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História From The Road - Nós


Escrita por: ISBB5H

Capítulo 6 - Nós


Fanfic / Fanfiction From The Road - Nós

No presente momento o pequeno salão principal do Café Harmony’s poderia facilmente ser tomado com uma ampla arena de combate. A larga porta de vidro estava devidamente fechada, todas as mesas desocupadas e a placa de "fechado" posta em lugar. As luzes do interior estavam fracas e ainda piscando graças aos ânimos exaltados das cinco mulheres ali dentro, que se olhavam com atenção, hesitação e em silêncio.

– Pois então, Dinah? Você me queria aqui para uma conversa. Pode começar. – Disse a latina tomando a palavra. Sentia-se acuada, quase como se tivesse entrado em uma armadilha bem planejada e pretendia sair dali o mais breve possível. Mantinha um aperto firme e forte em uma das mãos de Lauren, e estava pronta para levá-la para longe dali consigo. Então talvez tivesse enfim a oportunidade de contar a ela sobre sua viagem de volta para a casa dos pais. Esse sim era um assunto importante a seu ver. – Sugiro que comece logo. Eu não tenho o dia todo.

Dinah franziu o cenho. A mais alta começava a se aborrecer com o jeito petulante da turista, mas em igual proporção tentava se lembrar de que isso era provavelmente uma boa coisa. Essa postura ríspida e turrona foi sempre parte da personalidade de Camila desde que se conheceram há muito, muito, muito tempo atrás, e saber que a menor ainda resguardava aspectos tão pontuais de seu passado era de certa forma um alívio. Um lembrete de que talvez as coisas não tenham mudado tanto assim.

– Dinah, meninas… – Lauren tentou argumentar outra vez. Não queria que as coisas estivessem acontecendo dessa forma. Sentia a tensão irradiar pelo corpo da turista e estava quase certa de que aquela conversa terminaria em algum tipo de tragédia, sendo o pior cenário em que podia pensar, a fuga de Camila. Lauren não suportaria isso, não suportaria a dor de perdê-la mais uma vez.

– Chega, Laur. Já é hora. – Afirmou a mais alta delas, com calma e frieza.

– Camila precisa saber. – E essa era Allyson a apoiá-la.

Nossa turista a tudo assistia com muita confusão. Do quê essas mulheres estavam falando? Do quê exatamente se tratava essa estranha reunião? Seria por causa do beijo que dera em Lauren? E por quê Lauren estava agindo de forma tão suspeita? Como se escondesse um grande segredo. Conforme as perguntas surgiam em sua mente astuta, crescia também a certeza de que Camila não gostava nada, nada disso… E ainda sim, não conseguia se obrigar a soltar a tão quente e macia mão da morena. – O que está acontecendo aqui?! Do quê vocês estão falando? E do quê eu preciso saber?

– Você quer ser a primeira a falar, Laur? – Dinah ofereceu a chance à amiga. Talvez se a latina ouvisse da boca da morena pudesse dirigir as novidades com mais facilidade.

– Nah! Não, não! Hm! De jeito algum! – Normani ralhou. – Sempre Lauren! Tudo Lauren! Está na hora de outra pessoa assumir a ponta!

– Normani, feche o bico! – Respondeu a bela morena. – Você não sabe do que está falando. Camz, não acredite em uma só palavra do que for dito!

– É o seguinte, Camila… – A garçonete começou.

– Não! – A dona dos olhos de esmeralda deu um passo à frente, mas no momento em que o fez, Camila aumentou a pressão em sua mão mantendo-a prisioneira naquele lugar, tendo ambas as mulheres mal se dado conta da força sobre-humana aplicada no aperto, afinal, não era qualquer pessoa que tinha a força necessária para manter a morena imóvel.

– Você já nos conhece. A todas nós. Nós nos conhecemos há dezenas de anos atrás. Quero dizer, sim, dezenas de anos que não condizem com sua idade aparente, embora isso seja um pouco mais complicado de se explicar.

– CHEGA, MANI! – Lauren tentou gritar, mas isso apenas atiçou a curiosidade da latina que tornou a aprisioná-la perto de si.

– Para nós, para a nossa digamos, espécie, é normal nos encontrarmos… É quase como uma força atrativa e é provavelmente essa força que te trouxe até Sehome, mas não use essa informação para supor que ainda restam muitos de nós andando por aí.

– Mani, não! – Lauren sentia-se torturada. – Por favor! – Seu último pedido soando mais como um sussurro sofrido.

– Nós? – Camila balbuciou confusa e descrente ao mesmo tempo.

– Nós não somos como os outros, Camila. Temos outra natureza. A ciência, a genética, a mitologia grega, a mitologia romana, a literatura clássica ou mesmo as escrituras judaico-cristãs, você pode escolher… Tenha apenas em mente que pertencemos a uma linhagem que não somente a humana e muitas são as lendas que cercam a nossa origem, mas dispensando vários dos detalhes irrelevantes para o momento, de uma linhagem de mutantes. Pessoalmente, eu diria que somos o fruto de uma inesperada transição evolucionária que despertou as manifestações de nossas “habilidades especiais”. – Concluiu usando as mãos para explicitar o implícito.

No instante em que aquelas palavras foram proferidas Camila sentiu-se atordoada e exatamente como se cada sílaba acendesse uma terminação nervosa dentro de si. Tudo em seu corpo gritava para que ela explodisse em uma grande gargalhada de deboche, mas as profundezas de sua mente não pareciam querer reagir da mesma forma. Aparentemente o estranho enredo era tão ridículo e bem tramado, que a latina não se importaria em ficar um pouco mais apenas para ouvir os devaneios de Normani. Contudo, Lauren aproveitou-se da distração da menor para livrar-se do aperto e chocar seu corpo contra o da abusada garçonete.

Usou as delicadas mãos pálidas para erguer a garçonete do chão, segurando-a pela gola do uniforme, e rosnou em descontrole. – Cale-se! Você não sabe o que está fazendo! – Seu tom ameaçador fez com que as demais garotas involuntariamente dessem um tímido passo para trás, bom, todas menos uma.

– Lolo! – Camila exclamou impressionada com a força da garota. – Lolo, pare! Solte-a! – E então, fácil assim, Lauren o fez. Não ousaria desobedecer a uma ordem de Camila nem em um milhão de anos. É claro que para a turista aquilo soou mais como um pedido, mas as outras quatro sabiam melhor, era uma ordem. – Eu não sei que merda vocês andaram fumando, mas eu vou sair daqui agora mesmo e espero não ter que olhar para nenhuma das três novamente! Não me façam perder tempo e por Deus, não me façam perder a paciência. – Para a surpresa das garotas a turista voltou a procurar pela mão de Lauren, arrastando-a consigo para longe das três amigas e em direção à rua. – Suas amigas são malucas, sunshine! Malucas! Que tipo de merda era aquela que elas criaram?! – Exclamava com raiva. Com a caminhada rápida as duas logo chegaram ao hotel e por conseqüência, ao quarto da latina.

– Camz, eu… Eu sinto muito por…

– Não, Lolo. Não se desculpe pela palhaçada das suas amigas. Não vou mentir, porém. Essa foi provavelmente a situação mais ridícula pela qual passei. Qual era o sentido, afinal? Vocês discutiram mais cedo e depois aquela altona aparece para atrapalhar o nosso encontro e… – O problema é que depois de ouvir essa palavra, encontro, Lauren simplesmente parou de ouvir todo o resto. Nada mais importava, nem mesmo a bagunça enorme na qual acabara de se meter com suas amigas. – Lolo? Lolo, você me ouviu?

– O-o que?

– Minha garota avoada. Onde está a sua cabeça?

– No encontro. – Respondeu sem muito pensar, exclamando seus olhinhos assim que percebera o deslize. Mais um dentre os milhões. – Digo, eu não… Você disse que, bom. Encontro? Era o que teria sido? – Apenas murmurou a pergunta final corando fortemente. – Nossa ida ao cinema?

E assim com tão pouco era Camila que agora experimentava do azedo gosto de ser pega de surpresa e atirada no centro de uma jaula de leões famintos. É claro que nada a faria mais feliz do que ir a um encontro com um ser ta adorável e delicado como Lauren, mas ao mesmo tempo havia aquele velho problema de sempre… Camila muito em breve estaria partindo de Sehome e sabia que não seria de bom tom, e tampouco justo, que acendesse qualquer tipo de centelha de esperança em sua doce Lauren. Não queria magoá-la, isso de jeito algum! – Sunshine, nós precisamos conversar. – Decidiu que era chegada a hora de revelar a amarga notícia.

Sentou-se a beirada da cama e com as duas mãos trouxe a bela morena para junto de si, encaixando-a entre suas pernas. Os olhares se cruzaram, o castanho no verde e o verde no castanho e cedo demais a memória do beijo inundou ambas as mentes. – Eu gostaria que aquele tivesse sido um encontro. – A confissão escapando por entre os lábios trêmulos e inseguros da garota pálida. – Com você, Camz.

Com extrema delicadeza, a turista escovou as bochechas de Lauren usando os polegares. – Você não é a única, linda. Nada teria me deixado mais feliz do que ir a um encontro com você. – O sorriso da morena cresceu na mesma medida em que o coração da latina se encolheu dentro do peito. – Mas eu estaria sendo injusta para dizer o mínimo.

– O que? – A garota lhe respondeu confusa. – Como assim, Camz?

– Lolo… – Camila tomou um fôlego longo antes de continuar. – Eu estou deixando Sehome. – Ao observar o espanto estampado nos lindos verdes a mais nova tratou de se explicar. – Eu não queria ter que ir, Lolo. Não assim tão cedo pelo menos, mas prometi à minha irmã que estaria em casa para o seu aniversário e agora não me resta muita escolha… Eu sinto muito.

– Ma-mas Camz… V-você não pode… Não pode!

– Sunshine. – Camila tentou ser razoável, mas simplesmente não conseguia encontrar um único argumento válido que consolasse a sensível morena a sua frente. – Eu preciso ir.

Foi pega de surpresa quando Lauren praticamente se jogou em seu colo, quebrando-se em um choro desesperado. – Não, Camz. Fica! Fica comigo, Camzi. – A morena repetia.

– Meu anjo, eu não posso quebrar essa promessa. Minha irmã ficaria devastada.

E foi então que ao ouvir essas palavrinhas mágicas, “quebrar essa promessa”, que a realização veio forte para Lauren. Sim, esse era o único jeito. Quebrar a promessa feita as amigas de que não falaria sobre aquele assunto a não ser que todas estivessem juntas. Se antes temia que a verdade pudesse afastar Camila de si, agora compreendia que talvez a verdade fosse o único jeito de fazê-la ficar. – Es-espera. Eu posso provar, Camz. Eu posso provar e aí você fica. Fica comigo!

A turista que ainda afagava a doce garota desesperada em seu colo sentiu-se confusa com o atual curso da conversa. – Provar o que?

– Tudo o que Mani te disse hoje à tarde. Eu posso provar que é verdade! – Os lindos olhos cor de esmeralda voltaram a brilhar renovando-se em esperança, mas por outro lado, a menor tornava-se mais e mais cética. Mais e mais confusa. Seria possível que Lauren também estivesse sobre a influência de drogas? Como, infernos, ela seria capaz de provar toda aquela besteira sobre espécies, linhagens, mutantes e transições genéticas? E como, diabos, ela se atrevia a sequer tentar convencer Camila de que havia algo de real naquela história absurda?!

– Lolo, chega. É bom encerrarmos essa conversa aqui. Tivemos um dia cheio e acredito que o cansaço esteja começando a prejudicar o seu juízo e racionalidade.

– Não, Camila. Eu prometo, acredite em mim… – Lauren implorava com tanto fervor que uma tímida voz dentro da latina insistia em dar à ela uma chance. – Deixe-me provar e então eu lhe explicarei absolutamente tudo. Por favor, Camz!

– Lolo! – Mas o lado mais cético da menor insistia em falar mais alto.

E prevendo que aquela discussão não terminaria de jeito algum, que não com a expulsão de Lauren daquele quarto de hotel, a morena por fim resolveu tomar uma atitude. Empurrou Camila com delicadeza, se pôs novamente sobre os próprios pés e respirou fundo. Dado o horário que avançava, sabia não ser de grande prudência desperdiçar qualquer quantidade de energia, mas Camila valia o esforço. Camila valeria qualquer esforço.

Lauren abriu bem os olhos, concentrando-os exclusivamente na turista e estendeu os braços lateralmente ao corpo pálido. Naquele instante estava consciente de cada milímetro de pele, musculatura e cartilagem que possuía, pois os sentia queimar lentamente. Contudo, a sensação lhe era muito familiar e agradável. Algo como um formigamento bem vindo. Focou seu pensamento na mesma hora em que voltou a mão direita para frente do corpo, na direção da turista, fitando em especial os dedos, que gradativamente começaram a mudar de cor. O pálido leitoso se alterou para o rosa, e então para um tom leve de vermelho, e então alaranjado fraco e por fim, um laranja tão intenso que tornava alguns pequenos pontos em negros. Aqueles dedos brilhavam com a cor de uma chama intensa.

A morena de olhos claros estava tão satisfeita com a singela demonstração de habilidade que teria se esquecido completamente da presença de sua espectadora, não fosse é claro pelo sussurro de impacto e incredulidade. – Porra… – Foi a única palavra que deixou os lábios latinos antes do desmaio.  


Notas Finais


Ainda alguém acompanhando?

Eu simplesmente tenho um fraco por ficções dessa natureza e não resisti a vontade de continuar isso aqui :(


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