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História Gêmeos Potter e o Cálice de Fogo - Os Caminhos se Separam


Escrita por: LyaraArayl

Notas do Autor


Espero que goste, boa leitura! :)

Capítulo 36 - Os Caminhos se Separam


Dumbledore ficou em pé. Contemplou Bartô Crouch por um momento com uma expressão de desgosto. Então ergueu sua varinha mais uma vez e dela voaram cordas, cordas que se prenderam em torno do bruxo, amarrando-o apertado.

Ele se dirigiu, então, à Profa McGonagall:

– Minerva, posso pedir a você que fique de guarda aqui enquanto levo Harry e Luna para cima?

– Naturalmente. – Ela parecia ligeiramente nauseada, como se tivesse acabado de ver alguém vomitar. Contudo, quando puxou a varinha e a apontou para Bartô Crouch, sua mão estava bem firme.

– Severo – virou-se Dumbledore para Snape –, por favor, peça a Madame Pomfrey para vir até aqui. Precisamos levar Alastor Moody para a ala hospitalar. Depois desça aos jardins, procure Cornélio Fudge e traga-o para esta sala. Com certeza ele vai querer interrogar Crouch pessoalmente. Diga-lhe que estarei na ala hospitalar dentro de meia hora, caso precise de mim.

Snape concordou silenciosamente com um aceno de cabeça e saiu da sala.

– Harry? Luna? – chamou Dumbledore gentilmente.

Os gêmeos se levantaram e cambalearam; a dor na perna de Harry, que ele mal sentira todo o tempo em que estivera ouvindo Crouch, agora voltava com força total. Luna, notando subitamente um familiar pergaminho amarelado em uma mesa ao lado da porta ajudou o gêmeo a ficar de pé. O garoto também percebeu que Luna estava tremendo. Dumbledore segurou-os pelos braços e ajudou-os a sair para o corredor escuro. Luna conseguiu pegar discretamente o pergaminho antes de sair, nunca mais deixaria o Mapa do Maroto nas mãos de ninguém que não fosse Harry ou ela mesma.

– Quero que venham primeiro ao meu escritório, meninos – disse ele baixinho, enquanto seguiam pelo corredor. – Sirius está nos esperando lá.

Os gêmeos concordaram com a cabeça. Uma sensação de dormência e de total irrealidade se apoderara deles, mas os garotos não ligaram; ficaram até felizes com isso. Não queriam ter que pensar em nada que acontecera desde que foram parar no cemitério. Não queriam ter que examinar as lembranças, frescas e nítidas como fotografias, que não paravam de lampejar em sua mente. Olho-Tonto Moody dentro do malão, Rabicho caído no chão, aninhando o toco do braço. Voldemort ressurgindo do caldeirão fumegante. Cedrico... morto... Cedrico pedindo para eles levarem seu corpo para os pais...

– Professor – murmurou Luna –, onde estão o Sr. e a Sra. Diggory?

– Estão com a Profa Sprout. – A voz de Dumbledore que estivera tão calma durante o interrogatório de Bartô Crouch tremeu levemente pela primeira vez. – Ela é a diretora da Casa de Cedrico e o conhecia melhor.

Tinham chegado à gárgula de pedra. Dumbledore disse a senha, ela saltou para o lado, e o diretor e os gêmeos subiram a escada rolante circular até a porta de carvalho. Dumbledore abriu-a.

Sirius estava parado ali. Seu rosto branco e ossudo como estivera quando fugira de Azkaban. Num átimo, ele atravessou a sala.

– Harry, Luna, vocês estão bem? Eu sabia... eu sabia que uma coisa assim... que aconteceu?

As mãos dele tremiam ao tentar ajudar os garotos a se sentarem em cadeiras diante da escrivaninha, mas o gêmeos acabaram por se sentarem juntos em uma poltrona mais larga, se negando a ficarem longe um do outro.

– Que aconteceu? – perguntou, mais pressuroso.

Dumbledore começou a contar a Sirius tudo que Bartô Crouch dissera. Harry e Luna ouviam apenas com metade de sua atenção. Tão cansados que cada osso dos seus corpos doía, eles só tinham vontade de ficarem sentados ali, juntos, sossegados, durante horas e horas, até adormecerem e não precisarem mais pensar nem sentir nada.

Ouviu-se um leve rumorejo de asas. Fawkes, a fênix, deixara o poleiro, voara pela sala e pousara no joelho de Harry.

– ‘Lô, Fawkes – disse Luna de mansinho, encostando a cabeça no ombro do irmão, que beijou sua testa. E ambos alisaram a bela plumagem vermelha e dourada da ave. Fawkes piscou sem medo para eles. Havia um certo consolo em seu peso morno.

Dumbledore parara de falar. Sentou-se diante dos gêmeos, à escrivaninha. Encarou os meninos, que procuraram evitar os seus olhos. Dumbledore ia interrogá-los. Ia fazer Harry e Luna desabafarem tudo.

– Preciso saber o que foi que aconteceu depois que vocês tocaram as Chaves de Portal pela primeira vez, meninos – disse o diretor.

– Podemos esperar até de manhã para isso, não, Dumbledore? – disse Sirius com aspereza. Ele apertou os ombros dos afilhados. – Deixe os garotos dormirem. Deixe-os descansar.

Os gêmeos sentiram um assomo de gratidão com relação ao padrinho, mas Dumbledore não deu atenção às palavras de Sirius. Curvou-se para Harry e Luna. De má vontade, os garotos ergueram a cabeça e encararam aqueles olhos azuis.

– Se eu achasse que poderia ajudá-los – disse Dumbledore brandamente –, mergulhar vocês em um sono encantado e permitir que adiassem o momento em que terão de pensar no que aconteceu esta noite, eu faria isso. Mas sei que não posso. Amortecer a dor por algum tempo apenas a tornará pior quando vocês finalmente a sentirem. Harry, Luna, vocês demonstraram respectivamente, coragem e astúcia acima das que eu poderia ter esperado. Estou pedindo que a demonstrem mais uma vez. Estou pedindo que nos contem o que aconteceu.

A fênix deixou escapar uma nota branda e trêmula. A nota estremeceu no ar, Harry e Luna sentiram como se uma gota de líquido morno tivesse descido por suas gargantas até o estômago, aquecendo-os e lhes dando forças. Eles inspiraram profundamente e começaram a contar. Enquanto falavam, visões de tudo que se passara àquela noite pareciam desfilar diante de seus olhos; eles viram a superfície borbulhante da poção que revivera Voldemort; viram os Comensais da Morte aparatando entre os túmulos em volta deles; viram o corpo de Cedrico, caído no chão ao lado da Taça.

Uma ou duas vezes, Sirius emitiu um som como se fosse falar alguma coisa, sua mão ainda apertando os ombros dos afilhados, mas Dumbledore ergueu a mão para fazê-lo calar, e Harry e Luna se sentiram gratos por isso, porque era mais fácil continuarem agora que já começaram. Era até um alívio; os garotos tiveram a sensação de que alguma coisa venenosa estava sendo extraída deles, custava-lhes toda a determinação que possuíam continuar falando, contudo, eles percebiam que uma vez que tivessem terminado, iriam se sentir melhor.

Quando os gêmeos contaram que Rabicho espetara seus braços com o punhal, porém, Sirius deixou escapar uma exclamação veemente; e Dumbledore se levantou tão depressa que os gêmeos se assustaram. O diretor deu a volta à escrivaninha e pediu a Harry e Luna que esticassem os braços. Os garotos mostraram aos dois os lugares em que suas vestes estavam rasgadas e os cortes sob as mesmas.

– Ele falou que o nosso sangue o tornaria mais forte do que se usasse o de outras pessoas – disse Luna a Dumbledore. 

– Falou que a proteção que nossa... nossa mãe tinha deixado em nós, seria dele, também. – explicou Harry – E estava certo, ele pôde nos tocar sem se machucar, ele tocou o meu rosto e o pulso de Luna, bem nas cicatrizes.

Por um instante fugaz, Harry e Luna viram um brilho que lembrava triunfo nos olhos do diretor. Mas no segundo seguinte tiveram certeza de que imaginaram, porque quando Dumbledore voltou à cadeira atrás da escrivaninha, pareceu velho e cansado como jamais o viram.

– Muito bem – disse ao se sentar. – Voldemort superou esta barreira. Continuem, meninos, por favor.

Os gêmeos prosseguiram; explicaram como Voldemort emergira do caldeirão, e repetiram para eles tudo que conseguiram se lembrar do discurso do lorde aos Comensais da Morte. Então contaram como Voldemort os desamarrara, devolvera suas varinhas e se preparara para duelar.

Mas quando chegaram à parte do raio de luz dourada que ligara a varinha de Harry à de Voldemort, eles descobriram que estavam com as gargantas embargadas. Eles tentaram continuar falando, mas as lembranças do que saíra da varinha do bruxo inundavam suas mentes. Reviram Cedrico saindo, o velho, Berta Jorkins... sua mãe... seu pai...

Eles ficaram felizes quando Sirius rompeu o silêncio.

– As varinhas se ligaram? – perguntou ele, olhando dos gêmeos para Dumbledore. – Por quê?

Harry tornou a erguer os olhos para Dumbledore, em cujo rosto havia uma expressão tensa.

Priori Incantatem – murmurou.

Seus olhos fitaram os de Harry e foi quase como se um raio invisível de compreensão passasse entre os dois.

– A reversão do feitiço? – perguntou Sirius alerta.

– Exatamente – disse Dumbledore. – A varinha de Harry e a de Voldemort têm o mesmo cerne. Cada uma contém uma pena da cauda da mesma fênix. Com efeito, desta fênix – acrescentou ele, apontando para a ave vermelha e dourada, empoleirada tranquilamente no joelho de Harry.

– A pena da minha varinha veio de Fawkes? – perguntou Harry, admirado.

– Veio – disse Dumbledore. – O Sr. Olivaras me escreveu dizendo que você comprara a segunda varinha, no instante em que você saiu da loja dele, há quatro anos.

– Então o que acontece quando uma varinha encontra sua irmã? – perguntou Sirius.

– Elas não funcionam bem uma contra a outra. Se, no entanto, o dono de uma das varinhas forçar uma luta entre as varinhas... produzirá um efeito muito raro.

“Uma das varinhas forçará a outra a regurgitar os feitiços que realizou, na ordem inversa. O mais recente primeiro... depois os que o antecederam...”

O diretor olhou interrogativamente para Harry e o garoto confirmou com a cabeça.

– O que significa – disse Dumbledore lentamente, seus olhos nos rostos dos gêmeos – que alguma forma de Cedrico deve ter reaparecido.

Os garotos confirmaram.

– Diggory voltou à vida? – perguntou Sirius abruptamente.

– Nenhum feitiço existente pode ressuscitar os mortos, pelo menos não um que seja conhecido. Ainda existem muitos estudos feitos a respeito desse assunto e posso garantir que Voldemort não possui nenhum conhecimento sobre eles – disse Dumbledore em tom sentencioso. – Por enquanto, só o que pode ocorrer é uma espécie de eco inverso. Uma sombra do Cedrico vivente teria emergido da varinha... estou certo, meninos?

– Ele falou conosco – disse Luna. De repente a garota voltou a tremer. – O... o fantasma de Cedrico, ou o que seja, falou.

– Um eco – disse Dumbledore – que reteve a aparência e o caráter de Cedrico. Imagino que outras formas semelhantes tenham aparecido... vítimas menos recentes da varinha de Voldemort...

– Um velho – respondeu Harry, com um aperto na garganta. – Berta Jorkins. E...

– Seus pais? – perguntou Dumbledore calmamente.

– Foi.

As mãos de Sirius nos ombros de Harry e Luna agora os apertava com tanta força que chegava a doer.

– As últimas mortes executadas pela varinha – confirmou Dumbledore com um aceno de cabeça. – Na ordem inversa. Mais teriam aparecido, é claro, se vocês continuassem a manter a ligação. Muito bem esses ecos, essas sombras... que foi que elas fizeram?

Os garotos descreveram como as figuras que haviam saído da varinha tinham ficado rondando o interior da teia dourada, como Voldemort pareceu temê-las, como a sombra do pai dos gêmeos lhes disse o que fazer, como a de Cedrico fizera um último pedido. Então eles finalmente chegaram a parte sobre Luna ter conjurado o Protego Diabólica, eles viram um brilho estranho nos olhos do diretor.

– Você já havia ouvido sobre esse feitiço antes Luna? – perguntou ele, uma leve surpresa na voz.

– Não senhor, eu apenas... sabia o que fazer, eu acho.

– Quem a ensinou? – perguntou Dumbledor, se curvando um pouco mais para frente.

Luna se sentiu insegura. Olhou para Sirius, temendo a reação do padrinho quando explicasse, mas quando olhou para o gêmeo, Harry acenou para ela, incentivando. Aquilo foi força o suficiente.

Ela explicou sobre as vozes que vinha ouvindo, sobre a situação na biblioteca e na sala do falso Prof. Moody. Explicou sobre suas visões e pesadelos com seu patrono e a sala das portas, e de como a voz lhe explicou o Protego Diabólica.

A sala de Dumbledore permaneceu silenciosa enquanto os dois homens pareciam processar todas as informações, até que Dumbledore finalmente se posicionou.

– Creio que essa é uma situação em que teremos que pensar mais para depois...

– Mas Dumbledore – começou Sirius, parecendo desacreditado. – Eles podem estar ainda mais em risco. Uma voz de não sabemos onde ensinando feitiços proibidos para ela...

– Compreendo sua preocupação, Sirius, e devo dizer que as minhas são idênticas. Mas nunca ouvi falar de um caso com essas características. Aparentemente não é algo da escola pois Luna não precisou estar aqui para ouvir... precisamos agir com cautela, tendo algo tão desconhecido nas mãos. Quem sabe o que mais desencadearíamos se tentássemos solucionar o problema sem saber a origem.

– Ou eu posso apenas estar ficando louca mesmo... – resmungou Luna.

Dumbledore lhe deu um sorrisinho.

– Se pudéssemos garantir ser apenas isso não seria de todo o mal. Afinal, todos cometemos loucuras... – Ele olhou para as próprias mãos as observou brevemente antes de voltar o olhar para eles, Luna sentia que Dumbledore sabia de algo que não falaria tão cedo.. – Tem mais alguma coisa que queiram contar, meninos? 

Neste ponto, finalmente, os gêmeos descobriram que não conseguiriam continuar. Olharam para Sirius e viram que o padrinho segurava o rosto nas mãos.

Harry e Luna de repente tomaram consciência de que Fawkes deixara o joelho do garoto. A ave voara para o chão. E descansou a bela cabeça na perna machucada do menino, grossas lágrimas peroladas caíram dos seus olhos sobre a ferida feita pela aranha. A dor desapareceu. A pele se recompôs. A perna ficou boa.

– Vou repetir mais uma vez – disse Dumbledore, quando a fênix levantou voo e tornou a se acomodar em seu poleiro junto à porta. – Esta noite vocês revelaram bravura e perspicácia que ultrapassaram o que eu teria esperado de vocês, Harry, Luna. Revelaram coragem e astúcia, respectivamente, iguais à daqueles que morreram combatendo Voldemort no auge do seu poder. Vocês carregaram o fardo de bruxos adultos e estiveram à altura dele, e vocês agora nos deram tudo o que temos direito a esperar. Vocês vão me acompanhar à ala hospitalar. Não quero que voltem para o dormitório esta noite. Uma Poção do Sono e algum sossego... Sirius, você gostaria de ficar com eles?

Sirius confirmou com a cabeça e se levantou. Tornou a se transformar no enorme cachorro preto e saiu com os gêmeos e Dumbledore do escritório, acompanhando-os por um lance de escadas até a ala hospitalar.

Quando o diretor empurrou a porta, Harry e Luna viram a Sra. Weasley, Gui, Fred, Jorge, Rony e Hermione reunidos em torno de uma atarantada Madame Pomfrey. Pareciam estar exigindo saber onde estavam Harry e Luna e o que lhes acontecera.

Todos se viraram rapidamente quando os gêmeos, Dumbledore e o cachorro preto entraram, e a Sra. Weasley deixou escapar um grito abafado:

– Meninos! Ah, meninos!

Ela fez menção de correr para os garotos, mas Dumbledore se colocou entre eles.

– Molly – disse ele, erguendo a mão –, por favor, ouça-me um momento. Harry e Luna passaram uma provação terrível esta noite. Acabaram de desabafá-la comigo. Do que eles precisam agora é de sono, paz e silêncio. Se eles quiserem que vocês todos fiquem com eles – acrescentou o diretor, abrangendo com o olhar Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gui –, vocês podem ficar. Mas não quero que lhes façam perguntas até que eles estejam prontos para respondê-las e, certamente, não será hoje à noite.

A Sra. Weasley concordou com a cabeça. Estava muito pálida.

Ela se virou para os filhos e Hermione, como se eles estivessem fazendo barulho, e sibilou:

– Vocês ouviram? Eles precisam de silêncio!

– Diretor – disse Madame Pomfrey, encarando o cachorro preto que era Sirius –, posso perguntar o que...

– Este cachorro vai ficar com Harry e Luna por algum tempo – disse Dumbledore com simplicidade. – Posso lhe assegurar que ele é muitíssimo bem treinado. Meninos, vou esperar até vocês se deitarem.

Os gêmeos sentiram uma inexprimível gratidão a Dumbledore por pedir aos outros que não lhes fizessem perguntas. Não é que não os quisessem ali; mas a ideia de explicar tudo mais uma vez, de reviver tudo mais uma vez, era mais do que eles poderiam suportar.

– Voltarei para vê-los assim que estiver com Fudge – disse Dumbledore. – Gostaria que vocês ficassem aqui amanhã também, até eu me dirigir à escola. – E saiu.

Quando Madame Pomfrey levou Harry e Luna a duas camas próximas, eles avistaram o verdadeiro Moody deitado imóvel em uma cama no fundo da enfermaria. Sua perna de pau e o olho mágico estavam pousados na mesa de cabeceira.

– Ele está OK? – perguntou Luna.

– Ele vai ficar bom – respondeu Madame Pomfrey, entregando aos garotos os pijamas e colocando o biombo à sua volta. Eles despiram as vestes, puseram os pijamas e entraram nas camas. Os Weasley, Hermione e o cachorro preto contornaram o biombo e se sentaram em cadeiras dos lados das camas. Rony e Hermione espiaram os amigos quase cautelosamente, como se sentissem medo deles.

– Nós estamos bem – disse Harry a eles, olhando para Luna na cama adjacente. – Só cansados.

Os olhos da Sra. Weasley se encheram de lágrimas quando alisou as cobertas das camas sem a menor necessidade.

Madame Pomfrey, que acabara de sair apressada de sua sala, voltou segurando duas taças e dois frasquinhos contendo uma poção púrpura.

– Vocês vão precisar beber tudo isso. É uma poção para dormir sem sonhar.

Os garotos pegaram os cálices e beberam alguns goles. Sentiram-se sonolentos na mesma hora. Tudo ao seu redor ficou enevoado; as luzes na enfermaria pareceram piscar para eles de um jeito simpático através do biombo que circundava suas camas; eles tiveram a sensação de que seus corpos afundavam cada vez mais no calor dos edredons de penas. Antes que pudessem terminar a poção, antes que pudessem dizer mais alguma coisa, sua exaustão os adormeceu.

 

 

Luna acordou, tão quentinha, tão sonolenta, que nem abriu os olhos, sentindo vontade de adormecer outra vez. A enfermaria continuava fracamente iluminada; acreditava que ainda era noite e tinha a impressão de que não poderia ter dormido muito tempo. Uma montanha de pelos pretos estava deitada ao seu lado e a garota se aconchegou ainda mais perto.

Então ouviu cochichos à sua volta.

– Vão acordá-los se não calarem a boca!

– Por que é que estão gritando? Não pode ter acontecido mais nada ou pode?

Harry, na outra cama, abriu os olhos borrados. Alguém tirara seus óculos. Viu os contornos difusos da Sra. Weasley e de Gui ali perto. A bruxa estava em pé.

– É a voz de Fudge – sussurrou ela. – E a outra é da Minerva McGonagall, não é? Mas por que estão discutindo?

Agora os gêmeos os ouviam, também; gente gritando e correndo em direção à ala hospitalar.

– Lamentável, mas mesmo assim, Minerva... – dizia o ministro em voz alta.

– O senhor nunca deveria tê-lo trazido para o interior do castelo! – berrou a professora. – Quando Dumbledore descobrir...

Harry e Luna ouviram as portas da enfermaria se escancararem. Sem as pessoas ao redor de suas camas notarem, pois fixaram o olhar na porta quando Gui afastou os biombos, Harry se sentou e tornou a colocar os óculos e Luna apoiou as costas na cabeceira da cama, chacoalhando o cão negro ao seu lado para que também acordasse.

Fudge entrou em grandes passadas pela enfermaria. Os Profs. McGonagall e Snape vinham em seus calcanhares.

– Onde está Dumbledore? – Fudge interpelou a Sra. Weasley.

– Não está aqui – disse a senhora zangada. – Isto é uma enfermaria, ministro, o senhor não acha que faria melhor...

Mas a porta se abriu e Dumbledore entrou decidido.

– Que aconteceu? – perguntou energicamente, olhando de Fudge para McGonagall. – Por que estão incomodando estas pessoas? Minerva, você me surpreende, eu lhe pedi para ficar vigiando Bartô Crouch...

– Não há necessidade de vigiá-lo mais, Dumbledore! – gritou ela. – O ministro já providenciou isso!

Harry e Luna nunca viram a professora se descontrolar daquele jeito. Havia manchas vermelhas de raiva em seu rosto, as mãos estavam fechadas em punhos; ela tremia de fúria.

– Quando informei ao Sr. Fudge que tínhamos apanhado o Comensal da Morte responsável pelos acontecimentos desta noite – disse Snape, em voz baixa –, parece que ele achou que sua segurança pessoal estava ameaçada. Insistiu em chamar um dementador para acompanhá-lo até o castelo. Levou-o para a sala em que Bartô Crouch...

– Avisei a ele que você não concordaria, Dumbledore! – vociferou a Profa Minerva. – Avisei a ele que você não permitiria que dementadores entrassem no castelo, mas...

– Minha cara senhora! – rugiu Fudge, que parecia igualmente mais zangado do que os gêmeos jamais o viram. – Como ministro da Magia, sou eu quem decide se quero trazer uma proteção pessoal quando vou entrevistar alguém possivelmente perigoso...

Mas a voz da Profa McGonagall abafou a de Fudge.

– No momento em que aquela... aquela coisa entrou na sala – berrou ela, apontando para Fudge, o corpo todo tremendo – o dementador avançou para Crouch e... e...

Harry e Luna sentiram um frio no estômago, enquanto a professora procurava encontrar palavras para descrever o que acontecera. Eles não precisaram que ela terminasse a frase. Sabiam o que o dementador devia ter feito. Aplicara o beijo fatal em Bartô Crouch. Sugara a alma do rapaz pela boca. Ele estava pior do que morto.

– Pelo que todos dizem, não se perdeu nada! – vociferou Fudge. – Ele parece ter sido responsável por várias mortes!

– Mas ele agora não pode prestar depoimento, Cornélio – disse Dumbledore, encarando Fudge com insistência, como se o visse direito pela primeira vez. – Ele não pode testemunhar por que matou essas pessoas.

– Por que ele as matou? Ora, isso não é mistério, é? – esbravejou o ministro. – Ele é doido de pedra! Pelo que Severo e Minerva me disseram, ele parecia pensar que tinha feito tudo isso seguindo instruções de Você-Sabe-Quem!

– E ele estava seguindo instruções de Lorde Voldemort, Cornélio – respondeu Dumbledore. – A morte dessas pessoas foi apenas um produto secundário do plano para restaurar as forças de Voldemort. O plano foi bem-sucedido. Voldemort recuperou seu corpo.

Fudge parecia ter levado uma pancada violenta no rosto. Atordoado e piscando, ele olhou para Dumbledore como se não conseguisse acreditar no que acabara de ouvir.

Começou a balbuciar, ainda de olhos arregalados para o diretor.

– Você-Sabe-Quem... retornou? Absurdo. Ora, vamos, Dumbledore...

– Conforme Minerva e Severo sem dúvida lhe contaram, ouvimos Bartô Crouch confessar. Sob a influência do Veritaserum, ele nos disse como foi contrabandeado para fora de Azkaban e como Voldemort, tendo sabido por Berta Jorkins que ele continuava vivo, foi libertá-lo da guarda do pai, e usou-o para capturar Harry e Luna. O plano funcionou, posso lhe garantir. Crouch ajudou Voldemort a retornar.

– Olhe aqui, Dumbledore – disse Fudge, e os gêmeos ficaram espantados de ver o sorrisinho que apareceu no rosto do ministro –, você... você não acredita seriamente nisso. Você-Sabe-Quem voltou? Ora, vamos, ora, vamos... com certeza Crouch deve ter acreditado que estava agindo sob as ordens de Você-Sabe-Quem, mas aceitar a palavra de um doido daqueles, Dumbledore...

– Quando Harry tocou na Taça Tribruxo esta noite, ele foi transportado diretamente até Voldemort, e Luna, induzida por Crouch, quando tocou um segundo objeto que estava ligado à Taça, também foi levada até ele – disse Dumbledore com firmeza. – Eles presenciaram o renascimento de Lorde Voldemort. Explicarei tudo a você se quiser vir ao meu escritório.

Dumbledore olhou para Harry e Luna e viu que os garotos estavam acordados, mas sacudiu a cabeça e disse:

– Receio que não possa permitir que você interrogue os garotos hoje.

O curioso sorriso de Fudge perdurou.

Ele também olhou para os gêmeos, depois se voltou para Dumbledore:

– Você está... hum... disposto a aceitar a palavra de Harry e Luna neste caso, Dumbledore?

Houve um momento de silêncio, interrompido por um rosnado de Sirius, sentado ainda na cama da garota. Tinha os pelos do pescoço em pé e seus dentes se arreganharam para Fudge.

– Certamente que acredito nos gêmeos – disse Dumbledore. Seus olhos brilharam de fúria. – Ouvi a confissão de Crouch e ouvi o relato de Harry e Luna sobre o que aconteceu quando eles tocaram a Taça Tribruxo e o segundo objeto; as duas histórias fazem sentido, explicam tudo que tem acontecido desde que Berta Jorkins desapareceu no verão passado.

Fudge ainda conservava aquele sorriso estranho no rosto. Olhou mais uma vez para Harry e Luna antes de responder.

– Você está disposto a acreditar que Lorde Voldemort voltou, porque assim dizem um assassino louco e dois garotos que... bem...

Fudge lançou a Harry e Luna mais um olhar, e os gêmeos subitamente compreenderam.

– O senhor tem andado lendo Rita Skeeter, Sr. Fudge – disse Luna calmamente, mal conseguindo conter o veneno nas palavras.

Os Weasley e Hermione, todos se assustaram. Nenhum deles percebera que Harry e Luna estavam acordados.

Fudge corou ligeiramente, mas surgiu em seu rosto uma expressão de desafio e obstinação.

– E se tiver? – perguntou, fitando Dumbledore. – E se descobri que você me tem ocultado certos fatos sobre os garotos? Ofidioglotas, é? E tem desmaios esquisitos a toda hora?...

– Presumo que você esteja se referindo às dores que os garotos tem sentido nas cicatrizes? – perguntou Dumbledore friamente.

– Você admite que eles tem tido dores, então? – perguntou Fudge depressa. – Dores súbtas? Pesadelos? Possivelmente... alucinações?

– Escute aqui, Cornélio – disse Dumbledore dando um passo para perto de Fudge, e mais uma vez parecendo irradiar aquela indefinível aura de poder que os gêmeos sentiram quando estuporou o jovem Crouch. – Harry e Luna são tão mentalmente sãos quanto eu ou você. Aquelas cicatrizes que possuem não afetou a sanidade deles. Acredito que doem quando Lorde Voldemort está por perto ou experimente sentimentos assassinos.

Fudge se afastara meio passo de Dumbledore, mas não parecia menos obstinado.

– Você vai me perdoar, Dumbledore, mas nunca ouvi falar em uma cicatriz deixada por um feitiço funcionar como uma campainha de alarme antes...

– Olhe, nós vimos Voldemort ressurgir! – gritou Harry. Ele tentou novamente se levantar da cama, mas a Sra. Weasley forçou-o a deitar. – Nós vimos os Comensais da Morte! Podemos dar os nomes! Lúcio Malfoy...

Snape fez um movimento repentino, mas quando Luna se virou, o olhar do professor retornara a Fudge.

– Malfoy foi inocentado! – disse Fudge visivelmente afrontado. – Uma família muito antiga, doações para causas excelentes...

– Mcnair! – continuou Luna.

– Também inocentado! Agora trabalha para o Ministério!

– Avery e Nott. 

– Crabbe e Goyle.

– Vocês estão apenas repetindo os nomes dos que foram absolvidos da acusação de serem Comensais da Morte há treze anos! – disse Fudge zangado. – Poderiam ter achado esses nomes em relatórios antigos sobre os julgamentos! Pelo amor de Deus, Dumbledore, os garotos estiveram com a cabeça cheia de histórias malucas no fim do ano passado, também, as invencionices deles estão cada vez mais mirabolantes, e você continua a engoli-las, os garotos são capazes de falar com cobras, Dumbledore, e você ainda acha que eles merecem confiança?

– Seu tolo! – exclamou a Profa McGonagall. – Cedrico Diggory! O Sr. Crouch! Estas mortes não foram o trabalho aleatório de um doido!

– Não vejo nenhuma evidência em contrário! – gritou Fudge, agora equiparando sua raiva à da professora, o rosto roxo. – Parece-me que vocês estão decididos a começar uma onda de pânico que irá desestabilizar tudo pelo que trabalhamos nesses últimos treze anos!

Harry e Luna não conseguiram acreditar no que estavam ouvindo. Sempre pensaram em Fudge como uma pessoa bondosa, um pouco espalhafatosa, um pouco pomposa, mas de índole essencialmente boa. Mas agora viam à sua frente um bruxo baixo e furioso, que se recusava terminantemente a aceitar a perspectiva de um esfacelamento do seu mundo confortável e ordeiro – a acreditar que Voldemort pudesse ter ressurgido.

– Voldemort retornou – repetiu Dumbledore. – Se você aceitar imediatamente este fato, Fudge, e tomar as medidas necessárias, talvez ainda possamos salvar a situação. O primeiro passo, e o mais essencial, é retirar Azkaban do controle dos dementadores...

– Que despropósito! – gritou outra vez Fudge. – Retirar os dementadores! Eu seria chutado do Ministério se sugerisse uma coisa dessas! Metade da população só se sente segura quando se deita à noite porque sabe que os dementadores estão guardando Azkaban!

– A outra metade não dorme tão bem, Cornélio, porque sabe que você deixou os seguidores mais perigosos de Lorde Voldemort aos cuidados de criaturas que irão se juntar a ele no momento em que ele pedir! – retorquiu Dumbledore. – Eles não irão permanecer leais a você, Fudge! Voldemort pode oferecer um espaço muito maior para os poderes e prazeres deles do que você! Com os dementadores a apoiá-lo, e a volta dos seus antigos seguidores, você vai ter muita dificuldade para impedi-lo de reconquistar o poder que tinha há treze anos!

Fudge abria e fechava a boca como se não tivesse palavras para expressar sua indignação.

– A segunda medida que você precisa tomar, e imediatamente – continuou Dumbledore –, é mandar enviados aos gigantes.

– Enviados aos gigantes! – gritou o ministro em tom agudo, afinal recuperando a fala. – Que loucura é essa?

– Estenda-lhes a mão da amizade, agora, antes que seja tarde demais ou Voldemort irá persuadi-los, como já fez antes, que somente ele entre os bruxos concederá aos gigantes direitos e liberdade!

– Você... você não pode estar falando sério! – exclamou Fudge, sacudindo a cabeça e se afastando um pouco mais de Dumbledore. – Se a comunidade mágica ouvir falar que eu procurei os gigantes, as pessoas os odeiam, Dumbledore... a minha carreira termina...

– Você está cego de amor – disse Dumbledore, sua voz elevando-se agora, a aura de poder palpável ao seu redor, seus olhos mais uma vez esbraseados – pelo cargo que ocupa, Cornélio! Você atribui demasiada importância, como sempre fez, à chamada pureza do sangue! Você não consegue reconhecer que não faz diferença quem a pessoa é ao nascer, mas o que ela vai ser ao crescer! O seu dementador acabou de destruir o último membro de uma família de sangue puro tão antiga quanto a de outros, e veja em que foi que ele transformou a própria vida! Digo-lhe agora, tome as medidas que sugeri e você será lembrado, no cargo ou fora dele, como um dos ministros da Magia mais corajosos e sábios que já conhecemos. Não faça nada, e a história irá lembrá-lo como o homem que se omitiu e permitiu que Voldemort tivesse uma segunda oportunidade de destruir o mundo que tentamos reconstruir!

– Está demente – sussurrou Fudge, ainda se afastando. – Enlouqueceu...

E então, todos se calaram. Madame Pomfrey estava postada, imóvel aos pés das camas dos gêmeos, as mãos cobrindo a boca. A Sra. Weasley continuava curvada para Harry, a mão no ombro do garoto para impedi-lo de se levantar e Sirius, ainda como cão, estava a frente de Luna, exibindo os caninos longos. Gui, Fred, Jorge, Rony e Hermione tinham os olhos arregalados para Fudge.

– Se a sua determinação de fechar os olhos levou você a esse ponto, Cornélio – disse Dumbledore –, chegou o momento em que os nossos caminhos se separam. Você fará o que acha que deve. E eu agirei como acho que devo.

A voz de Dumbledore não continha sequer uma sugestão de ameaça; parecia fazer uma simples constatação, mas Fudge se encrespou como se Dumbledore estivesse avançando para ele com a varinha em punho.

– Agora, escute aqui Dumbledore – disse sacudindo o dedo na cara do diretor. – Eu sempre o deixei agir livremente. Tenho muito respeito por você. Posso não ter concordado com algumas de suas decisões, mas fiquei calado. Não existe muita gente que deixaria você contratar lobisomens ou manter Hagrid ou decidir o que ensinar aos seus alunos, sem consultar o Ministério. Mas se você vai trabalhar contra mim...

– A única pessoa contra quem pretendo trabalhar é Lorde Voldemort. Se você é contra ele, então continuamos, Cornélio, do mesmo lado.

Aparentemente Fudge não conseguiu pensar que resposta dar a Dumbledore. Balançou-se para a frente e para trás sobre os pés diminutos por um momento, girando o chapéu-coco nas mãos.

Finalmente, disse, com um quê de súplica na voz:

– Ele não pode estar de volta, Dumbledore, simplesmente não pode...

Snape se adiantou, passou por Dumbledore, ao mesmo tempo em que levantava a manga esquerda de suas vestes. Esticou o braço e mostrou-o a Fudge, que se retraiu. Luna sentiu a verdade lhe acertar como um tapa na cara.

– Olhe – disse Snape asperamente. – Olhe. A Marca Negra. Não está tão nítida quanto estava há pouco mais de uma hora, quando ficou realmente negra, mas o senhor ainda pode vê-la. O Lorde das Trevas marcou com este sinal todos os Comensais da Morte. Era uma maneira de nos reconhecermos e um meio de nos convocar à presença dele. Quando ele tocava a Marca de qualquer comensal, devíamos desaparatar e aparatar instantaneamente ao seu lado. A Marca se tornou mais nítida durante esse ano. A de Karkaroff também. Por que o senhor acha que o professor fugiu esta noite? Nós dois sentimos a Marca queimar. Nós dois sabíamos que ele havia voltado. Karkaroff teme a vingança do Lorde das Trevas. Ele traiu muitos companheiros comensais para ter ilusões de ser bem recebido no seio do rebanho.

Fudge recuou para longe de Snape, também. Sacudiu a cabeça. Não parecia ter absorvido uma única palavra do que Snape dissera. Olhava, aparentemente repugnado, para a feia Marca no braço de Snape, depois ergueu os olhos para Dumbledore e murmurou:

– Não sei do que você e seus professores estão brincando, Dumbledore, mas já ouvi o bastante. Não tenho nada a acrescentar. Entro em contato com você amanhã para discutirmos a administração da escola. Preciso voltar ao Ministério.

Já chegara quase à porta quando parou. Virou-se, voltou para a enfermaria e se deteve junto à cama de Harry.

– Seu prêmio – disse brevemente, tirando uma grande bolsa de ouro do bolso e largando-a na mesa de cabeceira do garoto. – Mil galeões. Deveria ter havido uma cerimônia de premiação, mas nas circunstâncias...

E enfiando seu chapéu-coco na cabeça, ele saiu da enfermaria, batendo a porta ao passar. No instante em que desapareceu, Dumbledore se voltou para o grupo ao redor das camas dos gêmeos.

– Temos trabalho a fazer – disse. – Molly... estou certo em pensar que posso contar com você e Arthur?

– Claro que pode – disse a Sra. Weasley. Estava pálida até nos lábios, mas parecia decidida. – Ele sabe quem Fudge é. É a afeição de Arthur por trouxas que o tem mantido no Ministério todos esses anos. O ministro acha que falta a ele o orgulho que espera de um bruxo.

– Então preciso mandar uma mensagem a ele – disse Dumbledore. – Todos os que pudermos persuadir da verdade devem ser avisados imediatamente, e Arthur está bem colocado para entrar em contato com as pessoas no Ministério que não sejam tão míopes quanto o Cornélio.

– Vou procurar papai – disse Gui, levantando-se. – Vou agora.

– Excelente – exclamou Dumbledore. – Diga-lhe o que aconteceu. Diga-lhe que entrarei em contato com ele em breve. Mas que ele precisa ser discreto. Se Fudge achar que estou interferindo no Ministério...

– Pode deixar comigo – disse Gui.

O rapaz deu uma palmadinha nos ombros de Harry e Luna, acenou para os irmãos, beijou a mãe no rosto, vestiu a capa e saiu rapidamente da enfermaria.

– Minerva – disse Dumbledore virando-se para a Profa McGonagall –, quero ver Hagrid no meu escritório o mais depressa possível. E também, se ela concordar em vir, Madame Maxime.

A professora aquiesceu com um aceno de cabeça e saiu sem dizer nada.

– Papoula – disse Dumbledore a Madame Pomfrey –, será que você me faria a gentileza de ir à sala do Prof. Moody, onde acho que encontrará lá um elfo doméstico chamado Winky em grande sofrimento? Faça o que puder por ela e leve-a de volta à cozinha. Acho que Dobby cuidará dela para nós.

– Claro... claro que sim – respondeu a enfermeira parecendo espantada, e ela também saiu.

Dumbledore certificou-se de que a porta estava trancada e que o ruído dos passos de Madame Pomfrey tinha morrido na distância, antes de tornar a falar.

– E agora – disse ele – está na hora de duas pessoas deste grupo se reconhecerem pelo que são. Sirius... se puder retomar sua forma habitual.

O cachorrão preto ergueu a cabeça para o diretor e pulou da cama da garota, depois, num segundo, voltou a ser homem.

A Sra. Weasley gritou e se afastou da cama.

– Sirius Black! – tornou a gritar ela com voz aguda, apontando para o bruxo.

– Mamãe, cala a boca! – berrou Rony. 

– Está tudo bem, mãe! – confirmou Fred, postando-se ao lado da Sra. Weasley e afagando o braço dela.

Snape não gritara nem saltara para trás, mas a expressão do seu rosto era uma mescla de fúria e horror.

– Ele! – rosnou o professor, arregalando os olhos para Sirius, cujo rosto exprimia igual desagrado. – Que é que ele está fazendo aqui?

– Eu quase tinha esquecido que esses dois se odiavam tanto... – cochichou Luna para o irmão e descendo da cama, conseguindo arrancar uma risadinha de Harry.

– Está aqui a meu convite – disse Dumbledore, olhando para ambos – como você, Severo. Confio nos dois. Está na hora de porem de lado as velhas diferenças e confiarem um no outro.

Harry achou que Dumbledore estava pedindo quase um milagre. Sirius e Snape se entreolhavam com a maior repugnância.

– Aceitarei, a curto prazo – disse Dumbledore, com uma certa impaciência na voz –, que suspendam as hostilidades ostensivas. Os dois apertem as mãos. Estão do mesmo lado agora. O tempo é curto e, a não ser que os poucos de nós que conhecem a verdade se mantenham unidos, não haverá esperança para ninguém.

Os dois ainda se encaravam muito friamente, nenhum querendo ser o primeiro a ceder.

– Certo, então, se estamos revelando segredos aqui... – e Luna se transformou em gato. A Sra. Wesley exclamou outra vez, o que resultou em mais pedidos de silêncio por parte dos filhos, e Snape, agora com expressões incrédulas e de repreensão, acompanhou Luna com o olhar. O gato preto caminhou até o meio dos dois homens e voltou a ser garota ali mesmo. Ela pegou as mãos de Sirius e Snape e as aproximou. – Agora, parem de agir como crianças e andem logo vocês dois. Comecem a agir como adultos e mostrem o exemplo que devem. Só uma pequena trégua, um aperto de mãos já serve. Por favor.

Eles a encararam brevemente, ambos os homens parecendo indignados de serem chamados de crianças. Mas muito devagar – ainda se olhando feio como se não desejassem nada um ao outro se não o mal – Sirius e Snape se aproximaram e apertaram as mãos. Mas as soltaram bem rápido.

– Já é o bastante para começar – disse o diretor se interpondo aos dois homens mais uma vez. – Agora tenho trabalho para cada um de vocês. A atitude de Fudge, embora não seja inesperada, muda tudo, Sirius. Preciso que você comece imediatamente. Alerte Remo Lupin, Arabella Figg, Mundungo Fletcher, a turma antiga. Fique escondido com Lupin por enquanto, entrarei em contato com você lá.

– Mas... – começaram os gêmeos.

Os garotos queriam que Sirius ficasse. Não queriam dizer adeus novamente tão depressa.

– Vocês voltarão a me ver em breve, meninos – disse Sirius, encarando os afilhados. – Prometo. Mas preciso fazer o que posso, vocês compreendem, não?

– Claro. Claro... que sim.

Sirius abraçou firmemente os afilhados uma última vez, se despediu de Dumbledore com um aceno da cabeça, voltou a se transformar em cachorro preto e correu para a porta, cuja maçaneta abriu com a pata. Então desapareceu.

– Severo – disse Dumbledore, voltando-se para Snape –, você sabe o que preciso lhe pedir para fazer. Se estiver disposto... se estiver preparado...

– Estou – disse Snape.

O professor parecia um pouco mais pálido do que o habitual, e seus olhos frios e negros brilharam estranhamente. Ele encarou Luna por um momento e a garota sentiu no fundo de sua mente que ele buscava qualquer tipo de raiva da parte dela. Mas Luna não sentia raiva de Snape, sentia muita afeição pelo homem, que mesmo sem querer ou saber, de alguma forma acabava sempre mostrando seu melhor lado para ela. As feições de Snape pareceram mais leves por um instante. 

Luna não conseguiu se conter, abraçou Snape e o apertou. Não era boba, entendeu o que Dumbledore queria que ele fizesse, o perigo em que iria se meter. Se ele partisse agora poderia não voltar mais...

– Tenha cuidado – murmurou ela baixinho para que apenas ele escutasse, pouco se importando com as expressões surpresas de todos na sala quando o professor retribuiu relutantemente o abraço. – E é melhor voltar, não vou aceitar outro professor naquela masmorra.

Snape riu. Um som baixo, anasalado, mas que fez seu coração apertar ainda mais. Ele tem que voltar.

– Prometo que terei cuidado – respondeu se afastando de Luna e acenando para Dumbledore. Ela não deixou de notar que ele prometera se cuidar, mas não prometeu que voltaria...

– Então, boa sorte – e o diretor acompanhou, com uma certa apreensão no rosto, Snape passar pela porta sem dizer palavra.

Passaram-se vários minutos até Dumbledore tornar a falar.

– Preciso ir lá embaixo – disse finalmente. – Preciso ver os Diggory. Harry, Luna, tomem o resto da sua poção. Verei todos vocês mais tarde.

Luna foi para a cama de Harry e se apoiou nos travesseiros, deixando que o irmão ficasse em seu colo enquanto Dumbledore desaparecia. Hermione, Rony, Fred, Jorge e a Sra. Weasley ficaram olhando para os garotos. Nenhum deles falou durante muito tempo.

– Vocês tem que tomar o resto da sua poção, meninos – disse finalmente a Sra. Weasley. Ao apanhar os frascos e as taças, ela bateu com a mão no saco de ouro à mesa de cabeceira. – Durmam bastante. Tentem pensar em outra coisa por um tempo... pense no que vai comprar com o seu prêmio, Harry!

– Não quero esse ouro – falou Harry com a voz sem emoção. – Pode ficar com ele. Qualquer um pode ficar com ele. Eu não deveria ter ganhado. Deveria ter sido de Cedrico.

A coisa contra a qual ele estivera lutando intermitentemente, desde que saíra do labirinto, ameaçava engolfá-lo. Sentiu uma ardência, um formigamento nos cantos internos dos olhos. Ele piscou e encarou o rosto da gêmea, que também parecia procurar uma fuga no rosto dele.

– Não foi sua culpa, querido – sussurrou a Sra. Weasley. – De nenhum de vocês...

– Eu disse a ele que apanhasse a Taça comigo – respondeu Harry.

Agora a sensação de ardência passara à garganta, também. Ele desejou que Rony, Fred e Jorge olhassem para outro lado. Sentiu então uma gota morna cair em sua testa, depois outra e mais outra. Esticou o braço e tocou a bochecha de Luna, que havia deixado algumas lágrimas escaparem.

A Sra. Weasley deixou as poções em cima da mesinha, abaixou-se e passou os braços desajeitadamente em volta dos gêmeos. Os garotos não tinham lembranças de jamais terem sido abraçados assim, como faria uma mãe. Todo o peso do que viram aquela noite pareceu desabar sobre eles quando a Sra. Weasley os apertou contra o peito. O rosto de sua mãe, a voz de seu pai, a visão de Cedrico morto no chão, quase terem perdido um ao outro, tudo começou a girar em suas cabeças até eles não conseguirem mais aguentar, até seus rostos se contraírem para conter os gritos de infelicidade que lutavam para escapar de dentro deles.

Ouviu-se uma pancada e a Sra. Weasley, Harry e Luna se separaram. Hermione estava parada junto à janela. Apertava alguma coisa com força na mão.

– Desculpem – sussurrou a garota.

– Suas poções, meninos – disse a Sra. Weasley depressa, enxugando os olhos com as costas da mão.

Harry e Luna beberam as poções de um só gole. O efeito foi instantâneo. Ondas pesadas e irresistíveis de sono sem sonhos os envolveram, eles tombaram sobre os travesseiros e não pensaram mais.


Notas Finais


Por favor, sinta-se à vontade para me avisar sobre qualquer erro que eu tenha cometido ou dúvida que tenha.
Obrigada por ler :)


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