História From me, To you - Surpresa!

Isa foi embora pouco depois do final do filme, ela iria a uma festa ainda hoje e estava toda corrida.

– O que vamos fazer agora? — Vitor estava sentado no sofá e eu retirava o pote de pipoca e os copos de cima da mesa de centro.

– Ahn, não faço ideia... — Disse pegando o copo a sua frente.

– Decide logo — puxou-me pela cintura levando-me até seu peito — não quero ficar entediado hoje — Beijou-me na bochecha.

– Tudo bem, forçudo, irei pensar em alguma coisa — Afastei-me.

Fui até a cozinha com toda a louça nova e lavei-as.

– Vi, minha mãe quer que eu vá pra casa — Ele gritou da sala.

– Tudo bem — Fechei o registro da torneira

Caminhei até a sala secando as mãos em um pano qualquer, escorei-me no sofá e fiquei a esperar qualquer som vindo de Vitor.

– Sua mãe vai demorar muito? — bloqueou o celular e olhou-me

– Creio que sim, ela anda bem corrida ultimamente — sorri fitando o chão, aquilo me dói — às vezes fico sozinha até as onze.

– Você sabe que ela faz tudo isso por vocês não é? — fiz que sim com a cabeça — Então, não fique assim, ela irá recompensar todo tempo que ficou fora, tenho certeza.

Corri até ele e o abracei, apertei-o fortemente contra mim e afundei minha face em seu pescoço sentindo seu calmante perfume. Sorri ao sentir seus braços retribuírem o esforço dos meus.

                                                               ***

Acordei com um pouco de dor de cabeça, lembrei-me que Vitor havia ficado comigo até que minha mãe chegasse, por volta das onze e meia da noite.

Levantei-me preguiçosamente e andei em um ritmo descoordenado até o banheiro. Olhei-me no espelho e tive vontade de rir do que via — meus cabelos uniram-se formando nós e uma nova espinha tinha tomado espaço em minha testa — lavei o rosto e desci para comer algo antes de tomar banho.

Assim que cheguei à cozinha notei que minha mãe não estava mais em casa, provavelmente saiu às seis da manhã. Lamentei mentalmente sua ausência enquanto fazia um sanduíche.

– Um dia eu vou enjoar disso — falei e logo depois ri.

Eu estava falando sozinha, mais uma vez, isso só pode ser loucura.

Subi arrumei o quarto e tomei um banho quente — pode estar fazendo o calor que for eu só tomo banho quente. Deitei-me em minha cama após colocar um pijama, desbloqueei o celular notando algumas notificações, as primeiras que abri foram as do whatsapp tinha uma mensagem do Vitor perguntando como eu estava, uma da Isa no grupo "À Toa" — um grupo composto por ela, Vitor e eu — desejando bom dia e algumas outras de alguns pseudo-amigos. Abri o facebook, olhei as marcações em publicações e as solicitações, mas não respondi, deixarei para mais tarde. E por fim abri o twitter, deparei-me com algo assustador: quarenta novos seguidores — o número não parava de crescer — e uma mensagem direta. Rolei a lista de novos seguidores e lá estava "Justin Bieber". Caraca. Para de brincar comigo. Como assim?. Tentei convencer-me de que era fake, mesmo sabendo que havia uma considerável possibilidade de ser o verdadeiro Justin, e o sinal azul de conta verificada confirmou o que, lá no fundo, eu já sabia.

Meu mundo parou. Sinto um grito no fundo de minha alma, meus olhos lacrimejam e minhas mãos tremem. O gelo em meu coração inicia uma espécie ansiedade, uma vontade de correr, andar, pular e só parar quando cansar. Meu ser está pequeno para tanta felicidade, a qualquer momento eu explodirei, meu peito pula e não se acalma, meu sistema nervoso não para de disparar calafrios pelo meu corpo. Fiquei pasma olhando para a tela do celular e meu sorriso ia chegando perto do início de minha orelha. Ele leu, ele leu, ele leu! — isso é tudo o que consigo pensar no momento.

Respirei fundo, deixei minha mão no ar com a palma voltada para baixo e observei meu tremor tentando acalma-la. Caramba. Levantei-me da cama e andei de um lado para o outro de vez em quando tendo uma espécie de ataque contorcendo-me tentando gastar a energia que circulava meu corpo, a qualquer segundo o chão ficaria fundo pelas consecutivas vezes que fora pisado. Joguei-me na cama puxando o ar de maneira intensa enquanto observava o branco do teto sobre minha cabeça.

Abri o twitter novamente assim que parei de tremer — o que demorou um pouco. Abri as notificações e elas tinham se acalmado também, olhei para o cantinho do meu perfil lembrando-me da mensagem direta. Senti o início de uma aceleração épica em meu peito. Meu estômago gelava e podia sentir o efeito até mais ou menos meus pulmões.

Quando abri a página o quarto foi invadido por emoções inúmeras. Fechei e abri os olhos diversas vezes só para ter certeza de que não era uma miragem. Li e reli, para ter certeza de que não tinha perdido uma palavarinha no caminho. E eu não tinha, estava escrito com todas as letras:

                                                 Thank you for the letter!¹

Senti as lágrimas rolarem e não as impedi, abri espaço para que passassem, aplaudi-as. Elas tinham toda a permissão do mundo para encharcar meu rosto, para salgar meu paladar e embaçar minha vista. A situação pedia para que se derramassem em peso sobre minha face, a situação era digna de lágrimas valentes, lágrimas essas que esperaram durante anos por esse momento, para serem despejadas da maneira mais fiel possível.

Comecei a digitar algo, mas apaguei. Como responder um ídolo? Tem manual pra isso? Não faço ideia do que falar, eu não quero surtar e assustá-lo, mas não quero parecer indiferente. Quero que ele saiba da minha felicidade e que estou grata por ele ter lido. Como posso dizer isso? E se ele não entender meu inglês? E se eu escrever tudo errado?

Conclui algumas palavras, mas não estava satisfeita. Apaguei novamente. Tenho que digitar algo que faça com que ele fale comigo novamente. Formulei inúmeras frases em minha cabeça, mas sempre pecava no inglês, não tinha certeza sobre o emprego da palavra, ou se o verbo estava conjugado de maneira correta, ou se eu poderia usar aquele adjetivo daquela maneira. Penei até achar uma sentença confortável, uma onde eu tinha certeza do que estava falando.

Escrevi a primeira palavra quando meu celular apitou avisando-me que o Justin tinha acabado de tweetar alguma coisa. Gelei por inteira, senti meu coração contrair e relaxar cada vez mais rápido, podia sentir os batimentos em meus ouvidos. Respirei fundo e terminei a frase, apertei o botão "send²" sem ao menos pensar no ato, estava com sede de resposta. Cruzei os dedos e pedi pra que ele respondesse, tenho consciência do número de mensagens que ele recebe por minuto.

– omg! Thank you for reading it! How are you today?³ — reli o que mandei em voz alta e corei pela pergunta estúpida.

Ajeitei-me na cama e mandei um áudio para o grupo contando quem era meu mais novo follower, lógico que surtei, gritei e ri sem motivo. Fiquei esperando alguma notificação e nada, bufei e bloqueei o celular.

Passei o dia com meu celular em mãos. Comi observando-o, assisti tevê esperando por algum sinal, deitei-me no quarto escuro esperando o aparelho clarear o ambiente e ouvi música desejando que a mesma fosse interrompida, mas nada aconteceu.

Liguei para Isa e Vitor via facetime e distraí-me com as conversas dos dois, eles têm assuntos tão distintos que é até estranho que se entendam. Na verdade, eles sempre discutem, mas chegam a um intermédio, que geralmente é ideia minha.

Antes de dormir dei uma olhada no twitter só para ter certeza de que ele não havia respondido, apesar de eu não estava mais tão preocupada. Há pouco tempo conversei com Vitor sobre isso e ele me acalmou, abriu minha cabeça e me fez pensar diferente. Eu não preciso ficar tão nervosa, tem um pedaço de mim com o Justin e isso já basta, tenho que parar de ser ambiciosa e ver o quanto tenho sorte, estou no lucro por ele ter tirado alguns minutos do seu dia para ler o que eu havia escrito.