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História Friends - Louis Tomlinson - 073. Sofiya


Escrita por: sunzjm

Capítulo 73 - 073. Sofiya


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 073. Sofiya

JANE

A busca de informações sobre as drogas começou em atraso. Só que ninguém tinha a culpa – talvez o destino? Parecia ser irônico tudo aquilo, porque o tempo vago que tínhamos havia sumido e sido entupido de contratempos do cotidiano.

A escola era um exemplo.

Os trabalhos, as revisões, os experimentos, a pressão da formatura – pois já estávamos no mês de junho –, os seminários que valiam mais do que as nossas próprias vidas... Era até engraçado, porque era como se os professores estivessem em desespero para ver todos os alunos se formando.

Até Jack também se encontrava ocupado demais com as obrigações de sua casa, com as indiretas e diretas que o seu pai mandava, com a pressão que ele também sentia em aceitar ou não o cargo que o Sr. Mayson daria a ele na Kars (com K). Tudo aquilo tornava o seu tempo menor comigo.

E era um cansaço tão excessivo para todos nós que, às vezes, eu esquecia do que tinha que fazer, da situação chata que estávamos e da ajuda que precisávamos dar para Taylor, mesmo que ela insistisse que estava em um ótimo estado. 

No geral, eu acreditava que estava sendo mais difícil pra mim do que para outra pessoa ter que continuar indo para a escola, afinal de contas, eu estava grávida e alguns dos alunos da London Greenwich finalmente tinham se dado conta daquilo – agora era impossível esconder a pequena saliência na minha barriga. 

Os seus olhares curiosos – às vezes de pena ou de alívio por não estarem no meu lugar – me incomodavam tanto que, no intervalo de sexta-feira, não consegui me controlar o suficiente e acabei discutindo com duas garotas que andavam com os atletas. Elas eram tão desnecessárias que eu mal lembrava de seus nomes. 

Durante aqueles nossos momentos de preocupação e ocupação excessiva, acabávamos nos esquecendo da própria Taylor – ou talvez ela que estivesse nos ignorando. Ela tinha voltado a sair e, no período entre aquela quinta e o sábado, não parou em casa. 

Quando ficava no canto dela por algumas horas, estava cansada demais pra conversar – geralmente era à noite. No entanto, pelo menos, até o final de semana, Louis e eu já tínhamos nos informado em determinadas coisas sobre a burrada em que Taylor estava se metendo.

No sábado da outra semana, eu e ele finalmente nos reunimos em seu quarto, após darmos uma passada na casa dos Hampton e vermos que Taylor não se encontrava lá desde as doze – já eram seis da tarde. Marly respondeu Louis por mensagens instantâneas dizendo que as duas não estavam juntas, mas que ela faria o que fosse preciso para saber onde Taylor estava. Evitei a vontade que tive de revirar os olhos, é claro.     

— Eu não sei o que dizer, é pior do que qualquer coisa que eu já tivesse imaginado — eu disse, fitando a tela do meu notebook. — Você viu?     

— Vi e tudo isso é muito complicado — respondeu Louis ao meu lado, muito frustrado. — O tratamento não vai adiantar se ela não quiser parar por conta própria.   

— E, se ela não parar, vai correr o risco de ter uma overdose.

Louis deu um soco na cama e se levantou, irritado. Eu também estava irritada por não poder fazer muita coisa. Minha melhor amiga era uma viciada desinformada e eu não podia fazer nada. Se ela ao menos soubesse no que estava se metendo, facilitaria muito as nossas vidas.

Mas não...

Taylor mal parava em casa, portanto era difícil encontrá-la e ter uma conversa sobre as coisas que ela estava fazendo. Caso ela aceitasse conversar, com certeza estaria dando uma chance a si mesma de ver que não era nada do que ela acreditava; que aquilo era só uma fachada.     

— E agora? — perguntou ele, desamparado. — Eu não vejo nada que possamos fazer.     

— Nós precisamos dar um jeito de convencê-la — eu disse, pesquisando na internet clínicas para dependentes químicos em Londres – talvez existissem até mesmo em Greenwich.     

— Não sei se isso vai dar em alguma coisa, Jan — falou ele, cético demais. — As sensações quando ela se droga parecem ser mais convidativas do que a própria realidade que vimos.     

— Mas nós precisamos tentar...     

— Ela sequer está em casa agora. — Louis suspirou, com aquele ar de quem não dormia há dias. Em seguida, pegou o celular e digitou alguma coisa. — E se ela estiver se drogando por aí? — pensou ele, depois de alguns minutos, então pôs as mãos na cabeça e passou a andar de um lado pro outro. 

Me assustei com o seu pensamento. Na verdade, o meu coração começou a bater mais rápido ao lembrar do que eu tinha lido na internet.

Overdoses...

Era aquilo o que me amedrontava, e saber que a minha melhor amiga poderia ter aquilo era uma agonia terrível.     

— Desculpa — ouvi Louis dizer, ao longe. Ele tinha parado de andar e olhava pra mim. — Eu não quero assustá-la.     

— Você não tem culpa — falei, sincera —, eu é que não estou levando em consideração todas as opções..., só por medo. — Ouvi um barulho do meu celular e me apressei em olhá-lo. — É o Jack.           

— O que vocês dois têm, afinal? 

Acabei sorrindo.     

— Estamos enrolados — respondi, confusa.

Talvez fosse um namoro.

Ou talvez não.     

— E quando foi que você mudou de opinião?     

— Ah, eu também não sei — respondi, dando de ombros. — Foi algo que cresceu aos poucos, entende? Ele foi mudando e eu também, então...     

— Mas tem certeza que ele não está brincando com os seus sentimentos de novo?      

— Por incrível que pareça, eu tenho.     

— Bom… — Louis deu de ombros e olhou pro celular dele mais uma vez —, todo cuidado é pouco, você sabe.     

— Louis — eu ri, divertida —, você não está lidando com uma Taylor, está lidando com uma Jane.     

— Tem razão, mas mesmo assim.     

— O que aquela garota disse?           

— Que um tal de Brad falou que a Taylor não está lá com eles — disse Louis e depois bufou. — Quem é esse Brad, afinal? — ele resmungou, enciumado.     

— Talvez faça parte daquele tal grupo.     

— Uma hora ou outra vou exigir que a Marly me apresente a todos eles — Louis reclamou, incomodado. — Taylor anda com esse tipo de gente e o mínimo que eu tenho que fazer é isso. Pelo menos fico mais aliviado ao saber com quem ela está lidando. Ou talvez não, eu não sei…     

— Você acha que eles são mesmo viciados?     

— Tenho certeza.

Depois de alguns minutos calados enquanto pensávamos com os nossos botões, ouvimos alguém batendo na porta, e logo a cabeça da Maggie deu uma espiada dentro do quarto.     

— Tem um cara de rosto bem familiar e bonito procurando por você — ela me deu um sorriso malicioso e depois piscou um dos olhos. — Se chama Jack Mayson, pelo que ele mesmo me falou.     

— Diga que ele pode subir — eu disse, retribuindo o sorriso. Após alguns segundos, Jack já estava conosco. Ele logo nos cumprimentou, meio hesitante com a expressão indiferente do Louis. — Na verdade — falei, dando palmadinhas na cama para que ele sentasse ao meu lado —, a noite não está tão boa e eu não acho que possa melhorar.     

— É sobre Taylor Hampton? — perguntou, tocando o meu braço.     

— As pessoas que você conheceu não conseguiram se recuperar? — perguntou Louis, de repente. — Ou estão vivas, pelo menos?     

— Honestamente, algumas das que usavam heroína não conseguiram passar tanto tempo. Uns já se foram, poucos resolveram buscar ajuda e, os que ainda se drogam, vivem em condições… não muito boas. Eu não acho que eles têm tanto tempo de vida, na verdade. Pelo menos não se continuarem com o vício... — disse Jack, tentando usar o eufemismo mas sem sucesso. — Outros que conheço e ainda estão vivos de um jeito que dá pra tolerar, usam coisas menos pesadas, como maconha ou estimulantes. 

Jack teve medo ao responder e não ajudar em coisa nenhuma, na verdade. Deu pra perceber aquilo quando a sua mão apertou o meu braço.     

— Que ótimo — ironizou Louis, irritado.          

— Irmão — Jack respirou fundo, como se se preparasse para alguma coisa —, do jeito que a Taylor está, eu não tenho tanta certeza de que você vá conseguir fazê-la parar. 

Tive receio em relação à reação que Louis teria após aquela opinião, mas fiquei surpresa quando ele pareceu apenas pensar, um tanto amedrontado e tenso.   

— Sabe — continuou Jack e eu lancei um olhar de alarme para ele, que me retribuiu com um olhar confiante —, pelo que eu conheço dela, Taylor é muito ingênua. Ela acha que sabe o que está fazendo e por isso é provável que só perceba que está errada quando as coisas começarem a dar errado pra ela.     

— Você quer que eu espere que ela tenha uma overdose, é isso? — perguntou Louis, incrédulo. — Ou que ela crie dívidas e acabe morta do mesmo jeito?     

— Não, é claro que não — negou Jack, rapidamente. — Mas pensa um pouco sobre isso. A vida que ela está escolhendo é uma das piores que existem, uma hora ela vai acabar perdendo tudo e, quando ver isso, será tarde demais. Talvez só depois de receber essa rasteira é que ela vai ver que heroína não é o mesmo que aspirina.     

— Eu ainda não percebo o que você quer que eu faça — confessou Louis, frustrado. Ele parecia em um conflito interno entre calar a boca do Jack ou simplesmente ouvi-lo. Deduzi que estava levando a segunda opção mais à sério.     

— Isso é porque você é apaixonado por ela — respondeu Jack, muito paciente. — Você deveria ter aceitado a decisão quando ela quis terminar o relacionamento de vocês.     

— O quê? Mas isso não tem nada a ver!     

— É claro que tem. — Jack levantou e ficou de frente para Louis, a fim de tentar ser mais claro. — Você dá chances demais pra ela, tudo o que a Taylor fez é como se não fosse nada. Você mesmo é quem está pondo costumes.     

— Quer dizer que agora a culpa é minha?      

— Taylor sofreria quando você se afastasse, afinal de contas, ela mesmo deduziu que você não iria aceitar o fato de ela estar usando drogas, não é mesmo? — falou Jack, sem desistir de explicar. — Mas agora você mesmo agiu como se ignorasse tudo, como se aceitasse a decisão dela.     

— Eu me importo com ela e não poderia simplesmente deixar que ela jogasse tudo no lixo — Louis tentou argumentar, mas parecia mais confuso ainda. Era como se ele visse aos poucos que tinha sido bobo.  — Eu tinha que mostrar a ela que estaria lá, independente de qualquer coisa.     

— Mas algumas coisas têm limites e nós sabemos muito bem que você iria estar lá do lado dela, só que não acho que essa seja a forma certa de você ajudá-la.     

— Eu não poderia pressioná-la — disse Louis, agitado. — Você não viu como ela estava?     

— Então — Jack tentou induzi-lo —, ela estava daquela maneira porque descobrimos o segredo dela. Pra ela está tudo muito bem, afinal, não podem obrigá-la a nada. Agora..., ela só vai perceber que estava equivocada quando as coisas derem errado, entendeu?     

— Mas já estão dando errado! — exclamou Louis, impaciente. — Até expulsa da escola ela já foi.     

— Só que isso pode ser resolvido — disse o outro garoto, sem se intimidar —, ela pode esperar o outro ano pra poder voltar a estudar.     

— Tudo bem, já entendi.     

— Mas se o Louis não estiver lá pra dizer que está do lado dela, será pior, não será? — eu disse, confusa. — Ela vai sofrer e talvez nem perceba que isso se deu por causa do vício.     

— Louis não vai apenas fingir que desistiu — explicou Jack, bem claro —, também vai colocá-la contra a parede e fazê-la sentir medo. Ele vai mostrar que ninguém está de brincadeira, que nós não estamos de brincadeira…, que essa é uma situação séria e complicada de ser resolvida, que é pior do que ela pensa!...     

— E eu? — perguntei, apreensiva.     

— Você também vai agir do mesmo jeito que ele — Jack disse, com o ar de quem sabe das coisas. — Ela é a vítima, sim, mas não sabe disso, portanto vai interpretar tudo errado caso vocês deem tanto apoio assim.     

— Eu não sei se isso é uma boa ideia — comentou Louis, pensativo —, você não a conhece como Jane e eu. Essa pressão toda vai deixá-la atordoada e perdida, e eu não sei o que ela pode fazer. Depois das tentativas de suicídio, de levar bebida pra escola e brigar com a Raquel, não me sinto tão confiante assim para afirmar que ela vai saber ter o controle das coisas.     

— Olha — Jack suspirou de novo e depois deu de ombros, a fim de se sentar ao meu lado —, é só o que eu acho.  

[…]

Louis não concordou com aquilo, é claro, e eu também não achei que fosse uma boa ideia. A ideia de contar o que estava acontecendo para a Sra. Hampton não nos parecia bem. Ela era a mãe da Taylor, mas tínhamos os nossos receios. Porém, se a minha melhor amiga não tivesse jeito, se víssemos que a situação não poderia ser controlada às escondidas, então teríamos, sim, que falar com a mãe dela.

Junto com Louis, eu pesquisei o maior número de dicas possíveis que pudessem nos ajudar, e todas elas só funcionavam com algo muito básico – e meio difícil de ser alcançado, que era o querer do usuário. Logo, Taylor não poderia ser forçada a nada porque, de acordo com as fontes da internet, haveria a sua falta de progresso em relação às drogas, porque ajuda nenhuma seria possível caso ela não percebesse no que estava se metendo. 

Ela continuava sumida do mapa, aliás, e aquilo permaneceu até às dez da noite, quando Louis ligou pra mim.     

— Taylor está com a Marly agora — disse ele, com um ar monótono. — Ela não disse direito onde esteve esse tempo todo, mas disse que dormiria na casa da Sra. Williams.     

— Ela vai dormir na casa da Sra. Williams? Taylor vai dormir na casa da Sra. Williams..., com a Marly? — Fiquei em pânico, afinal, mesmo tendo que ficar calada por falta de provas, eu continuava com a mesma opinião de sempre sobre Marly Cooper. — Mas isso não pode acontecer, pelo amor de Deus!     

— Jane, está tudo bem — Louis tentou me confortar, mas parecia não estar com cabeça para crises. — Não me diga que acha que ela pode ser assassinada, por favor... 

E o bom de conhecer bem uma pessoa, eu pensei, era que você sabia exatamente o que ela estava sentindo.     

— É que...     

— Foi a Taylor quem quis — disse ele, após suspirar —, e ela mesma falou comigo pelo celular da Marly.     

— Ela avisou para a Sra. Hampton? — voltei a perguntar, ainda aflita. Os meus olhos, no entanto, já começavam a fechar devido ao sono.     

— Sim, mas foi Marly quem avisou — disse ele, depois de um suspiro. — E amanhã a Taylor vai voltar de ônibus, eu acho.     

— Certo, vamos até lá conversar com ela?     

— Sim, nós vamos.

Me senti mais aliviada por saber que faria alguma coisa. Falei para Louis que Jack e eu iríamos buscá-lo para que todos nós chegássemos no mesmo instante, e logo decidimos que chamaríamos Taylor para dar uma volta pelo Greenwich Park, a fim de ficarmos longe dos olhares da Sra. Hampton. Seria uma manhã longa.

No outro dia, acordei sentindo algo estranho na barriga. Eu já tinha sentido aquilo antes, na verdade, e já sabia o que era.    

— Bom dia, querida — cantarolei, acariciando o meu ventre. A minha gripe ainda me atormentava, aliás. Eu estava com coriza e, às vezes, me sentia quente. Mas não foi tão ruim quanto da primeira vez que os sintomas começaram a atacar, e eu também não me senti mal a ponto de não sair da cama e fazer as minhas caminhadas matinais. 

Jack foi o primeiro a chegar em casa, por volta de uma hora da tarde. Ele usava camiseta e jeans. Estava tão bonito e simples que novamente fiquei surpreendida com o seu charme. Eu não sabia se era a sua pulseira personalizada que deixava o seu estilo simples e bem atraente, ou se aquilo era um dom que Deus havia lhe dado. 

Acabei deduzindo que o que eu sentia por ele também colaborou para que eu o achasse o garoto mais lindo do mundo.     

— Olá — disse ele, me dando um sorriso enorme. — Hã... está sentindo alguma coisa? — Jack ficou sério do nada, provavelmente devido a minha expressão de ninfomaníaca.     

— Estou — sussurrei, sem conseguir tirar os olhos dele. Eu não percebi que tinha sentido a falta dele, porque era algo a qual eu não estava acostumada. Sentir falta de alguém, não tirá-la de seus pensamentos... e toda aquela ansiedade?, o frio na barriga, meu Deus! — Mas não é algo ruim.     

— Ah — e ele ficou confuso.     

— Eu posso te beijar? — perguntei, tendo a consciência de que a minha avó não estava ali por perto nos espionando. 

Jack ainda hesitava em me beijar ou me abraçar durante qualquer momento no qual estivéssemos juntos, e isto porque ele sentia medo de que eu tivesse mudado de opinião, de que aquilo que eu falei no dia em que ele esteve em casa – em que eu disse estar apaixonada por ele – fosse algo que duraria pouco, talvez “por causa dos hormônios”. Mas eu sabia o que eu sentia, sabia o que eu queria e eu não estava nem um pouco confusa.

Mas antes que ele respondesse, eu já tinha feito o que eu queria. Era muito bom beijar, ter outros lábios preenchendo os seus era como dançar em um baile, com um conduzindo o outro; aqueles lábios cheios e com um gosto de hortelã proporcionavam mais e mais desejo de permanecer ali, grudada àquele corpo quente.     

— Você quer namorar comigo? — perguntei de repente, depois de olhar pra ele. Jack não tomou a iniciativa de fazer aquilo antes e era o que eu queria no momento, então por que não?     

— Hã..., o quê? — Ele se assustou. — Não!     

— Como é que é? — joguei, me desgrudando dele. Logo uma tensão se apoderou de mim ao ver o seu olhar de “é óbvio que não”. Eu não tinha pensado no fato de ter o pedido recusado, é claro.     

— Que-quero dizer — Jack se atrapalhou ao perceber o que havia dito —, sim, é claro que sim! Mas eu achei que eu deveria fazer isso. 

Então eu me aliviei, mas depois revirei os olhos.    

— De que ano você saiu afinal? — perguntei, apertando as suas bochechas sem conseguir segurar uma risada. — Estamos no século vinte e um, as mulheres agora têm o direito de fazer várias coisinhas, sabia? E pedir um homem em namoro, ou talvez até casamento, é um deles.     

— Não é isso — ele disse, e então eu o puxei para entrarmos em casa —, mas é que eu queria fazer isso. Seguir a tradição, entende?     

— Não seja bobo — eu ri, apreciando a paisagem dele (sendo ele mesmo) quando ficamos de frente um pro outro.       

— Mas...     

— Responda sim ou não — mandei, meio óbvia. Ser direta foi uma das táticas que eu criei devido a impaciência que começara a ter nos meses que tinham se passado. Era mais prático.     

— Não.     

— Então tudo bem. 

Dei de ombros, irritada com a sua idiotice.     

— Vamos fazer do jeito tradicional? — sugeriu ele, segurando o meu braço e se aproximando mais de mim. — Só me perdoe se estou sendo um idiota — Jack bufou consigo mesmo e pegou nas minhas mãos. — Sabe, você é bem decidida… e isso me deixa tão surpreso que fico assustado. Não estou acostumado com garotas assim.   

— É claro — assenti, lembrando da época em que ele estudava na London Greenwich e vivia cercado de piranhas. — As suas namoradas eram tão destituídas de inteligência que dava até uma vergonha alheia.     

— Era difícil esperar algo delas — ele riu, concordando —, mas você é diferente e eu gosto disso.   

— Fico orgulhosa de mim mesma.          

— Eu também — ele me deu um beijo na bochecha, ansioso —, então... você aceita namorar comigo?      

— Eu preciso mesmo responder? 

Então ele sorriu novamente e me agarrou. Nos beijamos até que ouvimos o pigarrear de alguém. Ao pararmos, percebemos que era vovó, totalmente corada. Eu nem me senti envergonhada, na verdade.     

— Jack e eu estamos namorando — informei, indo até ela e a abraçando de lado. — O que a senhora acha?   

— Não acredito que você esteja me perguntando isso, Jan — disse ela, revirando os olhos. — Estava na cara que tudo daria em beijos.     

— Como a senhora sabia?     

— Ah, eu não sei — respondeu ela, com um ar de sinceridade que eu conhecia bem. — Mas tenho certeza que a minha bisneta tem a ver com isso.

Levei aquilo em consideração, porque poderia ser verdade. Se não fosse pela gravidez, Taylor não teria abrido a boca para contar tudo ao Jack. Se não fosse pela gravidez, eu não iria tolerar nem um tipo de contato com ele. E o que ele falou no Greenwich Park tinha sentido, pois Jack fez algo de ruim, mas a consequência daquilo nos trouxe algo de melhor, mesmo que não fosse planejado, mesmo que fosse o que qualquer jovem evitaria e que fosse mudar as nossas vidas. É claro que ainda doía pensar na forma como ele fez aquilo, mas não era mais algo que me tirava o sono – ou que me fazia chorar.

Minutos mais tarde, enquanto Jack e eu conhecíamos melhor a língua um do outro no sofá – sem a presença da vovó, é claro –, Louis apareceu na sala. E a sua reação foi como a da minha avó, porque ele ficou tão vermelho que pareceu uma pimenta. Contudo, aquilo durou meros segundos, pois o rosto dele logo assumiu uma expressão autoritária. E era o nosso querido Louis sendo ele mesmo e mais um pouco.     

— Tudo parece muito bem aqui, pelo que vejo. E então — ele disse, ficando de frente para Jack, que já estava de pé segurando (esmagando) a minha mão —, qual é a sua?

Não me pareceu que ele fosse dar na cara do Jack, mas eu sabia que ele poderia fazer aquilo. É claro que aquela atitude era o que eu esperava, afinal, Louis era o meu melhor amigo e nós amávamos um ao outro. Ele não gostou nem um pouco de como Jack agiu na festa da Isabela, porque foi como se tivesse sido fuzilado no pé por alguém que considerava um amigo. 

Assim, era muito normal que ele quisesse saber quais eram as intenções da pessoa que tinha o traído, de uma certa forma.     

— Jane e eu estamos juntos agora — disse Jack, me olhando e continuando apertando a minha mão. — Nos pedimos em namoro. — Ele respirou fundo e então voltou o olhar para Louis. — Eu passei a gostar muito dela, você não imagina. Ainda me odeio por tudo o que fiz e já me desculpei várias vezes. Acho que vou me desculpar pelo resto da vida, na verdade — Jack acrescentou a última frase, bem baixinho. — Se por acaso eu magoá-la de alguma forma, lhe dou a permissão para me matar. Vou ter que falar com a minha família sobre isso caso você... caso você venha a me matar, é claro. Mas eu acredito que não vai precisar sujar as suas mãos, se quer saber. 

Achei um exagero da parte dele, mas decidi não falar nada. Apenas olhei pro Louis, ansiosa com a sua resposta.     

— Não precisa me dar permissão para matar você — foi o que ele disse, com aquele ar de quem diz “eu faço o que eu quero”. — Eu faria de qualquer maneira. Tem mesmo certeza disso? — Louis me olhou, com desconfiança.     

— Louis! — eu o repreendi.     

— Desculpa, eu só queria saber.

Depois daquilo, seguimos para a casa dos Hampton. Jack conduziu rapidamente e, ao chegarmos lá, acabamos sendo pegos de surpresa com o clima. Percebemos mais uma cara nova na área – uma cara que lembrava alguma pessoa que eu conhecia mas que eu não me recordava. Era uma senhora de ar simpático, que usava um vestido superelegante, com brincos e colares combinando; tinha os lábios pintados com um batom vermelho escuro – muito bonito, por acaso – e, com um último toque de “vovó-chique”, óculos de grau com algumas pedrinhas discretas e bonitas.

O Sr. Roberts também estava lá e tagarelava como ninguém. Quase murmurei um “ah, 'tá” quando lembrei de quem a senhora fofa me fazia lembrar. Ela parecia com o Sr. Roberts. 

Fiquei surpresa, porque eu sempre acreditei que o meu professor de física não tinha ninguém. Desde o dia em que ele começara a se interessar pela Sra. Hampton e pediu a ajuda de Taylor, Louis e eu, passei a sentir pena dele, achando que ele vivia sozinho, se dedicando apenas ao trabalho.

Todos ali tinham acabado de almoçar e riam de alguma coisa e era até meio suspeito ver a família Hampton alegre daquele jeito. Os dias ali estavam parados demais e um clima estranho brotava sempre que se ficava em um mesmo cômodo com eles.

A Sra. Hampton tinha se distanciado da Taylor por conta da sua expulsão na escola – não era tanta a distância, mas havia algo ali que incomodava e qualquer um poderia perceber. Tiago também não estava agindo de um jeito legal e era como se ele não tivesse uma irmã, como se tivesse ligado mesmo o botão do dane-se. E Taylor... 

Eu nem precisava comentar.     

— Olá, queridos! — exclamou a Sra. Hampton. — Como vão?     

— Ah, está tudo perfeitamente bem — mentiu Louis, e quase não tirou os olhos da Taylor, que esteve atenta na conversa que se seguiu antes. Ela até sorriu quando nos viu, mas era claro que estava ali somente porque a sua mãe a obrigou – para que desse atenção à sua avó-postiça e mostrasse bons modos. — Não queríamos interromper nada.     

— Não seja bobo.

Ela sorriu e logo nos apresentou para a mãe do Sr. Roberts.     

— Que jovens bonitos — disse a senhora, com um ar sonhador. — São todos tão bonitos e saudáveis que me faz sentir saudade da minha juventude.     

— Você está ótima, Sofiya — disse a Sra. Hampton, com intensidade. — Está sendo modesta, não está?    

— Ah, gentileza sua — disse Sofiya, mas tinha adorado o elogio. — Oh, querida, você está grávida? — Eu acariciava a minha barriga sem perceber, porque tinha se tornado tão habitual quanto dormir.     

— Ah…, sim — respondi, envergonhada.     

— Oh, mas você é tão nova, eu...    

— Mamãe — o Sr. Roberts a repreendeu, apertando a sua mão —, não seja curiosa. — Eu já suspeitava que todos os professores da escola sabiam da minha gravidez, inclusive o Sr. Roberts, mas eu não me importei com aquilo, afinal, eu não tinha desculpa nenhuma que pudesse dizer para as minhas idas constantes ao banheiro – principalmente depois que a barriga resolveu dar as caras.     

— Tudo bem — falei rapidamente.

Percebi Jack apertando as minhas costas. Com certeza estava se sentindo desconfortável com aquilo e desejei que Taylor se pronunciasse logo para que saíssemos dali. 

Para a minha felicidade, a Sra. Hampton pareceu sentir o clima tenso (e despercebido pela Sofiya), então pigarreou e perguntou algo para a sua nova sogra, que logo respondeu e começou a tagarelar como o filho.     

— Taylor, vá conversar com eles — mandou a Sra. Hampton, discreta. — Filho, vem me ajudar a limpar as louças, por favor.

Taylor hesitou, mas depois levantou e logo estávamos na sala.



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