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História Fragmentos da Baia dos Naufragados. - A Sombra e a Estatueta


Escrita por: Mano_Eldrich

Notas do Autor


Conto novo! espero que se divirta lendo!

Capítulo 13 - A Sombra e a Estatueta


    Foi durante uma tarde de outono, que eu recebi um misterioso pacote, o carteiro havia deixado a entrega na recepção do prédio, uma caixa embrulhada num papel bege delicado, havia uma carta também. Ao chegar no meu apartamento eu rompi o lacre de cera da carta e a li com muito cuidado, ela era de um parente distante ao qual não conhecia, um tal de Nestor Pellegrini, ele havia morrido, e eu sou o único descendente conhecido, por isso foi deixado para mim a certos pertences que Nestor tinha pois ele não deixou um testamento.

    Desembrulhei a caixa com cuidado com medo de haver algo frágil dentro dela, era uma simples caixa de papelão, em seu topo estava escrito provavelmente com uma caneta tinteiro: Pertences de Nestor. A. Pellegrini, NÃO ABRA! Como o antigo dono não está mais entre os vivos abri sem pormenores. Havia uma antiga chave de cobre oxidado, a escritura de uma propriedade de campo e uma estatueta estranha, ela era feita de rocha escura, era uma representação de uma aranha com um torso humano e uma face furiosa, bufante, de olhos grandes ou arregalados e dentes cruéis. Uma coisa desagradável e feia com certeza, pude notar que haviam buraquinhos pequenos, ou melhor encaixes nas patas e mãos da estatueta, na carta dizia que era um porta incenso, eu não queria nenhuma dessas coisas, olhei novamente na caixa e notei que havia esquecido algo, um bilhete de papel, escrito pelo próprio Nestor, nele dizia que a estatueta deveria ser devolvida a propriedade onde foi encontrada, e como eu não queria ficar com tais objetos julguei bem conveniente esse bilhete estar lá e então assim o fiz, peguei a escritura e vi que a propriedade era um casarão velho próximo de Horseville, num vilarejo chamado Swampton, mas que na época em que a escritura foi feita, por volta de 1880 ou 1890 a vila se chamava Vale das Macieiras.

    Numa longa viagem de carro eu cheguei em Swampton num fim de tarde, com o céu começando a escurecer de fato, pelo que li sobre o lugar durante uma breve pesquisa, a vila mudou de nome após uma tentativa falha de transpor o rio para fazer um lago, boa parte do terreno alagou, transformando-o em parte do pântano cheio de poças e lagoas, a população de macieiras morreu dando espaço para os salgueiros que dominam a paisagem atual. Procurei me informar com os habitantes, porem eles eram ranzinzas e não falavam muito, sempre dando respostas ríspidas e curtas, claramente não gostavam da minha presença no pacato vilarejo, depois de encontrar um senhor minimamente simpático do qual se apresentou como Montressor, antigo caseiro da propriedade de Pellegrini, fui guiado pelo próprio pelas estradas de terra escura e húmida até a tal propriedade.

    Quando perguntei para Montressor o porquê de os camponeses não serem muito simpáticos, ele apenas me disse que não é comum pessoas virem para o vilarejo, nem mesmo turistas vinham para cá, talvez porque seja só uma vila pacata com casas de pedra e barro. 

    Ao encontrar a propriedade me deparei com uma velha casa sobre uma base de pedra, era grande e não chamava muita atenção, tinha por volta de dois andares, teto longo e triangular, algumas janelas estreitas uma vista para a vila. Montressor olhava para o céu de forma curiosa, olhou em direção ao mar que estava próximo e disse – Melhor você ficar por alguns dias, tem tempestade vindo e essa vai alagar muito. – Olhei para o mar também e vi ao longe uma nuvem colossal negra e chuvosa no horizonte, ela chegaria em pouco tempo, por isso pedi alguns mantimentos para no máximo uma semana, paguei uma quantia razoável e justa para Montressor, alguns pães e alguns frios seriam o bastante para aturar uma semana na velha casa. Peguei o meu carro e o estacionei na garagem que fica ao lado da casa, isso graças a ajuda de Montressor que me deu as chaves do casarão, quando sai para fora senti pequenas gotas caírem sobre mim, estava garoando, e a chuva ia se intensificando pouco a pouco.

    – Aqui está. – Montressor trouce os mantimentos que deveriam durar uma semana, levamos tudo para dentro da casa.

    Velha, empoeira e fora de moda, a casa era tudo isso e ainda mais um pouco, os moveis eram todos de madeira, o chão e de madeira escura e grossa, as paredes brancas e um tanto mofadas, tudo ali era gritantemente... velho. Havia logo na nossa frente um pedestal, era de madeira maciça, simples e apenas com um encaixe vazio, de alguma forma parecia que a estatueta deveria ser encaixada ali. Montressor não passou muito tempo dentro da casa e me deixou sozinho enquanto ele voltava para a residência dele sob a chuva forte. Eu aproveitei para ir até a garagem pegar a estatueta no meu carro, quando voltei para a sala de entrada eu me desloquei diretamente em direção ao pedestal a fim de encaixar a estatueta lá, ela se encaixou com perfeição, uma sensação estranha percorreu minha espinha, essa estatua era algo incomum, o pedestal só reforçava um estranho aspecto demoníaco e hediondamente diabólico da estátua, pois quanto mais eu prestava atenção, mais eu notava detalhes medonhos nela, o aspecto esquelético do torso humanoide, a base de crânios humanos esculpidos milimétricamente com um perfeccionismo vil, agora que ela estava no pedestal, eu comecei a sentir um nojo e uma raiva só de olhar para ela...

Ela não deveria existir.

    Desviei minha atenção para os suprimentos ali na mesa, eram apenas pão e frios, mas havia o suficiente para uma única semana, eu não tinha o que falar, tentei dormir para passar o tempo e funcionou, rapidamente peguei no sono.

    Vertiginosamente meus olhos se abrem, não sei quanto tempo passou, mas havia algo de frente para o pedestal, algo amorfo, mas ao mesmo tempo humanoide, algo escuro e translucido, era como uma sombra imensa que repousava sobre a estatueta. Tomei iniciativa e me levantei... e ela permaneceu lá, eu esperava que ela fosse desaparecer num piscar de olhos, mas não, ela continuava ali. Sem muito o que fazer eu fiz um sanduiche e o comi, a chuva estava ainda mais forte, uma ventania truculenta estapeava as arvores fazendo-as entortarem.

    Eu volto a dormir então esperando a tempestade acabar alguma hora, ou algum dia. Em meu despertar me deparo com um vulto passando na minha frente, a sombra que estava na estátua sumiu e isso é algo estranho de alguma forma eu sabia que eu deveria sair de lá, pois algo ruim poderia acontecer a qualquer momento. Assim eu saio da casa, a chuva permanecia cruel, gotas pesadas colidiam contra meu torso e minha cabeça estava muito escuro, abro o portão da garagem e lá estava meu carro, minha fiel saída dessa situação que estava começando a ficar estranha, sabe, não sou idiota de permanecer em um lugar onde coisas estranhas estão acontecendo, passou de duas, já estou fora.

    Rapidamente liguei o motor e dirigi pela estrada barrenta, um vulto estranho passa na minha frente, quase bati em uma arvore do lado direito da estrada, por sorte consegui fazer o carro voltar para o caminho, no entanto, o carro começa a pender para a direita em direção do mar, mas eu conseguia estabiliza-lo.

    – Hei! – Disse uma voz áspera como o farfalhar de folhas de outono, meu corpo petrificou-se imediatamente, havia alguém a mais no carro, não sei como, mas havia, permaneci quieto não iria responder, se o intruso fosse me matar que fizesse isso logo. a estrada começava a subir a muito acima do nível do mar, a estrada estava esculpida em um penhasco com queda direta para o mar, era difícil não olhar para o mar tempestuoso e é mais difícil ainda não pensar na possibilidade de cair e morrer afogado.

    – Você sabe que vai morrer? – o sussurro violento do vento chiou em meus ouvidos, uma mão se recostou sobre meu ombro, eu não saberia como descreve-la nem em mil anos, era uma coisa estranha, o toque daquela mão (se é que era uma mão!) era uma coisa muito menos tátil e mais emocional ou psicológica, era um peso, mas não era como um toque, era uma sombra que se recostava sobre meu ombro. Arrisquei responde-lo.

    – S... sim.

    – Eu até agradeço por ter devolvido minha estatueta para a casa dos Pellegrini, mas vou ter que mata-lo, uma pena, mas é assim que funciona, qualquer relato pode trazer os caras de capuz negro podem vir e dar fim na minha amada existência.

    Eu continuei dirigindo sem entender nada, porque aquilo dizia todas aquelas coisas? Eu não conseguia mover minha boca, então permaneci em silencio.

    – Continue dirigindo, logo eu chegarei até o ponto de encontro e estarei seguro, caso esteja se perguntando porque estou falando tudo isso para você, lembre-se você já está morto e morto não fala.

    Eu não sabia o que fazer e não tinha escolha a não ser permanecer dirigindo, meu corpo já havia aceitado o destino trágico reservado a mim, afinal eu era um homem morto. Mal chegamos no fim do penhasco e o carro é jogado para longe, o mundo virou uma espiral por alguns segundos, mas logo eu me percebo de cabeça para baixo no meio da estrada, coisa havia deslisado para fora do carro, meu carro estava todo quebrado, eu não tinha força para mais nada, a pancada foi forte demais eu acho que dormir um pouco, é a única coisa que posso fazer, mesmo que eu quisesse sair, não conseguia mover um dedo.

 

    Na manhã seguinte houve a noticia de que um homem teria morrido em um acidente de carro próximo a Swampton na estrada que levava a Horseville, provavelmente o carro foi virado pelo vento forte da tempestade, houveram relatos de uma figura encapuzada toda de preto teria comparecido ao local durante o acontecido e depois teria desaparecido com uma caixa em mãos.



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