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História Frankenstain - PAUSADA POR FALTA DE TEMPO - Inverno de 1776


Escrita por: Si1mari11ion

Notas do Autor


Que bom que já tenho os capítulos prontos, é só ir postando quando tiver tempo :)
Boa leitura :)

Capítulo 2 - Inverno de 1776


A tora era rachada em dois pedaços, prontas para serem usadas no forno a lenha ou nas lareiras que aqueciam a casa. Nunca viu nenhum dos dois, primeiro porque não lhe era permitido pelo dono da casa entrar e segundo porque não era muito adepto ao fogo, não o temia, porém não gostava em nada da ideia de existir algo que possa consumir tudo até as cinzas. Por isso ele preferia o frio. Por isso não se incomodava de estar rachando lenha em meio ao grosso manto branco formado pela neve.

Trabalhava duro. Fazia de tudo um pouco, muitas vezes por iniciativa própria, e gostava do que fazia, pelo menos assim ele se sentia motivado a fazer algo de sua vida, se é que podia chamar assim.

Mais se assemelhava a um criado, para não dizer escravo, do que qualquer outra coisa. Não se importava com isso. Tudo o que ele fazia era por seus pequenos senhores, por aqueles que o viam como um ser, não como uma coisa.

¬ Milo, você é o melhor! – afirmava o pequeno azulado. – Você não tem a mínima ideia de como estou agradecido por me ajudar!

O menino estava sentado na pilha de lenha e balançava as pernas de forma displicente. Tinha sobrevivido ao golpe, sua única sequela era um braço quebrado, que agora estava imobilizado com uma tala e que infelizmente ou felizmente, depende do ponto de vista, o impossibilitava de trabalhar.

A principio tinha medo do outro, pois este o atacara e quase o matara, mas agora o tinha como um amigo. Milo o ajudara desde que foi obrigado a parar de trabalhar e repousar, demonstrando assim seu arrependimento pelo ato violento, o pequeno, por sua vez, o perdoou e ajudou-o a se adaptar a aquela “nova” vida.

¬ Estou fazendo nada mais do que minha obrigação, Mestre Kardia. – volveu ao rachar outra tora.

¬ Para de me chamar de Mestre! – o menino respondeu irritado. – Somos iguais! Você só é mais velho. – comentou. – E isso não é uma obrigação, você esta me fazendo um favor, de amigo para amigo, sem contar que a Srta. Sasha sempre me disse que o trabalho dignifica o homem! Você é meu igual, Milo. E como tal você está adquirindo sua dignidade e construindo o seu caráter através de um trabalho honesto.

Outra tora foi rachada e seus pedaços foram empilhados ao lado do menino. O maior apenas avaliou a pilha recém-feita ao lado da porta dos fundos da cozinha e esboçou um pequeno sorriso. Pegou o menino e o depositou no chão. Com alguns pedaços de lenha nos braços, Milo guiou o azulado até a porta da cozinha, ajudando-o a não afundar na grossa camada de neve.

¬ Sério Milo. – começou o menor enquanto limpava seu humilde agasalho na porta da cozinha e pegando a lenha com o braço sadio. – Juro que não sei o que faria se você não tivesse chegado, o Mestre é um homem rigoroso e não teria me poupado de mais trabalho, apesar de minha pouca idade. – ele abriu a porta com um chute e deixou a lenha ao lado da mesa antes de voltar.

¬ Não entendo o porquê de ele fazer isso com o senhor. – pegou a mão do menino novamente. – O senhor é apenas uma criança, Mestre Kardia, mas é obrigado a fazer o trabalho de um homem adulto.

O menino chutou a canela do mais velho, no entanto este o ignorou, ou melhor, mal sentiu.

¬ Já disse para não me chamar assim. – Milo não olhava, mas sentia o olhar penetrante do menor sobre si. – Minha família deve muito à família do Mestre, mas desde que meus pais me deixaram eu assumi a divida, por isso eu trabalho tanto. Urg...!

Milo sentiu-se ser puxado para baixo e quando olhou para trás viu que na verdade foi Kardia quem tinha caído. Soltou um pequeno suspiro enquanto pegava o menino no colo, limpou suas vestes e rosto, vendo que se continuasse desse jeito, o pequeno se resfriaria com facilidade.

¬ Mest... – o menino o olhou venenoso. – Kardia. – corrigiu-se. – O que você tem que fazer agora?

¬ O Mestre me mandou limpar os estábulos. – o azulado levantou o braço ferido. – Um dos únicos trabalhos que consigo fazer com o braço assim.

O mais velho tirou o casaco que vestia, não sofria com o frio mesmo, envolvendo o menino com este e o depositando novamente no chão.

O azulado, por sua vez, o encarava confuso, não entendia o gesto do mais velho, que agora estava agachado na mesma altura e bagunçando seus longos cabelos de tão exótica cor.

¬ Mestre Kardia. – começou. – Ambos sabemos que és uma criança e que quer agir como uma. Acha mesmo que eu não vi o senhor olhando para a janela de Mestre Dégel? – o menino tentou esconder o rosto corado no longo casaco que lhe foi emprestado. – Façamos o seguinte. O senhor entra e vai fazer a devida companhia à Mestre Dégel e Mestre Natassha, enquanto eu concluo seu serviço. Certo? – o menino negou avidamente.

¬ Isso é injusto, Milo! – este sorriu.

¬ Você tem um grande senso de justiça segundo muitos, Mestre Kardia. Espero que um dia o meu senso seja tão bom quanto o seu. – o pequeno retribuiu-o com um mínimo sorriso. – Mas deixemos isto à parte. Agradeço sua preocupação, mas eu não me incomodo, sem contar que eu não vou ficar doente se ficar mais tempo aqui fora, ao contrario do senhor. Agora faça o que sugeri e deixe o resto comigo, sim?

Podia-se ver relutância nos olhos infantis, mas nem de longe ingênuos.

Por fim, o menino acatou a sugestão do mais velho e voltou para dentro da casa com alguma dificuldade devido à neve. Somente quando a porta de trás da cozinha se fechou por completo é que o mais velho tomou a iniciativa de ir aos estábulos da propriedade.

Já estava escuro quando terminou de escovar e alimentar os animais. Cinco puros-sangues dos mais belos e um pequeno rebanho de ovelhas. Jogou-se sobre um monte de palha e pendeu a cabeça para trás, não estava cansando, mas não conseguia deixar de pensar nas diferentes formas em que era tratado.

Desde que os filhos de seu criador o salvaram, Milo nunca saio daquelas terras e podia ver que sua existência era difícil de lidar.

Seu criador preferia fingir que ele não existia e quando era preciso falar com ele, o homem o tratava com desprezo, como se ele não passasse de um misero verme.

A empregada era uma jovem chamada Sasha, que morria de medo dele por conta do que seu Mestre lhe dizia, e seu irmão, Alone, que também era um empregado, sofria de igual medo. Ambos faziam parte de gerações inteiras de criados que serviam aquela família e por respeito às palavras de seu Mestre, preferiam evitar contato com ele. E sua criação religiosa piorava esse temor.

Os únicos que o aceitavam, de fato, como um homem, como uma entidade com alma, como uma vida, eram as crianças.

Natassha era parecida com seu criador, porém lembrava muito sua falecida mãe. A menina era muito séria e fria, raramente sorria, mas quem insistisse, poderia conhecer o outro lado da menina. Um lado mais alegre e gentil, porém, raramente visto. Ela amava animais e passava horas brincando no jardim, sempre trazia flores para casa. Considerava Sasha e Alone grandes amigos e os respeitava como mais velhos. Tinha certo medo de Milo, mas não deixava que isso afetasse o laço que estavam criando.

Agora os grandes amigos, Kardia, o pequeno empregado da família, e Dégel, o caçula de seu criador, viam nele um bom amigo, pelo qual valia a pena matar e morrer.

Kardia era o mais vivas, sempre sorrindo com uma malicia que nem parecia dele e um jeitinho ladino de fazer as coisas. Com cabelos e olhos de cores tão exóticas, o menino encantava quem o cercava, mas eram raros aqueles que realmente conseguiam construir uma amizade com ele, Milo era um dos sortudos e assim como ele, amava maçãs.

Dégel era o mais gélido, tinha quem acreditasse que ele era um boneco, tamanha sua falta de expressão e vivacidade natural de uma criança de sua idade. Ele amava ler, poderia passar uma vida inteira numa biblioteca que ainda reclamaria na hora de ir embora, sempre com um livro debaixo do braço, ia com Kardia para tudo que era lugar, não desgrudavam por nada nesse mundo.

Ambos pareciam ver algo nele que mais nenhum outro via.

Outro suspiro. Levantou-se e subiu as escadas do celeiro. Abriu a pequena porta e ali se permitiu cair sobre a singela cama. Voltou a se sentar e puxou uma pequena caixa para seu colo. Abriu-a e pegou um pequeno encadernado verde. A capa possuía letras caprichosas e douradas, porém um pouco gastas.

Viagem para Agartha.

Tinha sido um presente de Mestre Dégel. Sorriu. Amava aquele livro, o lia todas as noites desde que Mestre Natassha o ensinou a ler.

Terminou de ler mais uma vez.

Ainda demoraria para o sol despontar, sabia pelo fato dos animais ainda estarem tão calmos. Kardia só viria chamá-lo para mais um dia de trabalho quando os animais começassem a se agitar e o maldito galo não parasse mais. Decidiu apenas esperar ser chamado. Deitou com um suspiro, não estava com sono, nunca teve sono, dormir era apenas uma forma de passar o tempo para ele.

O trabalho dignifica o homem, era o que o pequeno azulado sempre dizia. Mas como ele iria adquirir essa tão falada dignidade se nem um homem ele era?

Um estrondo forte o acordou. Desceu as escadas correndo e saio correndo pela propriedade.

Bem longe, na estrada que ficava ao lado da área de pastoreio tinha um viajante com sua carroça. A roda tinha sido estraçalhada ao ficar presa num buraco. O viajante a examinava e reclamava consigo mesmo por ser tão idiota.

¬ Com licença. – chamou pelo viajante.

Este se assustou e acabou batendo a cabeça, soltando alguns impropérios e esfregando a nuca dolorida.

O viajante se sentou na parte de trás da carroça, tirou o capuz que usava, revelando longos cabelos negros, olhos na cor mel e uma aparência bem jovial, não passava de um rapaz.

O viajante suspirou e jogou a cabeça para trás. Desistiu.

¬ Desculpe-me. – pronunciou-se mais uma vez. – Mas o senhor precisa de ajuda?

¬ Hun?! – ele pareceu só reparar em Milo naquele momento. – Oh! Perdoe-me. Pelo que posso ver o assustei, agora esta aqui neste frio sem vestes adequadas e tendo que aturar um viajante desventurado.

¬ Não. – agachou-se e passou a examinar a roda. – Admito que me assustei e acordei sobressaltado, mas não me incomodo de estar no frio e o senhor não atrapalha. – sem chances de recuperação. – Vejo que precisa de ajuda, e se o senhor quiser, eu posso ajudá-lo.

¬ Isso é muito gentil de sua parte. – recebeu um sorriso do estranho. – Mas duvido muito que esta roda tenha salvação. Essa carroça é velha e já apresentava alguns sinais de deterioração, é tão velha quanto eu. O certo seria trocá-la de vez ou ir substituindo as peças aos poucos.

¬ Tens razão. – afirmou novamente em pé. - A começar por esta roda quebrada. – Milo coçou a cabeça, bagunçando ainda mais seus longos cachos. - Eu não tenho nenhuma roda sobrando, porém, posso fazer uma roda nova pro senhor. Se isso o ajudar e se for de seu querer é claro.

¬ Quando a esmola é muita, até o santo desconfia. – comentou. – O que isso vai me custar?

Milo se assustou. Em momento algum pensou em ganhar algo com isso. Apenas quis ajudar o viajante e mesmo que este não acreditasse, ele o faria.

¬ Em momento algum pensei em tirar proveito de nada senhor. – defendeu-se. – Eu apenas estou oferecendo a minha humilde ajuda, mas se tanto desconfia, irei me retirar. – já tinha dado as costas.

¬ Espere! – ele parou e voltou a mirar o viajante. – Não quis ofendê-lo, no entanto, os tempos em que vivemos são muito perigosos e até mesmo de uma criança eu devo desconfiar. – comentou tristonho. – Acho que começamos errado. Permita que eu me apresente. Shiryu Rozan Shoryu-Ha. E tu?

¬ Milo. Só Milo.

¬ Pois bem, Milo. – prosseguiu com um sorriso. – Você disse que pode me ajudar. Então como pretende fazer isso?

¬ Eu posso fazer uma roda nova. – afirmou. – Não vai demorar muito, é o tempo do senhor descansar um pouco e comer alguma coisa.

Dito e feito.

Milo demorou um pouco, mas fez a roda nova e a encaixou na carroça do viajante. Este, por sua vez, comeu um pouco de seus suprimentos e ficou encostado em um monte de palha, talvez estivesse cochilando, pois ficou em silencio o tempo inteiro. Agora lá estavam eles novamente, na pequena estrada com os primeiros raios da manhã despontando.

¬ Sou-lhe imensamente grato, Milo. – o viajante estava visivelmente satisfeito, pegou algo do bolso e atirou na direção de Milo. – Fique com você. Em sinal de minha gratidão.

Milo examinou o objeto, era um pingente com o símbolo desconhecido para si, um circulo de ouro com algo a mais, não sabia dizer, idealizando ao máximo, aquilo lhe parecia uma águia.

¬ É um símbolo antigo. – explicou o viajante. - De uma deusa esquecida pelos homens, mas que nunca se esqueceu deles. Vai lhe proteger em momentos de necessidade.

¬ Obrigado, senhor, mas não precisava retribuir aquilo que lhe dei de bom grado. – quis devolver.

¬ Não, por favor, eu insisto. Fique com você. – este sorriu novamente. - És um homem digno, Milo. Não merece e nem deve ficar o tempo todo de cabeça baixa, sua nobreza e respeito, que formam sua dignidade não permitem.

¬ D-dignidade? – o viajante confirmou.

¬ Você possui mais dignidade do que muitos homens que tive a oportunidade de conhecer, Milo. – ele bateu as rédeas e o cavalo começou a andar em marcha lenta. – Você pode até não achar isso, Milo. Mas você é muito mais do que aparenta e pensa ser. Talvez nos encontremos no futuro! – acenou-lhe.

Milo acenou de volta até o homem sumir no horizonte, mas ainda ficou ali por mais um tempo. Apenas sentindo os raios do sol baterem em seu rosto.

Dignidade. Como podia ter uma “qualidade” humana se nem humano ele era?

“... você é muito mais do que aparente e pensa ser” dissera o viajante.

¬ MILO!!

Ele se virou e viu os meninos correndo em sua direção. Eles pareciam bem cansados. Milo olhou novamente para o sol, ainda não estava tão tarde, devia estar acordando para realizar suas tarefas agora.

¬ Milo! – chamou-lhe um Dégel ofegante. – Nós acordamos com um barulho... – teve que parar em busca de ar.

¬ E vimos você com um estranho. – completou Kardia. – O que ele queria?

¬ Nada de especial. – apenas voltou a olhar para o horizonte.

Os meninos se entreolharam e deram de ombros. Milo tinha seus mistérios, ele por si só era um mistério. Então decidiram que o melhor seria dar o assunto como encerrado. Apenas arrastaram Milo para junto da casa sem parar de falar no café da manhã delicioso que a Srta. Sasha estava preparando.


Notas Finais


Espero que tenham gostado :)

Bjs. L :3


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