História Gaara - Uma Nova História... - Não é adeus, é até logo.

Assim que Sakura pousou Chyio levemente no chão e Gaara viu pelo canto dos olhos que Sayuri estava bem, seu corpo começou finalmente a aceitar a morte.

A morte era... Dolorosa, porém confortável. Era um formigamento que dava um peso esquisito nas pernas e braços. Era um peso invisível sobre o tórax, impedindo o ar de entrar e sair. Era a visão e audição ficando turvas. Mas era fácil de entregar-se a ela, porque no momento de uma morte como estava sendo a de Gaara, a morte era mais agradável que os ferimentos.

Ele viu Naruto correr e se jogar ao seu redor. Ele ouvia meramente ele berrar e soluçar. Ele dizia algo como “Você agora é o Kazekage; O que será de Sayuri; O que será de Sayo”. Mas realmente não tinha força o suficiente para falar ou mover-se. Apenas ouvia o som da voz de Naruto com dificuldade.

Sayo... Ah doce Sayo. Talvez a única coisa que realmente doesse naquilo tudo... Era saber que perdera Sayo. Gaara se perguntava se existia algo além dali. Se iria encontrar Sayo – Que provavelmente estava morta também- Se iria encontrar Rasa e Karura, agora que sabia de toda a verdade, poderiam descansar felizes na paz eterna. Poderia ver Yashamaru. Poderia...

E então Gaara estava vendo. O tal filme que todos diziam que passa na mente quando se está para morrer. Aquele filme era triste e vazio, seco como a areia do deserto. Era o seu filme. 

 Aquela vida árida como a terra vermelha de Suna. Assim era seu filme... Mas tinha um final feliz. Aparecia uma flor. Aprecia alguém naquele filme e a vida ruim virava outra coisa. Virava um jardim de alegria, de paz e de amor. No final do filme... O personagem ruivo tinha amigos, tinha uma família somente dele... Conseguira dar certo com seu demônio interior no sentido literal da palavra... Conseguira entender e perdoar seu pai, sua mãe e seu tio Yashamaru. O personagem era um vencedor afinal. Quantas pessoas com um filme tão triste tinham a extraordinária honra de mudar tanto?

Gaara sorriu. Ele havia vencido sim. Mesmo partindo, partiria sabendo que havia provado do pior e do melhor que a vida poderia oferecer. Partiria sabendo o que era recomeçar. O que era chorar e também sorrir. O que era ter fé e o que era... Perdoar de coração. Poucos filmes tinham tanta ação e reviravolta. Era um bom filme afinal. Com um final digno de um shinobi de verdade. 

*

Virou a cabeça com dificuldade, olhando a última vez para Sayo, que jazia fria ao seu lado. Agradeceu internamente por Naruto e Sakura terem deixado-os lado a lado.

GAA- S-S-S-SSAYO... O-Oobrigado... Por... Dd-dd-ar um final t-t-tão digno para a história da minha vida...

Gaara falara aquilo e fechara os olhos. Agora era só ir.

SAY- G-G-Gaara... Eu estou com medo... De partir... E... Não encontrar você no infinito que nos espera. Estou com medo... Do desconhecido da morte.

Gaara  ficara contente de ver Sayo ainda um pouco viva, para lhe dar adeus. Parecia que o coração que já estava quase parado, aqueceu-se para bater mais duas ou três vezes, só para poer ouvi-la melhor. 

GAA- A-acho que... Não temos muito que fazer... É... O fim... Este é... O Adeus que eu jamais planejei dar... Porque desde que você apareceu na minha vida... Nunca quis te dizer adeus...

SAY- Então... Deixe-me tentar uma última coisa...

Sayo esticou os braços frágeis para o rosto de Gaara, segurando-os, mantendo o rosto dele em direção ao dela.

SAY- O-Olhe... Para mim Gaara...

Gaara fitou os olhos de Sayo. Verdes opacos. Mas fitou. Seria agradável partir olhando aqueles olhinhos chocolate.

SAY- Eu... Eu posso até morrer... Mas você... Não consigo imaginar a graça deste mundo, sem a sua existência Gaara... Afinal, você é o personagem importante desta história... Não eu. Eu... Eu... –Sayo chorou.

Em sua cabeça, ela era como um figurante na história de alguém importante. Uma invenção para algo real. O protagonista era ele. Era Naruto, era Chyio, era Sakura.

SAY- Nós... Já estamos indo mesmo... Eu- eu vou... Fazer aquilo que era proibido com meu jutsu eu... Vou quebrar todas as regras... Por você...

Gaara seguia um pouco confuso.

GAA- Nunca mais diga... Que não é o personagem importante da história, por favor.

Sayo se concentrou. O último jutsu de todos. Ia gastar todo o resto de sua vida ali. Ia mudar tudo. Ia fazer aquilo que sempre fora proibido para quem tinha o dom de mexer com memórias.

Sayo ia mexer naquilo que era perigoso, sem piedade, natural, indiferente... Naquilo que fugia ao controle de todos... Sim, no tempo. Se tivesse a chance de Gaara viver, Sayo apostaria suas moedas nisso. E naquele momento, Sayo finalmente entendeu porque sua história começara com aquele assassinado ao clã. Sayo entendeu o que Sasuke e Orochimaru tanto queriam. Era aquele dom único.

Sayo se concentrou na mente de Gaara. E de repente, Sayo já não estava ali.

***

Yashamaru estava debruçado sobre seus livros. A casa toda escura, somente a luz da escrivaninha onde lia estava acesa. A janela arredondada de frente para o luar também era uma fonte de luz. Ele havia tido mais um dia de luta naquela vida: Gaara era uma criança problemática. A cada dia dava sinais de que ia falhar no projeto Shukaku.

O resto já não era segredo: Os conselheiros de Suna iam pressionar Rasa para que desse a Yashamaru a missão mais cruel do mundo shinobi: Matar Gaara.

Claro que Yashamaru já sabia do futuro. Nunca se esquecera daquela visita, da visita de Sayo; A kunoichi que viajara no tempo, de um futuro feliz, que seria esposa de Gaara, um Gaara vencedor, um Gaara Kazekage (CaP.57 Passado vs Presente  )

Aquela garota iria encontrar Gaara um dia e eles seriam felizes. Por isso, ele e Rasa iriam seguir com o plano; Não mais por ódio, por vingança nem por nada. Rasa já não era um homem ruim, nem Yashamaru um homem deprimido. Desde a visita de Sayo aquela vez, eles se uniram e decidiram seguir o curso natural da vida, pois aquele caminho, por pior que fosse, iria um dia levar a paz para Gaara e seus irmãos.

Por muito tempo, Yashamaru acordava a noite, lembrando-se do rosto de Gaara adulto que conhecera. Por vezes, chorava, se perguntando se aquilo não fora um sonho... Mas aquele ursinho de pelúcia que Gaara carregava, era a prova física de que houvera uma viagem no tempo; Sayo dera aquele urso para Gaara (Cap.68 Ultimo Adeus)

YAS- Tudo bem Yashamaru. Nós vamos morrer... Mas Gaara será feliz. Vamos tentar matá-lo, mas já sabemos que ele vai vencer. Sabemos que Rasa também encontrou sua paz. Tudo ficará bem.

Foi quando Yashamaru sentiu uma presença ninja já conhecida. Ele virou a cadeira giratória e viu ela, Sayo, novamente. Ajoelhada na porta do seu pequeno quarto de estudos. Ele correu emocionado até ela.

YAS- Sayo-Chan! Quantas vezes eu desejei vê-la novamente! Quantas vezes eu pensei que aquilo... Fora loucura minha! Mas você era mesmo real!!!

Yashamaru falava baixo, para não acordar Gaara, que naquele momento era uma criança de 6 anos que tentava dormir. Foi quando ele finalmente percebera que Sayo estava com o chakra fraquíssimo. Seu rosto estava deformado por muitas feridas;

YAS- O QUE HOUVE COM VOCÊ SAYO??

SAY- Não há tempo... Para eu explicar Yashamaru-San... Eu estou... Eu estou... Morrendo...

Yashamaru jogou-se no chão de frente para Sayo, desesperado.

YAS- O QUE??

SAY- Eu e Gaara... Estamos morrendo... Nossa filha... Ficará sozinha... A vila... Akatsuki... Jinchuuriki...

YAS- Sayo... Eu... Sinto muito!!! Existe algo que eu possa fazer por você? Por Gaara? Meu Deus... Uma filha... A minha pequena criança vai ser pai... - Yashaamru não sabia se ria ou chorava, pois eram muitas informações.

SAY-  Salve-o Yashamaru... Avise Rasa-Sama... Que o futuro não era tão incrível... Salve... O G-Gaara.. Ele está... Morrendo.

YAS- Sayo... Nós conversamos disso aquela vez. A linha do tempo-espaço não deve ser mexida... Nada garante que isso salve Gaara... E... Você... Você também está morrendo... Talvez... Talvez mesmo fazendo algo assim... Não o encontre... Talvez se perca para sempre nas muitas linhas do tempo... – Yashamaru chorava junto com Sayo enquanto dizia isso.

SAY- Não tem importância... Eu sei dos riscos... Mas... Eu preciso tentar, enquanto ainda tenho alguns minutos... Eu não estou fazendo isso por mim... Mas por Gaara. Quero que exista um futuro para ele... Uma história. Não quero que... Ele desapareça assim... Num lugar escuro e sujo, morto por Nukenins...

Lágrimas. Soluços sentidos. A dor inexplicável da separação precoce de duas almas que tanto se amavam. Sayo sentia que a cada fase, perdia um pedaço físico de si mesma. 

SAY- Não importa se talvez... Eu nem exista nessa linha alternativa... Os heróis de verdade... Às vezes salvam a vila ou os amigos, e ninguém fica sabendo... As vezes os heróis não são conhecidos ou honrados com seus méritos... Como foi com Itachi Uchiha... Como foi com Karura, Rasa e você... Como foi com os... Hayashi. Eu só quero tentar tirar Gaara deste destino... Por favor... Ajude-me.Não me importo com o que pode acontecer comigo... Para todos os efeitos... Já estamos mortos mesmo... Não tenho nada a perder. 

E foram essas as últimas coisas que Sayo dissera em sua vida.

Yashamaru a pegou nos braços. E correu. Correu pela madrugada fria e soprosa de Suna até aquela casa imponente e arredondada 

Yashamaru corria nas ruas vazias ouvindo o próprio sapato na areia. A noite enluarada e sinos tocando pela ventania do deserto o deixava arrepiado. Quem brincava com o tempo? Quem mandava no tempo? Que garantias mudar as coisas daria? Nada. Ninguém havia feito aquilo. Os únicos detentores daquele tipo de jutsu sempre aceitaram o tempo e seu curso natural e jamais interferiram nele, apesar das dores que a vida ocasionalmente submetera... Mas Yashaamru sabia: Sayo não estava fazendo aquilo por que ela estava sofrendo... Era porque Sayo não suportava ver Gaara morrer.

E Sayo ousou algo completamente novo. Por amor. Yashamaru estava de frente a casa de Rasa. Correu para dentro. Desde a primeira visita de Sayo, eles tiveram uma relação normal e Rasa ficara bem mais acessível.

YAS- RASA! Preciso falar com você! URGENTE

Eles iriam mudar as coisas. Estava decidido.  Seria ali; Seria naquele momento; Para sempre. 

(...) A morte veio com seu manto suave e escuro e pousou sobre seu rosto. Aquilo tudo que ela fora ou poderia ser, não existia mais. Ela caiu nos braços de Yashamaru e ele sabia: Ela havia morrido em seu presente misterioso. Seu corpo foi sendo iluminado como que por centenas de fagulhas azuladas. E aos poucos, aquelas fagulhas se desprendiam de sua pele, formando como uma nuvem de vagalumes, que voaram livres pela janela a fora. E onde estava seu corpo, ficara apenas o vazio. Estava consumado: Sayo Hayashi havia morrido e levado consigo aquele desfecho triste...  

-CONTINUA-