História Ghost (Jeon Jungkook) - Quero voltar a viver

GHOST | XII

— Yosun? Yosun, querida, você tem que acordar.

Ao ouvir a voz da minha avó abri meus olhos com dificuldade, eu não sentia meu corpo e tudo ao meu redor era branco.

— Vovó? — Ela estava ajoelhada ao meu lado com o seu sorriso tão familiar. Eu não consegui conter a emoção então me sentei e a abracei fortemente. — Ahjumma, eu senti tanto a sua falta.

— Eu sei, minha menina. — Disse ao corresponder ao meu abraço. — Você é tão corajosa meu amor.

— Eu... — Assim que nos distanciamos eu olhei ao redor, vendo todo aquele mar de branco. — Eu estou morta?

— Não, ainda não.

— Ainda não? — De repente todo o branco começou a sumir e no segundo seguinte estávamos em um quarto de hospital, eu não entendi nada até ver meus pais e Jin chorando no canto do quarto, Jungkook também estava ali parado olhando para a cama que estava rodeada por enfermeiras e também um médico. — Aquela deitada...

— É você, meu amor. — Minha avó passou a mão em meus cabelos e me olhou mesmo eu não conseguindo encarar ela, minha atenção estava em minha família e principalmente em Jungkook, ele não parecia estar me vendo ali, ele estava apreensivo enquanto olhava para o meu corpo na cama.

— Então eu vou morrer? — A máquina que estava ligada em mim mostrava que meu coração já não estava mais batendo, uma enfermeira fazia uma massagem cardíaca em meu corpo enquanto o médico me dava descargas elétricas no peito com o desfibrilador.

— Isso depende de você, Sunnie.

— Mas, como...

— Seja forte, minha querida. — Vovó segurou em minhas mãos e me fez olhar para ela. — Saiba que eu estou orgulhosa em ver a mulher que você se tornou, antigamente você fugia de seu dom e agora aí está você, lidou com um espírito ruim e se sacrificou por quem você ama.

— Como...

Seu sorriso alargou mais ainda e então ela me abraçou, a única coisa que consegui fazer foi corresponder ao seu abraço forte.

— Eu te amo, meu amor. — Ela segurou em meus ombros e me deu um beijo na testa, vovó olhou para todos que estavam no quarto até que seu olhar parou em Jungkook. — E ele também te ama, e muito. — Eu sorri. — Vocês vão conseguir ficar juntos e serem felizes. E... Seu amigo, ele vai ficar bem, não se preocupe.

Algo chamou minha atenção do lado de fora do quarto, Tae estava parado no corredor vestindo roupas brancas, ele estava me olhando e tinha um sorriso tranquilo e contente no rosto. Eu só acreditei que ele realmente estava ali quando Tae entrou no quarto e me abraçou com força.

— Tae... — Eu queria chorar mas não estava conseguindo.

— Agora tudo vai ficar bem, Sunnie. — Ele segurou em meus ombros e me afastou um pouco apenas para dar vários beijos no topo da minha cabeça.

— Eu não queria que você acabasse desse jeito.

— Mas esse não é meu fim, é apenas o meu começo, um novo começo. — Nós nos abraçamos novamente. — Sunnie, você precisa ir, você ficou em coma por muito tempo e agora está entre a vida e a morte.

— Tae...

— Por favor, você tem muito oque viver ainda. — Ele pediu. — E Sunnie, você tem que voltar para a casa da floresta, eu deixei uma coisa pra você lá.

Eu concordei com a cabeça e me afastei dele um pouco triste, eu sentia que aquela seria a última vez que eu o veria.

— Não se preocupe, minha querida, eu prometo tomar conta desse rapaz.

— Obrigada, vovó. — Eu sorri agradecida e olhei para Taehyung.

Nós duas demos um último abraço até que eu fui puxada com força em direção ao meu corpo e então tudo se tornou escuro.

— YOSUN! Yosun, minha filha!

Meu corpo deu um pequeno sobressalto assim que despertei, eu estava um pouco atordoada e não conseguia enxergar direito, mas mesmo assim consegui ver as enfermeiras impedindo que minha mãe corresse até mim.

— Eu vou pedir para que todos saiam do quarto, por favor. — O médico pediu enquanto checava a minha pulsação.

Minha família saiu do quarto e eu também já não conseguia mais ver Jungkook.

— Jungkook, eu preciso... — Eu comecei a me exaltar e uma das enfermeiras pediu para que eu me acalmasse. Ouvir o barulho da máquina monitorando as batidas do meu coração e o choro da minha mãe vindo do lado de fora do quarto estava me deixando nervosa.

— Tragam um sedativo.

— Não, eu preciso... — Meu olhar rondou o quarto até que vi Jungkook parado não muito longe de mim, eu tentei arrancar a máscara de oxigênio que estava sobre meu nariz e boca mas o médico me impediu. — Kook... — Senti uma picada em meu braço e depois de alguns minutos Jungkook começou a se tornar um borrão irreconhecível até que eu apaguei de uma vez.

▃▃▃▃

Muita coisa mudou durante o tempo que fiquei em coma, tudo que aconteceu nos quatro meses que fiquei hospitalizada fez parecer que passei anos naquele hospital.

Começando por Jin que pelo visto finalmente decolou em sua carreira de modelo, Chae agora trabalha como agente dele e não só trabalha com meu irmão como também está namorando com ele, como já era de se esperar foi ela que pediu Jin em namoro, uma verdadeira mulher moderna.

Eunji fechou a loja esotérica dela e decidiu que vai começar a viajar pelo mundo para aprender ainda mais sobre feitiçaria e dar aulas para feiticeiros novatos, assim como seu falecido marido.

Yoongi e Hoseok continuam namorando e pelo oque Chae me contou meu amigo está querendo avançar ainda mais no relacionamento e pedir Hoseok em casamento.

Também teve o desfecho do caso Margot que foi desmascarada por Namjoon e Yoongi, os dois já não estavam aguentando mais ela na empresa e então chamaram todos os ex's dela na KIM's, pelo oque os garotos me contaram rolou até polícia para prender aquela golpista.

O senhor Sha ao ver a grande injustiça que cometeu pediu desculpas para todos nós e disse que recontrataria Chae e eu, e é claro que nós não aceitamos. Confesso que estou um pouco arrependida de não ter aceitado já que nessas últimas duas semanas desde que saí do hospital só fiquei dentro de casa, acho que se Jungkook não estivesse lá comigo eu morreria de tanto tédio.

E bom, Kook e eu estamos melhor do que nunca, as vezes acho até que estou vivendo um sonho. Mas mesmo assim não consigo tirar da cabeça que isso de namorar com um fantasma é uma loucura completa, Jungkook disse que daria um jeito nisso e me pediu para que eu não pensasse nisso, mas de qualquer maneira não consigo esquecer o fato dele estar morto.

Eu respirei fundo e sorri ao perceber como a minha vida finalmente parecia estar se resolvendo aos poucos.

— Tudo bem... — Sussurrei assim que parei em frente a casa de madeira na floresta. Eu estava evitando vim aqui, acho que ainda não estou pronta para relembrar de tudo que passei de ruim nessa casa, mas de qualquer maneira estava curiosa pra saber oque Taehyung tinha deixado aqui.

Olhei em volta e vi as janelas quebradas, tive que entrar com cuidado para não me cortar nos destroços da porta da frente que estava completamente destruída. Assim que entrei na sala e vi toda aquela bagunça comecei a me perguntar oque Taehyung teria deixado, felizmente não precisei procurar muito já que achei um envelope grande em cima da mesa da cozinha.

— Mas... O que é isso? — Retirei um dos papéis que estavam dentro do envelope e vi que se tratava de alguns contratos e também as senhas de algumas contas bancárias. Eu não estava entendendo oque significava tudo aquilo até que olhei para a última folha de papel do envelope, era uma carta escrita por Taehyung.

“Eu sei que um pedido de desculpa nunca iria apagar tudo que te fiz sofrer, eu gostaria mesmo de poder voltar no tempo e impedir tudo que aconteceu, mas como mudar o passado não é possível, acho que posso tentar mudar o seu futuro, não?”

Ainda sem entender muito bem revisei todos aqueles documentos que Taehyung havia deixado e assim que entendi o que ele fez não consegui conter a emoção.

Ele deixou todos os seus bens para mim.

A Singurality, casas, carros, e até mesmo sua fortuna me pertenciam agora.

— Taehyung... — Sussurrei já entre lágrimas. O choque daquela notícia foi grande, tive que me sentar em uma cadeira para digerir aquilo. — Tae...

— Ei? — A voz de Yoongi soou pelo cômodo, eu até tinha me esquecido que ele veio comigo. — Você está chorando porquê? É algo ruim?

— Não... — Eu sequei as lágrimas do meu rosto e mostrei os documentos que Taehyung deixou para mim.

Yoongi passou alguns minutos lendo todos os papéis e assim que leu a carta de Tae me olhou com os olhos arregalados antes de dizer: — Espera, então agora você é rica? — Eu dei de ombros como resposta. — Yosun, você não ousa se esquecer da nossa amizade agora que enriqueceu.

Eu não consegui segurar a risada, mesmo ainda estando chorando feito uma boba. Yoongi sorriu de volta e me abraçou com força.

— Obrigada. — Sussurrei ao acariciar seus cabelos.

— Pelo o quê exatamente?

— Por tudo.

Nós ficamos em silêncio por um tempo até que ele me soltou de repente e me olhou nos olhos.

— Você pode me agradecer me dando essa tal Mercedez, que tal? — Ele fez uma cara de carrocho pidão. Mesmo dando risada neguei com a cabeça e me levantei para finalmente sair daquela casa. — Qual é, Yosun? Essa casa na América também, Hoseok me disse que adoraria morar na Califórnia depois de nos casarmos.

Ele começou a gritar o meu nome e me seguir correndo pela floresta enquanto eu ria em desespero e fugia para o meu carro.

Nós voltamos a viagem toda discutindo sobre o que eu faria com todo o dinheiro de Taehyung e eu não consegui pensar em mais nada além de doar tudo para instituições de caridade, a Singurality tinha uma renda de emergência e pelo visto estava indo muito bem com as vendas, eu não tinha motivo nenhum para ser egoísta e ficar com todo aquele dinheiro.

— É ótimo saber que Taehyung se arrependeu de tudo que ele fez. — Jungkook disse assim que me sentei ao seu lado na cama, eu tinha acabado de tomar banho e estava dividida entre secar o cabelo e mandar mensagens para Jin e Chaeyong que estavam na Grécia curtindo o namoro e ganhando dinheiro.

— Acho que agora ele finalmente vai poder ser feliz. — Já com cabelo seco larguei o secador e o celular na cômoda ao lado da minha cama e me deitei ao lado de Jungkook.

Nós ficamos quietos enquanto olhavámos um para o outro, desenvolvemos o costume de fazer isso toda noite antes de dormir, nós só deitamos e nos olhamos até eu pegar no sono já que Jungkook não precisa dormir.

— Você acha que isso vai dar mesmo certo? — Perguntei um pouco insegura, assim que vi a expressão confusa de Jungkook prossegui. — Nossa relação, Kook. Eu viva, você morto.

Me doía sempre lembrar que agora Jungkook era apenas um fantasma, mas aquela era a realidade, uma dura e má realidade. Mesmo assim ele nunca parecia ligar para isso, sempre que eu tocava nesse assunto Jungkook apenas sorria e não respondia, dessa vez não foi diferente.

— Você confia em mim? — Perguntou enquanto acariciava minha bochecha com o polegar, eu balancei a cabeça em concordância como resposta. — Então não se preocupe, meu amor.

Eu queria ficar acordada para questioná-lo e tentar descobrir o que ele estava me escondendo mas acho que a emoção de descobrir que de uma hora para a outra me tornei milionária foi muita, então acabei dormindo ao seu lado.

Eram seis da manhã quando acordei no dia seguinte, não por vontade própria mas sim porque escutei a voz de Jungkook vindo do andar de baixo. Curiosa para saber com quem ele estava conversando, calcei minhas pantufas e caminhei lentamente até a escada para tentar ouvir a conversa melhor.

— Ela nos deu até o fim da lua cheia, pelo visto só nessa época é possível fazer esse tipo de coisa. — Era a voz de Yoongi, ele falava baixinho, acho que eles não queria que eu acordasse.

— Mas a lua cheia só vai durar por mais quatro dias, é impossível conseguir achar o que ela pediu nesse tempo. — Jungkook rebateu, sua voz exalava preocupação.

Eu não sei o que eles estão tramando mas pelo visto é algo extremamente sério.

— Bom, foi o que ela me disse. — Yoongi fez uma pausa, ele deve estar comendo algo. Curiosa, desci a escada e me encolhi atrás da estante de livros para poder olhar para eles. — Suwoon não é conhecida por ser paciente, então temos que achar o que ela pediu logo.

Eu já não estava me aguentando de tanta curiosidade, por isso saí do meu esconderijo e caminhei até a cozinha. Os meninos assim que me viram ficaram um pouco nervosos.

— Quem é Suwoon? — Perguntei olhando diretamente para Jungkook, ele ficou paralisado. Yoongi, que estava sentado a mesa comendo alguns biscoitos me olhou surpreso. — Eu fiz uma pergunta.

— Agora você espia a conversa dos outros? Que coisa feia, Yosun. — Yoongi tentou disfarçar mas eu continuei olhando para eles com uma expressão séria no rosto para mostrar que não queria nenhum tipo de brincadeira.

Os dois se olharam, pareciam estar se comunicando silenciosamente entre si para decidir se me contavam ou não o que estava acontecendo.

— Sunnie, se senta aqui. — Jungkook puxou uma cadeira para eu sentar e assim fiz, tinha que confessar que estava um pouco nervosa com o que eles me contariam. — Suwoon é uma bruxa.

— Sim...?

Jungkook respirou fundo antes de prosseguir. — Durante o tempo que você esteve em coma eu não consegui parar de me sentir culpado pelo o que aconteceu, você se sacrificou por mim e eu não pude fazer nada. — Ele suspirou. — Foi quando eu percebi que nunca iria conseguir te ajudar em nada sendo um espírito, por isso decidi que quero voltar a viver.

Eu o encarei um pouco confusa.

— Voltar a viver? E isso é possível? — Ele concordou com a cabeça. — E porque Eunji ou Yoongi não fazem isso? Vocês são feiticeiros, não são? — Perguntei ao me virar para meu amigo.

— Sim, feiticeiros. Nós não temos todo o poder para fazer isso, e de qualquer maneira, fazer um espírito voltar a viver se enquadra em magia negra e nem eu nem Eunji fazemos esse tipo de coisa. — Explicou. — Por isso entrei em contato com Suwoon, ela já é conhecida no submundo por trazer os humanos de volta a vida.

— Submundo? — Muita informação, muita informação. Será que a cada dia que se passa é uma surpresa nova na minha vida?

Yoongi não respondeu, ele apenas deu de ombros e voltou a comer seus biscoitos.

— Você não parece muito segura com isso. — Jungkook disse ao sentar ao meu lado, ele apoiou a mão em minha coxa e me olhou.

— Lógico que não estou segura, Kook. — Eu limpei a garganta e tentei organizar meus pensamentos. — Quer dizer, sim, eu quero que você volte a viver, mas isso não é perigoso? Você... Eu... Não sei o que pensar.

— Isso é algo que terei que arriscar. — Ele passou a mão em minha cabeça e deu um pequeno sorriso para tentar me acalmar.

— Realmente existem riscos, mas se fizermos tudo que ela pediu não vai acontecer nada de ruim. — Yoongi segurou a minha mão. — Esse é o único modo de fazer Jungkook viver novamente.

Olhei para meu amigo e logo depois para Kook, uma mistura de emoções me tomou, eu estava com medo disso, quer dizer, nunca pensei que fosse possível fazer alguém morto voltar a viver, eu tenho tantas perguntas sobre isso. Mas também estou ansiosa, saber que Jungkook tem uma chance de voltar a viver me dá esperanças de podermos viver felizes, mas mesmo assim toda essa ideia de magia negra me assusta.

Assim que tentei me acalmar olhei para Yoongi. — E do que nós precisamos pra fazer isso?

— Nós temos que descobrir onde Jungkook está enterrado, isso em menos de 96 horas. — Ele respondeu.

Eu mordi meu lábio insegura e então olhei para Jungkook novamente, ele parecia confiante e isso me deu forças para aceitar toda essa ideia maluca, se é isso que ele quer eu o apoio incondicionalmente.

— Eu acho que tenho uma ideia de onde ele pode ter sido enterrado. — Finalmente falei após alguns minutos pensando. Nós três nos olhamos e então concordamos com a cabeça.

Pelo visto aqueles seriam os quatro dias mais torturantes de toda a minha vida.