Quando me despedi da minha irmã, cheguei a pensar que nunca mais nos veríamos de novo. Então fiquei bastante surpresa e muito feliz quando a vi entrando no bar.
- Eu senti tanto a sua falta. – choraminguei.
- Eu também senti muito a sua. – disse ela.
Ela me puxou pra um abraço bem apertado, um abraço de urso como diria a nossa mãe.
- Que exagero, não passou nem uma semana desde a última vez que vocês se viram. – comentou Ksora.
- Deixa elas. – disse Levy, achando graça da cara rabugenta dele.
Virgo e Ksora se sentaram à mesa com a gente. Pedimos uma garrafa de cerveja e mais dois copos.
- Tá tudo bem com vocês? Onde estão ficando? – quis saber Virgo, sentada ao lado de Ksora
- Estamos bem... Apesar de tudo. – desviei o olhar, me sentindo cansada. – Estamos ficando na casa do Hideki. Lembra dele?
- Sim. Vocês viviam grudados na escola. – respondeu com um sorriso carinhoso. – Ele é mesmo um bom amigo né.
- Sim.
- E a organização? Não vieram atrás de vocês? O papai não fez mais nada depois daquele dia?
- Papai mandou os capangas da organização atrás da gente, mas na primeira vez o Natsu e os outros... Acabaram com eles e, na segunda, nós conseguimos fugir a tempo. – expliquei, encolhendo os ombros.
- Eu não acredito que o papai fez isso. Quer dizer, apesar de tudo, somos filhas dele. E você sempre foi a favorita.
- É, eu nunca imaginei que o papai poderia ser... Assim. – disse eu em voz baixa.
Virgo sorriu brevemente e suspirou, baixando a cabeça.
- Nem eu. – disse ela, segurando a minha mão.
“O papai era o nosso herói. Apesar da frieza, sempre tivemos orgulho de tê-lo como pai, mas agora...”
- Vamos mudar de assunto. – disse eu, forçando um sorriso. – Você tá ficando na casa do Ksora?
- Sim. A casa dele é enorme, parece cenário de filme. – respondeu rindo. – Acho que vou ficar por lá por tempo indeterminado.
Eu dei risada.
- A casa era a melhor parte do namoro. – disse eu, rindo ainda mais.
- Eu estou bem aqui, sabiam? – disse ele, emburrado.
- Estamos brincando, não leve a sério. – disse Virgo.
- Sei...
Enquanto ria, desviei a atenção pro Natsu, sentado ao meu lado, que nos observava com os braços cruzados, sério.
- Que foi?
- Nada não. – respondeu fazendo bico. – Hunf...
“E lá vamos nós de novo...” Pensei revirando os olhos.
(...)
Virgo e Ksora beberam toda a cerveja da garrafa sozinhos.
- Hum... Bom. Eu gostei. – disse Lisanna, pousando o copo vazio sobre a mesa.
- Eu não. – disse Levy, deixando o copo ainda cheio de lado.
- Eu prefiro não experimentar. – comentou Juvia, ignorando completamente o copo cheio do líquido espumante.
- E você Natsu? Gostou? – perguntou Lisanna.
Natsu virou o copo num único gole, fez uma careta e balançou a cabeça.
- Ruim! – exclamou. – Como alguém consegue gostar disso?
- Tem gosto pra tudo. – disse eu, rindo.
- É, porque eu gostei. – disse Lisanna, pegando o copo da Juvia.
- Tá, só não exagera hein. – avisei, enquanto assistia ela virar o copo.
Ela deu de ombros e se virou pra conversar com a Levy.
Ksora se remexeu ao meu lado, inquieto e então se inclinou um pouco e perguntou:
- E você Lucy, não vai beber?
- Não. Eu não tô com vontade. – respondi encolhendo os ombros.
- Mas você gosta, sempre bebia quando saíamos.
- Sim, mas agora não quero.
“Meu estômago tá estranho, acho que eu comi demais, o jantar estava uma delícia...”
- Vamos, só um pouco. – insistiu ele.
- Ksora...
- Ela não quer! Não insiste! – gritou Natsu fuzilando-o com o olhar.
- Não se intromete... ET! – exclamou Ksora.
Natsu levantou bruscamente, arrastando a cadeira.
- Do que você me chamou? – perguntou Natsu com uma carranca.
- ET! – repetiu Ksora em voz alta, com um sorriso maldoso.
“Natsu provavelmente não sabe o que ET significa, mas, mesmo assim... Não acho que seja justo chamá-lo de algo que ele nem sabe o que é, isso é meio... Humilhante...”
- Ksora. Não fala assim com ele... – pedi em voz baixa, me levantando também.
- Desde quando vocês se tornaram tão amiguinhos? – perguntou com um sorriso irônico.
Natsu avançou um passo, mas eu coloquei um braço à sua frente, o impedindo.
- Qual é o seu problema? Tá bêbado? – perguntei.
- Não, claro que não. – respondeu rindo. – Você mais do que ninguém sabe que eu tenho alta tolerância ao álcool.
- Então para de agir assim.
- Assim como?
Natsu bufou ao meu lado.
- Você é mesmo bem chato hein! É por isso que a Luxy terminou com você. – disse Natsu em voz alta.
- O que você...
Ksora se levantou também, o clima se tornando cada vez mais tenso.
- E você se acha melhor do que eu? Seu ET!
- Posso ser um ET, mas sou mais forte do que você! – disparou Natsu.
- Você só ganhou de mim aquele dia porque os seus amiguinhos te ajudaram!
- Você fugiu! Você apanhou do Gray e do Gajeel, e fugiu! Fugiu antes mesmo de me enfrentar!
- Eu não fugi!
- O que foi, apanhou tanto que perdeu a memória? – perguntou Natsu em tom de deboche.
Apesar de toda a tensão, não consegui segurar e acabei rindo alto.
Ksora me lançou um olhar magoado e então trincou os dentes e voltou a atenção pro Natsu.
“Eu não deveria ter rido...” Pensei me sentindo culpada.
- Vamos resolver isso agora! Vou te mostrar quem é o mais forte!
Natsu riu, colando as mãos sobre a barriga de forma dramática.
- Por mim tudo bem, mas... Você quer mesmo apanhar na frente da Luxy? Seria muito vergonhoso não acha?
- Maldito! – berrou.
Ksora cerrou os punhos e avançou, mas Natsu desviou, dando um passo pro lado.
- Chega vocês dois! – pediu Virgo.
- Natsu! – exclamou Levy, se levantando.
Lisanna e Juvia também se levantaram.
- Você já causou problemas demais por um dia Natsu! – disse Lisanna, irritada.
Todos os pares de olhos presentes no bar estavam voltados pra nossa mesa. O burburinho cada vez mais audível, sussurros e olhares curiosos nos espreitando como moscas.
- Se querem brigar vão pra fora! – gritou o barman, que até então, apenas observava em silêncio, do outro lado do balcão. – Não quero bagunça no meu bar!
Ksora se empertigou, e cerrou os punhos novamente, se preparando para uma nova investida. Porém, Virgo o impediu. Ela se levantou e deslizou as mãos sobre os punhos fechados dele, gentilmente, e lhe lançou um olhar suplicante.
- Chega.
Ele fitou-a por alguns minutos, as linhas de seu rosto suavizando-se aos poucos, antes de soltar o ar, derrotado.
- Vamos embora. – disse ele em voz baixa.
Saiu do bar em silêncio e entrou no carro, batendo a porta com força.
- É melhor eu ir também. – disse Virgo.
- Tá.
Ela me deu um abraço apertado e sorriu antes de se despedir das garotas com um aceno rápido.
- Cuida da minha irmã Natsu. – pediu com uma piscadela.
- Eu... Cuido. – murmurou corando.
Ela entrou no carro e em poucos segundos sumiu de vista ao dobrar uma esquina.
- Eu estraguei a sua noite né? – disse Natsu, sem graça, coçando a nuca.
- Sim, mas eu não ligo. – disse eu, sorrindo. – Acho que eu já estou me acostumando com essa vida agitada.
Ele sorriu.
- Vai sentir falta?
-... Provavelmente.
(...)
Gajeel, Gray e Hideki, estavam assistindo filme quando chegamos.
- Até que enfim vocês chegaram. – disse Gajeel, sem tirar os olhos da tv. – Já estávamos pensando em ir atrás de vocês.
- Não parece que estavam. – disse Levy, encarando as meias fluorescentes nos pés dos rapazes, a manta fofinha e a vasilha cheia de pipoca no meio deles.
- É claro que estávamos... Assim que o filme e a pipoca acabassem... – murmurou Gajeel, com um sorriso de lado.
Levy fez bico e subiu às escadas, em direção ao quarto.
- Como foi? – perguntou Hideki, por cima do ombro.
- Legal. – respondi simplesmente. – Estou morrendo de sono, amanhã te conto os detalhes.
- Certo. Logo eu vou dormir também.
Fui em direção às escadas e antes de começar a subir os degraus, Natsu me chamou.
- Espera. – pediu ele. – Eu quero conversar um pouco com você. – disse ele, com a cabeça baixa, encarando os pés.
“Hã?”
- Quer conversar?
- Sim. Eu sei que você está cansada, mas...
Encarei ele, confusa.
“Ele é mesmo uma caixinha de surpresas.” Pensei sorrindo.
- Tá bom. Só que eu vou tomar banho primeiro.
- Tá. Eu espero.
(...)
Depois do banho e de vestir uma roupa confortável do Hideki, desci as escadas, em direção a sala, mas parei perto da porta antes de entrar no cômodo, quando ouvi a voz da Lisanna.
- O Natsu parece gostar bastante da loirinha né. – comentou em voz baixa.
- Sim. – respondeu Levy distraidamente.
- Não sei o que ele viu nela.
- Que foi? Tá com ciúmes? – perguntou Levy, provocando.
- Não! Eu só... Me preocupo com ele.
- Como assim?
- Quando a gente for embora, ele vai sentir falta dela.
Um momento de silêncio e Levy murmura:
- Sim, vai.
- Então...
Me aproximo mais da porta e dou uma espiada. As duas estão sentadas no sofá, comendo o que sobrou da pipoca. Olho em volta e não vejo mais ninguém.
“Devem estar se arrumando pra dormir.” Penso, antes de voltar a atenção para a dupla de garotas.
- Lisanna... Se você continuar agindo como a irmã mais velha... Não vai conseguir nada.
- Quê? Como assim?
- Você me entendeu. Eu sei que você gosta dele, desde os tempos do orfanato. – disse Levy com os olhos zombeteiros, cutucando a barriga dela com o dedo indicador.
- Levy! – exclamou a garota de cabelos brancos, corando.
“Orfanato...?”
Natsu entrou pela porta da frente, e eu, automaticamente, dei alguns passos pra trás, pra longe da porta.
“Eu morreria de vergonha se ele me pegasse espiando a conversa delas.” Pensei, sentindo o rosto esquentar.
Respirei fundo e entrei na sala, com um sorriso amarelo.
- Lucy! Você demorou. – disse Natsu.
- A água da banheira estava uma delícia. – comentei. – Não queria sair de lá, então acabei enrolando.
- Tudo bem.
- E você? Já tomou banho?
- Já. Entrei um pouco na piscina, com um sabonete e um shampoo.
- Natsu! Piscina não é lugar pra tomar banho! – reclamei.
Ele deu de ombros e sorriu de lado.
- Agora já foi.
Levy pigarreou, nos Lembrando da presença delas.
- Então, vocês não vão dormir? – perguntou Levy.
- Não. Vamos... Conversar um pouco. – respondi, por algum motivo, me sentindo envergonhada.
- Conversa? – perguntou Lisanna, parecendo confusa.
- Sim. Eu quero falar pra ela sobre o nosso planeta. – disse Natsu, colocando as mãos no bolso.
“É sobre isso que ele quer conversar? “ Me perguntei, surpresa.
- Hum. Nós podemos participar da conversa também? – perguntou Lisanna, me fitando intensamente.
- Claro! – me apressei em responder. – Pode sim.
“Ela gosta dele... Deve ser por isso que ela não vai com a minha cara... Ciúmes, talvez?”
- Por mim tudo bem. – murmurou Natsu.
Demos boa noite pro pessoal, Hideki, Gray, Juvia... E fomos pra fora, pra nossa conversa não atrapalha-los a dormir.
Nos sentamos à mesa, perto da piscina, do lado de fora, na varanda.
Porém, Gajeel apareceu também e se juntou a nós, se sentando ao lado da Levy.
- Então, por onde começamos? – perguntou Levy.
- Por que vieram pra cá? – perguntei.
- Estávamos fugindo e... Tentado sobreviver. – respondeu Levy.
- Como assim?
- Nosso planeta estava em guerra quando viemos pra cá. – explicou Gajeel. – Os dragões estavam matando todo mundo...
“Dragões...? Ok...”
- Sim. Mas eu não me lembro do porquê. – disse Lisanna.
- Eu também não. – disse Natsu. – Éramos crianças, não nos interessávamos pela guerra
- Só queríamos saber de brincar. – completou Gajeel, com um olhar distante, sorrindo.
- Vivíamos atormentando o pai do Natsu. – disse Lisanna, com um sorriso.
- O pai dele? – perguntei, lembrando da conversa que eu ouvi, e da menção à palavra “orfanato”.
- Sim. Um dragão enorme e vermelho que adotou ele. – respondeu Levy.
- Ah... – balbuciei. – E os seus pais verdadeiros? – perguntei pro Natsu.
- Morreram na guerra. – respondeu, encolhendo os ombros.
-... Sinto muito. – disse eu, em voz baixa.
- Tudo bem. Eu nem me lembro deles.
- Todos vocês perderam os pais? – perguntei.
- Sim. Na primeira guerra. – disse Gajeel.
- Hum... Um dragão te adotou? Mas vocês não estavam em guerra com os dragões? – perguntei.
- Sim, mas meu pai era diferente dos outros dragões... Ele é diferente. – se corrigiu com um sorriso fraco. – Espero que ainda esteja vivo. – completou baixando a cabeça.
- Natsu... Ele é forte! Claro que está vivo! – disse Levy, passando a mãos nas costas dele, de forma carinhosa.
- Verdade né! – exclamou ele, sorrindo. – Ele deve estar esperando a gente.
“É por isso que estão com tanta pressa pra voltar.” Pensei, sentindo um aperto no peito. “Coitadinhos, sofreram tanto no planeta deles... E aqui também...”
- Que cara é essa Luxy? Não fica assim! Vai ficar tudo bem! – disse Natsu com um sorriso largo.
“Eu que deveria estar dizendo isso...”
- Sim. – concordei.
- Pensando bem... Seu pai nos preparou pra guerra, sem a gente nem perceber. – disse Gajeel.
- Preparou? – indagou Levy.
- Sim. Ele nos ensinava a lutar dizendo que era uma brincadeira. – disse ele. – Se soubéssemos que não era apenas uma brincadeira...
- Se fôssemos mais fortes... Talvez pudéssemos proteger as pessoas e não precisaríamos fugir, nem deixar o meu pai pra trás. – disse Natsu em voz baixa, o sorriso sumindo aos poucos.
- Poderíamos ter protegido a rainha também. – disse Levy.
- Eu me lembro dela, vagamente. Uma mulher forte, muito bonita. – disse Lisanna.
- Sim. Eu me lembro de querer ser como ela. – disse Levy.
- Quando ela se irritava, até o rei fugia do castelo. – disse Gajeel, nos fazendo rir.
- Sim. Ela tinha um gancho de direita assustador. – disse Natsu, rindo.
“Ainda bem que mudaram de assunto...”
Continuamos conversando até de madrugada, quando paramos ao ouvir um som alto vindo do céu.
- Lucy! – Gritou uma voz familiar.
Nos levantamos e corremos pro meio do quintal, nos assustando em seguida ao ver um helicóptero preto, enorme, pairando a poucos metros das nossas cabeças.
Protegi o rosto do vento forte com as mãos, e por entre os dedos eu vi o meu pai, de pé na entrada do helicóptero, segurando um megafone e com um sorriso vitorioso no rosto.
- Te encontrei! – trovejou ele através do megafone, triunfante.
- É melhor se renderem! Se não quiserem que alguém saia ferido. – gritou outra voz, ainda mais familiar.
Ksora apareceu ao lado do meu pai, também segurando um megafone.
- Em respeito a Lucy eu não queria ajudar a organização, mas... Eu mudei de ideia! E decidi caçar cada um de vocês! – gritou ele, através do megafone. – Natsu! Você vai se arrepender de ter me humilhado!
Dito isso, ele saltou do helicóptero com a ajuda de uma corda, e logo atrás dele saltaram mais quatro pessoas. Quatro jovens e eu reconheci um deles...
- Sting! – exclamei.
- A quanto tempo. – disse ele, com um sorriso de lado.
“Eles são as experiências...” Pensei, entrando em choque.
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