Andava ao lado dele. Seus lábios tremiam com o frio. Eu sabia que ele estava com raiva, sabia que as coisas estavam tensas em casa, sabia muito, mas ao mesmo tempo pouco.
- Tá com frio? – Ele disse parando em um local da rua e pegando seu cigarro.
Ele levou-o até a boca e o acendeu.
- To bem. – Sorri sem jeito.
- Eloá. – Ele soltou a fumaça do cigarro no ar. – Sobre aquele garoto, o Tyler, você precisa tomar cuidado com ele. Ele não é o que parece.
- TJ. – Revirei os olhos e sorri. – Isso são ciúmes?
- Não. – Ele bufou. – Eu to aqui a bem mais tempo que você, conheço cada fedelho dessa cidade, e acredite quando eu digo que o Tyler não será um bom namorado.
- Tá viajando. – Passei a mão por meus cabelos nervosa. – O Tyler nunca sentiria atração por mim. Digo, olha pra mim, não tenho nada a oferecer.
Abaixei a cabeça envergonhada pelo olhar fuzilante dele.
- Nunca mais fale isso. – Ele disse jogando o cigarro no chão e pisando em cima. – Você tem mais valor do que imagina.
- Diz isso porque é meu irmão. – Dei de ombros.
- É. – Ele falou irritado. – E deveria cobrar ouvir isso de qualquer garoto. Por favor, Eloá, tenha cuidado com o Tyler.
Ele falava entristecido, como se estivesse sentindo que algo ruim iria acontecer. E isso me assustava.
- Pode relaxar. – Sorri e fui abraça-lo, não eram muitos os nossos momentos de carinho. O TJ era um pouco seco pra essas coisas.
Seu celular tocou, ele olhou o visor e atendeu em seguida.
- O que é? – Ele disse bruto. – Não, mãe. Só volto pra essa casa quando o papai aceitar minhas escolhas... Não tem desculpas o que ele fez... Ah, é? Pergunta a ele como é ter uma garota bem mais nova que você na cama dele.
Ele finalizou a ligação e guardou o celular enfurecido no bolso.
- Por que tinha que ter dito isso? – Falei irritada. Ultimamente os maiores motivos de briga em casa era a suposta traição do papai que o TJ “descobriu”, e a relação acalorada dos dois.
- Acredite em mim. – Ele disse cansado. – O papai trai a nossa mãe.
- Com quem? – Gritei já com lágrimas.
Ele me olhou e abriu a boca como se fosse falar algo, mas a fechou logo em seguida.
- Eu não posso. – Ele sussurrou.
Ele nunca podia. Nunca me contava nada.
O papai bateu em sua face durante a ceia, e ele saiu de casa como se fosse matar alguém. Eu fui a única que veio atrás. Isso não era certo, pelo menos na noite de natal eles deviam tentar se dar bem. Ele nem se quer me falou o motivo da tapa.
- Vem. – Ele pós o braço sobre meus ombros. – Você vai congelar nesse frio. Vamos pra casa.
- Tá. – Falei chateada.
Voltaríamos para casa e ele fingiria que esta tudo bem, mas de madrugada, quando todos forem embora ele e o papai irão brigar e gritar um com o outro, falarão coisas que magoam, enquanto eu e a mamãe apenas ouvimos. É assim, sempre é assim.
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