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História Freak Show - Família


Escrita por: AnaNMoraes

Notas do Autor


Desculpem a demora... Eu acabei tendo um pouco de dificuldade para fazer este capítulo, ele está um pouco diferente dos outros, mais parado e sem muita emoção. Mas é um capítulo necessário para a continuação da trama. Espero que gostem e prometo que o próximo será melhor!

Beijos e até ^3^

Capítulo 4 - Família


Fanfic / Fanfiction Freak Show - Família

 

A cozinha era perfumada pelo doce aroma que percorria também os outros cômodos, como se chamasse, pedindo a atenção dos moradores. Com as mãos protegidas por grossas luvas vermelhas, Flora retirou a grande torta de maçã e canela do forno colocando com cuidado em cima do pano sobre a mesa de madeira. Estava divinamente bonita, camadas de massa trançadas por cima e as maçãs cortadas em cubos, borbulhando no recheio que transparecia entre as aberturas, tudo salpicado com uma generosa quantidade de canela. Sua aparência e cheiro encheriam de saliva a boca de qualquer um que a olhasse. E essa era sua intenção.

 

Sua amada filha, estava mais reclusa que o normal, isolada no quarto há três dias, não saía da cama para quase nada. Três dias em que recusava comida e em manter algum diálogo com os pais. Eles tentavam, insistentemente, retirá-la de lá, sem sucesso algum. Um sentimento de preocupação e angústia crescendo cada vez mais nos corações dos dois, que não conseguiam entender o que teria acontecido para deixá-la nesse estado.

 

A manhã daquele dia tinha começado com uma grande surpresa, a primeira vez que viam Frisk tão animada para sair de casa, que não fosse para ir a biblioteca, por sua própria vontade. Eles achavam que tinham acertado em forçá-la a ir ao circo com a escola, acreditavam que ela teria feito algum amigo ou até se encantado pelo local! Estavam extremamente felizes e radiantes com tal possibilidade, mas tudo desmoronou com o final da tarde.

 

No entardecer, já estavam ansiosos pela chegada da filha, queriam lhe perguntar como tinha sido o dia, esperando com expectativas que ela dissesse a eles que havia feito algum amigo. Todavia, o que viram foi totalmente o inverso. A garota chegou abrindo a porta de forma abrupta, jogou a bicicleta no chão, entrou na casa ofegante e suada. Flora chegou mais perto dela, para perguntar se estava bem, mas nem teve tempo para tal, ficou sem palavras ao ver o rosto da pequena vermelho e os olhos cheios de lágrimas. Ela nada falou, se dirigiu ao quarto e de lá não mais saiu. Vez ou outra, os pais entravam para ver como estava, arrastá-la até o banheiro e a forçar a beber algo. Em total estado de choque, há três dias. A única coisa feita por Frisk é ficar prostrada na cama.

 

Entretanto, sua mãe iria apelar. Passara a tarde toda preparando a sobremesa favorita da filha, que em hipótese alguma conseguiria negá-la, já que somente a comia em feriados e outras ocasiões de comemorações. Sempre repetindo o prato até não sobrar mais nada. Frisk não era muito fã de doces, mas certamente não conseguia enjoar de tortas, ainda mais do seu sabor predileto. Flora esperava que, realmente, ela não negasse. Já estava cogitando chamar um médico para dar uma olhada na menina, tinha medo dela acabar por desmaiar ou entrar em inanição.

 

Com a torta já fria, retirou uma generosa fatia colando em um pratinho antigo de porcelana que Frisk usava quando bebê. Juntamente com sua colherzinha de coelho e um babador, ela caminhou até o quarto da mesma. O cômodo estava em negritude graças as cortinas fechadas, a garota se encontrava deitada na cama e virada para a parede. Caminhou até a janela e abriu o cortinado, fazendo com que os raios solares adentrassem, iluminando o local. Ouviu um grande resmungo da filha, mas apenas o ignorou e sentou na cama. Com a torta no colo, ela esticou a mão até a menina e começou a acariciar seus fios castanhos.

 

- Meu amor, adivinha o que eu trouxe para você.

 

Recebeu um silêncio em resposta.

 

- Vamos, apenas dê uma pequena olhada. - Disse a mãe enquanto continuava com as carícias na cabeça da filha, afagando os cabelos e massageando.

 

Outro resmungo rouco, mas dessa vez acompanhado de uma pequena espiada por cima do ombro na direção da mais velha.

 

- O que é isso…?

 

- Ora Frisk, já está isolada do mundo há três dias e não reconhece mais uma torta? - Disse em tom brincalhão.

 

- Me refiro a esses… trecos.

 

Flora deu um grande sorriso, seu plano estava funcionando, essa pequena conversa foi o maior diálogo feito em dias com a filha.

 

- Eu achei que precisava de utensílios de bebê para cuidar da minha bebêzinha emburrada. - Pegou um pequeno pedaço da torta com a colher rosa e o levou na direção da filha. - Vamos minha bebê, diga Aaah.

 

- Mãe… não, por favor… - Virou o rosto e a colher bateu em sua bochecha, fazendo cair a torta em sua blusa.

 

- Está vendo? Você realmente é uma bebê, tem até que usar isto. - Contra a vontade da menina pôs o babador. - Agora deixe de birra e coma.

 

Após algumas tentativas, finalmente Frisk cedeu a vontade da mãe e comeu algumas colheradas da torta. Mesmo que tenha estado sem apetite nesses dias, ela sabia que não conseguiria negar comer tal iguaria dos deuses. Paul entrou no quarto e deu de cara com a cena que era, no mínimo, estranha. Sua mulher dando comida para a filha na boca, enquanto a mesma usava acessórios infantis. Ele soltou um riso abafado e se aproximou das duas, fazendo um cafuné na cabeça da menor.

 

- Vejo que está melhor, querida. - Disse o pai.

 

- Ela ainda está emburrada, mas pelo menos está comendo um pouco. - Esfregou o dedo no canto da boca da filha que estava sujo. - Frisk, gostaria de nos dizer o que aconteceu?

 

As imagens passaram em flash na sua mente, a grande pressão no ar e a aura azul cercando aquele esqueleto. Esqueleto, monstros. O Freak Show realmente possuía monstros de verdade. Ela voltou a se encolher no canto da cama, enquanto tremia e soluçava. Flora logo se arrependeu de ter feito a pergunta, mas esse comportamento da garota só fez aumentar sua preocupação. Ela encarou o marido como num pedido de ajuda, ele acenou para ela e sentou na cama enquanto a outra saía do quarto.

 

- Ei, minha princesa, está tudo bem. O papai está aqui para o que precisar. - Ela continuava chorando. - Se não se importa, com licença.

 

Ele tirou o sapatos e pôs o resto do corpo na cama, abraçando a filha e puxando o lençol para os cobrir.

 

- O… O q-que está f-fazendo... p-pai?

 

- Eu vou ficar aqui com você, te protegendo do que quer que seja que você tenha medo. - Depositou um beijo em sua cabeça. - Eu sou o seu pai, afinal.

 

- Até de… monstros?

 

- Monstros? - Essa pergunta definitivamente o pegou de surpresa. - Eu te protegeria até de demônios, Frisk, se fosse necessário. Por que eu te amo e você é meu tesouro.

 

A garota se encolheu, aconchegando-se mais no abraço do pai.

 

- Eu também te amo pai…

 

Paul não entendia o contexto daquela pergunta, por mais que tentasse compreender. Ele nunca teve que se preocupar com criaturas imaginárias em baixo da cama ou dentro do guarda roupa, medos comuns da maioria das crianças, menos de sua filha. Ela sempre ria e zombava dos coleguinhas que acreditavam em monstros ou fantasmas, fazendo com que ele e sua mulher sempre fossem chamados na escola e forçados a repreendê-la por tal comportamento. Ela nunca acreditou neste tipo de coisa, por que agora, quando mais velha, perguntava sobre? Uma luz veio a sua mente.

 

- Querida, isso tem relação com o freak show?

 

A garota começou a tremer em seus braços, reação que já respondia sua pergunta. Ele não tinha ideia de que algo assim aconteceria, a culpa percorria suas estranhas por tê-la forçado a ir ao lugar. Era inacreditável demais que algo assim pudesse surgir em relação a sua filha numa simples visita. Diferente dos outros, o freak show que estava na cidade era considerado leve e propício para crianças e jovens. Ele não possuía exposição de pessoas e criaturas deformadas, como um zoológico de aberrações a céu aberto, eram apenas fantoches e pessoas fantasiadas de monstros e outros personagens mitológicos. Possuía um clima agradável e divertido. Ele sinceramente não entendia.

 

Eles continuaram abraçados, até que ele notou que ela dormira. Afastou-se dela com cuidado e a cobriu com o cobertor, logo saiu do quarto e foi encontrar sua esposa para conversarem sobre o tal suposto medo da filha. Flora saberia melhor o que fazer.

 

Ao ouvir a porta bater com a saída do mais velho, Frisk abriu os olhos e parou de fingir que dormia. Ela amava muito os seus pais, e sabia que eles estavam desesperados de preocupação, mas ela não conseguia se ajudar. Estava apavorada, confusa e travando uma batalha interna. Algo que ela sempre achou ser uma besteira e farsa, tinha se provado real em sua frente. Monstros realmente existiam, e o circo estava cheio deles. O que mais existiria também no mundo? Fadas, gnomos, o papai noel? Isso era ridículo para ela, sentia-se idiota e enganada. Enganada por si mesma.

 

Uma das coisas que Frisk detesta e abominava, era o fanatismo. A obsessão cega por algo ou alguém, por uma doutrina ou religião, sempre lhe causava repulsa. Ao ver as pessoas negando avidamente a crença ou ideias de outros, elevando a delas ao maior pilar de importância, sempre a fazia achar tal coisa ridícula e desprezível. E só agora, ela percebia o quanto foi hipócrita. O seu ceticismo e descrença também não fugiam a regra. Ela sempre achou que era a dona da verdade, sempre desprezou os ideais e as fantasias das pessoas, sempre, e agora, acabou de ver que estava errada. Errada e com orgulho ferido. Errada e com medo.

 

Parece que o medo que todas as crianças sentiam e conseguiam gradativamente superar com o tempo, as fazendo não mais dar importância para tal ao chegar a certa idade, chegara a ela como uma avalanche de neve, a cobrindo por completo e sufocando-a. Tudo o que ela nunca havia sentido e presenciado, e exatamente por esse fato, a estava deixando em um grau de pânico desesperador. Ela estava com medo do sobrenatural! Quem a garantiria agora que outras coisas a mais não existissem? Se for nessa linha de pensamento até mesmo deuses e demônios poderiam ser reais. Era muita coisa para ela assimilar em sua mente, isso a estava lhe desgastando de forma física, psicológica e emocionalmente. Nesses três dias ela tentava chegar a um concesso com si mesma, se acalmar e tentar raciocinar direito.

 

- Se eu causei isso, eu posso corrigi-lo. - sussurrou.

 

E se ela tentasse mudar? Nunca é fácil fazer mudanças, sejam elas quais forem, como de moradia, amizades ou jeito de se vestir, e mudanças de comportamento eram ainda mais complicadas. Seria preciso mudar suas atitudes, sua tolerância e até mesmo um pouco da sua linha de pensamento. Precisava parar de encarar tudo como se fosse uma mentira e invenção. Seu maldito orgulho a cegou acerca das novas possibilidades e descobertas, o universo é cheio de segredos, ela não poderia ignorar as coisas e catalogar como inverdades.  

 

- Ficar aqui deitada não vai me ajudar em nada...


 

Frisk se levantou, foi se arrastando até a porta e saiu. Desceu os degraus e foi em direção a cozinha, podia ouvir as vozes de seus pais vindo de lá, estavam discutindo o que fazer sobre ela. Sentia-se mal por isso. Ao parar na soleira, recebeu olhares abismados dos mais velhos.

 

- Me-meu amor, está se sentindo melhor?

 

- Sim, mãe. - Ela abriu um leve sorriso e isso causou uma onda de alívio nos pais. - E também estou com fome, ainda tem torta?

 

O clima de apreensão logo se desfez na casa, os pais a guiaram até a mesa e foram lhe oferecendo o mais variados tipos de guloseimas, mimando-a e a acolhendo. Recuperando suas forças, procurando voltar a sentir-se melhor para seguir em frente, Frisk estava determinada a descobrir a verdade por trás daquelas criaturas, não as temeria ou ignoraria, precisava descobrir os segredos que o esqueleto mencionara em meio ao seu tom de ameaça, ela sabia que precisava escavar fundo para conseguir isso, e não se importava nenhum um pouco de se sujar com a lama.



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