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História Fragmentos - Identidade


Escrita por: sayeran

Notas do Autor


OIOI <3
Como vocês estão? Espero que bem!
Acredito ser incapaz de dizer o quanto estou feliz por estar trazendo mais um capítulo, no qual eu tanto trabalhei para que ficasse pronto, e também por hoje ser o aniversário da minha melhor amiga, a qual eu chamo de irmã, que sempre que pode, acompanha as atualizações e me dá muito apoio! :3
Bem, o capítulo marca o início dos principais acontecimentos do enredo, então fiquem atentos aos detalhes!
Espero que essa pequena demora seja compreensível, e que também seja compensada. #BoaLeitura! ><

Capítulo 6 - Identidade


Fanfic / Fanfiction Fragmentos - Identidade

 

As finas gotas que desciam do céu noturno anunciavam seu desalento, e de modo constante, insistiam em derramar-se sobre o corpo de Baekhyun, que permanecia parado sob a chuva, sem importar-se de estar sendo molhado por ela; tudo o que havia em si era a urgência e a ansiedade de saber o nome por trás daquele que estivera ao seu lado desde que chegara ao hospital, do enfermeiro cuja presença era capaz de acalmá-lo como uma brisa suave que surgia após a tempestade.

“Seu nome! Eu ainda não sei o seu nome!” 

Alguns segundos haviam se passado desde o instante em que encontrara o olhar de Baekhyun sob a chuva, mas Chanyeol permanecia com os olhos fixos naquela cena, enquanto as palavras ecoavam em seus pensamentos como um som capaz de paralisá-lo. Apesar do silêncio dos seus lábios, permanecia envolto em seus próprios pensamentos, perdido no emaranhado de sentimentos que lhe transpassavam desde o momento em que o paciente, de modo inconsciente, dissera seu nome pela primeira vez; e junto à isso, lembranças da casa de Baekhyun faziam-no questionar seu próprio passado e a possível ligação existente entre eles. Qual era a verdade por trás do fato de que o seu nome era o único fragmento das memórias de Baekhyun? Ele temia as consequências de revelar a verdade sobre a sua identidade e o que isto poderia desencadear na saúde do paciente, porém, em contrapartida, seu coração perguntava também: até quando deixaria que o medo o dominasse?

Não era capaz de responder a si mesmo, apenas sentia que seus pés moviam-se inconscientemente, pois nas extremidades de sua confusão, lembrou-se da fragilidade da saúde de Baekhyun, do seu corpo molhado e vulnerável, seguindo rapidamente até o paciente para colocar o guarda-chuva sobre ele.

- Baekhyun, por que saiu do seu quarto? Você não pode pegar essa chuva! – Fora brevemente molhado enquanto retirava desajeitadamente o casaco de si próprio para colocá-lo sobre Baekhyun, que respirando fundo a fim de controlar o tremor que percorria seu corpo, segurou a camisa de Park com ambas as mãos úmidas e gélidas para olhar em seus olhos.

- Porque eu preciso saber o seu nome! Mesmo estando ao meu lado, você nunca o disse para mim. – A incerteza era evidenciada na urgência de seu ato, e nos traços de seu olhar, o espelho de sua alma mostrava que Park era muito mais do que apenas uma presença em sua vida, e que até mesmo um simples nome era essencial para que o sentisse mais próximo de si.  

- Meu nome? Por que isso agora? – O sussurro hesitante saiu dos seus lábios ao indagar sobre aquela pergunta repentina, mas, com os olhares conectados sob o guarda-chuva que dividiam naquele instante, transformando aquele pequeno espaço em um mundo pessoal carregado de sentimentos invisíveis que somente ambos eram capazes de vislumbrar, esperava ouvir a resposta dos lábios do mesmo.    

- Eu estive pensando por algum tempo, mas não muito para perceber que nunca havia me dito o seu nome. – Baekhyun começara a falar, sendo incapaz de esconder o tom falho que acusava as lágrimas que brotavam em seus olhos, as quais tentara esconder ao desviar o olhar – Quando esteve aqui ou até na sua ausência eu quis chamá-lo, mas simplesmente não sabia qual o nome certo que o faria vir até mim. Eu senti esse repentino desespero por desconhecer seu próprio nome. Sabe… Será que se eu apenas soubesse, seria o suficiente para mantê-lo aqui comigo?   

Chanyeol ouvia silenciosamente aquelas palavras, deixando que ele dissesse tudo aquilo que estava preso dentro de si, no âmago de seu desespero, e apesar de estar com a cabeça baixa enquanto proferia tais palavras, suas mãos seguravam firmemente o tecido da camisa de Park, que sentia, naquele momento, toda a instabilidade que o paciente lhe causava, as sensações que seu olhar lhe trazia, o instinto de querer protegê-lo; e sem conter as suas emoções, tomou o corpo alheio em seus braços. Baekhyun permitiu-se aconchegar no calor de seu corpo e entender através daquele ato que a solidão que assolava sua existência, estava sendo preenchida.   

Sentia parte de seu corpo sendo molhado pela falta do guarda-chuva que o cobria apenas parcialmente, mas sua atenção estava voltada ao corpo molhado do pequeno envolvido em seus braços, no modo como este respirava fundo para controlar as lágrimas, aproximando-se de seu ouvido para dizer com sua voz calma:    

- Mesmo que não saiba o meu nome, eu ainda saberia o seu e através disso, seria capaz de chamá-lo. – Ele não sabia ao certo de onde surgiram aquelas palavras, mas tinha certeza ao dizê-las. Baekhyun levantou o olhar e ao exibir o brilho em sua íris, mostrava-se visivelmente surpreso. Os fios escuros caíam sobre a testa, fazendo com que Chanyeol levasse uma das mãos ao seu rosto para tirá-las lentamente conquanto seguia com as suas palavras – Baekhyun… É assim que eu o chamaria. – O nome saiu dos seus lábios em um sussurro, como se aquele nome fosse um segredo que somente ambos compartilhavam, e Baekhyun, permanecendo imóvel, buscava controlar sua agitação interior pela aproximação e pelas sensações transmitidas por sua voz – Quanto ao meu nome… Eu vou dizê-lo, mas você precisa voltar para o hospital e tirar essas roupas molhadas, antes que a sua saúde piore.   

Chanyeol colocou seu braço em volta dele após vê-lo assentir em concordância, guiando-o em direção ao hospital. Apesar do silêncio ao caminharem juntos, Baekhyun sentia-se aliviado como todas as vezes, tal pela tranquilidade que o enfermeiro transmitia-lhe com a simples presença e com as suas breves palavras.

Com o corpo trêmulo pelo frio, o ar gélido que Baekhyun podia notar no exterior contrastava com o seu interior, que apesar da ansiedade, sentia seu coração aquecido pela proximidade do enfermeiro, sem saber que ao seu lado, Chanyeol sentia-se da mesma forma, apesar de não compreender ao certo o porquê dessa sensação.    

Os olhares preocupados das enfermeiras que deram por falta do paciente foram direcionados a ambos quando adentraram o hospital, e com sua característica tranquilidade sendo abalada pela pressa, o enfermeiro dissera-lhes que cuidaria do paciente, levando-o novamente para o seu quarto. Encontrara ali toalhas e roupas secas, e enquanto seguia como seus movimentos, pegando-as em suas mãos, um silêncio incômodo fizera-se presente no ambiente, cada qual envolto em seus próprios pensamentos e preocupações; Chanyeol, na incerteza do que teria a dizer, buscando conter seu próprio receio e Baekhyun, esperando de forma paciente, ainda que ansiosamente, saber a verdade. Park lhe entregara as peças de roupas secas e virando-se, esperou até que este se trocasse. Contudo, um erro de cálculo quanto ao tempo que o paciente levaria para trocar-se, fez com que voltasse seu olhar antes da hora, visualizando suas costas expostas, enquanto ainda ajeitava a parte superior da roupa hospitalar.    

O anseio de tocá-lo fez-se presente em seu âmago como uma chama crescente pelo simples ato de olhar para o seu corpo; mas, além do desejo de sentir a pele macia sob seus dedos, estava ali algo que não compreendia, e então, a confusão o tomou naquele momento: duas marcas semelhantes a cicatrizes estavam presentes na região, paralelas entre si, em um formato distorcido, porém próximo do ‘V’. Franziu o cenho, mas antes que pudesse proferir qualquer palavra diante à sua perplexidade, Baekhyun terminou de vestir-se, virando-se novamente e exibindo um olhar que passava de surpresa à constrangimento, visivelmente confuso sobre o tempo em que Park esteve a observá-lo.    

- Ah, bem… – Chanyeol pronunciara em uma tentativa de esconder seu próprio constrangimento, assim como sua perplexidade, não obtendo muito sucesso em seu ato – Sente-se na cama. – Estendeu seu braço indicando o local, vendo o menor seguindo o que fora dito e sentando-se sobre a cama, antes de desviar o olhar por alguns instantes para controlar a agitação em seu interior.    

Encaminhou-se até ele com uma toalha seca em mãos, colocando-o sobre a sua cabeça para secar os fios ainda molhados, e enquanto seguia com os movimentos, sentiu as mãos de Baekhyun alcançarem as suas e novamente, terem seus olhares conectados em meio ao silêncio; um ato que fazia-o entender que já não adiantava esconder seu nome daquele que estava à sua frente. Chanyeol entendeu seu pedido silencioso, e afastando-se lentamente, deixou que um suspiro saísse e ecoasse no ambiente, enquanto um sorriso falho surgia em seus lábios. Então, a tensão instalou-se no coração de ambos assim que abrira novamente os lábios.    

- Eu me chamo Park Chanyeol.    

Desde que escondera sua identidade, temendo as consequências que isto poderia causar, não imaginara que revelaria a verdade. Mas, o momento chegara e à sua frente estava Baekhyun, que sentindo qualquer reação programada por sua mente ser totalmente tomada de si, levou a mão ao seu coração, que até então batia normalmente, sentindo-o congelar como se ainda estivesse sob a chuva gélida.   

- Cha-Chanyeol… – Uma sensação de não pertencer ao mundo repentinamente tomara os seus sentidos. Emoções, sensações, sentimentos e pensamentos diversos invadiam seu interior, e apesar de repetir o nome diversas vezes, não era capaz de acreditar que o único fragmento existente de suas lembranças agora tomava forma: a forma do enfermeiro à sua frente – Eu não posso acreditar…  

- A verdade é que eu temi as consequências que isto poderia causar em seu estado, já que não sabemos o que ocasionou sua perda de memória, mas também não sabia se esse nome realmente referia-se a mim. Quer dizer, tudo isso é tão difícil de entender… – Iniciou suas falas, visivelmente confuso e temeroso, dando-se conta de que Baekhyun permanecia absorto em seus próprios pensamentos.    

- Desde aquele momento em que eu te vi pela primeira vez, eu senti que era especial. – Lágrimas silenciosas percorriam a face de Baekhyun em um misto de emoção e esperança, como se as peças de sua desconhecida história começassem a encaixar-se uma nas outras, e mesmo sem questionar, Chanyeol sabia que ele referia-se ao momento em que este entrara no hospital, quando seus olhares cruzaram-se e repentinamente toda a dor na face do paciente, parecia ter sido dissipada – E-eu não sei porque um único nome permaneceu em minha mente apesar de toda a minha memória ter desaparecido, mas deve haver um motivo muito importante para isso.    

Naquele momento, Chanyeol lembrou-se do questionamento que sempre insistia em pairar sobre seus pensamentos: Quantas pessoas haviam com esse mesmo nome e qual era a possibilidade, entre milhões, que ele o encontrasse?   

- Eu não quis acreditar quando te ouvi pronunciar meu nome pela primeira vez, mas não posso mais negar essa ligação que existe entre nós. Por isso desejo saber a verdade por trás do nosso desconhecido passado. – Ele não acreditava em nada que ia além da razão, mas pela primeira vez, se permitiu acreditar na impossibilidade, nos sentimentos e na incerteza quanto ao caminho que teriam que percorrer dali em diante. Um suspiro demorado pôde ser ouvido de seus lábios ao virar-se, indo em direção à mochila que jogara em um canto qualquer da sala e retornando com o pequeno diário que pertencia à Baekhyun – Eu encontrei este diário onde acredito ser a sua casa, dentro do quarto. Foi assim que descobri o seu nome. – Estendeu-o na direção do paciente, mostrando seu nome escrito na primeira página que estava aberta. Baekhyun estendeu suas mãos para pegar o objeto, analisando-o cuidadosamente com o olhar, sentindo como se o seu coração fosse saltar de seu peito, antes de virar a primeira página – Espera! Não faça isso ainda. – Chanyeol pôs a mão sobre a sua antes que prosseguisse com o ato, impedindo-o de ver as páginas seguintes.    

- Eu imagino que o meu passado não seja bom, mas o quão ruim ele pode ser para que eu não leia sobre ele? – Seu olhar estava voltado para ambas as mãos sobre o diário, escondendo o temor que ele próprio sentia. Acreditava tanto em Park que não sentia a necessidade de questionar o porquê de ele acreditar que o nome escrito naquele diário era o seu, pois aquela tornara-se sua verdade absoluta a partir do momento em que ouvira ser chamado pelos lábios de Chanyeol.    

- Eu não sei o quão ruim pode ser. Eu não li nada além da primeira página onde está o seu nome, nem seria capaz de ultrapassar essa barreira da sua vida pessoal. – Retirou a mão lentamente, declarando através de seu ato que não sabia o que havia naquelas páginas, mas temia pela pior possibilidade. Não desejava ver o paciente sofrer por dolorosas marcas do passado, apesar da consciência de que, sendo belas ou trágicas, as marcas fazem parte da vida do ser humano – Eu só tenho medo do que está escrito e se isto irá te fazer sofrer, mas não posso impedi-lo de descobrir sobre o seu passado.    

Baekhyun analisava-o com o olhar, sentindo a sinceridade que emanava de Park, e sendo portador da mesma preocupação, fechou o diário, colocando-o de lado para levantar-se da cama e ir em sua direção. O enfermeiro sentiu seu rosto ser tomado pelas mãos macias e delicadas, seu olhar voltar-se para baixo pela diferença de altura, e na face de Baekhyun, um sorriso surgir em meio às lágrimas que haviam acumuladas nos cantos de seus olhos; lágrimas que transbordavam seu próprio temor diante às incertezas.    

- Eu também tenho medo do que pode estar escrito naquelas páginas, tanto que meu coração está trêmulo e incontrolável diante ao nervosismo. Mas, eu sei que você está aqui agora, Chanyeol, e eu tenho a certeza de que estará ao meu lado para segurar a minha mão quando eu não tiver forças.   

Chanyeol sentia seu coração tremular da mesma forma que Baekhyun descrevera o próprio, mas este carregava um desconhecido desejo de aprofundar o toque.  

Neste momento, recordou-se das estranhas sensações que foi capaz de sentir na primeira vez que seus olhares cruzaram-se, e apesar de acreditar que era fruto de sua mente cansada, o tempo que passaram juntos provou que, por mais que tentasse esconder-se de seus próprios sentimentos, o efeito que o paciente tinha sobre si; o forte desejo de protegê-lo e de cuidá-lo, fortificavam-se todos os dias, e em todos eles, esse era o seu único pensamento.    

- Eu estarei aqui por você. – Sentiu seus olhos perderem-se nos delicados traços do paciente, admirando inconscientemente sua beleza desconhecida, e no instante seguinte, seus lábios encontrarem-se em um beijo singelo e lento, demonstrando os sentimentos ocultos que ambos carregavam e que agora, pediam para serem liberados. O coração de ambos batiam incontroláveis, e até os lábios se separarem, tiveram a certeza de que era isso o que desejavam, apesar da consciência de Park acusá-lo sobre sua postura como enfermeiro.   

O rosto corado de Baekhyun não escondia seu constrangimento, e vendo aquela cena, Park não pôde deixar de sorrir, reprimindo a culpa que surgira pela ética que estava sendo abalada.  

- Descanse por hoje, porque não sabemos se a chuva vai ocasionar uma piora em seu estado. – Afastou-o apenas para deixar um leve selar em sua testa, assim como encontrar a beleza de seu olhar – Em breve estará recebendo alta, então não podemos deixar a sua saúde regredir. Por que não deixamos para ler o diário depois que sair do hospital?   

Aquelas palavras demonstravam muito mais do que ouvia, pois para Baekhyun, elas significavam que mesmo após a sua saída ele estaria ao seu lado, segurando a sua mão, como havia prometido.    

- Está bem, deixaremos para depois.  

Permitiu-se afastar do enfermeiro à contra gosto, seguindo para a sua cama a fim de descansar após tomar o medicamento que fora dado. Chanyeol deixou o ambiente, e mesmo após a sua saída, o sorriso permaneceu nos lábios de Baekhyun, apesar do turbilhão de sentimentos que era capaz de sentir dentro de si. Pois, maior do que qualquer preocupação, havia a certeza de que aquele nome ao qual permaneceu gravado em seus pensamentos, agora podia ser visto com os seus olhos, sentido com o seu toque e tocado com os seus lábios.  

    

(…)

 

A noite tingia o céu com seu tom escuro, e as nuvens que ali haviam dissipavam-se lentamente ao cessar da chuva, dando lugar à luz do luar que podia ser vislumbrada por entre elas. Chanyeol já não necessitava do guarda-chuva que antes carregava, e à passos lentos dirigia-se em direção à sua casa, onde estaria acomodado se Baekhyun não tivesse aparecido naquele momento. Sua mente era tomada pelos acontecimentos, por sua identidade revelada, pelo diário que o entregou e, sobretudo, pela sensação de seus lábios – motivo pela qual não se importava de caminhar lentamente, aproveitando a tranquilidade da noite para organizar seus pensamentos. Porém, entre elas, lembrara-se da mensagem que seu pai havia mandado, e ainda na metade do caminho, pegou o celular na mão para discar seu número, diminuindo ainda mais seu passo, em um ritmo tão lento que quase parou no meio da calçada, quando escutou-o chamando.   

- Pai? – O tom confuso saiu dos seus lábios com a sua indagação, no mesmo instante em que escutou a ligação ser atendida.  

- Chanyeol, meu filho! Quanto tempo! – A voz familiar surgira do outro lado da linha e em uma questão de segundos a confusão dissipou-se, fazendo-o assimilar quanto tempo havia desde a última vez que se falavam.    

A voz grave que agora perdurava em uma conversa, trazia lembranças que normalmente tornavam-se esquecidas. Park, que passou a viver sozinho desde que saiu de casa para seguir sua carreira, sentiu o conforto naquele instante ao lembrar-se do carinho dos pais que passaram a morar na América, mesmo à longa distância.    

Entre as palavras que eram proferidas, Park não se sentira surpreso ao escutar “Filho, eu tenho uma grande notícia para você!”, porque, em meio aos cálculos imaginários que fazia naquele momento, ele já sabia sobre a probabilidade de ouvir tais palavras, que vieram seguidas de “Eu sei o quanto se dedica ao seu trabalho e também sobre seu desejo de se tornar um médico. Ainda há vagas disponíveis aqui no hospital. É uma ótima oportunidade, já que poderá prosseguir com seus estudos aqui mesmo. Por isso, filho, venha para a América!”.    

Um suspiro lento e profundo saiu de seus lábios. Sua mão inquieta ainda buscava ser acalmada ao tocar em seus fios escuros, seu olhar percorrendo as linhas visíveis na calçada; todos os mínimos detalhes pareciam atrativos aos seus olhos, que buscavam algo além de sua falta de palavras diante às do seu pai.    

- Eu agradeço mais uma vez, pai. – Disse, lembrando-se também das vezes em que escutara tal pedido desde que seus pais foram para a América, onde o seu pai, sendo um grande médico, decidiu continuar a sua longa carreira – Mas eu não pretendo ir embora daqui.  

- Mas, filho, é uma ótima oportunidade! – Insistiu, demonstrando a preocupação que sempre sentiu por seu único filho – Não há nada que te prenda à Coreia.  

Pressionou seus lábios na tentativa de reprimir suas falas, pois apesar da saudade que era capaz de sentir apertando seu coração, haviam motivos que iam além das vantagens que ele teria ao ir para outro lugar. Seu jeito independente o impedia de aproveitar-se das boas oportunidades que surgiam pela profissão de seu pai, decidindo buscar seus objetivos por si próprio, com seu próprio esforço; mas também, gravado em seu coração, havia a promessa de que estaria ao lado de Baekhyun, segurando sua mão.  

- A única coisa que posso fazer é visitá-los. – Respondeu simplesmente, deixando que a evidência da saudade que sentia fosse maior que seus próprios pensamentos e a culpa de, dentre a correria de seu cotidiano, não tirar do seu tempo para dar notícias – Dê lembranças a minha mãe!  

Seu pai compreendera seu desejo, mas isto não o impedia de tentar convencê-lo novamente quando tivesse oportunidade, e Chanyeol tinha consciência disto, afinal, seus pais continuavam os mesmos apesar da longa distância que os separavam. A diferença de horário dizia-o que onde eles estavam o sol iluminava o dia, mas no céu sob sua cabeça, a lua começava a surgir dentre as nuvens, assim como entre suas incertezas, o caminho ao qual deveria prosseguir ao lado de Baekhyun.  

  

(…)  

  

O som da chuva perdera sua intensidade à medida que suas gotas cessaram, dando lugar ao sol e, consequentemente, ao silêncio costumeiro que pairava nos corredores do hospital. Chanyeol retornara para o local assim que os primeiros raios invadiram respeitosamente o seu quarto, e seguindo por entre os corredores, permanecia absorto em seus próprios pensamentos, refletindo sobre o que havia acontecido dentro daquele quarto na noite anterior. Inevitavelmente, viu-se cada vez mais semelhante ao doutor Wu, que sendo incapaz de controlar seus sentimentos, deixou que um paciente, sem aviso prévio, adentrasse o seu coração.

Como se o destino o estivesse guiando naquele momento, encontrou-o com ZiTao já ao seu lado, enquanto saiam do quarto que antes o pertencia, como se através de seus olhares, um adeus estivesse sendo proclamado.    

Chanyeol aproximou-se do médico, e apesar de apoiá-lo em sua busca pela felicidade, não deixava de sentir-se temeroso pela arriscada decisão de percorrer um caminho incerto, onde deixava para trás sua profissão para estar ao lado de alguém cuja saúde estava ameaçada. As preocupações eram evidentes em sua face, mas o médico apenas lançou-lhe um olhar de que estava tudo bem.   

- Yifan, tem certeza do que está fazendo? – Olhou para trás, onde o paciente esperava pelo médico a uma curta distância, com seus pertences nas mãos – Você está ciente da situação de ZiTao.  

Um sorriso calmo adornou os lábios de Yifan, pois ele entendia a preocupação do enfermeiro. Mesmo que aos olhos dele parecesse loucura, para o médico era uma das melhores decisões que havia tomado. Estava disposto a não importar-se com futuro, a não ser aquele que estava escolhendo viver, que era ao lado de quem amava; e mesmo sabendo que sofreria uma hora ou outra, tinha a certeza de que cada segundo ao lado de Tao valeria a pena.    

- Sim, tenho absoluta certeza do que estou fazendo. Se tiver que sofrer, sofrerei sabendo que fiz a vida valer a pena enquanto tive tempo. – Chanyeol sentiu o toque em seu ombro, e ouvindo aquelas palavras, permitiu-se acreditar no lado belo da vida, na escolha que, apesar de arriscada, traria tantas coisas boas quanto se ele permanecesse no hospital.    

- Esse hospital ficará vazio sem você. Mas eu prefiro que seja assim, do que você sentir-se vazio se permanecesse aqui dentro. – Chanyeol olhou para os brancos e inexpressivos corredores à sua volta com a certeza de que ao cruzar aquela porta, o interior de Yifan seria mais belo e vívido, tingido por seus sentimentos que ele mal conhecia, mas que sabia que eram belos.  

- Você também. – As palavras do médico tomaram sua atenção, e a princípio parecia ter perdido alguma parte da conversa ao distrair-se momentaneamente – Não tenha medo se tiver que tomar qualquer decisão. Pensar demais nos problemas, muitas vezes nos priva de encontrarmos a felicidade. E ela pode estar atrás da porta de um simples quarto de hospital.   

Os lábios de Chanyeol entreabriram-se, mas tornaram a fechar-se antes que sua voz saísse por entre elas. O olhar sugestivo que Yifan exibia por trás de seus óculos, indicava que já havia sentido a forma como os simples gestos de Chanyeol muito diziam sobre seu próprio interior. Não era necessário perguntar para saber que, apesar de não ter o nome citado, Baekhyun fazia parte daquele diálogo, fazendo-o questionar o quão visíveis eram os seus sentimentos.  

- Para onde você vai agora? – Buscou outro caminho para as suas palavras, usando a sua curiosidade para desviar-se do assunto assim que sentira seu coração tomar um ritmo descompassado com o simples pensamento que o levou a imaginar o rosto de Baekhyun.  

- Para onde a vida me levar. Desde que eu esteja com ele, o lugar não importa. – Ajeitou seus óculos e em seguida, olhou em direção a ZiTao, indicando suas palavras. O paciente retribuiu discretamente o olhar, até Yifan virar-se novamente para o enfermeiro para lhe dirigir a palavra – Eu ainda estarei aqui para vê-lo se tornar um grande médico.  

Chanyeol assentiu diante às suas falas, recebendo um abraço caloroso que não significava nada além de uma despedida que não sabia até quando iria durar. Quando se deu conta, estava observando os dois se distanciarem juntos, a felicidade sendo visível de todos os ângulos; e a visão que antes continha um médico trajado com seu jaleco adentrando o hospital, transformar-se naquela em que ele passa pelas portas com roupas comuns, mas com o coração carregado de um sentimento complexo e com a determinação da sua decisão.    

Retornou aos seus afazeres, e em seu caminhar, sentiu o peso de suas palavras tomar forma e o vazio pela falta de Yifan tornar-se perceptível assim que começara a organizar os prontuários de alguns pacientes que eram de Yifan, passando-os para a responsabilidade de outro médico. Em meio às folhas, os traços que ali haviam indicavam o estado de cada paciente, alguns instáveis, outros que já se recuperavam e aqueles que diante à melhora, em breve receberiam alta; sorriu inconscientemente ao ver que Baekhyun era um deles. Lembrara-se de seu estado quando chegara ao hospital, e como um filme que era exibido por sua memória, cada detalhe de sua melhora traziam-lhe a satisfação pela profissão que tanto amava.    

“Eu nasci e cresci nesta cidade, e foi aqui que decidi a minha profissão, para ajudar as pessoas deste lugar.” Suas próprias palavras vieram de encontros aos seus pensamentos, trazidas por memórias do passado.    

Caminhava em direção ao quarto de Baekhyun para dar-lhe as boas notícias de que apenas alguns exames finais seriam necessários para receber alta, e repentinamente, seu interior foi tomado por uma desconhecida aflição e o sorriso que antes adornava seus lábios desfez-se como areia nas águas do mar.

Pensou ser uma impressão causada pela confusão de seus sentimentos, mas seus sentidos alertavam-no, e quase a gritos, mandava-o apressar seus passos. A imagem de Baekhyun veio à mente, e já próximo ao quarto, abriu a porta abruptamente, esperando encontrar qualquer indício de perigo que houvesse; mas ao olhar o interior do ambiente, seu corpo moveu-se minimamente pela surpresa ao notar um homem próximo à cama enquanto observava Baekhyun sobre ela, envolto pelo sono. Diante à sua perda de memória, não havia como Baekhyun lembrar-se de qualquer pessoa que fazia parte da sua vida, mas isto não significava que essas pessoas esqueceram-se dele. Analisou-o com o olhar; a estrutura de seu corpo, a cor clara de seus cabelos, fazia-o ter a impressão de que já o vira em algum lugar, mas só quando este voltara seu misterioso olhar em sua direção, o enfermeiro conseguira lembrar-se vagamente.   

- Olá, eu sou o enfermeiro encarregado do paciente. Quem é você? – Apresentou-se formalmente, ainda que em seu interior a sensação de aflição tomasse seu coração em um ritmo acelerado ao perceber que ele era semelhante ao homem que vira em seu sonho. 

- Quem sou eu? Sou o guardião dele. – O sorriso que adornara seus lábios era como uma incógnita, pois mesmo diante de si, Park era incapaz de desvendar as verdadeiras intenções por trás de seu ato e de suas palavras.    

O fino tecido da cortina esvoaçava com o vento que provinha da janela aberta, como se o ser que estava parado à sua frente tivesse surgido do desconhecido, uma vez que até mesmo o silêncio que fez-se presente no ambiente, carregava o peso da sua presença; um peso que também era sentido no interior de Chanyeol ao tentar entender os questionamentos que pairavam intensamente entre a sensação de angústia que o dominava.

 

 

 


Notas Finais


E então, o que acharam? Deixei uma pequena tensão no final, mas faz parte HSUEKHS No próximo daremos continuidade, portanto, espero que possam esperar ansiosamente pelos tantos acontecimentos que os aguardam :3
Espero também que o capítulo tenha agradado, e muito obrigada a todos que leram e que acompanham a fic. Nos vemos nos comentários? <3 #xoxo


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