1. Spirit Fanfics >
  2. Gêmeos Potter e o Cálice de Fogo >
  3. Os sonhos

História Gêmeos Potter e o Cálice de Fogo - Os sonhos


Escrita por: LyaraArayl

Notas do Autor


Espero que goste, boa leitura :)

Capítulo 29 - Os sonhos


– A coisa se resume no seguinte – disse Luna esfregando aa têmporas –, ou o Sr. Crouch atacou Krum ou outra pessoa atacou os dois, quando Krum não estava olhando.

– Deve ter sido o Crouch – disse Rony na mesma hora. – É por isso que ele já tinha desaparecido quando Harry, Luna e Dumbledore chegaram lá. Deu no pé.

– Acho que não – disse Harry balançando a cabeça. – Ele parecia realmente fraco, acho que não tinha forças para desaparatar nem nada.

– Ninguém pode desaparatar nas terras de Hogwarts, já não disse isso a vocês um montão de vezes? – reclamou Hermione.

– OK... então que tal esta outra teoria – propôs Rony excitado: – Krum atacou Crouch, não, peraí, então se estuporou!

– E o Sr. Crouch se evaporou, não é mesmo? – disse Hermione com frieza.

– Ah, é...

O dia estava amanhecendo. Harry, Luna, Rony e Hermione tinham saído muito cedo dos seus dormitórios e corrido até o corujal, juntos, a despachar um bilhete para Sirius. Agora estavam parados contemplando os jardins cobertos de névoa. Os quatro estavam pálidos, os olhos inchados, porque ficaram conversando até tarde sobre o Sr. Crouch.

– Vamos recapitular, Harry – disse Luna. – Que foi que o Sr. Crouch realmente disse?

– Já falei que ele não estava fazendo muito sentido – repetiu Harry. – Disse que queria prevenir Dumbledore sobre alguma coisa. Tenho certeza de que ele mencionou Berta Jorkins e parecia achar que ela estava morta. Não parava de repetir que muita coisa era culpa dele... mencionou o filho.

– Bem, isso foi culpa dele – disse Hermione irritada.

– Ele estava delirando – continuou Harry. – Metade do tempo dava a impressão de acreditar que a mulher e o filho ainda estavam vivos, e ele não parava de falar com Percy sobre serviço e de lhe dar instruções.

– E... o que foi mesmo que ele disse sobre Você-Sabe-Quem? – perguntou Rony inseguro.

– Eu já contei – respondeu Harry chateado. – Disse que ele está ficando mais forte.

Houve uma pausa.

Então Rony num tom de falsa segurança disse:

– Mas ele estava delirando, conforme você falou, portanto metade disso provavelmente era só delírio...

– Ele ficava mais sensato quando tentava falar de Voldemort – disse Harry, não dando atenção à careta de Rony. – Estava realmente com dificuldade para formar frases, mas isso era quando parecia que sabia onde estava e o que queria fazer. Ele não parava de dizer que queria ver Dumbledore.

Harry se afastou da janela e olhou para os caibros do telhado. Metade dos numerosos poleiros estava vazia; de vez em quando, mais uma coruja entrava voando por uma das janelas, voltando de uma caçada noturna com um rato no bico.

– Se Snape não tivesse nos atrasado – comentou Harry –, talvez a gente tivesse chegado lá a tempo. “O diretor está ocupado, Potter... Que tolice é essa, Potter?” Por que ele simplesmente não saiu do caminho?

– Talvez não quisesse que vocês chegassem lá! – disse Rony depressa. – Talvez, calma aí, com que rapidez você acha que ele poderia ter ido até a Floresta? Você acha que ele podia ter chegado lá antes de você e Dumbledore?

– Não, a não ser que ele seja capaz de se transformar num morcego ou outra coisa do gênero.

– Eu não duvido nada – murmurou Rony.

– Precisamos ver o Prof. Moody – disse Luna. – Precisamos descobrir se ele encontrou o Sr. Crouch.

– Se tivesse levado o Mapa do Maroto com ele, teria sido fácil – disse Harry.

– A não ser que Crouch já tivesse saído de Hogwarts – lembrou Rony – , porque o mapa só mostra o que está dentro dos limites, não...

– Psiu! – exclamou Hermione de repente.

Alguém estava subindo a escada para o corujal. Eles ouviram duas vozes discutindo, cada vez mais próximas.

– ... isso é chantagem, é o que é, e poderíamos nos meter em uma baita enrascada por causa disso...

– ... tentamos ser gentis, está na hora de jogar sujo com o cara. Ele não ia gostar que o Ministério da Magia soubesse o que ele fez...

– Estou falando, se você puser isto por escrito, será chantagem!

– É, mas você não ia reclamar se conseguíssemos um bom pagamento por isso, ia?

A porta do corujal se abriu com estrondo. Fred e Jorge apareceram no portal e em seguida congelaram ao verem Harry, Luna, Rony e Hermione.

– Que é que vocês estão fazendo aqui? – perguntaram Rony e Fred ao mesmo tempo.

– Despachando uma carta – responderam Harry e Jorge em uníssono.

– Quê, a esta hora? – se admiraram Hermione e Fred.

– É assim que vocês se sentem quando Harry e eu falamos Juntos? – perguntou Luna, olhando divertida para todos eles. – É realmente bizarro.

Fred sorriu.

– Ótimo, nós não perguntamos o que vocês estão fazendo, se vocês não nos perguntarem – disse ele.

– Incrível que eu saiba o que todo mundo está fazendo, não é mesmo? – provocou Luna apontando a mão do amigo e a janela do corujal, por onde Pichitinho saíra voando a alguns minutos.

– E, misteriosamente, tudo isso são confusões, não são? – Jorge provocou de volta, escolhendo uma coruja.

Harry reparou que Fred segurava um envelope fechado na mão. Harry deu uma olhada, mas Fred, fosse por acaso ou de propósito, escorregou a mão, tampando o nome do destinatário.

– Bem, não se prendam por nós – disse ele, fazendo uma reverência cômica e indicando a porta.

Rony não se mexeu.

– Quem é que vocês estão chantageando? – perguntou.

O sorriso desapareceu do rosto de Fred. Harry viu Jorge olhar de Fred para Luna de relance antes de sorrir para Rony.

– Não seja idiota, eu só estava brincando – disse ele à vontade.

– Não parecia – insistiu Rony.

Fred e Jorge se entreolharam.

Então Fred disse abruptamente:

– Já lhe avisamos antes, Rony, não meta o nariz se gosta do feitio que ele tem. Não vejo por que você iria meter, mas...

– Mas é da minha conta se vocês estiverem chantageando alguém. Jorge tem razão, vocês poderiam acabar numa baita enrascada.

– Já lhe disse, eu estava brincando – disse Jorge. Ele foi até Fred, tirou a carta das mãos do irmão e começou a prendê-la à perna da coruja-de-igreja mais próxima. – Você está começando a falar como o nosso querido irmão mais velho, sabe, Rony. Continue assim e vai acabar monitor-chefe.

– Não, não vou, não! – protestou Rony indignado.

Jorge levou a coruja até a janela e deixou-a levantar voo.

Ele se virou e sorriu para Rony.

– Bem, então pare de dizer às pessoas o que fazer. Até mais tarde, Luna.

Ele e Fred saíram do corujal. Harry, Rony e Hermione encararam Luna.

– Fred e Jorge sabem alguma coisa dessa história toda? – sussurrou Hermione. – Do Crouch e todo o resto?

– Não – disse Luna, dando de ombros. – Fiquem tranquilos, não é nada demais. É só um problema nosso com uma pessoa inconveniente. Logo vai se resolver.

Rony, no entanto, estava com um ar constrangido.

– Que foi? – perguntou Hermione.

– Bem... – respondeu Rony lentamente – não sei. Fred e Jorge... ultimamente estão obcecados com essa ideia de fazer dinheiro, notei isso quando estava andando com eles, quando... vocês sabem...

– Nós dois não estávamos nos falando – Harry terminou a frase para ele. – É, mas chantagem...

– É essa ideia deles de abrirem uma loja de logros. Pensei que estivessem falando nisso só para aborrecer mamãe, mas estão realmente falando sério, querem abrir uma loja. Só falta um ano para eles terminarem Hogwarts, eles não param de falar que está na hora de pensar no futuro e papai não pode ajudá-los, precisam de ouro para começar um negócio.

Agora era Hermione que estava com um ar constrangido.

– Sei, mas... eles não fariam nada contra a lei para conseguir ouro. Fariam?

– Se fariam? – disse Rony com uma expressão de ceticismo. – Não sei... eles não se importam muito de desrespeitar o regulamento, não é mesmo?

– É, mas estamos falando da Lei, Rony – disse Luna, parecendo indignada com qualquer suspeita a respeito dos amigos. – Já falei que não é nada ilegal. Não estamos fazendo nada perigoso ou algo do tipo. Sim, Fred e Jorge querem juntar dinheiro para abrir a loja. Sim, eu estou metida nisso. E, não, vocês não podem saber de nada ainda. – acrescentou rapidamente quando Rony abriu a boca mais uma vez. – Mas eu juro a vocês que não estamos fazendo nada de errado...

– Mas, Luna... – chamou Harmione, parecendo amedrontada. – Não é algo simples como um regulamento de escola... eles estavam falando sobre fazer uma chantagem! Rony... talvez seja melhor você contar ao Percy...

– Você ficou maluca? – exclamou Rony. – Contar ao Percy? Ele provavelmente ia fazer como o Crouch, e entregaria os dois e Luna também. – Ele ficou olhando a janela por onde partira a coruja de Fred e Jorge e encarou Luna de soslaio, parecia que iria perguntar mais alguma coisa, mas disse apenas:

“Vamos gente, vamos tomar café.”

– Vocês acham que é muito cedo para procurar o Prof. Moody? – perguntou Hermione quando desciam a escada circular.

– Acho – respondeu Harry. – Ele provavelmente nos detonaria pela porta se nós o acordássemos com o dia nascendo. Ia pensar que estamos querendo atacá-lo dormindo. Vamos esperar até a hora do intervalo.

A aula de História da Magia jamais transcorrera tão lentamente. Harry não parava de consultar o relógio de Rony, tendo finalmente jogado fora o seu, mas o do amigo estava andando tão devagar que ele poderia jurar que parara de funcionar também. Os quatro garotos estavam tão cansados que teriam gostado de descansar as cabeças nas carteiras e dormir; nem Luna e Hermione estavam fazendo as anotações de costume, sentavam-se com as cabeças apoiadas na mão, mirando o Prof. Binns com os olhos fora de foco.

Quando a sineta finalmente tocou, eles saíram correndo pelo corredor em direção à sala de Defesa Contra as Artes das Trevas e encontraram o Prof. Moody de saída. Ele parecia tão cansado quanto os quatro se sentiam. A pálpebra do seu olho normal estava caída, dando ao seu rosto uma aparência ainda mais torta do que a habitual.

– Prof. Moody? – chamou Harry, enquanto atravessavam o ajuntamento de alunos até o professor.

– Olá, Potter – rosnou Moody. Seu olho mágico acompanhou uns alunos de primeiro ano que iam passando e que aceleraram o passo demonstrando nervosismo; depois o olho girou para a nuca do professor e observou-os virar o canto, só então ele voltou a falar: – Entrem.

Afastou-se, então, para deixá-los entrar em sua sala de aula vazia, entrou em seguida mancando, e fechou a porta.

– O senhor o encontrou? – perguntou Harry sem preâmbulos. – O Sr. Crouch?

– Não – respondeu Moody. Ele foi até a escrivaninha, sentou-se, esticou a perna de pau com um breve gemido e puxou um frasco de bolso.

– O senhor usou o mapa? – perguntou Luna.

– Naturalmente – disse o professor tomando um gole do frasco. – Fiz igualzinho a você, Potter. Convoquei o mapa do meu escritório para a Floresta. O homem não estava em lugar algum.

– Então ele desaparatou? – perguntou Rony.

Não se pode desaparatar nos terrenos da escola, Rony! – disse Hermione. – Não existem outras maneiras que ele poderia ter usado para desaparecer, existem, professor?

O olho mágico de Moody estremeceu ao pousar em Hermione.

– Você é outra que poderia pensar numa carreira de auror – disse ele à garota. – Sua cabeça funciona na direção certa, Granger.

Hermione corou de prazer.

– Bem, ele não estava invisível – falou Luna –, o mapa mostra pessoas invisíveis. Então ele deve ter deixado Hogwarts.

– Mas com as próprias pernas? – perguntou Hermione ansiosa. – Ou alguém o fez deixar?

– É, alguém poderia ter feito isso, montar o Crouch numa vassoura e levar ele embora, não poderia? – perguntou Rony depressa, olhando esperançoso para Moody, como se também quisesse ouvir que tinha talento para auror.

– Não podemos excluir um sequestro – rosnou Moody.

– Então – disse Rony – o senhor acha que ele está em algum lugar de Hogsmeade?

– Poderia estar em qualquer lugar – respondeu Moody balançando a cabeça. – A única coisa de que temos certeza é que ele não está aqui.

O professor deu um grande bocejo, suas cicatrizes se esticaram e sua boca torta deixou entrever que lhe faltavam vários dentes.

Então disse:

– Agora, Dumbledore me contou que vocês quatro se imaginam investigadores, mas não há nada que possam fazer por Crouch. O Ministério vai procurá-lo agora, Dumbledore já mandou uma notificação. Potter, e você se concentre na terceira tarefa.

– Quê? – disse Harry. – Ah, sim...

Ele ainda não parara um instante sequer para pensar no labirinto desde que deixara Krum na noite anterior.

– Deve ser bem a sua praia, essa – disse o professor, erguendo os olhos para Harry e coçando o queixo barbado e cheio de cicatrizes. – Pelo que Dumbledore me contou, você já conseguiu fazer coisas parecidas muitas vezes. Venceu uma série de obstáculos que guardavam a Pedra Filosofal no primeiro ano, não foi?

– Nós ajudamos – disse Rony depressa. – Luna, Mione e eu ajudamos.

Moody se riu.

– Bem, então ajude-o a treinar para esse e ficarei muito surpreso se ele não vencer. Nesse meio tempo... vigilância constante, Potter. Vigilância constante. – Ele tomou mais um longo gole do frasco de bolso e seu olho mágico girou para a janela. Por ali via-se a vela principal do navio de Durmstrang.

– Vocês dois – seu olho normal estava posto em Rony e Hermione – fiquem colados nos Potter, sim? Eu estou de olho nas coisas, mas assim mesmo... nunca há olhos demais para se vigiar.

 

 

Sirius devolveu a coruja dos garotos na manhã seguinte. Ela esvoaçou ao lado de Harry no mesmo instante em que uma coruja castanho-amarelada pousou diante de Hermione, trazendo um exemplar do Profeta Diário no bico. Ela apanhou o jornal, deu uma olhada nas primeiras páginas e disse:

– Ela não ouviu falar do Crouch! – comentou antes de se juntar a Rony, Luna e Harry para ler o que Sirius mandara dizer sobre os misteriosos acontecimentos da antevéspera.
 

Harry, Luna – que brincadeira é essa de sair perambulando pela noite e ir para a Floresta Proibida com Vítor Krum? Quero que vocês jurem, na volta deste correio, que não vão sair andando com mais ninguém à noite. Há alguém perigosíssimo em Hogwarts. Para mim está muito claro que esse alguém queria impedir Crouch de ver Dumbledore e vocês, os dois, provavelmente estiveram a poucos passos dele no escuro. Poderiam ter sido mortos.
            O seu nome não foi parar no Cálice de Fogo por acaso, Harry. Se alguém está tentando atacá-los, essa é a última chance de afetar os dois. Fiquem perto de Rony e Hermione, não saiam da Grifinória tarde da noite e, Harry, se prepare para a terceira tarefa. Pratique estuporamento e desarmamento. Algumas azarações viriam a calhar. Não há nada que vocês possam fazer por Crouch. Não se exponham e se cuidem. Estarei esperando a carta em que me darão sua palavra de que não vão mais ultrapassar os limites da escola.
            Sirius

 

– Quem é ele para nos fazer sermão por ultrapassar os limites da escola? – disse Luna ligeiramente indignada enquanto dobrava a carta de Sirius e a guardava no bolso interno das vestes. – Depois de tudo que ele aprontou na escola! Depois de ter passado o último ano inteiro me pedindo para ir vê-lo na calada da noite!

– Ele está preocupado com vocês! – lembrou Hermione com rispidez. – E o mesmo se aplica a Moody e Hagrid! Por isso escutem o que eles estão lhes dizendo!

– Ninguém nem tentou nos atacar este ano – disse Harry. – Ninguém nem nos fez absolutamente nada...

– Exceto colocarem o seu nome no Cálice de Fogo – disse Hermione. – E devem ter tido um bom motivo para isso, Harry. Snuffles tem razão. Talvez estejam esperando a hora certa. Talvez a terceira tarefa seja a que vão pegar você e acertar Luna ao mesmo tempo.

– Olhem – disse Harry impaciente –, digamos que Snuffles tenha razão e alguém estuporou Krum para sequestrar Crouch. Bem, ele estaria escondido entre as árvores perto de nós, certo? Mas esperou eu estar fora do caminho para agir, não foi? Portanto não está parecendo que eu seja o alvo deles, não é?

– Eles não poderiam fazer parecer um acidente se tivessem matado você na Floresta. Mas se você morresse durante a tarefa...

– Eles não se importaram de atacar Krum, não foi? Por que não aproveitaram para acabar com Harry também? – perguntou Luna. – Poderiam ter feito parecer que Krum e Harry tinham duelado ou outra coisa qualquer.

– Harry, Luna, eu também não entendo – disse Hermione desesperada. – Só sei que há um monte de coisas estranhas acontecendo e que não estou gostando nada... Moody está certo, Snuffles está certo, Harry tem que começar a treinar logo para a terceira tarefa. E não se esqueçam de responder a Sirius e prometerem que não vão sair por aí sozinhos outra vez.

– Quero ver eu não sair... – resmungou Luna, fincando o garfo em suas panquecas e ignorando o olhar levemente decepcionado de Hermione.

 

 

Os jardins de Hogwarts nunca pareceram mais convidativos do que quando os gêmeos foram obrigados a permanecerem no castelo. Nos dias que se seguiram eles passaram quase todo o tempo livre na biblioteca com Hermione e Rony, consultando livros sobre azarações ou então em salas de aula desocupadas, em que eles entravam às escondidas para praticar. Harry se concentrou no Feitiço Estuporante, que ele nunca usara antes. O problema era que sua prática exigia certos sacrifícios de Luna, Rony e Hermione.

– Não podíamos sequestrar Madame Nor-r-ra? – sugeriu Rony durante a hora de almoço na segunda-feira, ainda deitado de barriga para cima no meio da sala de Feitiços, onde acabara de ser estuporado e reanimado por Harry pela quinta vez seguida. – Vamos estuporar a gata para variar. Ou quem sabe você podia usar o Dobby, Harry, aposto que ele faria qualquer coisa para ajudar você. Não estou reclamando nem nada – o garoto se levantou esfregando as costas –, mas estou todo doído...

– Bem, você sempre sai de cima das almofadas, não é? – disse Hermione com impaciência, re-arrumando a pilha de almofadas usadas para o Feitiço Expulsório que Flitwick deixara guardadas em um armário. – Experimente cair de costas!

– Quando a gente está sendo estuporado, não consegue mirar muito bem, Hermione! – defendeu-se Rony aborrecido. – Por que você não experimenta uma vez?

– Bem, acho que Harry já pegou o jeito – disse a garota apressada. – E não precisamos nos preocupar com o desarmamento, porque ele já sabe fazer isso há séculos... Acho que hoje à noite devíamos começar algumas azarações.

A garota percorreu com os olhos a lista que tinham feito na biblioteca.

– Gosto da cara desta aqui – disse ela –, da Azaração de Impedimento. Deve retardar qualquer coisa que esteja tentando atacar você, Harry. Vamos começar por ela.

A sineta tocou. Apressadamente eles enfiaram as almofadas no armário de Flitwick e saíram com cautela da sala de aula.

– Vejo vocês no jantar! – disse Hermione e foi para a aula de Estudo dos Trouxas, enquanto Harry, Luna e Rony seguiam para a aula de Adivinhação na Torre Norte. Grandes feixes de sol, radiosamente dourados, vindos das altas janelas, cortavam o corredor. O céu lá fora estava tão intensamente azul que parecia esmaltado.

– Vai estar uma sauna na sala da Trelawney, ela nunca apaga aquela lareira – comentou Luna, quando começaram a subir a escada circular que levava à escada prateada e ao alçapão.

E ela estava certa. A sala mal iluminada estava incomodamente quente. A fumaça da lareira perfumada estava mais densa que nunca. Harry sentiu a cabeça tontear ao se dirigir a uma das janelas de cortinas corridas. Enquanto a Profa Sibila estava olhando para o outro lado, tentando soltar o xale de um abajur, ele abriu a janela uns dois dedinhos e tornou a se sentar em sua cadeira forrada de chintz, de modo que uma brisa suave correu pelo seu rosto. Ele se sentiu muitíssimo confortável.

– Meus queridos – disse a professora, sentando-se em sua bergère diante da turma e percorrendo-a com seus olhos estranhamente aumentados – , estamos quase no fim dos nossos estudos sobre adivinhação planetária. Hoje, no entanto, teremos uma excelente oportunidade de examinar os efeitos de Marte, porque ele está em uma posição muitíssimo interessante neste momento. Se vocês todos olharem para cá, eu vou diminuir a luz...

Ela acenou com a varinha e as luzes se apagaram. A lareira ficou sendo a única fonte de claridade. A Profa Sibila se curvou e tirou debaixo da poltrona um modelo do sistema solar, protegido por uma redoma de vidro. Era uma bela peça; cada uma das luas cintilantes estavam dispostas em torno dos nove planetas e do sol esbraseado, todos suspensos no ar sob o vidro. Harry e Luna acompanharam indolentemente a professora começar a apontar o ângulo fascinante que Marte formava com Netuno. A fumaça muito perfumada os envolveu e a brisa vinda da janela brincou pelos seus rostos. Eles ouviram um inseto zumbir suavemente em algum lugar atrás da cortina. Suas pálpebras começaram a pesar...

Eles estavam cavalgando às costas de um corujão, voando por um claro céu azul em direção a uma casa velha e coberta de hera, situada no alto de uma encosta. Eles foram voando cada vez mais baixo, o vento passando agradavelmente pelos rostos de Harry e Luna, até chegarem a uma janela escura e desmantelada no primeiro andar da casa, pela qual entraram. Agora estavam voando por um corredor sombrio e chegaram a um quarto bem no final... cruzaram a porta e entraram nesse quarto escuro cujas janelas estavam pregadas...

Harry teve uma súbita sensação de dejavú; já estivera ali antes, tinha certeza, mas nunca com Luna, seria possível que...

Harry, olhando para tudo muito desconfiado, ajudou Luna a desmontar das costas do corujão... e os gêmeos observaram-no esvoaçar pelo quarto e pousar em uma poltrona virada de costas para eles... havia duas formas escuras no chão ao lado da cadeira... as duas se mexiam...

Uma era uma enorme cobra... a outra, um homem... um homem baixo, meio careca, um homem com olhos aquosos e um nariz pontudo... ele arfava e soluçava no tapete diante da lareira...

– Você está com sorte, Rabicho – disse uma voz fria e aguda do fundo da poltrona em que o corujão pousara. – Você tem de fato muita sorte. O seu erro não chegou a arruinar tudo. Ele está morto.

– Milorde! – ofegou o homem no chão. – Milorde, estou... estou tão satisfeito... e tão arrependido...

– Nagini – disse a voz fria –, você está sem sorte. Afinal, não é hoje que vou lhe dar Rabicho para comer... mas não se incomode, não se incomode... ainda tem Harry e Luna Potter...

A cobra sibilou. Harry viu a língua dela se agitar e ele escondeu Luna atrás de si, em um gesto automático de proteção.

– Agora, Rabicho – disse a voz fria –, talvez mais um lembrete de por que não vou tolerar mais nenhum erro seu...

– Milorde... não... eu suplico...

A ponta de uma varinha ergueu-se do fundo da poltrona. Mirou Rabicho.

Crucio – disse a voz fria.

Rabicho berrou, berrou como se cada nervo do seu corpo estivesse em fogo, os berros encheram os ouvidos dos gêmeos, ao mesmo tempo que as cicatrizes na testa e no pulso queimaram de dor; eles estavam berrando, também... Voldemort iria ouvi-los, saberia que eles estavam ali...

Sentiram uma força puxá-los pelos umbigos e eles foram arremessados para trás, batendo em uma parede invisível e atravessando-a. Uma tonteira absurda tomou conta deles, como se tivessem rodado por horas em um imenso carrossel e parado de uma só vez. Fecharam os olhos para se estabilizarem e para passar a vontade de vomitar, quando abriram os olhos novamente se assustaram ao analisarem onde estavam.

É... realmente estavam compartilhando sonhos.

Luna reconheceu de imediato.

Um corredor se agigantava a frente deles; as paredes nuas, não haviam janelas nem portas, exceto por uma única, preta e lisa no finzinho do corredor.

Luna só percebeu que havia estacado no chão quando Harry a puxou para que avançassem. Mas ela não queria ir, não levaria Harry para aquilo. Mas algo a impeliu para frente... uma voz. Não era como a que ouvira na biblioteca, era abafada e profunda e entoava uma frase constante.

...as perdas que carrega guiarão ao destino final... e da forma mais difícil irá compreender...

Luna seguiu em frente com Harry. Do chão de granito, a forma da raposa prateada surgiu novamente... sem olhá-los uma única vez, guiou os gêmeos até a porta e eles entraram.

Harry admirou o lugar por um momento. Se viu em uma sala circular com muitas portas, como a irmã descrevera para ele certa vez. Eram todas idênticas e não havia nenhum indicativo do que estivessem guardando.

Ele procurou por Luna com o olhar e encontrou-a agachada perto de seu patrono. A raposa estava imóvel e silenciosa, encarando a garota atentamente com seus olhos prateados.

Harry reparou que o animal parara junto a porta exatamente à frente da que entraram. Não havia nada que a tornasse diferente das outras, absolutamente nada. Mas ele sentiu um desejo imenso de se afastar dali, simplesmente sair correndo e esquecer de tudo. Como se o que quer que estivesse ali dentro fosse grande ou poderoso demais para que sequer compreendesse.

E, sem mais nem menos, um solavanco sacudiu toda a sala, fazendo com que Harry e Luna caíssem no chão. A raposa olhou a volta uma vez antes de desaparecer como fumaça, sendo seguida de mais um solavanco.

O chão ao seu redor começou a ruir, esfarelar, a desaparecer, as bordas iam encolhendo e a escuridão abria-se à volta deles. Harry e Luna nem tiveram tempo de pensar antes de caírem no infinito. Eles gritaram, gritaram tanto que sentiam seus pulmões estourando, iam mergulhando cada vez mais e mais fundo e seu único pensamento foi o de permanecerem juntos.

Luna esticou o braço, alcançando o de Harry e puxou o gêmeo para perto, abraçando-o. Uma risada cruel soou no fundo de suas mentes e os gêmeos olharam para baixo, para o único ponto de luz em meio a toda aquela escuridão, o ponto de luz verde e ofuscante, e a dor tomou conta de todos os seus sentidos... 

Harry! Luna!

Harry e Luna abriram os olhos. Estavam caídos no chão da sala da Profa Sibila, abraçando um ao outro tão firmemente que pareciam que nunca se desgrudariam. Suas cicatrizes ardiam com tanta intensidade que seus olhos chegavam a lacrimejar. A dor fora real. A turma inteira estava parada à volta deles, e Rony se ajoelhara de um lado, com uma expressão de terror no rosto.

– Vocês estão bem? – perguntou.

– É claro que não estão! – disse a professora, parecendo alvoroçadíssima. Seus grandes olhos miraram Harry e Luna, ameaçadores. – Que foi, Potter? Uma premonição? Uma aparição? Que foi que vocês viram?

– Nada – mentiu Harry. Ele se sentou e apoiou Luna com o braço. Sentia os próprios tremores. Não conseguia parar de olhar para todo lado, para as sombras às suas costas. A voz de Voldemort soara tão próxima, a sensação de queda ainda estava tão presente...

– Vocês estavam apertando suas cicatrizes e logo depois estavam se abraçando, como se fossem morrer! – disse a professora. – Vocês rolaram no chão, gritando e dizendo coisas sem sentido! Ora vamos, Potter, eu tenho experiência nesses assuntos!

Luna levantou a cabeça para olhá-la.

– Precisamos ir à ala hospitalar, acho. Talvez estejamos com pneumonia ou algo assim.

– Minha querida, sem dúvida vocês foram estimulados pelas extraordinárias vibrações premonitórias da minha sala! Se vocês saírem agora, poderão perder a oportunidade de ver mais longe do que jamais...

– Eu não quero ver nada, a não ser um remédio para nós. – afirmou Harry bruscamente.

Harry e Luna se levantaram. A turma recuou. Todos pareciam nervosos.

– Vemos você mais tarde – murmuraram para Rony e, apanhando as mochilas, rumaram para o alçapão, sem dar atenção à Profa Sibila, que revelava no rosto uma grande frustração, como se alguém a tivesse privado de um prazer real.

Quando os gêmeos chegaram ao fim da escada, porém, não rumaram para a ala hospitalar. Não tinham a menor intenção de ir até lá. Sirius lhes dissera o que fazer se as cicatrizes tornassem a doer e eles seguiriam o conselho do padrinho: ir direto ao escritório de Dumbledore. Eles se entreolharam rapidamente e atravessaram os corredores, decididos, pensando no que viram nos sonhos... foram tão vívidos como os outros que os despertaram na rua dos Alfeneiros e, dessa vez, ainda visitaram o sonho um do outro... eles repassaram juntos os detalhes, procurando se certificar de que não os esqueceriam... ouviram Voldemort acusar Rabicho de cometer um erro... mas a coruja trouxera boas notícias, o erro fora consertado, alguém estava morto... por isso Rabicho não ia servir de alimento para a cobra... em seu lugar, Harry e Luna é quem iriam... mas a sala das portas é o que mais os intrigava, pois com ela não havia nenhuma informação sólida... não sabia onde era, o que era, o que significava... só sabiam daquela voz e do que dissera... as perdas que carrega guiarão ao destino final... e da forma mais difícil irá compreender...

Os garotos passaram direto pela gárgula que guardava a entrada do escritório de Dumbledore sem reparar. Eles piscaram, se entreolharam, olharam em volta, perceberam a distração, refizeram seus passos e pararam diante do ornato. Então se lembraram que não conheciam a senha.

Sorbet de limão? – Harry experimentou.

A gárgula não se moveu.

– OK – disse Luna encarando-a. – Drops de pera. Varinha de alcaçuz.

– Delícia gasosa. Chicle de baba-bola. Feijõezinhos de todos os sabores... ah, não, ele não gosta desses, ou gosta?... Ah, abra logo, será que não pode? – exclamou o garoto aborrecido.

– Nós realmente precisamos ver o diretor, é urgente!

A gárgula continuou imóvel.

Harry chutou-a, mas não conseguiu nada, exceto sentir uma dor excruciante no dedão do pé.

– Sapo de chocolate! – berrou Luna com raiva, tentando empurrar a estátua com o próprio corpo. – Pena de açúcar! Torrão de barata!

A gárgula ganhou vida saltando para o lado e Luna caiu de uma vez só. Harry piscou os olhos.

– Torrão de barata! – exclamou admirado, rindo-se da gêmea.

– Eu estava só brincando... – disse a garota massageando o antebraço e aceitando a mão que Harry estendeu.

– Ande, vamos.

Eles passaram depressa pela abertura nas paredes e pisaram no patamar de uma escada em espiral, que se deslocou lentamente para o alto, ao mesmo tempo em que as portas se fechavam às suas costas, levando-os até uma porta de carvalho polido com uma maçaneta de latão.

Eles ouviram vozes no escritório. Saltaram da escada em movimento e hesitaram, escutando.

– Dumbledore, receio não ver a relação, não a vejo mesmo! – Era a voz do ministro da Magia, Cornélio Fudge. – Ludo diz que Berta é perfeitamente capaz de se perder. Concordo que era de esperar que, a esta altura, ela já tivesse sido encontrada, mas mesmo assim, não temos evidência alguma de crime, Dumbledore, nenhuma. Quanto ao desaparecimento dela estar ligado ao de Bartô Crouch!

– E o que é que o senhor acha que aconteceu com Bartô Crouch, ministro? – perguntou Moody num rosnado.

– Vejo duas possibilidades, Alastor – disse Fudge. – Ou Crouch finalmente enlouqueceu, o que é muito provável e tenho certeza de que você concorda, dada a sua história pessoal, perdeu o juízo e saiu vagando por aí...

– Ele vagou muitíssimo depressa, se esse for o caso, Cornélio – comentou Dumbledore calmamente.

– Ou então, bem... – Fudge pareceu constrangido. – Bem, não vou julgar até depois de ver o local onde ele foi encontrado, mas você diz que foi um pouco além da carruagem da Beauxbatons? Dumbledore, você sabe quem é aquela mulher?

– Considero-a uma diretora competente e uma excelente dançarina – acrescentou Dumbledore rapidamente.

– Ora, vamos Dumbledore! – disse Fudge irritado. – Você não acha que pode estar predisposto a favorecê-la por causa de Hagrid? Nem todos eles são inofensivos, se é que se pode chamar Hagrid de inofensivo, com aquela fixação monstruosa que ele tem...

– Tenho tantas suspeitas de Madame Maxime quanto tenho de Hagrid – disse Dumbledore com a mesma calma. – Acho que é possível que você esteja predisposto a condená-la, Cornélio.

– Será que podemos fechar esta discussão? – rosnou Moody.

– Sim, sim, vamos descer aos jardins, então – disse Cornélio impaciente.

– Não, não é isso – falou Moody –, é que os Potter querem dar uma palavra com você, Dumbledore. Eles estão aí do outro lado da porta. 


Notas Finais


O próximo capítulo sai dia 13.

Por favor, sinta-se a vontade para me avisar sobre qualquer erro que eu tenha cometido ou dúvida que tenha.
Obrigada por ler :)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...