História Friends - Anjo da guarda

- Anjo? - congelei ao ouvir a tão conhecida voz, que se comparavam com uma das mais belas melodias. O nome anjo, sussurrado pelos seus lábios dançavam em minha cabeça e eu lutei muito para abrir meus olhos e encarar Lucas - Eu fiquei preocupado com você - respondeu e sentou-se ao meu lado, na sombra da árvore que eu tanto amava - Sei que esteve chorando e que não quer me contar o motivo.

Era incrível a capacidade de Lucas de me conhecer tão bem, mas nem desconfiar de como eu era perdidamente apaixonada por ele, de como ele conseguia ganhar o troféu de burro e ao mesmo tempo inteligente.

- Eu quero ficar sozinha - falei baixinho e o mesmo me olhou de relance, deixando em mim o único abraço que me confortava e o seu maldito cheiro viciante, na qual eu amava.

- Não adianta eu insistir, não é? - assenti e ele soltou um riso fraco - O motivo sou eu? - engoli em seco. Eu não sabia o que falar. Abri a boca para retrucar, porém nada saía. Olhei-o na esperança de desistir, mas o mesmo me olhava arqueando uma sobrancelha, esperando, pacientemente a resposta. Com a pouca coragem que me restava, respondi-o:

- Sim - respondi - O fato de você esconder seu namoro com a Emma de mim e por você namorá-la. Você sabe muito bem o que ela é, Lucas e o que ela faz comigo.

- Anjo - virei o rosto para não ter que encarar suas íris castanhas e começar a chorar em sua frente - Olha aqui - pediu, mas eu o ignorei. Estava chateada demais para me preocupar - A Emma não é quem você pensa que é. Ela é divertida, além da beleza física e psicológica. Ela é incrível, Lili! E eu queria que vocês fizessem as pazes.

- Você ficou maluco? - perguntei, sentindo minhas veias pulsarem rapidamente. Eu queria esganá-lo só por propor algo impossível. Levantei do gramado, limpando minha calça da sujeira e caminhei em passos largos para a escola.

Escorei em meu armário e assustei-me ao ver um casal se pegando no canto. Não que eu já não estivesse acostumada, porque eu estava, mas o medo de Lucas me pedir tudo isso de novo me corroia e eu preferia esconder a ter que ouvir tudo isso.

- Viu algum fantasma? - perguntou Chris me assustando e fazendo com que o casal se desgrudasse e resmungasse.

- Ai, seu idiota! - reclamei com a mão em meu peito, uma forma inútil de acalmar as batidas frenéticas que o meu coração dava.

- O que foi que aconteceu dessa vez?

- OLucasestánamorando - falei rapidamente, sem pausa alguma para tentar ver se a dor viria menos intensa, o que era completamente complicado. Chris riu, entendendo o que eu havia contado.

- Eu sabia - falou - Aposto 50 reais que ela não fica um mês com a Emma.

- Vamos mudar de assunto, ok? - assentiu e eu continuei – De quem vai ser a vitória esse final de semana? –perguntei, divertida e arqueei uma sobrancelha.

- De um cara muito gato, que você ama bastante – respondeu, passando as mãos em minha cintura e me levando a minha sala.

- Convencido – ri e coloquei minha mochila em minhas costas – Agora eu preciso ir, Chris! – falei, manhosa e ele riu – Vou esperar Lucas no estacionamento. Até mais – beijei sua bochecha , me despedindo e caminhei até o estacionamento.

O dia estava completamente quente, e aquele estacionamento sem cobertura piorava a situação. Minha cabeça estava dolorida pelo tempo que fiquei ali. Completamente enfurecida, saí do estacionamento indo para casa.

Em um dia, Emma conseguiu conquistar Lucas como eu fiz por anos, e eu não negaria que estava chateada com o esquecimento de Lucas, porque uma parte de mim queria matá-lo e a outra parte queria jogar seus restos no fogo.

Tempos depois cheguei em casa, suada, cansada e completamente ofegante.

- Lili? – Lucas, deitado no sofá da minha casa me chamou e eu cambaleei para trás, sustentando-me pela porta – Desculpe por hoje, eu...

- Você não queria, não é? – perguntei e abaixei minha cabeça.

- Eu preciso conversar com você algo – assenti cabisbaixa e deixei minha mochila no chão da sala - Você sabe que eu e a Emma estamos namorando, não sabe? – assenti novamente, querendo acabar logo com aquela baboseira e ir de encontro com a minha querida cama – É que eu estou completamente apaixonado por ela – admitiu, fazendo-me tremer e meus olhos se encherem de lágrimas. Ouvi-lo dizer isso doía muito mais do que o que se passava pelos meus olhos. Eu não queria aceitar, nem mesmo acreditar – Você poderia me ajudar a conquistá-la? Digo, você sabe do que as mulheres gostam e eu só quero ser o melhor para ela.

Digerir tudo aquilo me causava náuseas. Eu queria correr e deixá-lo falando sozinho, queria me esconder e se puder, nunca mais voltar para aquela maldita cidade, queria, acima de tudo, negar a sua ajuda. Eu sabia que iria doer, que eu me machucaria, mas o sorriso no rosto de Lucas era impagável e por ele eu sofreria qualquer dor que fosse.

- Eu... Eu... – suspirei, passando as costas das mãos em meus olhos, sem que Lucas visse e enxuguei as lágrimas – Tudo bem! Eu ajudo.

- Você é, definitivamente, o meu anjo da guarda – me abraçou e me rodopiou em meio à sala.

Eu podia ser o seu anjo da guarda, mas o que eu salvava nele destruía em mim. E eu não podia dizer a intensidade com que doía ser apenas sua amiga ou ser apenas seu anjo da guarda, porque nem mesma eu sabia, mas doía muito mais que um tiro certeiro no peito ou uma facada.

Lucas podia ser o cara que me entendia de todas as formas possíveis, que me abraçava quando eu precisava, que era meu anjo da guarda em todas as horas, contudo, ele me fazia sofrer muito mais do que imaginava.