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História Furry Family e o círculo mágico - Farofa comunista.


Escrita por: jimineutron e BusanCity

Notas do Autor


Primeiramente gostaria de agradecer a @Dorgadagguk por ter feito essa capa incrível, que eu já sabia que ficaria incrível desde o começo, e pela beta incrível que deixou meu texto perfeito!

Segundo, gostaria de agradecer aos meus melhores amigos por serem a inspiração da minha história e por sempre me fazerem sentir bem como escritor, por me fazer sentir que meu lugar é exatamente aqui onde estou. Obrigado por tudo!

Aos Leitores, espero que gostem da fanfic e que entendam que nada aqui tem a intenção de atingir ninguém, é apenas uma ficção com um pouco das >minhas< opiniões!
Amo vocês! <3

Capítulo 1 - Farofa comunista.


Fanfic / Fanfiction Furry Family e o círculo mágico - Farofa comunista.

Primeiro dia de aula na Kuoh Academy. Era um dia totalmente diferente do habitual, porque nele eu realmente poderia me sentir um cidadão secundariamente japonês.

Meus pais e eu nos mudamos para o Japão no último inverno, pouco antes do Natal, pois meu pai recebeu uma proposta irrecusável de trabalho no país. Apesar de não gostar da ideia de me afastar dos meus amigos, não podia me recusar a ir para ficar com eles, além de que não tinha nenhum desejo de morar com minha avó.

Assim como na Coreia, os alunos têm os uniformes específicos para usar quando vão à escola (sapato, etc), mas eu não abriria mão de carregar comigo pelo menos uma parte de Busan para onde quer que fosse, por isso trouxe minha Crocs azul — da cor do mar que eu via a quinze minutos de casa —, que nada combinava com o uniforme preto, branco e vermelho, e eu não me importava nem um pouco com isso. Nunca fui um garoto de muitas exigências em questão de estilo, o que me agradava era o que eu consideraria como belo, mesmo que na maior parte do tempo eu acidentalmente escolhesse roupas que as outras pessoas também concordavam bonitas e que ficavam bem em mim.

A mochila preta de couro nas costas tinha o chaveiro de uma chinchila pendurado, para não me esquecer da Tete, que deixei na Coreia. (Eu voltarei para te buscar, Tete!) Apesar de que seria uma pausa agradável em minha rotina do fato maldito que ela rói tudo e come papel (mordeu até os meus livros do Harry Potter!). Não sei até que ponto eu tenho tolerância para amar essa chinchila.

Meus pais não iriam me levar à escola, disseram que já tinha passado da hora de eu me tornar independente e me mandaram ir a pé. Não sei como andar a pé às sete e meia da manhã pelas ruas de Kyoto poderia me tornar independente, mas não podia discordar deles. Estava andando na linha para ver se eles me davam um kit de produtos para fazer slime (aquela meleca estranha que parece Amoeba, mas é mil vezes mais legal e mais cara).

As ruas eram calmas e não tinham cheiro de sal como Busan. Eu adoro o cheiro da areia e da água do mar, mas não gosto da sensação de ser a pequena sereia. Preferia ser o Stitch... O que me lembra que convenci meus pais a me darem o kit de slime — se eu andasse na linha — dizendo que só queria achar uma Lilo para fazer cafuné atrás das minhas orelhas alienígenas. Eles me olharam como se eu fosse caso perdido e comentaram que eu sou apenas uma criança indefesa, e assim eu soube que a guerra estava quase vencida.

O sol aparecia por trás das nuvens de maneira preguiçosa. Eu mexia meus dedos dos pés no interior da sandália de borracha, admirando as meias brancas com as orelhas do Stitch impressas, balançava as mãos no ar enquanto ouvia One Direction — Story of My Life, a música que tem o poder de deixar triste até as pessoas no auge da felicidade —, observando o caminho para não me esquecer na hora de voltar. A escola não ficava tão longe como eles me disseram, e meus olhos estavam abertos.

Enquanto caminhava, um papel no chão chamou minha atenção. Eram alguns círculos com símbolos em volta, códigos que eu não entendia. Apenas parei e me abaixei, pegando o papel e admirando por um tempo. Atrás de mim, ouvi uma voz dizer: “Se precisar de alguma coisa, basta segurar esse papel e pedir”. Virei o pescoço para ambos os lados freneticamente, tentando afastar a possibilidade de ter visto uma aparição ou algo qualquer nesse sentido, até que eu vi um garoto alto com cabelos vermelhos e altas orelhinhas alaranjadas, virando para todos os lados na cabeça. Ele olhou para trás e piscou. Algo se mexeu no interior de sua calça, na parte de trás. Não quis saber o que era, simplesmente segui em frente, olhando para os lados, nervoso.

— Espero que eu não tenha visto nenhuma assombração bem no meu primeiro dia de aula. — Suspirei e saí andando, ainda desconfiado.

As pessoas no Japão são tão diferentes das pessoas na Coreia. As maçãs rosadas do rosto e os cabelos escuros, os olhos grandes... todos parecem ter acabado de sair de um episódio do meu anime favorito. Será que elas se sentem dessa forma também, ou só nós que estamos de fora visualizamos isso?

Por fora a escola parecia grande demais, e tive a impressão de que o interior me espantaria mais ainda. Meus cabelos negros faziam com que eles me olhassem, não de espanto, mas sim de admiração. Todos lá pareciam ter os cabelos pintados de alguma cor berrante, inclusive um garoto que eu estava vendo de longe andando junto com o que avistei mais cedo. O cabelo era de um rosa tão intenso que não conseguia desviar os olhos dos fios lisos, mesmo que nem estivessem perto. Ele tocava o queixo de um garoto de cabelos alaranjados e fazia carinho na sua bochecha, com uma expressão desdenhosa. Sem perceber, estava andando em direção a eles para ouvir o que o cabelo de algodão-doce estava dizendo ao laranjinha.

— Hyung, você está mais bonito hoje. A magia tem feito bem à sua pele ou é impressão minha? — o garoto de cabelos rosados perguntou e o ruivo pôs a mão direita na boca e riu, as orelhas felinas se movendo no alto da cabeça.

— A magia tem feito bem à minha alma, JK. Eu tenho estado mais jovem e vivo, porém, se você continuar dando em cima de mim, não poderemos dizer o mesmo de você — cortou-o e o garoto ao seu lado desatou a rir. O outro fingiu um choramingo dramático e se virou, ficando de frente para mim.

— Será que algum dia você vai cansar de me dar foras, hyung? Você podia ser como o Koneko. Quer ver? Tae hyung, quando você vai conhecer os meus aposentos? — JK passou o indicador no queixo do tal Koneko e chegou próximo de seus lábios. As orelhas felpudas se abaixaram e ele retesou o corpo.

— Quando você qui… Digo, vou ver e te aviso. — O de cabelos laranja, que parecia ser o líder do bando, olhou para Tae com uma expressão rabugenta, e o garoto se corrigiu na hora.

— Droga! Vocês são muito difíceis! — JK resmungou e sem querer bateu a mão nos panfletos que estavam na mão de Koneko, que eram iguais ao que achei na rua.

— Mas eu não sou — respondi automaticamente para o comentário de JK sobre seus hyungs serem difíceis, mas só percebi que falei mais alto do que esperava depois, quando as orelhas de Tae viraram para o lado e ele virou o corpo rapidamente em minha direção, fazendo contato visual direto comigo.

Eu não sabia o que fazer, não sabia se eu devia estar admirando aquele show de incesto, então dei as costas e comecei a correr.

— Para onde está indo, garoto? Por que está correndo? — Ouvi a voz de JK sendo direcionada a mim e foi aí que corri mais rápido.

— Ah, esse é o garoto pra quem eu dei um dos círculos! — Tae falou e eu ouvi os outros garotos murmurando.

Eu estava tão envergonhado, por ser tímido demais, por toda a situação (ser reconhecido, estar sendo perseguido e etc) que minha mente dava voltas sem fim ao redor de si mesma. Eu tentava respirar fundo e me engasgava com a quantidade exagerada de ar em meus pulmões. O papel que Koneko tinha me dado, no entanto, estava em minha mão, e eu repeti a frase que constantemente me acometia.

Eu queria estar morto — falei, apertando forte o papel e correndo ainda mais para longe deles.

Por algum motivo absurdo, me ocorreu a brilhante ideia de olhar para trás, para saber se eles estavam muito longe de mim. Percebi que, na verdade, eles já tinham parado de me perseguir há um tempo, então parei de correr e olhei para frente, batendo de cara e com tudo numa árvore enorme com um tronco grosseiro, que eu não me lembrava da existência alguns segundos atrás.

Apaguei na mesma hora e senti como se tivesse piscado por apenas dois segundos antes de aparecer sentado no chão de madeira de um lugar completamente escuro, com iluminação apenas sobre mim, como um holofote. Estava zonzo, e minha visão voltava com lentidão. Tentava me agarrar em algo, mas não havia nada, e eu piscava constantemente.

— Alô? Alguém aí? Estou na enfermaria? — questionei, afinal eu tinha que ter sido encontrado e levado para algum lugar. Comecei a pensar nos filmes de terror que tinha sido obrigado a assistir pelos meus amigos um pouco antes de me mudar para o Japão, um deles era de uma garota que se perdia na floresta e era levada por um psicopata para sua casa e era esquartejada viva. Minhas mãos tremiam, porque de repente a possibilidade parecia muito plausível, já que o ambiente era bastante propício.

Me encolhi e, ao abaixar minha cabeça, senti uma pontada violenta.

— Ai, meu santo Deus!

— Primeiro, eu não quero ouvir o nome do Nabi sendo citado no meu ambiente. Segundo, eu nunca vou entender por que as pessoas atribuem a necessidade de ajuda e misericórdia a ele. O que ele tem que eu não tenho? Uma auréola? Quem salva vocês são os anjos e eu também tenho anjos, para o seu governo. — Ouvi uma voz, mas a visão ainda estava embaçada demais para saber de quem se tratava. O rosto não estava nítido, mas os detalhes simples que eu captava eram suficientes para admitir que ele era incrivelmente lindo.

— Boa noite, quem é você? Onde estou?

— Você está no paraíso, meu bem — o homem disse e eu arregalei os olhos.

— Isso não se parece em nada com a descrição de árvores, maçãs, animais fazendo sexo ao ar livre e pessoas peladas. — O mais alto começou a rir.

— Você acabou de descrever minha sala de estar, para falar a verdade. Inclusive, os animais fazendo sexo ao ar livre são o Koneko Taehyung e o Akeno Dimi, aqueles depravados.

Provavelmente tinha estampado em meu rosto uma expressão de total confusão, pois ele se mostrou de forma divertida, dando pulinhos e acenando, como se eu fosse uma criança e ele quisesse ter a certeza de que eu o estava enxergando. Quando minha visão voltou, percebi que ele era ainda mais bonito do que demonstravam os mínimos detalhes que antes eu conseguia enxergar.

— Você está num universo paralelo, se posso assim dizer. Você está no purgatório, porém não necessariamente fora do plano terrestre. Estamos num tipo de buraco no espaço-tempo que me permite conversar com você sem que outros humanos percebam nossa presença — explicou calmamente, porém falava como se eu estivesse entendendo minimamente o que ele queria dizer. Minha expressão confusa o fez revirar os olhos e suspirar. Essa sua reação me deixou sem graça e senti minhas bochechas corarem.

— Você morreu, filho.

— Eu o quê? Como? Quando?

— Morreu — JK saiu das sombras e adentrou o espaço iluminado onde eu e o homem bonito estávamos, respondendo minha primeira pergunta.

— Traumatismo craniano ao bater a cabeça numa árvore de mil e quinhentos anos — Taehyung fez o mesmo, respondendo minha segunda pergunta.

— Quando estava correndo de nós alguns minutos atrás. — Dimi entrou segurando uma prancheta, falando com a voz sonolenta.

Todos eles usavam o mesmo uniforme que eu, vermelho, branco e preto da escola, e eu não entendia muito bem o que eles estavam fazendo ali. Permaneci com a expressão confusa de antes.

— Você se lembra do papel que o Taehyung te deu? Era para invocar um deles ou qualquer um dos meus anjos, bruxos, entidades, chame do que quiser. Ao chamar, nós realizaríamos um desejo seu, em troca da sua alma, mas você a deu para nós de graça quando desejou estar morto. Não é maravilhoso? — o homem belo de cabelos loiros disse, seus olhos até mesmo brilharam ao dizer aquilo, tamanho era o entusiasmo para dizer que eu tinha perdido minha alma.

— Como assim minha alma? Eu te dei minha alma? Como? Quem são vocês?

— Bom, alguns me chamam de Lúcifer e essas coisas, mas eu prefiro Kim Seokjin ou Nishiki. — Ele vestia uma roupa preta que lembrava um terno mas tinha muito mais classe e deixava ele muito mais bonito, sem contar que ele usava uma gargantilha preta no pescoço que o deixava terrivelmente sexy.

— Você é o diabo?! — perguntei exasperado e JK riu alto.

Lúcifer. Respeito, por favor — Dimi corrigiu e Tae abanou o rabinho para ele.

— Ele não fica sexy corrigindo as pessoas? — O rabo alto balançando e as orelhas baixas, Seokjin assoprou e ele voou longe.

— Controle seus feromônios, neko!

Ri de como ele não era respeitado por ninguém ali, me perguntando se ele não era respeitado por ser um gato ou porque as pessoas não levavam ele a sério. Talvez fosse pelas duas coisas. Ele tinha uma cara adorável demais para que as pessoas o levassem a sério.

Depois de rir por um tempo, a ficha caiu novamente sobre o fato de que eu ainda estava “meio morto” e não queria isso.

— Espera, então eu estou morto e minha alma é de vocês só porque eu segurei aquele papel que o neko me deu? — questionei e todos balançaram a cabeça.

— Sim. Você pede segurando o papel e nós realizamos, pegando sua alma como pagamento. Simples assim — Lúcifer respondeu e eu arregalei meus olhos, me levantando do chão em um pulo.

— Mas isso é um absurdo! Vocês estão arrebatando almas inocentes por pouco ou quase nada! — respondi e Dimi deu uma risada debochada.

— Quantas religiões aí tiram dinheiro de seres humanos até não lhes sobrar nada, pregando coisas que nem eles mesmos vivem? — falou, recebendo um abraço de Taehyung por trás e encostando a cabeça em sua testa.

— É verdade, eu converso com o Namjoon com alguma frequência e ele vive reclamando em como alguns seres humanos são hipócritas, que pregam o que não vivem e cobram dos outros algo que, muitas vezes, nem eles mesmos acreditam, apenas para conseguir dinheiro de pessoas que estão em busca de esperança e calmaria. Certa vez ele veio me contar sobre uma coisa que os humanos chamam de arquétipo, que são mais ou menos pensamentos aprisionados no subconsciente que muitas vezes emergem em forma de representações. Por exemplo, há o arquétipo do grande pai, uma salvação poderosa e divina que pode livrar eles de todos os males e salvar de tudo o que vier a acontecer, e muitas vezes esses humanos pregam coisas apenas para se agarrar nesse ideal que as pessoas criam para preencher suas próprias vidas. Aqueles que falam de pecado são, na maior parte do tempo, os que, em silêncio, mais pecam, caro Park Sami Jimin. — Só acreditei que ele era mesmo Lúcifer e sabia do que estava falando quando ele falou meu nome, que ninguém ali deveria saber.

Fiquei pensativo sobre do que ele disse, já que nunca tive uma religião definida e sempre me vi curioso e confuso acerca do motivo pelo qual as pessoas às vezes querem impor sobre os outros opiniões e crenças que são delas, mas que não necessariamente devem ser dos outros também. Sempre me perguntei por que podia existir Deus, mas as pessoas negavam tanto a existência de Buda, santos, espíritos e orixás. Se seu Deus existe, por que não o dos outros também? Achei um questionamento válido, por isso acreditei nele.

Concordei em silêncio com tudo o que ele tinha dito.

— Mas então... Agora que perdi minha alma, o que eu faço? Eu estou morto e vou apodrecer pelo resto da vida no inferno? — perguntei e JK riu novamente. A risada dele era adorável, de certa forma.

— Não existe inferno, garoto. O inferno é a Terra, depois dela há apenas o que você fez e o que você não fez. Nós, eu e Nabi, habitamos num espaço que não queima em chamas nem é feito de nuvens de algodão. É um lugar que não posso te explicar em palavras, pois há coisas na vida para as quais não há explicação — Seokjin falou e Taehyung pigarreou.

— Tipo você namorar Deus. — Lúcifer se virou com as bochechas vermelhas.

— Eu não namoro ele! Respeito, por favor!

— Gente, quem é Namjoon? Quem é Nabi?

— Deus! — os três responderam de uma vez, deixando Jin cada vez mais vermelho.

— Você namora Deus, senhor... Lúcifer? — Tentei encontrar palavras que não me fizessem parecer desrespeitoso, mas ele pareceu bravo do mesmo jeito.

— Eu não namoro aquele furry babyboy! Eu tenho escrúpulos, classe e uma reputação a zelar, obrigado. — Fez uma pausa. — Jimin, o que queremos que você entenda é que o mundo é, na verdade, cercado de entidades. O suposto Deus que você ouve falar talvez nem seja o Namjoon, assim como o Lúcifer não sou eu. Cada pessoa vê Deus de uma forma e não cabe a mim ou a qualquer outro dizer que sou Lúcifer ou Deus, pois há muitos de mim por aí, muitos de nós. Entende? — falou em seguida e eu concordei com a cabeça, em silêncio.

— Então, Jimin, você não vai para o inferno, você apenas acabou de se tornar um… ceifador de almas? Não sei muito bem como explicar nossa função, mas você vai buscar mais almas para o Lúcifer hyung — Dimi me explicou e por um segundo me senti animado.

— Mas eu estou morto mesmo? Eu tenho asas? Poderes? — questionei e JK fez que não com a cabeça.

— Asas talvez. Tem uma quantidade de almas que você precisa coletar antes de conseguir asas, é tipo uma meta. Poderes só quem tem são o Dimi e o Koneko, eles são bruxos — JK respondeu e eu arregalei meus olhos.

— Bruxos de verdade? — Taehyung balançou o rabinho, animado.

— Sim! Qualquer dia eu tiro tarot para você, se quiser!

— Quero, sim. Eu quero saber quando finalmente vou conseguir dar o meu cu — respondi e Dimi se engasgou com a água que nem percebi que estava tomando, cuspindo no chão e rindo alto. Tae e Lúcifer também estavam rindo.

— Você pode subir de nível fazendo um favor para um dos ceifadores ou para Lúcifer. — Tae disse entre risos, e, ao trocar olhares com Dimi, ambos começaram a rir desesperadamente.

— Favor? Que favor? Eu faço!

— Tirar a virgindade do JK. O otaku está com o pau roxo já, coitado — Dimi respondeu e Lúcifer começou a rir alto, pondo a mão na boca.

Punheta line — Tae completou e os três começaram a rir, inclusive JK. O mais novo do grupo levantou a mão.

— Eu não faço sexo com quem usa Crocs, meu! — ele respondeu e eu me virei em sua direção.

— Esses são os sapatos mais confortáveis para se usar com meias, sabia? Eu vou até para praia de Crocs, você que não merece um babyboy como eu. Respeito! — respondi e saí andando em direção ao escuro, sem fazer ideia de para onde estava indo.

Na minha cabeça aquilo teria fim em algum momento, porém, depois de dez passos para longe deles adentrando a parte escura, pisei em falso e não tinha nada em baixo. Comecei a cair e a gritar, me sentindo a Alice quando ela cai na toca do Coelho, porém não via nenhum objeto preso nas raízes da terra, apenas escuridão e mais escuridão ao meu redor. Até que caí com um baque surdo no chão onde tinha batido a cabeça na árvore.

Novamente, minha visão estava ruim, e eu estava olhando ao redor, para ver se encontrava algo ou alguém, mas não tinha nada além do farfalhar das folhas nos troncos das árvores. Pensei em permanecer de olhos fechados por um tempo até recuperar minha estabilidade, porém ouvi o sinal alto de começo das aulas tocando.

Levantei do chão desesperado e percebi que estava atrasado. Peguei a mochila no chão e fui desembestado em direção a sala, sem enxergar nada e pedindo licença para todos os vultos que eu pensava serem pessoas, com medo de bater nelas e causar machucados e acidentes graves.

Subi os três lances de escada em direção à sala do terceiro ano e consegui enxergar, para entrar na sala sem nenhuma cerimônia e interromper um pronunciamento.

— Então, nós da Paróquia Moonchildren gostaríamos de convidar todos os alunos que se interessarem pelos ensinamentos do nosso Senhor e Salvador, para que venham dar uma passada na reunião que acontece no salão hoje às oito e meia da noite. Eu agradeço desde já pela confiança e… — um garoto alto e de cabelos castanhos estava falando e foi interrompido por minha entrada inesperada.

— Bom… dia. Eu sou Park Sami, aluno transferido da Escola de Busan — expliquei e percebi que todas as pessoas da primeira fileira me olhavam com desprezo. Tentei não me sentir pior e corri os olhos pelas fileiras de trás, encontrando os olhos de JK, que me olhava de longe. Ao lado dele, Dimi e Koneko. Todos sorriram e balançaram as mãos para mim, e eu sorri de volta, tímido.

— Bom, Jung Zews, muito obrigado por seu posicionamento. Tenho certeza que todos os alunos nessa sala se sentiriam lisonjeados e estupefatos de aparecer na reunião de vocês. Pode se sentar. — O homem de cabelos vermelhos indicou uma cadeira na frente. Li seu crachá na frente e estava escrito “Min Tetechan, professor de filosofia”.

Enquanto ele se despedia do tal Zews, tentei me esgueirar pelas mesas, quase andando de joelhos no chão para não ser notado e passar pelo constrangimento de ter que me desculpar e, consequentemente, me apresentar. Deu certo. Me sentei, sorridente e ereto — para causar uma boa impressão, caso o professor resolvesse marcar meu rosto — em uma cadeira vazia entre JK e Dimi, uma vez que tinham gesticulado que guardaram o lugar para mim.

— Sabe o Zews que saiu? — JK perguntou e eu fiz que sim com a cabeça.

— É o braço direito de Namjoon, uma ovelhinha com asas brancas e auréola, como naqueles livros infantis que os humanos desenham à mão e acham que estão arrasando — Dimi falou e Taehyung riu baixinho.

— Ele diz isso porque desenha muito bem, então é um ótimo crítico de arte.

— É verdade! Dimi hyung desenha tão bem! uma vez fizemos uma competição de desenho nós três e o Jin hyung não soube quem escolher como vencedor, já que nós três desenhamos bem e ele desenha péssimo. — Taehyung riu alto e tossiu depois, se engasgando como um velho asmático.

— A conversa está interessante aí, senhor Koneko? — o senhor Chan perguntou. O garoto de cabelos vermelhos engoliu em seco e fez que sim com a cabeça. Ambos trocaram olhares em silêncio por algum tempo, antes do professor se virar.

— Apesar de parecer bravo assim, o senhor Chan é adorável. Ele se acha super velho e vive falando sobre isso, mas tem uma personalidade tão doce que eu o carregaria no colo, se ele não fosse chutar minha canela — JK falou e Dimi riu baixinho.

— Eu olho para ele e enxergo um Shiba, com o focinho molhado e sorrindo daquele jeito que lembra o cheirinho de mar no final da tarde — Dimi comentou e Tae sorriu.

— Eu lembro que quando nos conhecemos e eu fiquei com medo dele. Ele me olhou e disse: “Eu sou apenas um golden, grande e adorável”, o que é engraçado, porque ele é minúsculo. — Os três começaram a rir. Quando percebi que ele era realmente baixinho, eu ri também, porém me calei em seguida antes que ele me lançasse outra olhada certeira.

— Enfim, estávamos falando do Jung. Ele é um anjo do Nabijoon que vive andando aqui pelo colégio, tentando resgatar almas para o Senhor, assim como o Kim Mugi e o Jeon Yasu. Nós somos três e agora você. No prédio da escola feminina nós temos a Shiroi e a Sana; eles têm a Luda e a Momo. Somos anjos em grande número, mas para não parecer que somos rivais, constantemente nos reunimos. Hoje mesmo vai ter uma celebração de boas vindas para você. — Deixei meu estojo cair e me engasguei com a saliva, tossindo e batendo na mesa de levinho por costume.

— Como assim?

— Ah, não te contamos ainda, não é? Temos um tipo de cerimônia de iniciação em que você tem que jogar uns jogos com a gente e realizar algumas tarefas, para ser finalmente um de nós — Tae contou, parando repentinamente e virando o rosto para a janela, mexendo as orelhas e captando algo.

— E quem disse que quero ser um de vocês?

— Seu pedido de mais cedo, enquanto segurava o círculo. Tenha cuidado ao segurar coisas, elas podem ser poderosas — Dimi comentou, levantando-se da cadeira.

— Bom, agora temos que ir, o dever nos chama. Não se esqueça, dez e meia, na escada na frente do refeitório. Não se atrase, bebê. Eu odeio esperar — Tae disse, fazendo uma cara de bravo que não funcionou nem um pouco.

Eu acho que não comentei sobre o detalhe principal: não sou estudante interno.

O colégio tem a opção de estudantes internos, que ficam lá durante todo o semestre e só vão para casa nas férias, o que não era o meu caso. Provavelmente eles são, por isso podem marcar essas reuniões a hora que quiserem. Quer dizer, eles têm casa? Ou na hora de dormir são teletransportados para dormir no inferno com o Lúcifer hyung?

— Sami, o inferno não existe! — Dei um tapinha em minha testa para não me esquecer do que eles me contaram.

Hum.

Provavelmente, se o Dimi e o Tae são bruxos, eles podem fazer bruxarias e ir àquele… lugar onde o mestre deles se encontra. O nosso mestre. Quando será que vou me acostumar a ter vendido minha alma ao ser que habita o universo paralelo dos bruxos? Provavelmente nunca.

Vendi não, porque não ganhei nada perdendo minha alma para eles.

Continuei assistindo às aulas da manhã e da tarde e não os vi mais em nenhum momento, nem nos corredores, nem na sala. Imaginei que tivessem se dividido entre preparar a suposta festa de iniciação e coletar almas por aí, como se fossem recicláveis nas ruas. Tinha que admitir que estava sim um pouco ansioso para o que teria nessa festa. Na Coreia eu apenas fazia alguns luaus na praia porque era perto de casa e festas do pijama. Meus pais nunca aprovaram muito a ideia de adolescentes rebeldes que saem para festas e voltam tarde da noite, então só sei o que eles fazem devido aos filmes americanos.

— Espero que fiquemos até de manhã fazendo karaokê de High School Musical.

Esse é o meu referencial de adolescência americana.

Ao fim das aulas, voltei para casa andando devagar, tentando pensar em uma boa desculpa para dar aos meus pais para poder sair durante a noite, já que eu nunca fazia isso e em geral eles nunca deixavam. Eu teria que usar uma convincente o suficiente. Me questionei se, por um acaso, agora que eu era um anjo caído, eu tinha ganhado um pouco de poder de persuasão e habilidade de mentir bem.

Há muitas coisas que preciso que eles me tirem a dúvida, como por exemplo se eu sou imortal, se os meus pais ainda são os meus pais e como eu conto para eles que Lúcifer is my father now.

— Cheguei! — falei, jogando a mochila no sofá e correndo para lavar as mãos e poder espiar a panela para ver qual seria o almoço, pois estava morrendo de fome.

Ao entrar e olhar na cozinha, percebi que não havia ninguém na parte de baixo da casa, assim como no andar de cima. Eles geralmente voltavam às cinco ou seis horas, então daria tempo de me ver saindo, e a intenção era justamente o oposto.

— Droga! — xinguei baixinho. — Queria ter como resolver isso.

As costas da minha mão esquerda brilharam em dourado e ouvi um barulho enorme na sala, me fazendo pular de susto.

— Jungkook, tenha modos! — Ouvi a voz de Taehyung brigando com o mais novo.

— Eu tenho modos apenas para te chamar no cantinho, hyung — mandou outra cantada para o garoto. Eu podia ver claramente a cara descarada de JK falando isso e a de Tae incrédula. Mas como é safado, não perde a oportunidade de dizer “Vou ver e te aviso”, e Dimi brat debochada que sabe que todos desejam ele e querem ser pisados na mão pelo coturno de bruxinho rabudo dele.

Será que bruxos usam coturno? Ele combina com coturno.

Fui correndo para a cozinha para saber o que estava acontecendo, acabando por encontrar JK deitado no sofá e o vaso de oitocentos mil wons de minha mãe quebrado no chão.

— O vaso da dinastia Min! — gritei, não tentando nem um pouco parecer complacente com o fato de alguém ter quebrado o vaso.

Tae deu de ombros.

— Fica tranquilo, Saminho, isso é apenas um bem material que se desfaz quando a gente morre e…

— Eu ligo para minha mãe e você fala isso. Aliás, meus pais ainda são meus pais? — perguntei e os garotos se olharam.

— Claro que sim, nós também temos pais, sabia? Mas como viemos de longas linhagens que servem ao Lúcifer hyung, nossos pais todos vivem em um plano diferente do nosso, não nessa chacota que é a Terra. Menos o Koneko, ele tem uma história complicada com os pais, já que é uma entidade à parte. Mas Lúcifer o adotou, e agora Taehyung é o bebê do Nishiki. Você precisa ver como o hyung o trata, parece que ele vai quebrar com um simples sopro! — Dimi explicou. Tae mantinha uma expressão orgulhosa de si mesmo, o safado.

— O que vocês vieram fazer aqui? — perguntei, caminhando com cuidado pela sala repleta de cacos de vidro e me sentando no braço do sofá.

— Te salvar — Jungkook respondeu.

— Sim, você disse que queria resolver algo e nos chamou através do círculo, então viemos te resgatar — Dimi disse. Tae caminhou até a porta e a abriu.

— Na verdade, te raptar. Vamos. — Saiu por ela e desapareceu.

— Ué, mas para onde ele foi? — perguntei exasperado e Dimi sorriu, parando na porta.

— Você nunca assistiu Harry Potter, garoto?

JK estendeu sua mão para mim e, receoso, eu a agarrei, sendo puxado com tudo porta afora. Atravessei algo que se parecia muito com uma gosma, mas a travessia foi tão rápida que, fora o embrulho no estômago, não senti nada. Já estava jogado no chão de madeira de um quarto com duas camas nos cantos. Era bem pequeno e tinha uma janela ampla na parede do fundo, uma mesa encostada na cama da direita, prateleiras nas paredes aglomeradas de livros — uns grossos e outros apenas com uma capa muito antiga e desgastada, todos parecendo muito interessantes, porém não tenho tempo livre para lê-los. Não tinha banheiro.

— Onde estamos? — perguntei, olhando para uma cama com uma almofada 2D de uma personagem que reconheci ser de K-ON, um anime adorável para garotos virgens. Na verdade, o anime é realmente muito bom, eu pensei sobre a virgindade porque parece o tipo de coisa que Jungkook teria.

— Bem-vindo ao portal, mais conhecido com o quarto da maknae line — Dimi falou, se jogando na cama oposta. Segurei o riso.

— Suponho que a cama com a waifu seja a do JK — falei e o mais novo cruzou os braços.

— Claro que sim! Respeite Yui Hirasawa, minha mulher.

Eu comecei a rir e Tae foi até um armário que tinha no canto do quarto, puxando algumas garrafas.

— Bom, está na hora de começar a festa, não é mesmo?! — indagou, puxando uma mesinha dobrável e estendendo no meio do cômodo. — É hoje que batizamos o Park!

Arregalei os olhos e pus a mão direita no ferro da cama.

— Como eu vou fugir de casa e ficar bêbado na mesma noite? Gente, meus pais vão me matar. — Me sentei nervosamente na cama de Jungkook e Dimi encostou o pé direito na parede. Com a mão, começou a mover coisas que estavam sobre o móvel.

— O que papai não vê, papai não sente. — Sorriu de forma maquiavélica.

— Obrigado pela contribuição, Bruxinha Sabrina. — Koneko falou e desatamos a rir do que ele disse. Ri um pouco de nervoso pelo que estava por vir.

Primeiro que eu não sabia se queria realmente fazer parte daquela seita ou seja lá como deveríamos chamar aquilo, segundo que eu não fazia ideia de como me comportava quando bêbado. Na maior parte do tempo, eu sou patético — de um jeito muito bom, no caso —; bêbado eu devo passar mais vergonha do que naturalmente passo. Mas vamos ver no que vai dar.

Sentamos todos com perna de índio no chão e os copos foram distribuídos. Eles disseram que Sana e Shiroi estavam cobrindo o perímetro pela falta que eles vão fazer por estarem aqui, então a festa não tinha hora para acabar. Essa falta de horário me assusta um pouco, pois, como tinha pensado sobre mais cedo, meus pais nunca me deixaram fazer isso de ficar indo para festividades à noite e beber, sequer sair com amigos. Sou basicamente um menino criado em apartamento e não me orgulho disso.

— Sami, você está pronto para ser um de nós? Ao beber esta mistura, você oficialmente aceita que sua alma nos pertence e que você está disposto a conseguir mais almas para o hyung. É isso mesmo que quer? — Dimi perguntou, derramando um líquido vermelho em meu copo.

Gelei. Queria responder que não, não queria, mas se eu mesmo pedi num momento de desespero, como agora iria negar?

— É... sim. — A voz vacilante, eu sabia que eles tinham percebido, mas não demonstravam, pois estavam adorando minhas reações assustadas.

Dimi empurrou para mim o copo pequeno com um líquido vermelho e denso. Arregalei os olhos e dei impulso para trás.

— Misericórdia, isso é sangue? — Repulsa em meus olhos e diversão no deles, que riam abertamente para mim.

— Claro que não, Sami! É suco de groselha com álcool! Agora pare de reclamar e beba, antes que você seja considerado o rei dos maricas — JK falou e trocamos olhares por um tempo, sem dizer nada. Ele tinha algo de peculiar em sua forma de falar e se expressar que fazia tudo parecer cômico. Ele era como uma máquina ambulante de risadas, bobo e sem sentido, o que para mim era muito importante.

Virei o copo de uma vez e recebi os aplausos calorosos deles.

— Isso sim é um homem!

— Quem bebe um bebe dois!

— Eu te dou uma chance, se continuar nesse ritmo. Mas sem a Crocs. — Comecei a rir de JK e nem vi quando virei mais um copo de um líquido azul que tinha um gosto doce adorável. Nem estava vendo quando começaria a me foder de verdade, porém tinha noção de que seria em breve.

— Chegou a hora da noite em que a garrafa fala por nós — Dimi falou. Tae tinha um sorrisinho divertido no canto dos lábios.

Pus um sorriso também, pois não sabia se aquilo era algum tipo de protocolo, um tipo de “O mestre mandou”.

— É uma brincadeira? — perguntei animado e Koneko fez que sim com a cabeça.

— Sim, é a hora do sacrifício de corpo. Você vai participar dos sete minutos no paraíso com alguém. Vamos girar a garrafa e você vai ter que passar sete minutos com a pessoa que cair, dentro do banheiro no fim do corredor. — A cauda de Taehyung balançava de um lado para o outro, mas o seu sorriso travesso me dizia que nada de bom vinha daquilo.

— Mas cuidado, dizem que o banheiro é mal assombrado.

Claro que um humano como eu, cheio de medos mundanos, iria temer aquilo. Eles não tinham o que temer, já eram o tipo de coisa da qual as pessoas têm medo. Akeno riu baixinho ao dar o alerta e antes que eu pudesse dizer algo, virou a garrafa.

— Espera! — tentei falar, mas já era tarde, pois ela já estava rodando.

Tenho plena certeza de que vi o pescoço de Park virando para o lado quando a garrafa caiu com a tampa virada para JK.

— Bom, senhores, as regras estão aí para serem seguidas. — Taehyung cruzou os braços e encostou as costas na madeira da cama.

— Você trapaceou! — gritei, apontando para Dimi. O mais velho virou seu rosto em minha direção e, com os braços cruzados, me olhou.

— Eu o quê? — perguntou e eu engoli em seco, negando rapidamente com a cabeça.

— Nada não, hyung.

Park moveu a cabeça e um vento forte fez a porta do quarto se abrir. Ao mover outra vez, ouvimos uma porta se abrir no corredor com um baque surdo. Me assustei em ambas as vezes, e o olhar debochado dele era a melhor coisa que eu já vi.

— Bom, vocês têm sete minutos.

Eu não entendia como alguém conseguia ser tão sutilmente maléfico e ainda soar sexy dessa forma.

Jungkook foi o primeiro a levantar e tranquilamente caminhar em direção ao corredor. Observei Koneko e Dimi por bastante tempo antes de levantar e ir atrás do mais novo também. Alcancei JK lá na frente e dei um tapa em seu pescoço.

— Você não fala nada? Só levanta e vai, sem nem contestar? — perguntei com uma expressão séria no rosto. Ele riu, divertido.

— Por que eu perderia a chance de botar fogo nesse seu sapato horroroso?

— Eu vou usar esses sete minutos para matar você. — falei, cruzando os braços e passando na frente. Ouvi ele rindo novamente e me lembrei de um detalhe.

— Você tem dentes de coelho.

O banheiro era amplo e todo branco. Havia uma pilastra enorme no meio do local com várias pias juntas, uns seis ou sete boxes com vasos sanitários e um som fantasmagórico de goteira. Todas as luzes estavam desligadas e não pareciam dispostas acenderem. Me encolhi, abraçando meus braços.

— O que eles esperam que façamos aqui? Eu só quero sair correndo antes que um espírito me devore — falei antes de parar para pensar por um segundo que se tinha um espírito lá, era JK, e agora, consequentemente, eu.

— Eu sou o único espírito capaz de te devorar aqui, Sami hyung — comentou, sentando-se na pia.

— Você e mais quantos? Porque sozinho não te levo a sério — respondi, me debruçando sobre a pia ao lado dele, ambos os cotovelos no mármore.

— Tem certeza? Posso te provar o contrário. Você gostaria de presenciar eu te devorando? — Jungkook perguntou e eu dei uma risadinha debochada, pondo o indicador e o polegar no queixo.

— Me faça querer. — Me sentei na pia também, com ambas pernas penduradas para fora, balançando para frente e para trás.

Claro que eu não estava dando nenhuma credibilidade para aquela marra do Jungkook. Depois de ver o travesseiro de waifu, eu jamais esperaria que ele realmente tivesse alguma prática corporal. O máximo que aquele garoto manejava ali se fazia com movimentos ritmados da mão direita.

No entanto, o mais novo me surpreendeu quando foi em minha direção e, ficando de pé entre minhas pernas, pôs ambas as mãos em minhas coxas e me puxou para mais perto, assustando-me pelos movimentos repentinos.

— O que você estava falando mesmo, Park? — Sua mão direita estava em minha coxa esquerda e a apertava calmamente. Sua esquerda subia pelo meu pescoço e, conforme os dedos adentravam os fios, me arrepiei e resetei o corpo, fechando os olhos.

— Que para um otaku virgem, até que você tem alguma iniciativa. — A mão entrou por completo em meus cabelos e meus olhos estavam fechados quando Jeon segurou forte os fios e puxou meu rosto para perto do seu. Abafei um gemido, mordendo meu lábio inferior.

— Eu tenho vários truques na manga, para falar a verdade — comentou baixinho em meu ouvido direito e eu arfei, pois sua mão direita caminhou até a parte interna de minha coxa.

As pontas dos dedos faziam desenhos aleatórios em minha pele por cima do tecido, e eu suspirava baixinho por como ele sabia provocar de forma torturante e nada agradável.

— Você devia fazer menos propaganda de si mesmo e me mostrar, pois duvido que você seja tudo…

Não consegui terminar a frase, pois JK me puxou por baixo das coxas e, me retirando de cima da pia, me pôs no chão, me virando de costas para ele e de frente para o espelho. Pôs a mão direita nos cabelos da minha nuca e puxando minha cabeça para trás, deixando meu pescoço a mostra, onde escorregou a ponta do nariz, roçando os lábios e deixando uma fileira de beijos suaves que me faziam respirar ainda mais pesado.

— Ah, você gosta de algo com um pouco mais de velocidade? — questionou. A voz dele não era grossa, porém, no tom sussurrado em que falava, eu só podia pressionar meus olhos.

Sua mão direita foi subindo em minha coxa e roçou em meu membro. Gemi baixinho.

Jungkook retirou a mão esquerda de meus cabelos, mas eu permanecia com o pescoço na mesma posição. Ele começou a vasculhar algo nos bolsos e na parte interna do casaco, de onde retirou um objeto e amarrou em meu pescoço. Eu não sabia o que era, mas aqueles toques delicados dele eram gotas finas que me fariam transbordar a qualquer momento.

— Olhe para frente, Sami. — Ordenou e eu abri os olhos, movendo meu pescoço e olhando para frente, como ele havia pedido.

Eu usava algo que se assemelhava muito com uma coleira, porém muito mais bonita e delicada. Era rosa e tinha delicados adornos, brilhos e pelúcia. A correia estava presa na parte da frente e ele a segurava.

— O que você vê? — perguntou. Pensando no que responder, decidi que deveria dizer a primeira coisa que me veio à mente.

— Uma coleira. — Jungkook sorriu. Sua mão livre desceu até minha cintura e puxou meu corpo para trás, empinando minha bunda, onde ele encaixou seu corpo. Pude sentir o volume do seu pau, que aos poucos endurecia com a proximidade entre nós.

Ele moveu seu quadril e baixei a cabeça, arfando com a mão na pia. O ambiente era sufocante, pois havia tensão e outras coisas no ar. Era quase impossível respirar, ele monopolizava meus sentimentos e pensamentos naquele exato momento.

— E só cadelinhas usam coleira. — JK completou. Decidi que já devia ter entrado na brincadeira há muito tempo.

Olhei seu reflexo no espelho e, com uma expressão inocente e um beicinho nos lábios, pus a mão esquerda para trás e puxei seu rosto para mais perto do meu pelo cabelo.

Então eu sou sua cadelinha, Kookie.

Os movimentos seguintes foram mais rápidos do que eu previa, Jungkook me virou de frente e amarrou minha coleira na pia, fazendo-me ficar com os cotovelos apoiados no mármore. Ele levantou minha blusa com a lentidão de quem sabe que o outro está a ponto de enlouquecer, e mesmo assim deseja pôr lenha na fogueira.

Admirou meu corpo em silêncio. Se tinha algo que eu gostava, era de ser admirado, apesar de também adorar ser elogiado. Desceu ambas as mãos pela lateral de meu corpo e depois de sorrir de canto, se curvou e encostou a língua em meu mamilo, passando-a em movimentos circulares e lentos, fazendo-me segurar seus cabelos e, em meio a súplicas baixas, resmungar.

— Kookie… Jungkook-ah…

Ouvi duas vozes que constantemente diziam “Ei, garoto! Ei!”. Achei que era obra da minha imaginação e continuei de olhos fechados, sentindo o que Jungkook tinha a me oferecer, até que não fosse mais possível.

— Garoto, ei! Levanta daí, vai sujar todo o seu uniforme! — Ouvi um garoto de cabelos rosados falar e quando abri os olhos, Jungkook estava lá com os outros dois, porém em vez de estarmos no quartos, estávamos no lugar onde eu anteriormente tinha batido a cabeça.

Comecei a processar. Aquilo significava então que eu não tinha sofrido acidente algum e que eu ainda tinha minha alma?

— Porra, tudo aquilo era um sonho? Eu queria que você tivesse me fodido como a cadelinha que eu sou, merda!

O círculo em minha mão esquerda brilhou novamente. A partir daí, não entendi mais nada. Fechei os olhos e comecei a pensar que estava louco, que todos ao meu redor eram loucos querendo me enlouquecer ainda mais. Fechei os olhos fortemente e abri depois de sentir aquele vórtice novamente, apertando meu estômago como se fosse vomitar.

— Então, como eu vou te explicar isso… — Lúcifer apareceu novamente e me levantei, bravo.

— Por que vocês não levaram minha alma e me deixaram o Jungkook? Eu estava quase lá, inferno!

— Não precisa xingar no meu escritório, garoto! Entenda que eu te tirei daquela situação porque você não entendeu que se deitar com um dos meus anjos e bruxos é realmente se tornar um de nós e deixar que sua alma pertença à causa. Se você e o Jungkook fizerem sexo, terão uma ligação mais forte do que um mero pedido ao círculo mágico dele que Taehyung te deu. — Ah, então era por isso que tinha toda aquela atmosfera entre nós dois. Porque o círculo mágico que estava em minha mão, do papel, era o dele.

Concordei.

— Hyung, eu não me importo, eu só quero que ele faça em mim um buraco de minhoca igual o de Interestelar — falei e ouvi cinco pessoas rindo ao fundo. Nishiki se manteve sério por no máximo cinco segundos e começou a rir desesperadamente, de modo que pôs ambas as mãos nos joelhos e os cabelos ficaram sobre os olhos.

— Você está mesmo no cio, não é, Park Sami? — perguntou e eu berrei.

— Sim! E não aguento mais!

— Então seu desejo é uma ordem. Bem-vindo ao time, o Jungkook é todo seu.

O garoto entrou com uma calça de moletom e um moletom cinza da Nike, jogando os cabelos rosados para trás e sorrindo com aqueles dentinhos de coelho a mostra. Eu juro por… Lúcifer que foderia com ele até criar um buraco no espaço tempo.

Corri em direção a Kookie e pulei em seu colo.

— Hora de dar a sua cadelinha o que ela quer. — Sorri inocente para ele, mas mexi meu quadril em seu colo para que ele soubesse que eu não estava brincando e queria mesmo rebolar no seu pau.



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