História Garotas Quebradas - Olívia

Os traumas vieram no momento que coloquei minha mão na caneta. O mundo parecia bem mais leve quando eu fazia isso antes, mas agora ele se torna muito mais pesado.

Não adiantava mais desenhar roupas, ninguém as vestiria. Também era inútil criar personagens, afinal o olhar deles sempre estaria vazio. Então, só me restavam os monstros. Os olhos sangrando, as mãos em garras e as expressões de dor.

Quando dei por mim a silhueta humana ja estava pronta, assim como o coração cheio de cacos de vidro. Não estava tão ruim quanto eu pensava. Talvez eu conseguisse deixar aquilo bonito no fim. Deixei meus dedos passarem pela folha, desenhando engrenagens no lugar de olhos e boca, e enchendo os pulsos e pernas de arame.

Confesso que meu peito ja parecia estar sendo esmagado quando comecei a desenhar a corda ao redor do pescoço. Disse a mim mesma para continuar, mas aquilo me matava por dentro, aquele desenho era cheio de dor, mais dor do que eu podia suportar mostrar ao mundo. Peguei a caneta vermelha, e fui aos poucos, dando vida a cada corte desenhado.

Por fim, coloquei a minha arte na parede, onde ela parecia olhar pra mim, mesmo não tendo olhos. Conferindo os detalhes, percebi no pulso um corte a mais do que devia. Peguei a tesoura, e afundei no meu. Agora sim.

A arte estava representando perfeitamente sua criadora.