História Getaway - Capítulo IX

[...]

   Jeonghan colocava o décimo terno naquela loja sem ar-condicionado, suava bicas, para piorar, o tecido dos ternos esquentavam que era o diabo. Achava que algum momento morreria ali dentro - e esperava ansiosamente por isso. Terminou de ajeitar o paletó e saiu do vestiário, seus pais e o senhor Lee o aguardavam do lado de fora.

- Ficou lindo, querido! – A senhora Yoon se levantou e andou até o filho, passando as mãos por seu peitoral e sorrindo de modo forçado – como sempre.

- Muito elegante. – O senhor Lee disse, esboçando um sorriso – verdadeiro pelo menos.

- Ah tá’, obrigado. – O mais novo tirou as mãos da progenitora de seu peito e entrou novamente no vestiário. Permitiu-se encostar na divisória do vestiário, jogando o paletó no chão, abrindo os botões da camisa branca que usava enquanto bufava. Odiava fingir que concordava com aquele casamento, odiava seus pais, os pais da garota, a garota, toda aquela falsidade. Odiava tudo. Só queria que tudo aquilo acabasse logo, que ele pudesse ficar longe daqueles que o faziam tão mal.

   Em meio aos seus devaneios, seu celular vibrou, era uma mensagem de SeungCheol dizendo para ir à casa dos gêmeos, iriam passar a tarde jogando. Um sorriso involuntário apareceu em seu rosto, pelo menos ele ainda tinha alguns motivos para sorrir.

[...]

- Você vai casar?! – Yul praticamente berrou quando ouviu aquela notícia tão chocante, recebendo um tapa nas costas de Wonwoo. Com a força do tapa, o gêmeo mais novo capengou para frente, fazendo os outros meninos rirem.

- Para de berrar, menino. – Wonwoo disse irritado com a gritaria e o escândalo do irmão.

- Aish, hyung! Doeu. – Fez um biquinho com os lábios enquanto se recuperava do leve tapa e voltava a se sentar ao lado de seu irmão.

- Era pra’ doer mesmo! – Beliscou o cotovelo do outro e este apenas resmungou, deitando sua cabeça no ombro magro do irmão e agarrando seu braço, impedindo que o agredisse de novo.

- Sim, Yullie, eu vou me casar. – Jeonghan, que até então apenas assistia a pequena discussão dos gêmeos junto de SeungCheol, afirmou, soltando um suspiro. – Meus pais arranjaram esse casamento com a filha do chefe do meu pai, mas claro, tudo por interesse, o velhote lá é rico. – Revirou os olhos, enquanto o mais novo dos quatro arregalou seus olhos.

- E você vai casar mesmo com ela?! – Indagou, recebendo apenas um entreolhar entre Jeonghan e SeungCheol.

- Não. – O mais velho disse, antes que o Yoon respondesse.

- Não?! – Os gêmeos disseram juntos, franzindo o cenho e lançando um olhar confuso para seus hyungs.

- Cheol diz que eu não vou, ele diz que vai fazer alguma coisa, mas não me diz o que é. – Fez um bico com os lábios, SeungCheol achou aquilo no mínimo adorável.

- Eu não vou contar pra’ ele, não agora, ele só tem que confiar em mim. – Apertou os lábios finos do outro.

- E pra’ nós?! Você vai contar?!

- Talvez. – Riu da expressão de indignação dos gêmeos. - É claro que eu vou, idiotas. - Os irmãos então assentiram, sorrindo levemente, enquanto Jeonghan ainda mantinha um bico frustrado nos lábios.

- Se precisar de ajuda, hyung, nós estamos aqui. – O mais velho esboçou um sorriso largo e agradeceu seus dongsaengs, ele de fato ia precisar de uma mãozinha dos primos.

[...]

~

   Wonwoo estava nervoso, andava de um lado para o outro e maltratava o lábio inferior, até sangue já começava a sair. Resolveu adentrar a sorveteria e pedir um milk-shake para ver se acalmava os nervos. Logo o milk-shake de algodão doce já estava nas mãos do Jeon e o canudo entre seus lábios. Sorriu ao sentir o gosto doce da bebida azul inundar seu paladar e seu nervosismo diminuir mais a cada gole.

   Viu uma figura alta adentrar o estabelecimento seguido de uma garota de cabelos castanhos compridos e franja. Franziu o cenho, quem era aquela com Mingyu?! Disfarçou a cara fechada e o ciúme, mantendo a expressão neutra quando Mingyu lhe avistou e sorriu para si. Ele disse alguma coisa para a garota e essa assentiu, abraçou-lhe e foi se sentar com um grupo de garotas – a qual Wonwoo conhecia apenas sua cunhada, Hyeri, que aliás, ele não tinha a visto, estava tão nervoso que nem se quer percebeu a presença dela.

- Oi, hyung. – Mingyu esboçou um sorriso ao se aproximar do Jeon, e ele jurou sentir seu coração falhar uma batida.

- Oi, Mingyu. – Levou o canudo preto até os lábios e sugou sua bebida.

- Por que me chamou aqui?! – Indagou o mais novo, encarando o canudo no meio dos lábios bonitos e convidativos de seu hyung.

- Precisamos... conversar... mas vamos sentar primeiro?! – Perguntou, voltando a ficar nervoso e descontando isso em seu milk-shake.

- Tá’, só vou pegar um milk-shake também. – Anunciou e se dirigiu ao balcão.

   Wonwoo procurou uma mesa mais afastada e se sentou ali, passando a encarar a garota que havia entrado com Mingyu. Hyeri percebeu o olhar do cunhado sobre sua amiga e acenou para ele quando o mesmo olhou para si. Ela já tinha o visto, mas ele parecia tão submerso em pensamentos que resolveu nem ir conversar com ele. O Jeon, por sua vez, acenou de volta e sorriu sem mostrar os dentes. Fez uma nota mental de perguntar a cunhada quem era aquela garota e o que ela era de Mingyu, afinal, tinha que cuidar do que era seu, não é?!

- Voltei, hyung. – Wonwoo nem percebeu quando Mingyu se sentou à sua frente com um sorriso no rosto. – Então... – Incentivou o mais velho a falar o que ele queria/tinha para falar para si.

- Eu... eu andei pensando esses dias, pensei muito a respeito do que... conversamos na quinta... – Observou o mais novo tirar o canudo preto dos lábios e largar o copo de milk-shake de menta de lado, um sorriso largo adornando os lábios, um sentimento de expectativa tomando conta de seu corpo.

- E a que conclusão chegou?! – Indagou ansioso, vendo o outro tomar outro gole de milk-shake - mesmo quase colocando tudo o que comera para fora - em uma tentativa de acalmar os nervos.

- Que... você tava’ certo. – Falou tão baixo que o mais novo quase não conseguiu ouvir, mas como tinha uma audição boa, conseguiu ouvir, e sentiu que fosse explodir de felicidade ali mesmo. Aquilo significava o que ele estava pensando?! – Eu demorei muito para perceber isso, e também aceitar esse sentimento que eu tenho por você, era tudo muito novo e eu achava que era errado. – Soltou um suspiro. – Mas não, não é errado, seu eu for feliz, amar e ser amado, que mal tem?! – Encarou o Kim nos olhos, estes que estavam mais brilhantes do que nunca, sentia coração acelerado, as bochechas tomando cores avermelhadas e as mãos suando em volta do copo de milk-shake.

- Então, isso significa que...

- Sim, eu quero tentar. – Afirmou, a voz firme e mais grave do que o normal. - Fácil não vai ser, mas se as coisas fossem fáceis não teriam graça, não é?! – O mais novo assentiu, esboçando um de seus maravilhosos e bobos sorrisos.

- Você não tem noção do quanto eu esperei por isso.

   E ali mesmo, naquela sorveteria, Mingyu realizou um de seus desejos, beijar os lábios de Wonwoo.

[...]

- Que sorriso é esse, hein?! – Yul e Seokmin disseram juntos com um tom de malícia ao ver o irmão mais velho entrar no quarto com um sorriso bobo.

- Será que Wonwoo-hyung finalmente perdeu o bv?! – Seokmin indagou risonho, fazendo o irmão do meio gargalhar.

- Me respeita, garoto. – Pegou a primeira coisa que viu pela frente – que foi um dos livros de Yul – e tacou em direção ao mais novo.

- Meu livro, Jeon Wonwoo! – Yul gritou, tacando com força seu travesseiro em direção ao irmão. – Se tiver estragado você vai comprar outro!

- Estragada vai ficar a sua cara se me chamar de Jeon Wonwoo de novo. – O mais velho dos três se jogou no pequeno sofá que havia ali, esquecendo da discussãozinha momentânea com o seu gêmeo e sorrindo ao lembrar de a pouco tempo atrás na sorveteria, enquanto Seokmin ria aos montes com a cara fechada de Yul.

- Mas conta, hyung, você perdeu o bv?! Porque pra’ você tá’ com esse sorriso assim só pode ter sido isso! – O de eye smile falou, fazendo o Jeon mais velho dar-lhe uma encarada mortal.

- Sai daqui, Jeon Seokmin! – Gritou irritado.

- Esse quarto também é meu! – Protestou o mais novo dos três ali.

- Eu sou o mais velho aqui, então eu quem mando, e segundo, caguei pro quarto ser seu também. Agora, saí logo! - Tacou-lhe um de seus tênis que estavam ali sobre o sofá, SeokMin se levantou da cama do irmão do meio, se esquivando do calçado que havia sido lançado em sua direção. Saiu do quarto batendo os pés, irritado, e gritando xingamentos ao irmão mais velho e recebendo um “cala a boca ou eu quebro esse beliche na tua cara”. Teriam continuado a discussão, mas no momento, Wonwoo tinha que contar ao outro gêmeo sobre o que aconteceu entre ele e Mingyu, deixaria para discutir com o caçula mais tarde.

   Quando a porta do quarto se fechou, o mais velho pulou do sofá, correndo para se sentar junto do irmão na cama do mesmo.

- Conta o porquê desse sorriso! – Yul disse animado, já sabia que o irmão havia saído para se encontrar com alguém, cujo esse que o mais novo não sabia quem era, muito menos sabia de toda história por trás dessa relação do outro gêmeo e seu – agora – cunhado desconhecido.

- Você viu que eu saí, né?! – O mais novo assentiu rapidamente, ansioso para saber o que havia acontecido, será que SeokMin estava certo e seu hyung finalmente havia perdido o famoso bv?! – Então, eu fui na sorveteria me encontrar com... – Parou e pensou, estava com receio de contar que esse alguém era Mingyu, mas se tratava de seu irmão, ele havia o aceitado do jeito que ele era, e até mesmo havia dito para contar a ele quem era o boy que ele estava de olho porque ele tinha que aprovar o marmanjo, então, resolveu contar. – Com o Mingyu. – Soltou a bomba e os olhos do irmão se arregalaram.

- Mingyu?! Kim Mingyu?! O gostosão, alto e de sorriso bonito?! Aquele Kim Mingyu?! – O outro assentiu, segurando-se para não rir do choque do mais novo. – Ei tá’ porra! Você tem noção de quantas pessoas queriam estar no seu lugar?! Caralho, tio, meu irmão tá’ pegando o moreno sensação!

- Yul! – Bateu no braço do outro, rindo de modo envergonhado, enquanto o outro gêmeo achava adorável o irmão naquele estado.

- Quê?! Tô’ falando a verdade! – Riu. – Se ele for cuzão com você, eu vou tirar aquela cara bonita fora e colar no lugar da minha. – Wonwoo gargalhou alto, empurrando o corpo magro do garoto ao seu lado. – Mas tá’, conta como foi lá!

- Tá’. Bom, ele chegou lá com uma garota, ela era muito bonita. – Murmurou a última parte. – Aí ela foi sentar junto com a Hyeri e as amigas dela.

- A minha Hyeri?! – Indagou confuso, e o outro assentiu.

- É, depois eu vou perguntar pra’ ela quem era aquela menina e o que ela é do Mingyu. – Falou mais para si do que para Yul. – Enfim, voltando. Nós começamos a conversar e eu falei pra’ ele que ele tava’ certo em relação ao que sentíamos e que eu aceitava seus sentimentos, aí agora estamos juntos, eu acho – Murmurou. – E ele me beijou. – Abriu um sorriso do tamanho do mundo.

- Epa, epa, epa! Pera aí! Primeiro, me conta direito essa história de que ele tava’ certo em relação ao que sentiam. – O mais velho suspirou e então abriu o jogo para o irmão.

   Contou desde quando tinham quatro anos e já se sentia estranho em relação ao Kim, até a confusão dentro de sua cabeça nos dias atuais. Yul ouvia tudo em silêncio, vez ou outra assentindo e dizendo um “continue”. E após Wonwoo terminar de contar, ele pode entender toda a situação – ou pelo menos boa parte dela -, se sentiu magoado pelo irmão não ter ido o procurar antes, porém, também entendia que ele não o procurou por medo de sua reação, além de que ele não ajudaria muito, ele não entendia o que se passava na cabecinha inocente do mais velho, e ninguém melhor que Junhui para ajudá-lo – afinal, ele passou pela mesma coisa.

- Dá próxima vez, vê se me conta as coisas. – Apertou o nariz do de cabelos negros, recebendo um aceno positivo. – Mas, ei, me conta, em detalhes – Deu ênfase - Como foi hoje na sorveteria!

- Tá... Bom, como eu falei, eu falei pra’ ele que ele tava’ certo quando disse que o que nós sentíamos um pelo outro não era errado e disse que queria sim, tentar ter alguma coisa, sabe, quero arriscar um pouco e sair da minha zona de conforto, quebrar esse muro que eu criei entre eu e ele. – Fez uma pausa, umedeceu os lábios e deu continuidade. - Eu sei que não vai ser nada fácil, mas com ele do meu lado, eu acho que consigo passar por tudo isso. – O mais novo encarava o modo como o irmão se referia ao Kim de um jeito tão apaixonadinho com um sorriso no rosto, era bom ver o garoto feliz daquela maneira, gostando de alguém de verdade, e esse sentimento ainda ser recíproco. – E aí, ele me beijou, ali mesmo, na sorveteria. – Esboçou um sorriso largo e bobo ao lembrar-se daquele ósculo.

  Mingyu realizou um de seus desejos, beijar os lábios de Wonwoo.

   O mais velho ficou assustado com aquele contato, o nervosismo tomando conta de si. O que fazer?! Ele nunca havia beijado antes, não sabia o que fazer. Quando abrir a boca?! Pra’ que lado virar a cabeça?! O que fazer com a língua?!

   Já estava começando a suar frio e já estava cogitando se afastar, porém, sentiu a língua de Mingyu passar sutilmente por seus lábios, seu reflexo foi abrir a boca, acolhendo a língua molhada e quente do Kim. Ao perceber que o mais velho estava perdido, sem saber o que fazer, o mais novo tomou as rédeas do beijo e ditou os movimentos. Foi estranho para Wonwoo, nunca havia feito aquilo antes, mas deixou-se levar e gostou daquela sensação, daquele toque. Gostou de como Mingyu o beijava como se tivesse esperando por aquilo por anos – o que era uma verdade -, transmitindo toda sua paixão e carinho pelo Jeon. Gostou do carinho em sua nuca que ele fazia com uma das mãos, enquanto a outra sustentava seu corpo sobre a mesa da sorveteria. Gostou de tê-lo tão perto, sem pensar que aquela aproximação era errada.

   O ósculo foi findado, pequenos selares foram deixados sobre os lábios vermelhinhos do mais velho e o Kim finalmente voltou a se sentar, um sorriso completamente bobo adornando os lábios avermelhados. Apoiou os cotovelos na mesa e aproximou-se de Wonwoo, sussurrando algumas palavrinhas que fizeram o mais velho quase ter um ataque cardíaco.

- Eu acho que te amo.

- Ai meu Deus! – Yul berrou, voando em cima do irmão, ele gritava animado, chacoalhando o outro. – Existe casal mais fofo?! Me leva pro hospital que eu tô’ tendo uma overdose de fofura! – Wonwoo apenas ria, meio abobado por lembrar do beijo, meio contagiado pela alegria do irmão e meio constrangido por ter contado aquilo tudo nos mínimos detalhes. – Sério, ai meu Deus, meu irmão tá’ namorando, que bonitinho! – Agarrou as bochechas finas e magras do mais velho e as apertou. – Finalmente perdeu o bv!

- Olha, você para! – Tirou as mãos do irmão de seu rosto e as segurou. – Nem vem ficar me zoando!

- Tá’ bom, desculpa. – Riu, encarando os olhos do irmão. – Mas agora é sério, eu tô’ muito feliz por você, você não tem noção do quanto, tudo que eu quero é te ver feliz. – Esboçou um sorriso largo, soltando as mãos das do irmão e puxando seu corpo magro contra o seu próprio.

- Obrigado, por tudo. – Se acomodou nos braços de Yul e o apertou contra si. – Ter você do meu lado é muito importante pra’ mim.

- Você sabe que eu sempre vou estar aqui. – Bagunçou-lhe os cabelos negros e sorriu para si. – Sempre estive, desde o útero. – O mais velho gargalhou e ele o acompanhou. - Eu te amo, Jeon Wonwoo.

- Eu sei. – Riu da cara indignada do irmão. – Eu também te amo, Jeon ChanYul.

- Yah! Não me chame pelo nome! – Wonwoo riu, voltando a abraçar o irmão, que ainda resmungava, mas ainda sim o abraçou de volta.

   Aqueles dois nunca iriam abandonar um ao o outro, afinal, eles estavam junto desde o útero, quem é vai conseguir separa-los?!