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História Freaks (Clexa) - Capítulo 5 - Intempéries


Escrita por: opsididitagain_

Capítulo 5 - Capítulo 5 - Intempéries


Fanfic / Fanfiction Freaks (Clexa) - Capítulo 5 - Intempéries

E chegou a terça-feira, último dia do feriado prolongado. Lexa e Finn decidiram ficar na cama até mais tarde e tomar o café da manhã na piscina para aproveitarem o belo dia de sol naquele canto do Sul da Flórida. Lex pediu que Anette providenciasse o café da manhã, que eles desceriam em seguida. Havia dispensado os empregados o final de semana todo, mas pediu que voltassem na terça pela manhã, pois queria a casa limpa e arrumada, caso Clarke decidisse voltar por aqueles dias. Lexa costumava dispensar os empregados nos finais de semana, a menos que tivesse que receber alguém, gostava de preparar suas refeições de vez em quando, e muitas vezes saía com Finn ou com as amigas para comer fora. Já passava das 10 horas quando desceram e se encaminharam para o deck de mãos dadas, então estancaram levando um susto. Sentada à mesa do desjejum, comendo, lá estava Clarke. Usava um biquíni, óculos escuros e chapéu de sol. Levantou-se quando os viu se aproximarem e deu um leve sorriso cumprimentando-os:

- Olá! Desculpe me antecipar e já começar a devorar o desjejum que vocês pediram, mas acordei com uma fome danada e não consegui esperar Anette trazer o meu. Tá um lindo dia não?!

Lexa olhava para Clarke quase sem acreditar que era ela mesma ali na sua frente.

”Depois de tantos dias, mais de um mês. Chegava do nada, como se tivesse estado com ela no dia anterior”

A atitude “blasé” de Clarke irritou muito Lexa, que desviou o olhar e sentou-se junto à mesa com Finn ao seu lado, tentando controlar a confusão de sentimentos que a acometia...era um misto de surpresa...irritação...alegria...não podia deixar transparecer que estava nervosa com a presença da prima. Virou o rosto como se estivesse apreciando a beleza daquele dia e ficou de perfil para Clarke. Finn foi o primeiro a falar:

- Que surpresa, Clarke! Quando chegou? Agora pela manhã?

Com sua habitual ironia, respondeu olhando na direção de Lexa:

- Não. Ontem bem tarde da noite. Vi seu carro na garagem e não quis incomodar os pombinhos!

Lexa virou para Clarke, e esta notou um brilho de raiva em seu olhar, quando falou, a voz saiu baixa e abafada como se tentasse controlar a irritação que sentia:

- Ora, ora...quem é vivo sempre aparece! Pensei que tivesse desistido de suas obrigações, Clarke! Já nem me lembrava mais que morava nesta casa.

Clarke abaixou os óculos e olhou para Lexa cinicamente, esta continuava encarando-a com os olhos mais verdes ainda, faiscando.

- Duvido que tenha se esquecido de sua querida prima e tutora, Lex. Além disso, você não precisa que eu fique na sua cola o tempo todo. É bem grandinha, e aposto como Finn não a deixou sentir solidão. Não é mesmo, Finn?!

O rapaz olhava pra uma e outra sem entender a animosidade no ar. Lexa não costumava ser irônica com ninguém, mesmo com a irritante da Clarke, e resolveu apaziguar os ânimos:

- Acho que Lex deve ter sentido sua falta sim, Clarke. Eu passo a semana toda na Universidade e só posso ficar com ela nos finais de semana. E Raven, sua melhor amiga, está de namorado novo, que não a deixa ter tempo pra mais ninguém. Elas só se falaram por telefone esses dias todos. E não foi somente Lexa que sentiu sua falta, outras pessoas também andaram perguntando por você e como encontrá-la, queriam até ir à sua casa!

 

Finn viu as duas se voltarem pra ele, como num ato sincronizado e perguntarem ao mesmo tempo:

- Quem?

Clarke olhou para Lexa e não pôde evitar o sorriso pela coincidência, e dando um sorriso de canto de boca disse:

- Já sei! Sean! Diga a ele que faço questão de convidá-lo pessoalmente para ir conhecer minha casa...o lugar é lindo e a casa também.

- Ah, por isso não! Então quando levar Sean, nos leve também. Aposto como Lexa adoraria conhecer sua casa, já que você mora na dela.

Lexa balançou a cabeça e pensou: “Finn às vezes não tem noção do que fala. É tão bobo que parece ter 6 anos. Será que não consegue se situar?!”

E virando-se para o namorado disse:

- Ah, Finn, parece que às vezes você demora um pouco mais pra perceber as coisas...

- Por que diz isso, Baby?

- Você não notou que Sean quer é ir sozinho com Clarke, e ela também?! E que além disso, se Clarke quisesse que eu conhecesse sua casa, já teria me convidado pra ir a mais tempo?!

Clarke percebeu um tom de mágoa na voz de Lexa.

- Por isso não! Um dia levo Sean e em outro levo você e Finn, se assim preferirem. Não tenho problema nenhum em te mostrar onde vivia antes de vir pra cá! Apenas pensei que não estivesse interessada.

Lexa olhou para Clarke e falou com a voz suave, porém num tom meio triste.

- Pode não parecer, Clarke, mas tudo que diz respeito a você me interessa. Você foi alguém muito especial para o meu Pai, tanto que ele quis que convivêssemos juntas, e pretendo colaborar com o que estiver ao meu alcance para que o desejo dele seja cumprido.

Clarke estava em silêncio apenas olhando profundamente pra Lexa, o tom delicado, mas ao mesmo tempo muito firme, daquela voz, parecia uma sessão de hipnotismo, ela prosseguia, e Finn havia sido esquecido por ambas.

- Lembro perfeitamente bem o quanto gostava de você quando era pequena. Adorava te mostrar meus brinquedos favoritos, lembro que meu lugar preferido pra dormir era no seu colo, e o quanto você sabia ser gentil comigo, atenciosa, tão diferente da Clarke que todos conheciam. Até o dia em que você decidiu ir embora de casa. Você sabia que fiquei doente, com febre, por duas semanas quando você se foi? Papai chegou a ir te procurar pra que fosse me ver, mas não te encontrou. Devo ter percebido que você não voltaria e que tinha que aprender a aceitar aquilo. Sonhei durante anos com você, Clarke. Sempre o mesmo tipo de sonho, recorrente: você chegava, entrava pela porta da minha casa e abrindo os braços pra mim com seu sorriso mais bonito me pegava no colo e girava no ar, e eu sorria tão feliz, me sentia tão bem naquele abraço...Até que os sonhos também pararam.

Os olhos de Lexa brilhavam tão intensamente que parecia que a qualquer hora uma lágrima fosse cair. Clarke olhava pra Lexa sem conseguir concatenar pensamento algum, só sentia uma mão forte a lhe apertar as entranhas como se quisesse diluir seus órgãos. Não sabia o que pensar, nem o que dizer.

”Por que Lexa está falando isso tudo pra mim? Não quero saber! Não quero ouvir.”

Lexa continuava a olhar fixo pra Clarke e percebeu o quanto tinha mexido com ela de alguma forma, nunca tinha visto Clarke com aquele olhar, totalmente confusa. Logo ela, sempre tão confiante e inabalável, estava ali, com um olhar intenso como se alguém a tivesse esbofeteado de surpresa. Lexa ia continuar dizendo mais alguma coisa, quando Clarke levantou-se e a interrompeu falando jocosamente:

- Pobrezinha da Lexa! Sempre tão sensível. Vocês dois fazem um par perfeito. A Princesinha Melodramática e o Príncipe Panaca! Escute bem o que vou te dizer, Lexa. Seu Pai gostava de mim sim, mas sabia perfeitamente quem eu era, e qual era a minha índole, e eu gostava dele justamente porque não se enganava comigo, nem tentava me modificar, apenas reconhecia a minha natureza, e a aceitava. Não tente me conquistar com palavras doces e sentimentalidades falsas, eu joguei limpo com você te mostrando a minha verdadeira face, agora me mostre a sua! Não pense que vou mudar minha conduta por sua causa, ou pra não chocar você ou seus amiguinhos. Como nos disse o Juiz tutelar, a qualquer momento podemos desistir dessa obrigação se acharmos que ela está pesada demais.

E girando os calcanhares deixou o deck da piscina com um Finn boquiaberto e uma Lexa atordoada. Finn foi o primeiro a falar:

- O que foi isso?! Essa mulher só pode ser doida. Você contando pra ela o quanto sentiu a falta dela quando criança e ela te dá uma patada dessas. Eu vou lá falar com ela que iss....

- CALA A BOCA, FINN! Não ouse ir atrás dela.

FINN olhou pra Lexa espantado. Era a primeira vez que ela gritava com ele. Ela havia se levantado de súbito e olhava pra ele como se ele estivesse sobrando naquela cena.

- Mas, Lex...eu quero dizer umas verdades pra Clarke, ela te ofendeu e me chamou de Panaca também e não acho justo que...

- Não se meta nessa história, Finn, porque você não faz parte dela! Eu me entendo com a Clarke depois.

E acalmando a voz, completou:

- Desculpe ter gritado com você, mas acho melhor você ir agora. Fiquei um pouco estressada com isso tudo e quero ficar sozinha!

- Mas, Lex...

- Por favor, Finn! Não insista. Quero ficar só! Não venha atrás de mim. Nos falamos durante a semana. Tchau!

E se retirando da piscina deixou pra trás um rapaz aturdido, sem conseguir compreender aquelas duas mulheres. Decidiu respeitar a vontade da namorada e partiu.

Anette estava atravessando o salão da ala central quando viu Lexa subir as escadas em disparada, e pensou em perguntar se ela queria alguma ajuda, mas desistiu, sabia que algo relacionado a Clarke devia ter acontecido, pois a vira chegar no deck da piscina 5 minutos antes do casal descer. Deu uma olhada e viu que o deck estava vazio...”Hummm, acho que vou fazer uma visita pra Clarke...estou com saudades daquela louca e aposto como ela vai gostar de me ver de novo!” E pensando assim se encaminhou para ala de Clarke.

Clarke tinha subido pra seu quarto profundamente aborrecida com o que tinha acontecido na piscina. Tinha passado um mês inteiro longe de Lexa a fim de reorganizar suas próprias emoções, sabia que estava se sentindo extremamente atraída por Lexa e isso era algo que ela devia combater a qualquer custo. E aí quando acha que está novamente senhora de si e completamente segura de como lidar com aquela menina, ela vem e a derruba com meia dúzia de frases melosas sobre como sentiu a falta dela quando criança.

”O que está se passando comigo?! O que é isso que tô sentindo?! Essa angústia...essa falta de domínio sobre o que sinto...sobre o que Lexa me faz sentir?! Eu detesto essa garota. Detesto o modo como ela me faz sentir mal dentro da minha própria pele”

Estava com seus pensamentos quando de repente viu a porta de seu quarto se abrir lentamente e uma Anette, com um sorriso malicioso nos lábios, entrar, remexendo sensualmente as ancas...as mãos nas cadeiras...o olhar de cobiça...provocando Clarke...

- Olá, Clarke! Por que demorou tanto a voltar? Não sentiu saudades de mim? Estava louca pra vê-la novamente!

Clarke olhou pra Anette e foi em direção a ela com um olhar de fúria tão intenso que na mesma hora Anette arrependeu-se de ter ido até lá. Ela pegou Anette pelo braço com tamanha força que a mulher se dobrou para o lado, e grunhindo entre os dentes falou:

- Como ousa vir pra MINHA ala e, PIOR, entrar no MEU quarto sem ser chamada, sua CADELA VADIA?!

- Aiiiii...desculpe Srta. Clarke...eu....

Clarke a arrastou escadas abaixo, fazendo a mulher tropeçar várias vezes e quase despencar lá de cima, quando chegou no final, empurrou Anette que caiu no chão sentindo muita dor no braço onde estavam as marcas dos dedos de Clarke, e então ela gritou pra Anette:

- Saia já da minha sala, sua vagabunda. Se você tiver a audácia de vir aqui novamente sem avisar ou ser chamada, eu acabo com você. Ouviu bem, Anette?!

Anette se levantou apavorada e correu dali, nunca tinha visto tanta fúria nos olhos de alguém e pensou:

"Cruzes! Parece o Diabo! Se ela transando já gosta de provocar sofrimento e dor, imagine com raiva! Me machucou! Não volto mais aqui!"

Clarke voltou para o seu quarto irada. O atrevimento de Anette em entrar no seu quarto sem avisar fora apenas um pretexto pra que ela descontasse na primeira pessoa que visse toda a sua ira por não conseguir lidar direito com aqueles sentimentos tão novos que a estavam invadindo, sem pedir licença, sem aviso. Se considerava uma pessoa completamente dona de suas emoções, sempre soube como controlá-las e como se livrar das que não lhe eram convenientes. Nunca havia se deixado apaixonar por alguém, todas as pessoas que havia conhecido sempre provocaram nela sentimentos bem claros, desejo ou desprezo. Na maioria das vezes sentia os dois. Era a primeira vez que se via numa situação onde não sabia o que fazer. Perdia o controle mais que o normal e ainda por cima era invadida por sentimentos desconhecidos, fortes, quase incontroláveis. E todos provocados por Lexa. Uma adolescente, sozinha no mundo, a própria imagem da fragilidade, mas que possuía uma força no olhar e em suas palavras que conseguiam abalar Clarke de um jeito que ela jamais imaginou acontecer algum dia.

"Isso parece um pesadelo. Não consigo entender como ela me abala desse jeito. Estou com um nó preso no meu peito até agora. Se tivesse ouvido tudo aquilo de qualquer outra pessoa, teria vomitado de rir, mas com LEXA...aquela voz que invade os meus ouvidos e traz junto um calor que me sobe dos pés à cabeça. Aquela suavidade irritante, aquele olhar que me faz tremer e arrepia até o último fio de meus cabelos, Meu Deus! E eu que nunca acreditei em você, o que faço agora?! Me responda, vá! Se você existe mesmo e pode me ouvir, leve essa sua ovelha negra e desgarrada pro caminho certo, ou seja, bem longe desse tipo de sentimento que tá me tomando o corpo e a mente. Isso não pode acontecer. Não com ela, com a filha de Kane, com aquela menininha que eu gostava tanto, ela não. Eu tenho que fugir disso! Se não vou destruir a vida dela como sempre fiz com a de todos que se aproximaram de mim. Tenho que dar um jeito dela me detestar...querer se distanciar de mim e não ser mais gentil comigo, ter nojo de mim. É isso! Tenho que mostrar pra ela como sou de verdade...do que gosto...do que faço com os outros...aí ela vai ter asco de mim. Vai me querer longe dela. Só não posso exagerar, senão posso perder a tutela. Tem que ser o suficiente pra afastá-la de mim”

E decidiu pegar o carro e dar uma volta na praia para clarear mais as ideias e pensar melhor em como agir dali em diante.

Lexa estava deitada em sua cama e olhava fixamente para o quadro que a mãe de Clarke havia pintado, era a silhueta de Clarke ao longe, numa praia, jogando conchas no mar, devia ter uns 8 anos e usava um chapéu branco em cima daqueles cabelos longos, que lhe chegavam na cintura. Sabia que a mãe de Clarke havia captado um momento especial da filha: ela brincando, inocente, em toda a sua pureza, talvez tivesse vontade de mostrar a todos que sua Clarke, sempre tão indomável, agitada e muitas vezes até má, também podia ser apenas uma menina, e ter seus momentos de paz e felicidade. Ela havia captado algo de bom e puro naquela cena, idílico até. Era assim que devia ver Clarke. E era assim que seu Pai também devia enxerga-la, e por isso via além do que ela queria mostrar aos outros. Sem querer, talvez influenciada pela pintura que tanto gostava, ou pelo próprio Pai, também via Clarke de um jeito que ninguém via. Claro que se irritava com ela muitas vezes, que se magoava, como acontecera ainda agora, mas havia algo ainda maior, que acabava se sobrepondo a todos os sentimentos negativos que podia ter por ela. Não conseguia ainda definir o que era, mas sabia-se ligada à Clarke de um jeito que somente havia sido com seus próprios Pais. Doía-lhe o peito cada vez que pensava em Clarke querer desistir daquela tutela como ela havia dito ainda a pouco. Não queria que ela desistisse de jeito nenhum. Era como se Clarke nunca tivesse partido, era como se tivesse sempre feito parte de sua vida e não queria ela longe, gostava de saber que ela estava ali, mesmo que não a visse tanto.

"Estou cansada. Não quero ficar pensando que tipo de sentimento é esse que tenho por Clarke. A única coisa que sei é que não quero que ela vá embora. Não quero ficar só! Deve ser isso, ela é a única pessoa da família que tenho, talvez seja isso que me aproxime tanto dela, que me faça querer ver nela o que só quem a amou de verdade viu. Vou agir como ela quer, não vou mais mostrar demonstrar sentimentos, que me interesso por sua vida, vou deixar que ela faça o que sentir vontade, mesmo que seja ficar longe. Só não quero que ela se vá de vez"

Chegou na varanda de seu quarto e ainda pôde ver o carro de Clarke sair pelo portão principal. Teve vontade de estar lá dentro daquele carro, indo pra onde quer que Clarke quisesse levá-la!

-

No dia seguinte do incidente na piscina, Lexa ligou para Clarke e por telefone mesmo disse que não a incomodaria mais com suas lembranças ou tentando ser amiga dela. Que à partir daquele dia ela ficasse à vontade para estar na casa ou não pelo tempo que achasse conveniente e que desejava uma convivência pacífica e sem dramas de nenhuma das partes. Preferiu falar por telefone, pois assim era mais fácil de esconder o tremor das suas mãos. Clarke disse que ficava agradecida pela compreensão de Lex e que continuaria fazendo o possível para levar aquela convivência até o final. Porém não se desculpou pela agressividade do dia anterior. Achou ótimo, Lexa ter decidido falar sobre aquele incidente por telefone, não queria mostrar o tremor de suas mãos.

Os dias que se seguiram foram bem mais calmos e praticamente sem encontros entre as duas. Lexa resolveu se dedicar aos seus estudos pra passar com ótimas notas e assim poder estudar na Universidade que quisesse. Pensava que talvez se fosse pra alguma Universidade fora da cidade ou até mesmo em outro Estado, fosse até melhor para a convivência das duas, já que teria que morar em outro lugar a maior parte do tempo, só vindo nos feriados e finais de semana prolongados.

Além dos estudos, Lexa também decidiu ajudar as amigas Karen e Suzy na organização do Baile de Formatura, que seria duas semanas depois de seu aniversário de 17 anos.

-

- Ah, Lex! Você tem que fazer uma festa! Seus Pais sempre gostaram de comemorar seus aniversários e acho que eles gostariam que você também festejasse essa data!

- Não sei, Suzy! Não me sinto nem um pouco animada em fazer festa pra mim. Já teremos o Baile de formatura duas semanas depois e acho que é festa demais pra esse momento tão doloroso que estou vivendo.

- Mas Lexa. Acho que é justamente por isso que devemos comemorar. Entendo que a perda de seus Pais é algo que vai demorar muito pra você superar, mas à partir do próximo semestre todos nós tomaremos rumos diferentes, alguns irão mudar de Estado, provavelmente ficaremos sem nos ver por muito tempo, temos que aproveitar pra estarmos juntos o máximo que pudermos.

Karen resolveu ajudar a amiga a convencer Lexa.

- Isso mesmo LEX, vamos festejar uma nova fase em nossas vidas! Com o seu aniversário e com o Baile de formatura. Se você preferir, eu e Suzy cuidaremos da sua festa! Faremos a lista de convidados e vamos combinar com Anette os preparativos do Buffet e DJ.

- E fique tranquila que não incomodaremos a Clarke. Sabemos o quanto ela é esquisita, e não vai querer ajudar mesmo. Mas claro que a convidaremos, afinal ela mora aqui não é?!

Lexa deu um sorriso triste sobre o comentário final de Suzy e decidiu concordar com as amigas.

- Tá bom! Eu me dedico mais aos preparativos do Baile de Formatura e vocês providenciem a minha festa, mas por favor, nada de loucuras demais. Nem pensar em querer contratar mágico, malabaristas e cuspidores de fogo que nem na sua festa, Karen!

- Ah, mas todo mundo adorou! Era praticamente um circo montado! Foi o máximo né?!

As amigas riram e continuaram os planos para as duas festas.

-

Num começo de noite, Clarke decidiu descer para o deck da piscina levando uma garrafa de vinho tinto e um livro. Estava um clima fresco e agradável, com uma leve brisa balançado os arbustos do jardim. Queria apenas degustar um bom vinho, ler e relaxar. Já se encontrava ali há quase uma hora quando Lexa se aproximou do deck. Não conversava com Clarke desde o dia em que havia ligado pra ela depois do incidente na piscina. Encontrava com ela de vez em quando nos jardins ou na varanda da casa, mas sempre só se cumprimentavam à distância e procuravam não ficar perto uma da outra. Só que Lexa decidiu que devia acabar com aquilo. Tinha visto Clarke ir para o deck e ficou na dúvida por quase uma hora se deveria se aproximar ou não, e decidiu que sim. Mais dia, menos dia, teriam que voltar a falar normalmente uma com a outra, e que fosse logo. Chegou e sentou ao lado da espreguiçadeira de Clarke. Ficou quieta por alguns minutos, esperando que ela dissesse alguma coisa ou fizesse um cumprimento ao menos, mas ela nem sequer levantou os olhos do livro, como se Lexa não estivesse ali. Então Lexa decidiu puxar conversa.

- Posso tomar uma taça do seu vinho, Clarke?

Sem olhar pra ela, Clarke respondeu secamente:

- Você é menor de idade, garota! Não acho que seja legal já começar a querer beber.

- Mas é vinho, Clarke! Papai sempre me deixava beber uma taça nos finais de semana, durante o almoço ou jantar, desde que tinha 13 anos. Acho que não vai fazer mal!

- Tá bom! Beba, se é isso que quer!

Lexa levantou e foi pegar outra taça...”Bom, pelo menos eu consegui que ela falasse comigo”...logo voltou e encheu o copo de vinho. Começou a bebericar de leve. Realmente o Pai a deixava beber um pouco de vinho de vez em quando, mas Lexa não estava acostumada a beber, e tinha que ir devagar. Decidiu continuar tentando conversar um pouco mais com Clarke.

- Sobre o que está lendo, Clarke?

Clarke olhou Lexa pela primeira vez naquele dia, tinha ficado quieta quando ela se aproximou, tentando não deixar transparecer que a presença daquela menina mexia com ela. Decidiu tentar ser cordial, mas começar a mostrar pra Lexa quem era ela de fato.

- Filosofia de Alcova, Marquês de Sade! Já ouviu falar dele, Lexa?

- Do Marquês de Sade, sim. Que foi um escritor francês que causou muita polêmica em seu tempo, por escrever livros obscenos. Chegou até a ser preso pelo que escrevia, acusado de Libertinagem, mas nunca li nada dele.

Clarke deu um sorriso irônico e disse:

- Mas ele não escrevia apenas obscenidades. Ele descrevia orgias sexuais regadas a muito violência física e tortura. Daí vem o termo Sadismo, aquele que sente prazer em infligir dor aos outros.

Lexa olhou pra Clarke e percebeu que ela queria dizer algo mais com aquela descrição...perguntou então:

- E esse parece então ser um assunto que te interessa. Gosta de ler sobre relações Sádicas?

Clarke sorriu maliciosamente e decidiu dizer pra Lexa o que ela queria tanto saber.

- Sim. Não apenas ler sobre Sadismo, mas também de praticá-lo. Te assusta saber disso, Lexa?

Lexa a olhava com um olhar de curiosidade e meio assustada com o teor daquela confissão, mas de certa forma não estava surpresa. Queria saber mais!

- Não me assusta...apenas fico curiosa em saber como alguém consegue sentir prazer com o sofrimento alheio.

- Simples...tão simples que você não vai acreditar!

- Então conte...

- É a natureza de cada um, Lexa! Apenas isso. O instinto básico de ver a dor e gostar disso. Seu pai deve ter contado pra você que desde pequena eu sou assim...gostava de maltratar...implicar com as pessoas mais velhas...judiar das crianças da minha idade, ou menores...sempre gostei de incomodar, de ver o quanto fazer alguém sofrer me fazia bem, poderosa...me dava energia, fazia vibrar! Gostava de ver a reação das pessoas ao sofrimento, como elas lutam contra suas dores! É Instinto.

Lexa a olhava sem piscar, absorvendo cada palavra como se finalmente estivesse começando a desvendar Clarke.

- Não me olhe com essa cara de quem está vendo uma peça rara de Museu! Assim como eu, tem um monte por aí...só que preferem ser dissimulados e esconder seus instintos...até que vez ou outra, um perde o controle e fica louco...aí surgem os Psicopatas, os Serial Killers...não souberam lidar direito com esse tipo de instinto, de emoção...perderam a mão.

Lexa se assustou um pouco e perguntou:

- Você já sentiu vontade de matar alguém com esse tipo de tortura?

Clarke riu e respondeu:

- Jamais mataria alguém desse jeito. Confesso que muitas vezes a minha ira vai além da cama, mas geralmente a minha violência se limita às minhas fantasias sexuais e pra isso preciso de um corpo, mas bem quente e vivo. Detesto sangue, e cadáver muito menos. Quero minhas vítimas todas bem vivinhas e saudáveis. Só assim eu sinto prazer! Nada de chutar cachorro morto!

E riu da expressão de alívio que Lexa deixou transparecer...

- Então você gosta de agir violentamente quando está fazendo sexo com alguém?

- Isso a assusta?

- Não exatamente...fico só imaginando porque as pessoas se submetem a esse tipo de coisa e...

- Minha cara garotinha, elas se submetem porque gostam! Só por isso! São os dois lados de uma mesma moeda. O Sádico e o Masoquista. Se existem pessoas como eu, que gostam de infligir dor, também existem aqueles que gostam, e sentem muito prazer em senti-la. Por isso nunca faltou gente interessante na minha cama, sempre encontro alguém disposto a implorar pra ser humilhado e torturado, físico e psicologicamente. E assim, somos todos felizes.

Clarke ria da cara de boba que Lexa fazia ”Ela é linda mesmo”. Achava que iria chocar a menina, mas o que notou foi um profundo interesse da parte de Lexa à medida que conversava mais sobre aquilo, descrevendo algumas cenas do próprio livro que estava lendo, ela tinha uma curiosidade quase infantil em saber mais sobre o assunto, mas Clarke decidiu que já estava falando demais e quis cortar a conversa, pelo menos mudar o tema.

- Bem, acho que já falamos muito sobre isso e acabei te contando um lado íntimo meu que não é muito conveniente que chegue aos ouvidos de certas pessoas. Você sabe do que estou falando...

- Sobre a tutela, sim, claro, pode deixar, Clarke. Essa conversa fica aqui mesmo. Não tenho interesse algum que você perca essa tutela...

- Quando acabar de ler este livro te empresto. Tenho outro dele que acabei de ler que posso te dar, “Justine” é o nome, muito bom também., quer dizer, bom pra quem gosta do tema. É uma leitura meio pesada, acho até que você não vai gostar muito, mas é bom que se saiba o que há além dos nossos jardins, não acha?

Lexa estava surpresa com Clarke. Ela estava bem mais acessível e parecia mais paciente com ela, decidiu aceitar aquela aproximação, e também pra saciar sua curiosidade. Achava interessante o tema sim, sempre tivera muita curiosidade sobre comportamentos bizarros e nunca havia lido nada sobre sadomasoquismo, e queria muito tentar entender um pouco o universo de Clarke, o que ia em seu íntimo.

- Podemos pegar agora o livro?

E quando tentou levantar sentiu-se um pouco tonta pelo vinho que havia bebido. A taça estava vazia, e nem sentira. Clarke levantou-se rindo e amparou Lexa, segurando-a pela cintura, sem querer roçou seu seio no braço de Lexa e sentiu um arrepio tão forte que parecia chegar até a alma. Percebeu que Lexa aproximou mais o corpo e se recostou nela, como que se quisesse sentir mais aquele toque. Estava quase de costas pra Clarke e voltou o rosto pra agradecer...estavam tão próximas. Nunca antes tinham estado tão próximas...

O corpo, o rosto, a boca...podia sentir o hálito de Clarke invadir suas narinas, se misturando ao seu próprio ar... Clarke se recompôs primeiro e falou um pouco impaciente:

- Acho que você não está acostumada com vinho coisa nenhuma. Um copo só e já nem consegue ficar de pé direito! Fique aqui sentada que vou buscar seu livro e pedir que Maria te traga um pouco de água bem gelada.

Lexa não quis argumentar, ainda estava um pouco perturbada com o que havia sentido, o seio de Clarke em seu braço...roçando de leve, com os bicos duros, quase furando a blusa transparente...o hálito penetrando em suas vias respiratórias, invadindo-a por dentro...aquele rosto tão lindo a meio palmo de si...e aquela tontura era só mesmo do vinho?! Seu corpo tremera da cabeça aos pés e não conseguia entender direito o que se passava, de repente Maria chega trazendo a água.

- Está se sentindo bem Senhorita?

- Sim Maria...não se preocupe...acho que Clarke exagerou...o vinho só me deu um pouco de sede. Obrigada!

Cinco minutos depois, Clarke volta trazendo o livro que prometera nas mãos, virou-se para Lexa e disse:

- Aqui está. Tente ler com imparcialidade, sem julgamentos antecipados, se é que isso é possível! Depois, então forme sua própria opinião sobre o gosto nada ordinário do Marquês de Sade e de seus discípulos. Gostaria que você não mostrasse a ninguém mais...

- Tudo bem Clarke! Ninguém saberá.

Lexa olhava Clarke ainda um pouco embaraçada com o contato anterior. Não tirava da cabeça aquele contato do seu seio duro que ainda parecia espetar seu braço. Resolveu mudar completamente de assunto pra disfarçar seu desconforto.

- Daqui uns dias vou fazer aniversário. Karen e Suzy estão preparando uma festa pra mim aqui em casa. Gostaria muito que você participasse. Sei que não gosta muito de ter um bando de adolescentes em volta, mas acho que vai ser divertido. Eu mesmo não queria festa, não sinto vontade alguma de comemorar nada, mas elas insistiram muito, porque este semestre será nosso último juntas, daqui a menos de um mês será nossa formatura e muitos irão morar em outras cidades e Estados...é apenas mais um motivo pra estarmos todos juntos! Você vai estar aqui não vai?

Clarke respondeu com uma leveza que surpreendeu Lexa.

- Claro que sim! Não vou perder sua festa por nada. E o baile de formatura será aonde?

- No Country Club da cidade. Também gostaria que fosse, se não for incômodo pra você...

Clarke riu surpresa...

- Ir a um baile de formatura!? Nossa, essa é surpresa até pra mim. Não fui nem ao meu. É claro que você irá acompanhada do seu namorado, o que vou fazer lá?! Não acha que seus amigos irão estranhar?!

- Não vejo porque estranhar. Você é a única pessoa que tenho da minha família, é mais que normal que vá ao meu Baile de Formatura.

- Não sei...Bailes de Formatura costumam ser só para os formandos e seus pares...eles não gostam muito de pais, tios, avós ou primos rondando a festa deles.

- Mas eu faço questão. Você é bem jovem a vai acabar se divertindo no baile também...

- É...quem sabe não arrumo uma boa companhia pra diversão adulta entre os bebezinhos que estarão por lá. Só não quero nada com menor de idade. Não pretendo me meter em confusão com a Policia!

O comentário jocoso de Clarke tinha aborrecido Lexa de um jeito que ela não conseguia entender.

- Eu me referia a você se divertir com a festa...dançar...comer...beber...conversar...e você já pensa em outras coisas...será que não há mais diversão além de sexo pra você, Clarke?

Clarke franziu o cenho sem compreender direito o tom aborrecido na voz de lexa.

- Poucas coisas me divertem tanto quanto sexo. Mas pode deixar...se você acha que posso embaraçá-la flertando com algum colega seu, eu não vou. Até prefiro mesmo, pois aposto que me divirto muito mais com meus velhos conhecidos.

- Não foi isso que quis dizer e....ué, você já vai?

Perguntou Lexa quando Clarke se levantou...

- Sim, Lexa! Acho que já conversamos bastante por hoje, não é?! Muitas revelações pra apenas um dia. Ah, outra coisa...eu não esqueci seu aniversário, já até comprei seu presente, mas só vou dar no dia! Adoro deixar as pessoas com comichões de curiosidade por bastante tempo.

E saiu rindo...deixando pra trás uma Lexa surpresa e com o coração aos pulos.

”Incrível como Clarke consegue me fazer sentir emoções tão paradoxais, num momento estou aborrecida por algo que ela disse, e aí bastam duas ou três palavras e já me sinto completamente feliz, como agora! Será que ela lembrou mesmo meu aniversário?! Já comprou até o presente! O que será?!”

 



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