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História Forjado em Sangue - Prólogo - Parte 2 de 3


Escrita por: OElessar

Notas do Autor


Bem, fico feliz de ter gente acompanhando. Espero que gostem dos capítulos de hoje...

Capítulo 2 - Prólogo - Parte 2 de 3


21 de abril de 1792, Rio de Janeiro 

 

   Raios de sol tombavam por entre os vitrais, tomando o feitio dos adornos que regiam o ambiente. No vidro tingido, uma águia adejava, seus olhos amarelados irradiando calidez. Podia-se ver claramente os contornos de luz adentrando a pequena sala, através de tais figuras, e recaindo sobre o manto de um homem pesaroso. 

   O lugar assemelhava-se à uma igreja, fosse pelos vitrais, as torres, o altar ou o homem que se prostrava de joelhos sob o mesmo. E, embora as páginas gastas de um velho tomo estivessem sob seu estudo minucioso, nenhuma daquelas palavras advinha das Sagradas Escrituras. O manto bege que recaía sobre seu corpo arruinado, embora recordasse as vestes da Santa Igreja, expunha sua fé a outro credo, mesmo que sua crença pessoal se encontrasse sob a bênção do mesmo Deus. 

   Lágrimas vertiam por sua face, lágrimas de dor e sangue. Por vezes, fez o sinal da cruz, tomando em mãos o amuleto que trazia ao pescoço. E seus lábios proferiam o Pai Nosso, muito embora sua Fé estivesse abalada, e sua crença em Deus oscilasse. Clamava por socorro, por um auxílio celeste, muito embora tivesse conhecimento de que não era digno da graça de um milagre. Muito sangue estava em suas mãos. Sangue inocente, casto, puro. Muitos pecados haviam cravado presença em sua vida, muitos mais do que seria aceitável. Desrespeitara os Mandamentos, por inúmeras vezes. Negara as verdades. E, agora, estaria Deus enviando sua punição? 

 

   — Que o ímpio abandone o seu caminho; e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se ele para o Senhor, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois ele dá de bom grado o seu perdão. 

 

   Sua voz ecoou pelas salas. Outrora, vozes humanas clamariam e ribombariam seus dizeres. Outrora, seus irmãos clamariam com ele. Agora, tudo que ecoava eram suas próprias palavras, e as vozes dos demônios, que segredavam sacrilégios em sua mente. 

   Chorou, chorou como uma criança, e abriu seus braços aos céus, buscando não redenção, mas conforto. 

   Foi então que as portas se abriram num estrondo, e a câmara tornou-se tórrida de imediato. Era como se o próprio Satã caminhasse sobre os tapetes escarlates, se aproximando mais e mais, o sangue escorrendo por suas mãos. Trazia a boca aberta num uivo silencioso de dor, com os dentes cerrados, e um capuz sobre os cabelos, ocultando a face. 

   Nas mãos, sua lâmina, uma espada negra, que tombou sobre o mármore num agudo guincho de pavor. 

   E fitaram-se, os olhares erguendo tensão, banhados pelas lágrimas que escorriam por suas faces. Nada precisava-se dizer. O sangue, as portas abertas, o salão vazio, tudo revelavam. 

   — Perdoa-me, Rodolfo. — suplicou o rapaz, vacilante. Seus joelhos feridos tocaram o chão, e ele tombou, como um fiel. — Perdoa-me, irmão. 

   O choro jamais aliviaria as angústias. O perdão jamais apagaria os erros. A morte jamais pagaria pela morte. 

   E Rodolfo baixou a cabeça sobre seu livro, evitando os olhares do outro. 

   — Tu falhaste? 

   Houve um momento de quietude, e nada mais era necessário que se dissesse. Ainda assim, o Assassino abriu os lábios e deixou que sua voz rouca escapasse por eles uma vez mais. 

   — Sim. Diogo vive. O Grão-Mestre vive. 

   Os dedos do jovem mestre se fecharam, e ele se ergueu. Teriam as orações sido em vão? Concebia sua falta de merecimento, mas toda uma nação merecia ser punida por seus erros? 

   Esmurrou a mesa, quebrando-a num único golpe. Ela tombou sobre o altar, o livro caindo, fechado, sobre seus restos. 

   Seus dedos se contorceram em ângulos impossíveis. Não importava. Já não os usaria. 

   — E Tiradentes? 

   — Morto. 

   Rodolfo ousou soltar um sorriso nefasto. Contrariava suas crenças de bondade obter prazer pela morte alheia, mas prometeu-se que aquela seria a única vez. A única

   Enfim, o irmão aproximou-se. Se, segundos antes, assemelhara-se ao próprio Satã, agora não passava de um homem em frangalhos, com os olhos de um garoto desesperado. Rodolfo imaginou que não deveria estar muito diferente. Por um segundo, quando se fitaram novamente, sentiu que estava observando o próprio reflexo. 

   Eram irmãos, não apenas irmãos de Credo, mas de sangue. Nascidos do mesmo ventre. Algo que deveria uni-los para sempre. Por mais que condenassem os próprios erros, a ira era inexistente entre os irmãos. Tudo que havia era arrependimento mútuo, e a mais profunda das tristezas. Mas, muito embora fosse mais fácil que um culpasse o outro, ambos sabiam que jamais fariam algo do tipo. 

   Eram irmãos, sangue do mesmo sangue, e isso os uniria para sempre. 

   — Onde está o Mentor? — Ermírio hesitou ao indagar. Temia já saber a resposta. 

   Houve um curto olhar de Rodolfo para os arredores. Um olhar de dor. E, enfim, o Assassino percebeu o sangue que tingia seu manto. 

   — Tomás está morto. 

   — Então...? 

   — Sim. — respondeu Rodolfo, antes que o outro encerrasse a pergunta. Estava ciente de qual seria seu desfecho. — Agora, eu sou o Mentor. 

   Ermírio se calou, estarrecido. Era um baque. Levou a mão direita ao peito, e insinuou ajoelhar-se. 

   — Eu deveria...? 

   — Nós deveríamos rezar, Ermírio. — disse Rodolfo, passando por ele devagar, e dirigindo-se aos portões. — Rezar, e nada mais. 

   Enquanto caminhava pelos corredores que se seguiram, calado, Rodolfo não podia deixar de questionar-se. Agora, estavam além de qualquer perdão, além de qualquer volta. A Missão estava perdida. O Inimigo vencera. 

   — Que Deus tenha piedade de nossas almas. — Sussurrou, puxando seu próprio capuz sobre a cabeça e deixando a Catedral, derramando lágrimas pelos irmãos que se foram. 

   Logo, naquele dia, ele assinaria a própria sentença de morte. 


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Por favor, contribuam com feedbacks nos comentários! :-D


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