto explicava em detalhes, sórdidos e sujos, cada sensação e cada movimento que fizemos. Eu não me envergonhava de agir desta forma com ela, afinal, desde sempre fui muito aberto com relação a tudo quando se tratava de minha pequenina Ana, e não via motivos para ser diferente agora.

- Ele foi também seu primeiro rapaz não?

Seu sorriso era fraco, mas a malicia recém adquirida e tão estranha àquele rosto infantil estava presente ali. Seus lábios curvados sobre os dentes tão branquinhos, os olhos apertados em quase fendas enquanto me encarava divertida. Então sorri tristonho e meio choroso, mas sorri de volta. Concordei mais uma vez com o que ela dizia e apenas acrescentei que no que dependesse de mim, Donghae seria o único rapaz em minha vida.

Não que eu não me considerasse gay. Pois, eu o era. E se não fosse, no mínimo bissexual eu deveria ser, afinal, não era a primeira e acreditava eu que nem seria a última vez que eu me sentia atraído por algum outro ser do sexo masculino, porém, eu realmente esperava que o que eu tinha com o garoto fofo de cabelo castanho fosse para sempre único e recíproco. Interrompi meus pensamentos na metade quando senti mãozinhas tão pequeninas em meus cabelos. A interroguei mudamente sobre sua atitude enquanto suas mãos me faziam um carinho tão impar.

- Por que você deixou os cabelos brancos, Hyukjae?

Abaixei o olhar mais uma vez, só que agora eu já não estava mais tão pensativo, estava apenas, triste.

- Só fiquei com vontade de deixar as cores de lado.

- Gostava dele azul.

Passei a mão livre por seu rosto tão pálido e cansado e a vi fechar os olhos calmamente sob o carinho por mim imposto. Meus cabelos brancos apenas externavam o que eu estava sentindo nos últimos dias. Eu sempre usara cores diferentes em meus cabelos, sempre inovando e não ficando muito mais do que duas semanas com a mesma cor, e como dizia minha mãe eu era um verdadeiro camaleão. E eu gostava disso. Gostava de mudar, ser diferente e colorido. Gostava de representar em meus cabelos a cor que melhor expressava o humor que eu sentia no momento, e isto não era diferente agora.

Meus cabelos estavam brancos, porque toda a cor da minha vida estava aos pouquinhos, indo embora junto com aquela garota tão pequena em tamanho, mas tão gente grande em atos e palavras. Passei a mão esquerda nervosamente pelos cabelos os puxando sem refrear a força que colocava no ato e sentindo certa dor ao arrancar alguns poucos fios do couro cabeludo. Eu estava à beira de lágrimas. Estava cansado, física e mentalmente, e a cada minuto que sentia minha cabeça latejar, meu estomago insistia em lembrar que estava vazio e fazia com que sentisse o ácido gástrico revolver dentro dele.

Apertei a barriga com as duas mãos enquanto apoiava a cabeça entre os joelhos. Meu corpo ansiava pelo sono do qual havia sendo privado nas horas seguidas que passei varado na madrugada. Mas eu tinha medo. Medo de pegar no sono e perder algo referente à Ana. Medo de pegar no sono e quando acordasse não tê-la mais ao meu lado, nem que fosse apenas para assisti-la dormir como eu fazia na maior parte do tempo, ou em alguns raros momentos ouvir sua voz infantil e doce que agora saia tão fracamente por seus lábios pequenos e desenhados.

Voltei a minha posição original e sorri ao ver que ela voltara a dormir. Seu sono vinha sendo mais pesado e contínuo do que jamais foi, e isto só fazia com que eu me preocupasse um pouco mais, pois li certa vez em um site qualquer que quando uma pessoa sente muito sono ela está mais perto de falecer. E isto, era o tipo de coisa que me dava medo.  Acariciei mais uma vez seu rosto, mas logo afastei minha mão da garota a minha frente quando senti meu celular vibrar brevemente anunciando a chegada de uma mensagem nova.

Era de Donghae.

“Cheguei. Estou aqui fora e acho que você deveria ir tomar café e descansar um pouco.

Estou preocupado com sua saúde.

 

“Donghae.”

Apenas neguei. Tanto com um aceno veemente de minha cabeça quanto na resposta que lhe mandava. Por mais que meu corpo implorasse por alimento e descanso eu me negava terminantemente a sair dali. Enquanto a própria Ana não dissesse para mim que não queria mais me ver em sua frente, eu me negava a sair de seu lado.

Coloquei minha mão gentilmente sobre a sua cobrindo-a por inteiro e amaldiçoei quem quer que fosse responsável por aquele acontecimento na vida dela. Ela era apenas uma criança. Uma criança feliz e amigável que ajudava um pobre rapaz com complexo de superioridade e cabelos diferentes. Uma garota inglesa, com seus quase doze anos de idade, olhos espertos e cabeça velha demais.

O mundo, universo, antros ou qualquer tipo de força seja ela qual fosse que regia a porra do destino de cada um estava sendo injusto com minha pequena. Ela era uma criança que estava sendo tirada do mundo cedo demais. De uma forma trágica demais. Esfreguei meus olhos com força os impedindo de marejar mais uma vez e segurei um grito que subiu por minha garganta e morreu a porta de meus lábios. Eu queria gritar para o mundo como estava sendo injusto. Queria gritar que eu era egoísta demais para deixar que minha melhor amiga se fosse de uma forma tão não heróica. Queria socar alguém, quebrar alguma coisa, mas eu não podia. Não podia fazer nada.

Nada a não ser, ficar sentado ao lado de seu leito e apenas assistir a vida se esvaindo aos poucos daquele corpo tão pequeno. Mordi os lábios até que sangrassem. Se não podia descontar a raiva em ninguém, que eu descontasse em mim mesmo ao menos toda a frustração que não podia externar da forma que queria e precisava. Puxei os cabelos mais uma vez, mas não com força suficiente para que se soltassem de minha cabeça como antes. Deixei a coluna ereta encostando-me naquela cadeira tão desconfortável. Suspirei pesadamente pelos lábios e senti um olhar sobre mim.

- Acordou mais uma vez? – lhe sorri assistindo-a revirar os olhos para a pergunta obvia demais – Donghae avisou que acabou de chegar.

- Ótimo. – ela falou pouco seria demais – Chame-o aqui. Quero falar com os dois.

Concordei e levantei vagaroso de onde estava. Ouvi meu corpo reclamar e minhas costas estalarem com o ato e segui calmo até a porta daquele quarto tão branco. Sai um pouco dali logo encontrando os belos olhos amendoados de meu namorado sobre mim. Sorri triste em sua direção enquanto o via ficar em pé e juntar seu corpo no meu. E naquele momento, mesmo sendo mais alto alguns centímetros que ele, me senti pequeno e indefeso demais para fazer qualquer coisa.

Seus braços circularam meus ombros e eu abracei sua cintura e afundei meu rosto entre seu ombro e pescoço. Aquele coreano de sorriso fácil era um dos meus poucos pontos de conforto nos últimos dias. Mas mesmo estando em seus braços, eu continuava não me permitindo chorar. Não ainda.

Afastei-me de seu corpo e juntei nossas testas com os olhos fechados. Eu deveria estar aparentando a exaustão, pois era exatamente assim como eu me sentia. Enquanto ele continuava magnífico, como sempre. O puxei pelo pulso enquanto falava em baixo tom que Ana queria falar com nós dois juntos, e ele apenas concordou sorrindo de lado. Seu ato me fez querer beijá-lo por ser tão amável e reconfortante mesmo em momentos como aquele, mas este não era o local ideal.

Entramos naquele quarto de mãos dadas e senti os dedos de Donghae apertarem os meus gentilmente enquanto me sorria passando uma confiança que não estava ali. Aproximamo-nos um pouco da cama no centro daquele cômodo branco demais e Ana sorriu ao ver o moreno bonito ao meu lado.

Ele sorriu o sorriso mais bonito que tinha e soube que ele sorria verdadeiramente quando sua tranqüilidade passou para mim através de nossas mãos dadas. Eu o amava tanto. O vi dar um beijo na testa da pequena e dizer que seus olhos estavam tão brilhantes que o deixavam contente. Ela sorriu e me surpreendi ao notar que ela ainda podia corar. Minha pequena de olhos bonitos sempre corava quando Donghae lhe sorria.

Apertei mais a mão do rapaz ao meu lado. Eu estava apreensivo com o que poderia acontecer a partir de agora, mas o tendo perto de mim para me apoiar, eu sabia que ficaria bem.

- Bem – Ana começou pausadamente chamando nossa atenção para si – queria falar algumas coisas para vocês antes que o inevitável aconteça e eu fique com isto para mim.

Respirei fundo sentindo o nó em minha garganta aumentar conforme as palavras saiam de seus lábios. Ela sorriu fraco em minha direção, mas suas palavras, quase sussurradas, foram dirigidas primeiro ao moreno ao meu lado.

- Hae – ela estendeu uma de suas mãos para tocar-lhe o rosto – quero pedir umas coisas, se não se importar.

- Fique a vontade para pedir o que quiser.

Ela apenas concordou e começou a encarar as próprias mãos que agora descansavam em seu colo. Um suspiro saiu ruidoso de seu nariz e ela começou a falar calmamente.

- Cuida do Hyukjae. Por favor.

Eu a encarei surpreso pela escolha de palavras, mas ela apenas continuou como se eu não estivesse ali.

- Ele pode ser um teimoso e acabar dizendo que é auto-suficiente e tudo o mais, mas eu o conheço. – ela me olhou com os olhos mais brilhantes que o normal e sorriu – E sei que ele precisa de alguém que cuide dele. Ensina ele a falar coreano, ai ele pode finalmente realizar o sonho barra promessa que fez a mãe dele de ir para a Coréia.

Eu ri soprado e um tanto desanimado com o que ela dizia. Já meu namorado apenas concordava com suas palavras e acarinhava minha mão junto a sua aquecendo-me por dentro. Após uma pausa maior que o comum para respirar, Ana continuou.

- Cuida dele, por mim. Mas, cuidado para não mimá-lo tanto, pois afinal ele consegue ser tal qual uma criança quando quer. – ela mostrou a língua enquanto sorria – Mas além do amor e carinho que recomendo que de a este mestiço filho da mãe... Faça todo o sexo que conseguir com ele também.

Não pude deixar de rir um pouco com as palavras ditas por ela.

Mesmo em um momento desta ela ainda insistia em dizer de forma tão descontraída quanto fosse possível para que Hae e eu fodessemos como se não houvesse amanhã. O garoto de sorriso fácil corou, mas aceitou e concordou com o que a baixinha lhe impusera. Ela sorriu satisfeita e se dirigiu a mim.

- Só quero que você me prometa uma única coisa Hyuk.

Queria dizer que não prometeria nada se isto a fizesse permanecer comigo. Queria poder sair dali e buscar refúgio no colo de minha mãe. Queria poder trocar de lugar com minha pequena de cabeça velha demais, mas apenas concordei e indiquei que ela dissesse o que queria. Afinal, eu nunca seria capaz de lhe negar nada.

- Quero que siga em frente. Não vou pedir para que prometa me esquecer, afinal isto seria injusto com nós dois, mas não quero que se prenda a uma lembrança. – suas palavras eram firmes apesar das lagrimas que desenhavam seus olhos – Quero que você seja feliz Hyukjae, mesmo que eu não esteja aqui.

Mordi o lábio inferior com força enquanto apertava a mão de Donghae. Senti uma onda de fúria me invadir e não soube o motivo. Meus olhos quase se inundaram mais uma vez, porém nada pude fazer a não ser controlar as lagrimas antes que estas saíssem. Ana mantinha os olhos sobre mim em expectativa de minha resposta, a qual não consegui formular verbalmente sem que minha voz saísse tremulante e errônea, então apenas concordei em um aceno breve de minha cabeça fazendo com que os fios de meu cabelo caíssem sobre meus olhos.

- Ótimo. – ela declarou com a voz um pouco embargada – Agora... Tenho só um pedido.

A olhei curioso, mas ela encarava suas mãos que apertavam com força os lençóis que a cobriam. Seu rosto estava corado e a vi murmurar algo como se considerasse uma idéia, mas logo balançando a cabeça para os lados a fim de afastar os possíveis pensamentos contraditórios que tivera. Ela era tão fácil de ler. E ao mesmo tempo, tão complexa.

- Hyukjae. – ela me chamou a atenção – Eu gostaria que... Meu primeiro, e ultimo beijo... Fosse o seu.

Meus olhos se abriram em surpresa e até mesmo cogitei a idéia de que ela estivesse brincando comigo, mas seus olhos sérios nos meus me faziam riscar qualquer coisa do tipo de minha mente. Franzi o cenho enquanto a coloração no rosto de minha pequena só aumentava. Olhei o moreno ao meu lado e este apenas sorriu suavemente enquanto acenava breve com a cabeça concordando com o ato que eu deveria tomar. Voltei-me então a menina de olhos tão bonitos e sorri lateralmente como sempre fazia com ela.

- Claro minha pequena.

Minha voz saiu rouca e embargada como eu imaginei que sairia, mas ainda assim apenas respirei fundo e me aproximei de Ana. Segurei seu rosto pequenino com delicadeza usando uma de minhas mãos e a vi fechar os olhos em expectativa. Sorri choroso e me aproximei mais, primeiro roçando meu nariz de leve no dela e então selando nossos lábios. Fiquei ali certo tempo, dando alguns selos seguidamente em sua pequena boca delicada e a senti sorrir contra meus lábios. Retribui o sorriso e me afastei.

Ela ainda ficou com os olhos fechados por um tempo, mas levou os dedos aos lábios os encostando de leve e sorrindo lindamente. Senti um dos braços de Donghae ao redor de meus ombros e passei o meu por sua cintura. Ana voltou a abrir os olhos e sorriu abertamente ao nos ver abraçados daquela forma. Depois de um ‘awn’ solto por ela, fomos praticamente expulsos dali por aquela baixinha severa.

Eu tentei argumentar, dizer que queria ficar ali ao seu lado, mas tudo o que disse foi em vão. Ela e suas palavras tão simples e ao mesmo tempo rebuscadas demais mandaram a mim e meu namorado sairmos dali. Disse que precisávamos começar a viver desde já e não ficar a mercê de uma garota que estava com os instantes contados. Por mais que eu tentasse falar qualquer coisa, minhas palavras foram totalmente recusadas, tanto por ela quanto por Donghae, que cumprindo sua promessa recém feita acabou por me puxar dali, mas não sem antes que a abraçássemos.

Ironicamente ela acabou por nos dizer um ‘até breve’ como se fossemos nos ver dali algum tempo. No fundo de meu coração eu esperava que isto fosse verdade, ansiava para que pudéssemos nos ver novamente dali um tempo, e esperava que este fosse curto, mas em minha cabeça, eu sabia que estas esperanças eram inúteis ao se tratar dos acontecimentos recentes. Saímos do quarto e Hae praticamente me carregava dali.

Meu corpo todo doía, meus olhos queimavam e minha garganta, assim como meu peito, estava apertada. Não soube dizer quando saímos do hospital ou em que momento chegamos a minha casa, mas quando dei por mim, estava finalmente chorando como tanto ansiava nos braços de meu namorado.

Soluços se rompiam por entre meus lábios e me tiravam o ar conforme eu tentava respirar. As lágrimas saiam desesperadas e queimavam meus olhos ao ritmo que lavavam meu rosto e a camiseta do coreano que afagava meus cabelos. Eu não queria perder minha amiga. Não queria ter a deixado daquela forma naquele quarto de hospital. O medo me consumia por dentro, mas no momento em que meu celular começou a tocar incessantemente em cima da mesa de cabeceira de meu quarto, eu soube que já não havia mais volta.

E então meu choro apenas se intensificou. E eu roguei pragas a todos os deuses inexistentes daquele lugar, praguejei a altos brados e chorei muito mais do que jamais imaginei ser capaz. Minhas mãos apertavam a camiseta encharcada de Donghae fazendo os nós de meus dedos ficarem brancos. E eu queria gritar aos quatro ventos para ver se aquele nó em minha garganta sumia. E assim o fiz. Gritei contra o peito de meu namorado até que eu ficasse rouco e a dor em minha garganta fosse temporariamente maior do que a dor que se instalara em meu peito.

E eu chorei. Chorei até ficar sem ar. Chorei até não conseguir formar palavras conexas. Chorei até a exaustão de meu corpo ser maior do que minha vontade de xingar o mundo e eu acabar dormindo nos braços de meu amado. Não sei por quanto tempo dormi, mas acordei em minha cama, sozinho.

Sentei de uma vez no colchão e olhei assustado para os lados. Depois de alguns minutos naquela posição, Hae entrou em meu quarto com uma xícara de algo fumegante e me entregou sorrindo de lado. Aceitei prontamente o que me era oferecido, mas o puxei para ficar perto de mim. A última coisa que queria naquele momento era ficar só. Aconcheguei-me em seu peito e senti as lágrimas descerem por meu rosto mais uma vez conforme o liquido quente que ingeria descia por minha garganta.

- Você vai querer ir ao velório?

A voz grave e marcada em um sotaque forte ressoou pelo quarto em minha direção. Apenas neguei veementemente com a cabeça. Não queria que minha ultima lembrança de minha pequena Ana fosse a de ela deitada em um caixão no sono eterno que a tirou de mim. Declarei isto em voz alta para que meu namorado ouvisse e apenas escutei um murmúrio de concordância em resposta. Ele aparentemente também não gostaria de ir àquele local. Aninhei-me mais uma vez em cima de seu peito quente e aconchegante e depositei a xícara, agora vazia, no criado mudo.

- Hae. – falei baixo, mas sabia que ele me ouvia – Eu te amo.

Não precisei dizer mais nada quando seus braços me apertaram fortemente junto ao seu corpo. Sabia que ele havia me entendido. Sabia que o que eu havia feito era necessário para que eu ficasse em paz, pois agora mais do que nunca, eu tinha medo de perder as pessoas sem que elas soubessem o quanto eu as amava, assim como havia acontecido com minha pequenina Ana.

 

                                                                             - _ - _ -

 

 

A manhã seguinte se iniciou fria e cinza como todas as manhãs em Londres.

Encarei-me no espelho, e apesar das horas de sono recuperado, eu ainda mantinha olheiras fundas em meu rosto. Nunca imaginei que usaria um terno alguma vez na vida, mas ali estava eu, usando um simples, mas elegante terno preto. Meus cabelos estavam soltos e bagunçados como eu gostava de usar e quebravam um pouco a seriedade do visual.

Suspirei dolorido e apertei a mão sobre o peito tentando retirar de lá a dor que sentia, mas obviamente, sem obter nenhum sucesso.

Sai dali tentando não pensar muito mais no que estava prestes a fazer e fui a pé mesmo até o pequeno cemitério daquele bairro tão gelado. Cheguei lá rapidamente e logo encontrei Donghae, minha mãe e o pai de minha pequena. Cumprimentei os mais velhos e abracei meu namorado ficando um tempo nos braços dele. Ele estava tão lindo usando um terno clássico, que faria questão de dizer isto a ele quando saíssemos dali.

Eu, juntamente com o pai de minha amiga e outros dois homens que não recordava conhecer, seria responsável por carregar o caixão. Pensar naquilo me doía à alma, mas fiz o necessário. Então, quando estávamos todos juntos, poucos familiares e um número ainda menor de amigos, ouvimos o padre falar algumas palavras bonitas sobre Ana, mas que se a própria escutasse provavelmente diria que tudo aquilo era brega e clichê demais. Ela diria que seria melhor que tocassem algum tipo de rock clássico, como The Beatles ao invés de ficar ouvindo choros e palavras desnecessárias demais.

Sorri de como aquela baixinha era diferente de todos. E no momento que me passaram a palavra, fiz exatamente o que sabia que ela gostaria que eu fizesse. E, meio torto, com a voz embargada e olhos cheio de lagrimas, cantei baixo e desafinado algo que há muito eu deveria ter dito a minha garota.

“Anna, girl, before you go now,

 I want you to know now,

That I still Love you so”


Notas Finais


"All of my life
I've been searchin' for a girl
To love me like I love you
Oh, now... but every girl I've ever had
Breaks my heart and leaves me sad
What am I, what am I supposed to do?"

https://www.youtube.com/watch?v=DVJwwLcV3KY


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